terça-feira, 22 de novembro de 2011

O CHAMADO
(Para Beatriz, no dia do seu retorno ao céu)   

E Beatriz ouviu o chamado
Caminhou com seu passo calmo
Seu andar tenro
Seu passinho seguro
A voz ela já sabia de onde vinha
Ouviu a voz de sua mãe
“Bia, não se afaste”
Na pujança dos seus dois anos
Já conhecia aquela outra voz
Como era conhecida!!!
Havia vozes nas proximidades
Outras crianças chamavam
“Vem Bia, pra cá”
Teve vontade
a outra voz dizia pausadamente
“vem, meu anjo”
Ela foi
No espelho da piscina
Enxergou a si
O azul dos seus olhos...
O azul da piscina...
O azul dos olhos dEle...
A voz da mãe
“Cadê essa menina...”
A voz das outras crianças
“Vem Bia”
A voz dEle
“Vem, meu anjo”
Por um lapso
Por um átimo
Olhou mais uma vez atrás de si
A mãe se erguia
Viria buscá-la
Rápido pensou
Os dias passados...
As visitas dos tios...
As visitas aos tios...
Já havia se despedido
Colocou seu pezinho
E mergulhou para junto dEle.

(Professor Alves, 11/11)

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A GRANDEZA DO MAR


Paulo Roberto Gaefke(No livro "Quando é preciso Viver" página 29)

Você sabe por que o mar é tão grande?
Tão imenso? Tão poderoso?
É porque teve a humildade de colocar-se alguns centímetros
abaixo de todos os rios.
Sabendo receber, tornou-se grande. 
Se quisesse ser o primeiro, centímetros acima de todos os rios,
não seria mar, mas sim uma ilha.
Toda sua água iria para os outros e estaria isolado. 
A perda faz parte.
A queda faz parte.
A morte faz parte.
É impossível vivermos satisfatoriamente.
Precisamos aprender a perder, a cair, a errar e a morrer.
Impossível ganhar sem saber perder.
Impossível andar sem saber cair.
Impossível acertar sem saber errar.
Impossível viver sem saber viver.
Se aprenderes a perder, a cair, a errar, ninguém mais o controlará.
Porque o máximo que poderá acontecer a você é cair, errar e perder.
E isto você já sabe.

Bem aventurado aquele que já consegue receber com a mesma naturalidade
o ganho e a perda, o acerto e o erro, o triunfo e a queda, a vida e a morte.

Extraído do site: Meu Anjo

terça-feira, 15 de novembro de 2011

EVALDO BRAGA E CARLOS ALEXANDRE: UMA COINCIDÊNCIA?

http://jconlineblogs.ne10.uol.com.br/toques/f

     
            Era o início dos anos 70. Uma das músicas que mais se ouviam no rádio era “Sorria, sorria”, de Evaldo Braga. Sinto ainda as vibrações daquela época, em que não tínhamos noção do que ocorria na política, afinal tinha apenas 8 anos de idade, e as únicas notícias que se ouviam pelo rádio eram as de assassinato de mulheres ou as de futebol. Quase todos os dias o programa A Cidade e A Lei divulgava essas atrocidades cometidas por homens contra suas companheiras, em geral.
          No dia 30 de janeiro de 1973, os jornais trouxeram a imagem de um acidente. Era terrível a cena! Uma carreta e um monte de ferros retorcidos, que antes houvera sido um carro. Era o fim de um jovem negro que conseguira fama, dinheiro, mulheres , depois de uma infância paupérrima de abandono pela própria mãe em uma lata de lixo. As áudio-exibições das músicas do Ídolo Negro ecoaram pelo Brasil inteiro e muitas pessoas choraram.
          Algum tempo depois, surgiu uma voz semelhante à de Evaldo Braga. Não sei se essa semelhança não foi notada ou apenas desprezada. Carlos Alexandre, aos 21 de idade, como seu ídolo Evaldo Braga, desprezado como ele e criado por terceiros, explodia no mercado fonográfico, as rádios tocavam suas músicas o dia inteiro. À época as notícias que mais me chamavam à atenção, porque eram as mais frequentemente divulgadas, continuavam sendo os uxoricídios e os sensacionalismos futebolísticos. Feiticeira ganhou o Brasil e parte dos países que falam a língua portuguesa, sobremaneira Portugal. Mas...
http://www.minhahistoria.com.br/3/fot

          … Em 31 de janeiro de 1989, dezesseis anos após a morte de Evaldo Braga, Carlos Alexandre, nas mesmas circunstâncias, perdia a vida. As imagens e as comoções não foram menos trágicas. E ainda hoje se ouvem as músicas de um de outro. Canta-se ainda o amor, mesmo que frustrado, mesmo que em forma de lixo, mesmo que antitético entre o riso e o choro, entre a cruz e a fama, entre a arma de vingança dos meninos pobres e a sociedade que os despreza ou os usa, como as mulheres assassinadas Brasil a fora, feiticeiras de sua própria desgraça, escravas do machismo insolente e perpétuo, que não cabe mais numa sociedade livre.
(Professor Alves)

domingo, 13 de novembro de 2011

EFEMERIDADE



         Não, eu não amanheci melancólico. Acho que é um adjetivo com o qual não convivo. Não sou de olhar o dia e desejar que já fosse noite, ou olhar a lua e desejar que o sol estivesse a pino. Portanto não sou melancólico. Apesar de refletir sobre a efemeridade do tempo, da vida e do que já fui. Estou sim é chateado com a arrogância humana. Como há pessoas que se acham imortais! Sim pois só esse sentimento justifica, por exemplo, a arrogância, a petulância do nosso governador ao se defrontar com os servidores exigindo seus direitos. O que me levou a essa reflexão foram duas coisas. Primeiro uma propaganda de uma escola particular. A segunda foi a lembrança de um amigo a respeito de um ex-governador já morto.
       A propaganda da escola a qual me referi faz referência a, desculpe a tautologia, equipamentos, como bip, vídeo cassete, máquina de datilografia. Que já estão no esquecimento. As novas gerações já não sabem o que representou isso. Em seguida o publicitário apresenta a Educação como algo que dura para sempre. E conclui: “invista em algo realmente duradouro”. Xou de bola, com x e tudo mais. Tudo nessa vida é passageira, menos o trocador, o motorista e o conhecimento. O governador em pouco tempo será um monte de ossos putrefatos na “frialdade inorgânica da terra”, para lembrar augusto dos Anjos, imortal.
Todos mortos, profundamente mortos

      Quanto ao ex-governador morto, não há nada do que falar, só que ele se foi, como todos nós iremos, e só deixou alegria. Assim é com todos os ditadores, com todos os bonzinhos, estes deixarão saudades. Aqueles, repito, só alegria. Lembro-me fortuitamente de Hitler, Mussoline, Manuel Bandeira, “Estão todos dormindo/ Estão todos deitados/ Dormindo Profundamente”.
(Professor Alves)


domingo, 6 de novembro de 2011

A RUA DOS POSTES



          Passou a chamar-se Rua dos Postes porque foi a primeira rua em que apareceram aqueles gigantes de cimento. Eram finos e compridos. Um dia chegou um caminhão e os despejou ao longo da Outra Rua. Era assim que chamávamos a Rua Rio Tocantins antes dos postes. A novidade foi tanta que mudamos o tratamento, e passou a se chamar simplesmente Rua dos Postes.
           Passamos a ter um respeito quase que imperial pelos habitantes daquela rua. Íamos lá agora com apenas um intuito, ver os postes estirados ao longo do caminho. Os moradores de lá, sobretudo os meninos da nossa idade, nos olhavam com desprezo, e nós os víamos com submissão. Talvez por isso tempos depois ainda tínhamos certa admiração por aquela gente.

            Em breve nossa rua também foi agraciada com os postes. Mas não tínhamos tanto orgulho deles. Os da outra rua, bem mais espertos, foram os primeiros a se levantarem de seu sono secular. Para cumprirem seu trabalho que era iluminar a rua às noites. Os nossos demoraram mais tempo para cumprir sua missão, por isso agora íamos à rua dos postes para ver, mirar as luzes amarelas que brotavam dos pratos brancos que pendiam no alto dos postes. Quando as luzes chegaram aos nossos magricelas cinzentos, já não havia novidade. Mas pelo menos não precisávamos mais nos humilhar par ver a luz que não empretecia as paredes. Agora as luzes iluminavam mesmo e não soltavam o odor do querosene queimando.
          Junto com essas novidades veio a televisão. A partir de agora, à noite, ao invés de corrermos atrás das bandeiras ou brincar de roda, íamos à casa dos vizinhos mais afortunados, ver um pouco daquela luminosidade que continha imagem. Mais uma vez era a submissão que condicionava nosso comportamento. Eu e meu irmão tomávamos banho cedo, e, a contragosto de nossa mãe, íamos em busca dos raios iluminados que a televisão disparava com movimentos em preto e branco. Até que a televisão também chegou à nossa casa, e junto com ela uma leva de outras crianças menos afortunadas ainda que nós.

         Não sei porque escrevo essas lembranças. Talvez para fazer uma catarse, pois são muitas as lembranças que me acometem e me fazem refletir sobre o que de fato traz essa tal felicidade. Sei que aquelas humilhações a que nos submetíamos apenas para matar a curiosidade, ver os postes no chão, as luzes ou os raios da televisão não traziam alegria, traziam um sentimento de impotência diante de algo que não tínhamos. Não era nada que valia realmente a pena, mas que precisávamos ver, sentir. Certa vez, levantei-me do chão, onde nos era permitido sentar, e pedi, não sei ainda com que coragem, para tocar no vidro da televisão. Acho que riram, entretanto permitiram. Eu o achei duro, frio. A mesma sensação que guardo até hoje da televisão.

         Tudo era novo para nós, era o mundo novo entrando em nossas vidas. Antes tínhamos a lamparina, o rádio, a voz. Agora era a luz, as imagens e com tudo isso a angústia de não ter, de não ser o primeiro. Não sei se isso nos torna tímidos, menores, submissos. Mas sei que aquele sentimento que tive no dia em que o caminhão chegou na outra rua, não na minha, e despejou os postes, me perseguem por toda a existência. Como se fosse meu destino nunca ser o primeiro nunca ter o direito de causar inveja nos outros.
(Professor Alves, novembro de 2011)    

terça-feira, 1 de novembro de 2011

A PROFESSORA NOVA


          
      Trinta anos de profissão, sala de aula, dura lida com aqueles meninos e meninas, mais aqueles que estas, esculpindo-a paulatinamente. Chegou então o grande dia, já fora de hora: a aposentadoria. Os meninos estavam tão risonhos e felizes que até contrariavam a velha mestra. Mas essa ideia contrastava com a festa de despedida. Durante dias os meninos e as meninas se revezaram num esforço contínuo, às escondidas, segredo de lesa-turma. Ninguém podia saber da festa. A despedida. Pediram discurso, os pequenos. Ela com lágrimas nos olhos quase desistiu de vestir a camisola. Mas foi. Abraçou um a uma, e eles o fizeram, como nunca tinham feito.
            Havia, porém, uma incógnita: quem substituiria Professora Maria, na árdua tarefa de ensinar a ler e escrever àqueles pestinha? Logo que se iniciou a semana seguinte ao afastamento, os pequenos, e principalmente os pequenos, exigiram uma professora nova. A ponto de irem até o gabinete da diretora para falar a ela que queriam uma professora nova. A diretora, durante o intervalo, comentou com os professores e as professoras sobre os meninos:
          — Ora vejam só, a gente pensa que esses pestinhas não gostam de estudar! Mas foi só a Maria se aposentar, já vieram à minha sala exigir uma professora nova. Bem ajuizados são eles. Benza-os, Deus!

          A semana se prolongou com dona Fátima solicitando à Secretaria de Educação uma professora nova para substituir Maria, alegando que, além de estarem com o aprendizado prejudicado, os pequenos gostavam muito de estudar e não podiam perder o gosto pelas aulas. O dilema, felizmente, durou pouco. Duas semanas após os acontecimentos narrados, chegou à escola dona Lúcia. Vinha da própria Secretaria. Além de exímia professora era considerada uma das mais experientes técnicas em educação infantil. Faltava a ela cinco anos para a aposentadoria, e era seu desejo terminar sua carreira em sala de aula. Quando dona Fátima recebeu essa notícia, um sorriso lhe alargou a boca de orelha a orelha. “nossa! como os meninos vão ficar felizes”. E foi ela pessoalmente apresentar a nova mesta aos pequenos estudiosos. Entretanto, para sua surpresa, não houve nenhuma atitude que denotasse a alegria dos pequenos, sobretudo dos pequenos. E o sobressalto foi maior quando um dos bem pequenos levantou-se em protesto para dizer em nome da turma:
             — Diretora, nós queremos é uma professora nova, novinha estralando!

(Professor Alves, baseado em um fato ocorrido na EEFM Gonzaga Mota, em Messejana)

NA ESCURIDÃO MISERÁVEL

FERNANDO SABINO  “Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me observava, enquanto punha o m...