terça-feira, 28 de julho de 2015

TEMPO, TEMPO, TEMPO




“Tudo tem o seu tempo determinado,
e há tempo para todo propósito debaixo do céu.”
(Eclesiastes: Tempo para Tudo)

            A partir de então o sonho continuou a se repetir setembro após setembro tal qual se revelara da primeira vez quando eu tinha oito anos. Minha vida seguia seu curso natural. No íntimo eu sabia que tudo viria com o tempo. O tempo é meu grande aliado. Nada de bom me veio que não fosse de forma natural, com o tempo. Há quem diga que quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Mas eu acredito mais no provérbio que diz que a felicidade é como uma borboleta, se a perseguimos, ela foge de nós; mas se a esperamos, no cumprimento do dever, ela virá pousar em nosso ombro inexoravelmente. Assim não há problema pelo qual eu tenha passado até hoje que o tempo não tenha resolvido. Está claro que não devemos correr atrás de problemas para deixá-los às expensas do tempo. Mas diante de um, por mais grave que pareça, não devemos arrancar os cabelos nem pensar em suicídio. A paciência, a calma e a busca de uma solução adequada é a melhor saída. Lembro-me de que certa vez minha mãe me dera o dinheiro para eu pagar o colégio, e eu o gastei, primeiro um pouquinho, esperando repor essa quantia depois. Mas, com nosso espírito consumista latejando, toquei fogo no restante. Quando me dei conta do ocorrido, fiquei desesperado. “E agora, o que vou fazer?”  Perguntava-me atônito, tentando imaginar como agiria minha genitora ao saber que o filho gastara o dinheiro da mensalidade da escola. O que fiz para enganá-la, me envergonha até hoje. Confiando em sua deficiência, destaquei a folha do talão e guardei-a num compartimento escondidinho da minha carteira de cédulas. Ela, que era portadora de miopia, não se esforçaria para ver no canhoto o carimbo da tesouraria da escola. No entanto passei quase todo o dia aperreado para encontrar uma saída. Foi quando de repente me veio a ideia da efemeridade das coisas. Nada dura para sempre, nesta vida tudo é passageiro. O que eu leria posteriormente em filósofos e poetas me era claro como as águas de um rio cristalino. Em Pe. Antônio Vieira, posteriormente eu leria: “O tempo se atreve a colunas de mármore...” Alguém outro também disse: “O futuro será uma eterna tormenta, até que um dia o tempo o torne passado.” E daquele momento em diante, essa ideia passou a me confortar sempre que algum problema tenta me tirar a paz. Até mesmo uma dor de dente, eu a curo com o tempo. Claro está que o problema deverá depois, a seu tempo, ser eliminado. No caso do dinheiro do pagamento da mensalidade escolar, eu fiz uma caixinha e todos os dias colocava uma ou mais moedas, que pedia a um tio e a meu pai sem dizer para quê. E grande foi minha felicidade, quando no final do ano tinha recuperado quase todo o capital extraviado. E a ideia de que as coisas são fugazes sedimentou-se em mim, pois como disse o profeta: “Passarão céu e terra, só minhas palavras não passarão.”
(Professor Alves, do romance De Sonhos, de Vidas e de Encontros)

domingo, 15 de março de 2015

MEU PROTESTO CONTRA QUEM É CONTRA PROTESTO



    Certo pensador, desses que voam de galho em galho, disse certa vez que “eu posso não concordar uma vírgula com o que você diz, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-lo”. Isso significa o quanto devemos respeitar o pensamento, as ideias assim como as posições de outrem. A partir desse raciocínio, gostaria imensamente de compreender por que alguns setores da sociedade, sobremaneira comunistas de pijama ou jovens ainda alienados que, como ratos, percorrem os corredores infectados das universidades, de não acharem legítimo o protesto da classe média brasileira contra o arrocho que lhe vem impetrando o governo populista brasileiro.
    Durante a semana vimos comentários tentando desqualificar o panelaço contra o governo do PT. Frases como “as panelas eram de marca Tramontina”, muitos mandaram suas empregadas baterem panelas”, ou coisa do gênero. E daí, que fossem panelas Tramontina! E daí que fossem da sacada de apartamentos bem estruturados, com pé direito duplo e tudo mais! E daí!! Minha mãe sempre dizia que “quem sabe onde o sapato aperta é quem calça”. E nesse momento o sapato que mais aperta e os pés que mais reclamam são sim o da classe média. Por que então tentar descaracterizar um movimento que é legítimo! Ou será que só os  movimentos dos trabalhadores, trabalhadores rurais sem terra, trabalhadores sem teto é que é são legítimos? E se há bandeiras de partidos “burgueses” como querem alguns, não há bandeiras de partidos aproveitadores pseudo trabalhistas ou populares encrustrados feito carrapato em cu de cachorro em todos os movimentos dos trabalhadores de toda a natureza?! Na greve dos professores aqui em Fortaleza havia mais pessoas envolvidas com movimentos, intencionados em tirar proveito das circunstâncias, do que mesmo professores conscientes, na luta por melhores salários e condições de trabalho. Quando chegou o momento de a greve acabar, foi um deus nos acuda porque os pseudo trabalhadores da educação iam perder seus palanques.   
    Portanto quando algum ingênuo tentar descaracterizar algum movimento, qualquer que seja, é bom lembrar que todos temos o direito de protestar. Nós trabalhadores da Educação, os moradores sem teto, os trabalhadores rurais sem terra. Até os banqueiros têm direito de protestar quando seus lucros não chegarem aos costumeiros “n” mil por cento. Creio em que se a Classe média está protestando, com panelas Tramontina, em sacadas de pé direito duplo ou em carros importados, deve ser porque o governo na hora de bancar os programas sociais não está financiando com o dinheiro dos banqueiros do Itaú, Bradesco, Santander ou de mega empresários. Mas está tirando tudo do bolso de quem trabalha, seja da classe média alta, Classe média média, ou da Classe média baixa.
(Professor Alves, indignado, em 15 de março de 2015)

NA ESCURIDÃO MISERÁVEL

FERNANDO SABINO  “Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me observava, enquanto punha o m...