quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

FELIZ ANO NOVO



Cortar o tempo

Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente


            Essa extraordinária reflexão do poeta mineiro me levou a uma reflexão nem tão extraordinária, talvez nem chegue à medíocridade.  Mas fico imaginando como é interessante chegarmos ao fim de um ciclo e termos a oportunidade de reiniciá-lo, tentarmos de novo, procurar reinventar o nosso ser e nossas atitudes; chegarmos ao fim de um dígito (2011) e começarmos um novo (2012). Há quem se iluda, achando que algo de excepcional vai acontecer, que sua vida terá um novo impulso, uma nova dinâmica. Entretanto, salvo os revezes ou as fortunas que não ocorrem amiúde porque são revezes e fortunas, nada mudará o curso de nossas vidas. A não ser que queiramos e que façamos algo para que de fato isso ocorra.

            Fico pensando no grande número de pessoas que estão nesse momento fazendo matrícula em academias porque decidiram perder peso, e muito peso; nas pessoas que estão se matriculando em escolas de supletivo porque querem voltar a estudar; nas pessoas que estão fazendo as contas para ver se dá para concluir à faculdade; e até mesmo naquelas que estão vendo o preço do aluguel do “kit net” porque agora vão-se livrar do estorvo, que lhe obstrui a felicidade. Não obstante, logo que se iniciam os dias seguintes e a rotina se torna rotina, todo planejamento vai por água abaixo. E mais uma vez esperamos pela troca dos números para auspiciarmos novas oportunidades.
            Mas, o que me incomoda nesse contexto são os jovens, a final sou educador e eles e elas são o meu alvo de ação e reflexão. Porque eles, mais do que nós, estão iludidos pela mudança dos dígitos. É com eles e elas que os dígitos são mais furiosos e opressores, pois se conosco eles apenas nos frustram, neles deixam marcas. Uma vez que, como bem afirma Drumond, se a idéia de fatiar o tempo foi humana, a idéia de cobrar do tempo  é inumana. E a cada dígito que muda na eternidade, muda outro, na nossa insignificante existência, e na efêmera juventude, assim quem é jovem hoje, com quinze aninhos, logo será adulto com pelo menos vinte. E se o jovem de hoje não fizer algo pela sua idade adulta, preconizada pela eterna dança dos números, chegará lá com imenso débito intelectual e de vida. Não estudou, não namorou, não se divertiu, não se preparou. Será portanto um trabalhador com baixos salários, será um adulto adúltero, será um pândego fora de hora.   

Por isso é tão importante a reflexão a respeito do tempo e suas efemérides, suas mudanças. Em breve seremos libertos desses insensatos pensamentos, assim como Drumond o foi. E ficarão para as gerações futuras as palavras divinas do mineiro, que nos encantou com sua poesia simples. E para todos um FELIZ ANO NOVO, de verdade.
(Professor Alves)

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

UM PRESENTE DO TAMANHO DE UMA VIDA


         Era dezembro, véspera de natal,  de cujo ano não me lembro. Devia ser por volta de 1970, 1972, não sei mais. Há época, o tempo não corria, apenas andava e a passos lentos. Tão lentos que achávamos os anos eternos, ou porque não tínhamos o que fazer ou porque os dias tinham realmente 24 horas e não apenas 16 como aparentam ter hoje. Eu e meu irmão, um pouco mais velho que eu, íamos sempre à tarde para a esquina do quarteirão da rua onde morávamos e ficávamos até perto do anoitecer, quando voltávamos  a casa para esperar papai chegar.
            Havia um rapazinho, 12 ou 14 anos, que passeava de bicicleta rua acima rua abaixo. Era um dos pontos para os quais nossos olhos sonhadores se voltavam. Era bela a bicicleta vermelha, com o moço a conduzi-la, pra lá e para cá. Era possivelmente presente de natal antecipado, e nós nos contentávamos em sonhar com um presente daqueles, digo sonhar porque estava acima das posses de nossos pais. O moço era simpático e sempre sorria em nossa direção.
            Um dia daqueles, quando o sol já abaixava a guarda, ele sorriu e nos disse que no dia seguinte nós iríamos fazer um passeio com ele. Foram mágicas as suas palavras. Naquele dia não dormi, ansiava pelo passeio tão bem anunciado. No dia seguinte a ansiedade aumentava desproporcional à lentidão das horas. À tarde, mais cedo que antes, lá estávamos nós com o coração palpitando. A aceleração dos batimentos cardíacos era grande, tão grande quanto a nossa alegria ao vê-lo se aproximar, colocar-me na garupa e seguir. Não me importava o tamanho da viagem, tampouco o destino. Era grande a alegria que invadia meu ser. Depois foi a vez do meu irmão, em  seguida a minha de novo. E assim se seguiu aquele restante de tarde.

            Não me lembro se esses passeios se repetiram em outras tardes, mas para mim se repetem até hoje. Talvez tenham se repetido de fato, ou não. Não importa, o que importa é o tamanho da alma daquele garoto ao proporcionar tamanha alegria a crianças estranhas. Era natal, e não me lembra ter recebido um presente tão grande e significativo para minha existência.
            Um dia desses me encontrei casualmente com o homem em que se transformou aquele jovem. Estava sentado sozinho em um café. Por alguns instantes hesitei se devia cumprimentá-lo. Fi-lo e recebi um largo sorriso de agradecimento, como se estivesse devolvendo a ele o mesmo presente que me deu há tanto tempo.
    (Professor Alves)

           

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A NACIONALIDADE DE JESUS



Chefes de vários países se encontraram. Todos defendiam que Jesus tinha nascido em seus respectivos países e indicavam as seguintes provas:


a) 3 provas de que Jesus era judeu:
- Assumiu os negócios do pai;
- Viveu em casa ate os 33 anos;
- Tinha certeza de que a mãe era virgem e a mãe tinha certeza de que ele era Deus.

b) 3 provas de que Jesus era irlandês:
- Nunca foi casado;
- Nunca teve emprego fixo;
- O último pedido dele foi uma bebida.

c) 3 provas de que Jesus era porto-riquenho:- Primeiro, o nome dele era Jesus;
- Sempre teve problemas com a lei;
- A mãe dele não sabia quem era o seu pai.

d) 3 provas de que Jesus era italiano: - Falava com as mãos;
- Tomava vinho em todas as refeições;
- Trabalhou no comércio.

e)  3 provas de que Jesus era californiano:
- Nunca cortou o cabelo;
- Andava descalço;
- Inventou uma nova religião.
 
f) 3 provas de que Jesus era francês:
- Nunca trocava de roupa;
- Não lavava os pés;
- Não falava inglês.

g) 3 provas de que Jesus era brasileiro:
- Nunca tinha dinheiro;
- Vivia fazendo milagres;
- Se ferrou na mão do governo.

Não foi possível chegar a um consenso sobre a nacionalidade de Jesus, mas todos concordaram com uma coisa:

- Judas, com certeza, era Argentino...
 

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O CHAMADO
(Para Beatriz, no dia do seu retorno ao céu)   

E Beatriz ouviu o chamado
Caminhou com seu passo calmo
Seu andar tenro
Seu passinho seguro
A voz ela já sabia de onde vinha
Ouviu a voz de sua mãe
“Bia, não se afaste”
Na pujança dos seus dois anos
Já conhecia aquela outra voz
Como era conhecida!!!
Havia vozes nas proximidades
Outras crianças chamavam
“Vem Bia, pra cá”
Teve vontade
a outra voz dizia pausadamente
“vem, meu anjo”
Ela foi
No espelho da piscina
Enxergou a si
O azul dos seus olhos...
O azul da piscina...
O azul dos olhos dEle...
A voz da mãe
“Cadê essa menina...”
A voz das outras crianças
“Vem Bia”
A voz dEle
“Vem, meu anjo”
Por um lapso
Por um átimo
Olhou mais uma vez atrás de si
A mãe se erguia
Viria buscá-la
Rápido pensou
Os dias passados...
As visitas dos tios...
As visitas aos tios...
Já havia se despedido
Colocou seu pezinho
E mergulhou para junto dEle.

(Professor Alves, 11/11)

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A GRANDEZA DO MAR


Paulo Roberto Gaefke(No livro "Quando é preciso Viver" página 29)

Você sabe por que o mar é tão grande?
Tão imenso? Tão poderoso?
É porque teve a humildade de colocar-se alguns centímetros
abaixo de todos os rios.
Sabendo receber, tornou-se grande. 
Se quisesse ser o primeiro, centímetros acima de todos os rios,
não seria mar, mas sim uma ilha.
Toda sua água iria para os outros e estaria isolado. 
A perda faz parte.
A queda faz parte.
A morte faz parte.
É impossível vivermos satisfatoriamente.
Precisamos aprender a perder, a cair, a errar e a morrer.
Impossível ganhar sem saber perder.
Impossível andar sem saber cair.
Impossível acertar sem saber errar.
Impossível viver sem saber viver.
Se aprenderes a perder, a cair, a errar, ninguém mais o controlará.
Porque o máximo que poderá acontecer a você é cair, errar e perder.
E isto você já sabe.

Bem aventurado aquele que já consegue receber com a mesma naturalidade
o ganho e a perda, o acerto e o erro, o triunfo e a queda, a vida e a morte.

Extraído do site: Meu Anjo

terça-feira, 15 de novembro de 2011

EVALDO BRAGA E CARLOS ALEXANDRE: UMA COINCIDÊNCIA?

http://jconlineblogs.ne10.uol.com.br/toques/f

     
            Era o início dos anos 70. Uma das músicas que mais se ouviam no rádio era “Sorria, sorria”, de Evaldo Braga. Sinto ainda as vibrações daquela época, em que não tínhamos noção do que ocorria na política, afinal tinha apenas 8 anos de idade, e as únicas notícias que se ouviam pelo rádio eram as de assassinato de mulheres ou as de futebol. Quase todos os dias o programa A Cidade e A Lei divulgava essas atrocidades cometidas por homens contra suas companheiras, em geral.
          No dia 30 de janeiro de 1973, os jornais trouxeram a imagem de um acidente. Era terrível a cena! Uma carreta e um monte de ferros retorcidos, que antes houvera sido um carro. Era o fim de um jovem negro que conseguira fama, dinheiro, mulheres , depois de uma infância paupérrima de abandono pela própria mãe em uma lata de lixo. As áudio-exibições das músicas do Ídolo Negro ecoaram pelo Brasil inteiro e muitas pessoas choraram.
          Algum tempo depois, surgiu uma voz semelhante à de Evaldo Braga. Não sei se essa semelhança não foi notada ou apenas desprezada. Carlos Alexandre, aos 21 de idade, como seu ídolo Evaldo Braga, desprezado como ele e criado por terceiros, explodia no mercado fonográfico, as rádios tocavam suas músicas o dia inteiro. À época as notícias que mais me chamavam à atenção, porque eram as mais frequentemente divulgadas, continuavam sendo os uxoricídios e os sensacionalismos futebolísticos. Feiticeira ganhou o Brasil e parte dos países que falam a língua portuguesa, sobremaneira Portugal. Mas...
http://www.minhahistoria.com.br/3/fot

          … Em 31 de janeiro de 1989, dezesseis anos após a morte de Evaldo Braga, Carlos Alexandre, nas mesmas circunstâncias, perdia a vida. As imagens e as comoções não foram menos trágicas. E ainda hoje se ouvem as músicas de um de outro. Canta-se ainda o amor, mesmo que frustrado, mesmo que em forma de lixo, mesmo que antitético entre o riso e o choro, entre a cruz e a fama, entre a arma de vingança dos meninos pobres e a sociedade que os despreza ou os usa, como as mulheres assassinadas Brasil a fora, feiticeiras de sua própria desgraça, escravas do machismo insolente e perpétuo, que não cabe mais numa sociedade livre.
(Professor Alves)

domingo, 13 de novembro de 2011

EFEMERIDADE



         Não, eu não amanheci melancólico. Acho que é um adjetivo com o qual não convivo. Não sou de olhar o dia e desejar que já fosse noite, ou olhar a lua e desejar que o sol estivesse a pino. Portanto não sou melancólico. Apesar de refletir sobre a efemeridade do tempo, da vida e do que já fui. Estou sim é chateado com a arrogância humana. Como há pessoas que se acham imortais! Sim pois só esse sentimento justifica, por exemplo, a arrogância, a petulância do nosso governador ao se defrontar com os servidores exigindo seus direitos. O que me levou a essa reflexão foram duas coisas. Primeiro uma propaganda de uma escola particular. A segunda foi a lembrança de um amigo a respeito de um ex-governador já morto.
       A propaganda da escola a qual me referi faz referência a, desculpe a tautologia, equipamentos, como bip, vídeo cassete, máquina de datilografia. Que já estão no esquecimento. As novas gerações já não sabem o que representou isso. Em seguida o publicitário apresenta a Educação como algo que dura para sempre. E conclui: “invista em algo realmente duradouro”. Xou de bola, com x e tudo mais. Tudo nessa vida é passageira, menos o trocador, o motorista e o conhecimento. O governador em pouco tempo será um monte de ossos putrefatos na “frialdade inorgânica da terra”, para lembrar augusto dos Anjos, imortal.
Todos mortos, profundamente mortos

      Quanto ao ex-governador morto, não há nada do que falar, só que ele se foi, como todos nós iremos, e só deixou alegria. Assim é com todos os ditadores, com todos os bonzinhos, estes deixarão saudades. Aqueles, repito, só alegria. Lembro-me fortuitamente de Hitler, Mussoline, Manuel Bandeira, “Estão todos dormindo/ Estão todos deitados/ Dormindo Profundamente”.
(Professor Alves)


domingo, 6 de novembro de 2011

A RUA DOS POSTES



          Passou a chamar-se Rua dos Postes porque foi a primeira rua em que apareceram aqueles gigantes de cimento. Eram finos e compridos. Um dia chegou um caminhão e os despejou ao longo da Outra Rua. Era assim que chamávamos a Rua Rio Tocantins antes dos postes. A novidade foi tanta que mudamos o tratamento, e passou a se chamar simplesmente Rua dos Postes.
           Passamos a ter um respeito quase que imperial pelos habitantes daquela rua. Íamos lá agora com apenas um intuito, ver os postes estirados ao longo do caminho. Os moradores de lá, sobretudo os meninos da nossa idade, nos olhavam com desprezo, e nós os víamos com submissão. Talvez por isso tempos depois ainda tínhamos certa admiração por aquela gente.

            Em breve nossa rua também foi agraciada com os postes. Mas não tínhamos tanto orgulho deles. Os da outra rua, bem mais espertos, foram os primeiros a se levantarem de seu sono secular. Para cumprirem seu trabalho que era iluminar a rua às noites. Os nossos demoraram mais tempo para cumprir sua missão, por isso agora íamos à rua dos postes para ver, mirar as luzes amarelas que brotavam dos pratos brancos que pendiam no alto dos postes. Quando as luzes chegaram aos nossos magricelas cinzentos, já não havia novidade. Mas pelo menos não precisávamos mais nos humilhar par ver a luz que não empretecia as paredes. Agora as luzes iluminavam mesmo e não soltavam o odor do querosene queimando.
          Junto com essas novidades veio a televisão. A partir de agora, à noite, ao invés de corrermos atrás das bandeiras ou brincar de roda, íamos à casa dos vizinhos mais afortunados, ver um pouco daquela luminosidade que continha imagem. Mais uma vez era a submissão que condicionava nosso comportamento. Eu e meu irmão tomávamos banho cedo, e, a contragosto de nossa mãe, íamos em busca dos raios iluminados que a televisão disparava com movimentos em preto e branco. Até que a televisão também chegou à nossa casa, e junto com ela uma leva de outras crianças menos afortunadas ainda que nós.

         Não sei porque escrevo essas lembranças. Talvez para fazer uma catarse, pois são muitas as lembranças que me acometem e me fazem refletir sobre o que de fato traz essa tal felicidade. Sei que aquelas humilhações a que nos submetíamos apenas para matar a curiosidade, ver os postes no chão, as luzes ou os raios da televisão não traziam alegria, traziam um sentimento de impotência diante de algo que não tínhamos. Não era nada que valia realmente a pena, mas que precisávamos ver, sentir. Certa vez, levantei-me do chão, onde nos era permitido sentar, e pedi, não sei ainda com que coragem, para tocar no vidro da televisão. Acho que riram, entretanto permitiram. Eu o achei duro, frio. A mesma sensação que guardo até hoje da televisão.

         Tudo era novo para nós, era o mundo novo entrando em nossas vidas. Antes tínhamos a lamparina, o rádio, a voz. Agora era a luz, as imagens e com tudo isso a angústia de não ter, de não ser o primeiro. Não sei se isso nos torna tímidos, menores, submissos. Mas sei que aquele sentimento que tive no dia em que o caminhão chegou na outra rua, não na minha, e despejou os postes, me perseguem por toda a existência. Como se fosse meu destino nunca ser o primeiro nunca ter o direito de causar inveja nos outros.
(Professor Alves, novembro de 2011)    

terça-feira, 1 de novembro de 2011

A PROFESSORA NOVA


          
      Trinta anos de profissão, sala de aula, dura lida com aqueles meninos e meninas, mais aqueles que estas, esculpindo-a paulatinamente. Chegou então o grande dia, já fora de hora: a aposentadoria. Os meninos estavam tão risonhos e felizes que até contrariavam a velha mestra. Mas essa ideia contrastava com a festa de despedida. Durante dias os meninos e as meninas se revezaram num esforço contínuo, às escondidas, segredo de lesa-turma. Ninguém podia saber da festa. A despedida. Pediram discurso, os pequenos. Ela com lágrimas nos olhos quase desistiu de vestir a camisola. Mas foi. Abraçou um a uma, e eles o fizeram, como nunca tinham feito.
            Havia, porém, uma incógnita: quem substituiria Professora Maria, na árdua tarefa de ensinar a ler e escrever àqueles pestinha? Logo que se iniciou a semana seguinte ao afastamento, os pequenos, e principalmente os pequenos, exigiram uma professora nova. A ponto de irem até o gabinete da diretora para falar a ela que queriam uma professora nova. A diretora, durante o intervalo, comentou com os professores e as professoras sobre os meninos:
          — Ora vejam só, a gente pensa que esses pestinhas não gostam de estudar! Mas foi só a Maria se aposentar, já vieram à minha sala exigir uma professora nova. Bem ajuizados são eles. Benza-os, Deus!

          A semana se prolongou com dona Fátima solicitando à Secretaria de Educação uma professora nova para substituir Maria, alegando que, além de estarem com o aprendizado prejudicado, os pequenos gostavam muito de estudar e não podiam perder o gosto pelas aulas. O dilema, felizmente, durou pouco. Duas semanas após os acontecimentos narrados, chegou à escola dona Lúcia. Vinha da própria Secretaria. Além de exímia professora era considerada uma das mais experientes técnicas em educação infantil. Faltava a ela cinco anos para a aposentadoria, e era seu desejo terminar sua carreira em sala de aula. Quando dona Fátima recebeu essa notícia, um sorriso lhe alargou a boca de orelha a orelha. “nossa! como os meninos vão ficar felizes”. E foi ela pessoalmente apresentar a nova mesta aos pequenos estudiosos. Entretanto, para sua surpresa, não houve nenhuma atitude que denotasse a alegria dos pequenos, sobretudo dos pequenos. E o sobressalto foi maior quando um dos bem pequenos levantou-se em protesto para dizer em nome da turma:
             — Diretora, nós queremos é uma professora nova, novinha estralando!

(Professor Alves, baseado em um fato ocorrido na EEFM Gonzaga Mota, em Messejana)

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

TRÊS GERAÇÕES E UM SÓ DESTINO

        Três gerações trabalham nas obras do estádio Castelão, emFortaleza.” Esse é o título de uma matéria veiculada pelo programa Globo Esporte, da rede Globo.
http://arquivos.tribunadonorte.com.br/fotos/83894.jpg
       Em 1971, na construção do Estádio Castelão, Juraci Damasceno e seu pai (provavelmente morto) trabalharam de pedreiro. Hoje, quarenta anos depois, na reconstrução do mesmo estádio, ele, Juraci, e sua filha, Francisca Falcão Damasceno, trabalham na mesma profissão. Apesar de ela ter nome de Juíza, desembargadora, médica, não o é. É pedreira, como seu avô e seu pai, trabalhando de sol a sol, alimentando-se mal e não tendo condições de dar uma educação digna ao filho ou a filha, pois só assim o círculo se quebraria.
         Não interessa o tom de glamour que a Globo tenha dado ao caso. Trata-se apenas de mais uma história de perpetuação da miséria humana. Como acontece no romance A Bagaceira, em que Soledade perpetua a miséria da família de retirantes iniciada gerações antes. Por sua vez Lúcio, filho do antigo dono da fazenda, é agora o senhor dela. Com Francisca Falcão Damasceno ocorre o mesmo. É preciso que o espelho se quebre, que a linha cíclica que une três gerações, ou muitas outras, se desfaça. Que alguém dessa pobre família tenha acesso aos estudos de fato, para, ao invés de no futuro continuarem se orgulhando de serem pedreiros e trabalharem numa grande obra, se orgulhem de ser engenheiros, médicos, advogados, cientistas.
         Tenho batido nessa tecla com meus alunos tantas vezes, que às vezes acho que eles me odeiam ou no mínimo me acham chato. Quando trabalhava na escola particular, tive como aluna uma das filhas do então governador. Ela estudava numa “classe especial”, com mais uns trinta e nove alunos e alunas. Mas ela não estava lá por ser filha do governador. Estava lá porque tinha competência. Nessa sala só havia alunos com média acima de 9,3. E ela estava lá para perpetuar sua família no topo da pirâmide social. Fico imaginando onde estudou Francisca Falcão, que apesar do sobrenome não teve chance de voar alto. Possivelmente numa escola pública em que os professores, como eu, fazem greve anos sim ano não, para tentar forçar ao governo um reajuste salarial miserável. Imagino-a sem livros, sem tablet, sem bola de cristal (para fazer alusão aos alunos do Christus que já veem as questões de forma antecipada). Vejo-a ainda sem lazer, sem conforto, tendo que acompanhar o pai desde os quatorze anos, virando massa, empurrando carrinho, para só mais tarde aprender a assentar o tijolo, jogar o chapisco, rebocar a parede.
http://imgsapp.esportes.opovo.com.br/app/noticia

         Não vejo como aviltante nenhuma profissão. Meu pai foi pedreiro e meus irmão lhe seguiram o caminho. Eu quebrei o espelho e criei um novo rumo. O que vejo como aviltante é o fato de as pessoas se dobrarem a esse maldito determinismo. Não criarem a consciência de que, apesar das escolas, dos governos, dos políticos e da rede Globo, elas podem fazer sua própria história para reconstruir o caminho das gerações vindouras, e que só a Educação será sua arma para tal fuga.
Que me desculpem o mal tom!  
(Professor Alves)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

SHADOW OF THE COLOSSUS OU A VIOLÊNCIA GRATUITA




       Há três anos, meu filho chegou com uma novidade: queria derrotar dezesseis colossus, no jogo “Shadow of the colossus”. Como sempre faço, fiquei ao seu lado assistindo a aventura de Wander e seu inseparável cavalo Agro. É realmente um jogo para PS2 ímpar. Por isso ganhou tantos prêmios. Wander é encarregado de um uma missão bastante difícil. Ele deve cavalgar, nadar, pular, (como um super-homem) para destruir os colossus numa região inóspita, Região Proibida, com o único objetivo de ressuscitar Mono, uma princesa (?) desacordada, pois só com a morte dos dezesseis colossus ela terá sua alma de volta.

       Num cenário maravilhoso, com uma trilha sonora invejável, Wander, esporeando violentamente sua montaria, segue pelo vale deserto eliminando um a um seus “inimigos”. Mas o que me incomoda é saber o que os colossus, que sequer percebem a chegada de seu algoz, fizeram para merecer tanta violência. Vá lá que seja apenas um jogo. Vá lá até que eu seja admirador desse tipo de “games”. Não me importo que meu filho brinque neste tipo de entretenimento. Acho até interessante. Acho até que é na infância, com jogos assim, que se faz a catarse da violência que quiçá poderia eclodir na juventude ou na idade adulta.
      Mas não deixo de pensar nos pobres colossus toda vez que vejo um deles ser destruído sem dó e sem piedade, por espadadas cruéis desferidas pelo “bom” Wander apenas para que seja resgatada a alma de uma donzela. Esse texto já deveria ser feito há muito tempo, mas toda vez que citava a ideia de redigi-lo, meu filho dizia: “mas será que eles não deveriam morrer, pai”! Creio em que essa ideia do que deve viver ou morrer é muito subjetiva. Por que a moça não deveria continuar morta? Porque ela é linda, como disse meu filho! Entra aí a ideia de que os colossus devem morrer porque são grande e feios!

      Espero que essa violência gratuita fique só no “game”, que as pessoas, crianças, adolescentes e adultas, saibam estabelecer a diferença entre a Região Proibida e a vida real, que saibam distinguir entre os colossus imaginários e os desafios que a sociedade nos impõem dia a dia. Mas meu filho está aqui, buzinando que ele acha que se trata de um dos melhores jogos com que já brincou e o recomenda a quem ainda não o conhece!
(Por Professor Alves e Victor Hugo)

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

NÃO VOLTO MAIS

http://listas.terra.com.br/system/items/000/045/417/medium/pedra_sobre_pedra




          A novela "Pedra Sobre Pedra" teve seu final apresentado no dia 31 de julho de 1992. Nesse dia papai faleceu. "Pedra Sobre Pedra" foi uma "novela das 8". Papai faleceu às 17h. 
       "Pedra Sobre Pedra" contava a história de Murilo Pontes e Pilar Batista. Casal que se amou na juventude e vinte e cinco anos depois via sua história se repetir através de seus filhos. Papai recomeçou a contar sua história quando chegamos em Independencia em janeiro de 1976. No dia 27 de julho de 1992, papai acordou dizendo que estava se sentindo mal. Particularmente não dei muita atenção. Minha relação com ele era marcada por muitos desencontros. Existia uma indiferença recíproca. Hoje acredito que existia mutuamente um amor contido. Não nos rendemos aos nossos sentimentos. Evitei sempre pensar na possibilidade de amá-lo (a gente só descobre isso depois que se vão) porque achava que ele também não me amava. /
http://aqueimaroupa.com.br/wp-content/uploads/2011/03/desencontro-155x155.jpg

        Papai foi internado na Clínica Santa Maria no dia 28 de julho. Quando quis visitá-lo pedi a minha querida amiga Laurice para acompanhar-me ao hospital (não tinha coragem de ir sozinho porque não sabia o que lhe dizer). Recebeu a liberação do Dr. Joel Martins para viajar e internar-se em Fortaleza no dia 30 de julho, numa quinta- feira. Era o dia do penúltimo capítulo de "Pedra Sobre Pedra". Antes de ele partir fui à Praça da Matriz, como de costume, bebericar com os amigos e curtir a ressaca do final das festas de Sant'Ana. Só que ao chegar à praça, senti uma vontade enorme de voltar para casa e vê-lo antes de partir. Uma força estranha me pedia para retornar (coisa que costumeiramente não fazia em todas as suas viagens). Retornei para casa no momento em que ele entrava no seu carro (um Del Rey branco) deitando-se no banco traseiro (nunca havia visto papai nem sentar-se num banco traseiro de carro de terceiros) e achei "aquilo" diferente. Antes que meus irmãos (Wellington e Naelson) entrassem e partissem, resolvi despedir-me e ali pedir-lhe a benção. Ao vê-lo deitadinho, com o corpo miúdo e a cabeça encostada no travesseiro, estendi-lhe a mão: "A benção papai!". Ele levantou a cabeça,  olhou-me, agarrou minha mão: "Deus te abençoe meu filho. Desta vez eu não volto mais!". Não acreditei. Achei até que ele estava fazendo uma "chantagenzinha emocional" para me comover. Enquanto o último capítulo da novela "Pedra Sobre Pedra" rolava na televisão, no dia 31 de julho de 1992, o telefone tocou e com ele a notícia de sua morte através de uma tia: "Enock, eu acho que Badeco morreu". Descobri que poderia ter tido com ele uma relação mais forte. De repente ele se fora. Uma crueldade do destino estava acontecendo comigo. 
          A morte era certa. É certo. Queria ter tido mais tempo para aproveitar sua presença ao meu lado. Lembro-me demais de ele dizendo: "Desta vez não volto mais". Quanto tempo perdido! "Não volto mais"... E ele não voltou mesmo. De Fortaleza seu corpo seguiu para o São Rafael, no Rio Grande do Norte, para ser enterrado. A novela teve seu fim no dia dia 31 de julho de 1992. Teve fim também a presença física de papai no plano terrestre.
   Enock Fonseca, Independência Ceará.

A Tartaruga e a Águia



A tartaruga passava o tempo a lamentar-se por ser lenta e desajeitada. Como gostava de fazer comparações, adorava a beleza e a ligeireza com que se moviam as aves. Não se conformava com a sua sorte e chegava a ficar muito triste.
- Que chatice ter que me arrastar pelo solo, passo a passo e com esforço! Ah! Se eu pudesse voar, nem que fosse apenas uma vez! dizia ele repetidamente, dia após dia.
Finalmente, num dia de outono, conseguiu convencer a águia a levá-la para um passeio pelas alturas. Suavemente e com grande majestade, a águia e a tartaruga elevaram-se no céu, naquela tarde. O animalzinho transbordava de felicidade, ao ver lá embaixo, tão longe, a terra e seus habitantes.
- Ah, que maravilha! Como estou feliz! Que inveja não devem sentir as outras tartarugas vendo-me voar tão alto! Realmente, sou uma tartaruga única! exclamava ela, com a voz tremida pela emoção.
Mas tanto se cansou a águia de ouvir seus vaidosos argumentos, que decidiu soltá-la. A orgulhosa tartaruga caiu como uma pedra, desde milhares de metros de altura, desfazendo-se em cacos ao chegar no chão.
Algumas tartarugas que viram que viram sua vizinha cair, exclamaram cheias de pena:
- Pobrezinha! Estava tão segura aqui em baixo, na terra, e teve que procurar as alturas para perder-se.
Dura lição para quem se empenha em ir contra sua própria natureza. Não é melhor cada um conformar-se com aquilo que é? 

 Do site:             
 http://www.metaforas.com.br/infantis/tartaruga.htm

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

LIBERDADE

        

      Deve existir nos homens um sentimento profundo que corresponde a essa palavra LIBERDADE, pois sobre ela se têm escrito poemas e hinos, a ela se tem até morrido com alegria e felicidade.
      Diz-se que o homem nasceu livre, que a liberdade de cada um acaba onde começa a liberdade de outrem; que onde não há liberdade não há pátria; que a morte é preferível à falta de liberdade; que renunciar à liberdade é renunciar à própria condição humana; que a liberdade é o maior bem do mundo; que a liberdade é o oposto à fatalidade e à escravidão; nossos bisavós gritavam “Liberdade, Igualdade e Fraternidade!”. Nossos avós cantaram: “Ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil!”; nossos pais pediam: “Liberdade! Liberdade! – abre as asas sobre nós”, e nós recordamos todos os dias que “o sol da liberdade em raios fúlgidos – brilhou no céu da Pátria…” – em certo instante.
       Somos, pois criaturas nutridas de liberdade há muito tempo, com disposições de cantá-la, amá-la, combater e certamente morrer por ela.
       Ser livre – como diria o famoso conselheiro… – é não ser escravo; é agir segundo a nossa cabeça e o nosso coração, mesmo tendo que partir esse coração e essa cabeça para encontrar um caminho… Enfim, ser livre é ser responsável, é repudiar a condição de autônomo e de teleguiado – é proclamar o triunfo luminoso do espírito. (Supondo que seja isso.)
        Ser livre é ir mais além: é buscar outro espaço, outras dimensões, é ampliar a órbita da vida. É não estar acorrentado. É não viver obrigatoriamente entre quatro paredes.
       Por isso, os meninos atiram pedras e soltam papagaios. A pedra inocentemente vai até onde o sonho das crianças deseja ir. (Às vezes, é certo, quebra alguma coisa, no seu percurso…). Os papagaios vão pelos ares até onde os meninos de outrora (muito de outrora!…) não acreditavam que se pudesse chegar tão simplesmente, com um fio de linha e um pouco de vento!…
        Acontece, porém, que um menino, para empinar um papagaio, esqueceu-se da fatalidade dos fios elétricos e perdeu a vida. E os loucos que sonharam sair de seus pavilhões, usando a fórmula do incêndio para chegarem à liberdade, morreram queimados, com o mapa da Liberdade nas mãos!…
     São essas coisas tristes que contornam sombriamente aquele sentimento luminoso da LIBERDADE. Para alcançá-la estamos todos os dias expostos à morte. E os tímidos preferem ficar onde estão, preferem mesmo prender melhor suas correntes e não pensar em assunto tão ingrato.
      Mas os sonhadores vão para a frente, soltando seus papagaios, morrendo nos seus incêndios, como as crianças e os loucos. E cantando aqueles hinos que falam de asas, de raios fúlgidos – linguagem de seus antepassados, estranha linguagem humana, nestes andaimes dos construtores de Babel…
(Cecília Meireles)

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

ACRÓSTICO


Lua de mistério que se esgueira entre os meus dedos
Ora se dá ora se nega referindo medos
Uma nota dissonante sempre...
Rindo lindo, linda vista serena
Escudando-se na tênue lâmina do tempo
No emaranhado dos cabelos ao vento
Arma de sedução, e eu querendo Lourena.

Professor Alves, outubro de 2004

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

OS INFILTRADOS



       Jogão! Flamengo e Ceará, digo Ceará e Flamengo. Eu e meu filho torcemos pelo glorioso Ferrim. Que tá ruim que dói. Logo vamos muito pouco ao estádio. E torcemos também pelo Mengão. “Vamos assistir ao jogo, né pai?” Disse Victor Hugo. Assim que soube que os ingressos estavam à venda, corri para o ponto mais próximo. Cheguei atrasado. Só havia ingresso na torcida do Vozão. Fazer o quê. Os outros chegaram rápido. Apenas mil ingressos para os milhares de torcedores do Mais querido do país. Comprei os ingressos e avisei ao meu filho: "Vamos fingir que torcemos Ceará ". Meu filho foi logo lembrando que a torcida do Ceará é cruel, mais ainda que a torcida do Iraque quando sua seleção joga contra o Irã. "Tudo bem, filho, o importante é estarmos lá para vermos nossos ídolos".

        Chegamos ao estádio quase na hora do jogo. Depois de muito empurra-empurra, entramos. Logo de cara, vimos e ouvimos o Ronaldinho sendo esculhambado pela torcida do vozão: “Gaúúúcho, viaaado”. Era cruel, e logo nós que o amávamos tanto. Um cidadão distinto, vestido a caráter, que mais parecia o vovô mascate, me cutucou. “Né bicha ele?” E eu ensaiei: “gaúcho bicha”. Muito fraquinho. O outro me olhou desconfiado. Meu filho então entoou: “Leeeo Moura, bichiiiinha”. E me olhou como dizendo “é assim que se finge”. Segue o jogo e meus olhos seguem os jogadores do Fla. De repente, bola na área do Ceará, Tiago Neves cabeceia na trave. Soltei o palavrão acompanhado de um gesto de cabeça. Um Parrudão me olhou, e eu disse: “Pode dá moleza não, vozão!” e sorri amarelo. Meu filho me cutucou, como quem diz: “não brinca, pai”. De súbito passam por mim uns quatro “pitbulls”. Um deles diz: “ali, ó!” e aponta para um senhor de blusa vermelha. Correm até lá e vejo o senhor se explicando, depois de levar uns safanões dos brutamontes. Eram caçadores de flamenguistas. Aí eu tive certeza do risco que estávamos correndo. Mas o vovô é ruim demais. Mengão na área, Tiago Neves cruza, Deivid faz 1x0.

          Depois do intervalo depois de ouvir um monte de torcedor discutindo sobre o acontecido, enquanto comiam caiduro, voltamos para o segundo tempo. Agora a vítima era o juiz: “bicha vagabunda, não toma o jogo do meu vozão”, dizia um. Outro me cutucava e apontava para o árbitro e eu tinha de xingá-lo também. E a gritaria era grande. Lá do outro lado estavam mil flamenguistas felizes, e eu morrendo de inveja. Meu filho mais ainda. A tortura continuava. O Flamengo atacava, o ceará se defendia, e eu não podia vibrar com meu time.

     De repente os “pitbulls” voltaram. Desta vez empurravam e davam tapas num homem. E gritaram para alguns que estava atrás de mim: “esse estava ali infiltrado, fingindo torcer pelo vozâo”. Nesse momento, ciente do risco, comecei a gritar a plenos pulmões: “Vai pra cima deles, vovôôô!”
(Professor Alves)

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

NÓS QUE AMÁVAMOS TANTO A REVOLUÇÃO


          Esses dias comemorou-se a aniversário de dois brasileiros muito importantes para nossa história, para luta pela democratização , e a luta pela educação pública. D. Paulo Evaristo e Paulo Freire. Dois Paulos. Ambos 90 anos. D. Paulo, corajosamente, rompia o silencio imposto pela ditadura para denunciar a tortura, acolher os torturados e silenciados. Teve papel fundamental para resgatar a memória desse período com o projeto “Tortura Nunca Mais”. Freire tocou as consciências. Acreditava na autonomia e não na tutela, no compromisso e chamava ao coletivo: “Nóss educamos uns aos outros. Ninguém se educa sozinho”. Acreditava na transformação e na educação como fundamental para isso. Ambos declararam sua crença nos seres humanos. No povo e no poder do povo. Por isso, a educação precisa(va) tomar lugar. Educação para a liberdade! Freire não está mais entre nós; D. Paulo, sim.

          Pensei muito nesses dois homens, enquanto assistia às cenas de violência contra os professores e professoras na Assembleia Legislativa. Outra vez, o parlamento como palco de violência contra educadores e a educação. Outra vez a violência comandada, e com a cumplicidade daqueles que, não faz tanto tempo, estavam do outro lado do front e agora tentam encontrar os argumentos que justifiquem essa violência descabida. Havia arma branca. Uma faca! Havia infiltrados entre os professores(!), estavam depredando o patrimônio público. Por isso era preciso uma aula de democracia: a policia, os cacetetes, o spray de pimenta, os murros, os chutes, cabelos puxados, o sangue escorrendo da cabeça do professor.
           O Brasil ainda possui 14 milhões de analfabetos. Dizem os especialista que, se juntamos com os analfabetos funcionais, esse número vai para 24 milhões! Os que lutam pela educação, dizem que com menos que 10% do PIB não se reverte esta realidade. Sigo pensando em Dom Paulo e Paulo Freire e me perguntando para que nos serve, os que sonham com outro mundo , estar no poder institucional , senão para transformar esta realidade! Também não posso me furtar a pensar de que matéria são feitos homens e mulheres que não se dobram, não se corrompem, não abrem mão de suas convicções e muito menos de seus sonhos?
Margarida Marques
Membro da Coordenação colegiada do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente - CEDECA/CE
Rua Deputado João Lopes, 83, Centro, Fortaleza/CE, 85- 32524202

sábado, 1 de outubro de 2011

A BAGAGEM

Amar é Viver !


Quando sua vida começa,
você tem apenas uma mala pequenina de mão.
A medida em que os anos vão passando,
a bagagem vai aumentando
porque existem muitas coisas
que você recolhe pelo caminho,
porque pensa que são importantes .
A um determinado ponto do caminho
começa a ficar insuportável
carregar tantas coisas, pesa demais,
então você pode escolher :
Ficar sentado a beira do caminho,
esperando que alguém o ajude, o que é difícil,
pois todos que passarem por ali
já terão sua própria bagagem.
Você pode ficar a vida inteira esperando,
até que seus dias acabem.
Ou você pode aliviar o peso,
esvaziar a mala.
Mas, o que tirar ?
Você começa tirando tudo para fora.
Veja o que tem dentro:
Amor, Amizade ... nossa!
Tem bastante, curioso, não pesa nada...
Tem algo pesado ... você faz força para tirar...
Era a Raiva - como ela pesa!
Aí você começa a tirar, tirar
e aparecem a Incompreensão,
Medo, Pessimismo.
Nesse momento, o Desânimo
quase te puxa pra dentro da mala.
Mas você puxa-o para fora com toda a força,
e no fundo da mala aparece um Sorriso,
que estava sufocado no fundo da sua bagagem.
Pula para fora outro sorriso e mais outro,
e aí sai a Felicidade!
Aí você coloca as mãos
dentro da mala de novo e
tira pra fora a Tristeza.
Agora, você vai ter que procurar
a Paciência dentro da mala,
pois vai precisar bastante.
Procure então o resto, a Força,
Esperança, Coragem, Entusiasmo,
Equilíbrio, Responsabilidade, Tolerância
e o Bom e Velho Humor.
Tire a Preocupação também.
Deixe de lado, depois
você pensa o que fazer com ela.
Bem, sua bagagem está pronta
para ser arrumada de novo.
Mas, pense bem o que vai
colocar lá dentro de novo, heim !
Agora é contigo.
E não esqueça de fazer isso mais vezes,
pois o caminho é MUITO, MUITO LONGO ...

Um lindo e doce dia!

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

SER CRISTÃO


       Muito bem, filho! É aos dez anos que se realiza a Primeira Eucaristia. Comigo foi assim e com você não seria diferente. É desígnio de todos que foram batizados sob o signo da Igreja Católica. Como o sacerdote bem falou, quando nasceste nós te batizamos, e aos dez, “escolheste” o caminho da cristandade, ou seja, “escolheste” ser cristão. Mas o que é SER CRISTÃO? De acordo com as palavras do padre, parece que ser cristão é professar  a religião católica, ir à missa com frequência, confessar-se em determinadas épocas e comungar.
     Mas para mim ser cristão é muito mais simples. Ser cristão é professar os ensinamentos de Jesus Cristo, e o maior ensinamento dele foi o AMOR. Jesus nunca falou da necessidade de se assistir a missas, nem frequentar igrejas. Até porque Cristo pregava ao ar livre, pregava onde houvesse pessoas precisando de sua palavra. Cristo falava em igualdade, solidariedade. Pelo que me consta nenhuma igreja é solidária, nenhuma igreja prega a igualdade. Se fosse o contrário, não haveria templos que são verdadeiros monumentos, lembrando a suntuosidade dos egípcios, gregos e romanos. Ser cristão é se condoer do sofrimento alheio, é repartir o pouco que se tem, é ter desprendimento para o altruísmo.
       E onde estão os cristãos? Em todos os lugares. Até nas igrejas católicas e protestantes, nos templos muçulmanos e budistas, nas mesquitas judaicas. Digo 'até' porque na verdade ser cristão é muito mais uma atitude do que uma religião. Madre Tereza de Calcutá, católica nascida na macedônia, quando não estava na igreja, estava no meio dos povos necessitados, trabalhando incansavelmente para diminuir as feridas da alma e do corpo; Chico Xavier sempre esteve ao lado de quem estivesse sofrendo, trazendo alento às pessoas que precisavam de seu apoio espiritual; Chê Guevara desenvolveu seu cristianismo, lutando contra a desigualdade e a opressão nos campos de guerrilha. E muita gente, em sua casa, em seu trabalho, a todo instante está preocupada com o semelhante, sendo-lhe solidária e procurando amenizar suas agruras, seja de que ordem for. É claro que o contrário também é marcante. Nas igrejas, nos templos, nas mesquitas, nas esquinas, nos gabinetes, metalúrgicas, bares, sarjetas, enfim, em todos os lugares há pessoas planejando o mal, rindo das mazelas alheias, se comprazendo e/ou tirando proveito delas.

        Portanto, filho, é assim que entendo o Cristianismo, como ensinamento de Cristo. Pode ser que a minha óptica seja por demais simplória, como muitos hão de dizer. Mas de uma coisa tenho certeza. Se todos tivessem amor ao próximo, fossem solidários uns para com os outros, pregassem e executassem a igualdade, amassem e preservassem a natureza em todas as suas formas, não buscassem o acúmulo de riquezas, se todos, enfim, vivessem para o bem comum, o mundo não teria tanta dor, tanto sofrimento. O mundo seria mais CRISTÃO.
(Professor Alves)  

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

SÁBIAS PALAVRAS


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Quando você conseguir superar graves problemas de relacionamentos, não se detenha na lembrança dos momentos difíceis, mas sim na alegria de haver atravessado mais essa prova em sua vida.

Quando sair de um longo tratamento de saúde,
não pense no sofrimento que foi necessário enfrentar,
mas na bênção de Deus que permitiu a cura.

Leve na sua memória, para o resto da vida, as coisas boas que surgiram nas dificuldades. Elas serão uma prova de sua capacidade, e lhe darão confiança diante de qualquer obstáculo.

Uns queriam um emprego melhor; outros, só um emprego.
Uns queriam uma refeição mais farta; outros, só uma refeição.
Uns queriam uma vida mais amena; outros, apenas viver.
Uns queriam pais mais esclarecidos; outros, ter pais.
Uns queriam ter olhos claros; outros, enxergar.
Uns queriam ter voz bonita; outros, falar.
Uns queriam silêncio; outros, ouvir.
Uns queriam sapato novo; outros, ter pés.
Uns queriam um carro; outros, andar.
Uns queriam o supérfluo; outros, apenas o necessário.

Há dois tipos de sabedoria: a inferior e a 
superior.
A sabedoria inferior é dada pelo quanto uma pessoa sabe e a 
superior é dada pelo quanto ela tem consciência de que não sabe.
Tenha a sabedoria 
superior.
Seja um eterno aprendiz na escola da vida.A sabedoria superior tolera; a inferior, julga;
superior, alivia; a inferior, culpa;
superior, perdoa; a inferior, condena.Tem coisas que o coração só fala para quem sabe escutar!
Chico Xavier

NA ESCURIDÃO MISERÁVEL

FERNANDO SABINO  “Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me observava, enquanto punha o m...