sábado, 27 de fevereiro de 2010

PAGAMENTO FINAL



Al Pacino aparece como Carlito Brigante em Pagamento Final. Possivemente uma das suas melhores performance. Carlito, ex-traficante, gângster, recém saído das prisão, procura finalmente sair da criminalidade, mas é impedido pelo seu próprio destino. Daí o título em inglês "Carlito's way".
Braian de Palma desenvolve um roteiro que, como já foi dito, reproduz o clichê de filme policial com gângsteres, mocinhos e bandidos. Mas o filme está longe de ser clichê, por dois motivos. Primeiro a performance de Al Pacino, outra pelo desfecho inesperado. Só um bom professor de Literatura, acostumado a romances como Germinal de Zola e/ou O Cortiço, do maranhense Aloísio Azevedo, filhos da vertente realista caracterizada por forte determinismo, é que pode perceber nas entrelinhas o final trágico. Além de al Pacino, Sean Pen está numa de suas melhores participações no cinema. É imperdível, eletrizante. É um passeio pelo submundo do crime. É eroticamente feliz. É aquilço que podemos chamar de tudo de bom. Não se assiste a esse filme só uma vez. Duvido, desafio quem tentar fazê-lo. É bom lembrar que Carlito é um imigrante porto riquenho, numa terra que discrimina tanto quem lá chega, realmente é impossível fugir ao destino que foi traçado na fronteira.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O AÇÚCAR



O AÇÚCAR



O branco açucar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.

Vejo-o puro
e afável ao paladar
como beijo de moça, água
na pele, flor
que se dissolve na boca. Mas este açucar
não foi feito por mim.

Este açucar veio
da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira,
dono da mercearia.
Este açucar veio
de uma usina de açucar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.

Este açucar era cana
e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale.

Em lugares distantes, onde não há hospital
nem escola,
homens que não sabem ler e morrem de fome
aos 27 anos
plantaram e colheram a cana
que viraria açucar.

Em usinas escuras,
homens de vida amarga
e dura
produziram este açucar
branco e puro
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.


Colaboração do companheiro Roberval Holanda. Colabore você também, com uma poesia de sua autoria ou de sua profunda admiração. É só enviar para o e_mail: francisandradealves@hotmail.com

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

JOÃO HÉLIO NÃO MORREU




(Por Professor Alves, 23/02/2010)

João Hélio não morreu
o sol é para sempre
ele continua vivo mais do que nunca
antes ele só era conhecido dos familiares
ele só era amado pelos seus
hoje ele tem o amor de uma nação
seu nome ecoa silenciosamente
pelos quatro cantos desse imenso país

João Hélio não morreu
o brilho que há nele ilumina toda a terra
cada lar sente benfazejo a luz de seu olhar
ninguém faça alarde para não acordá-lo
de um sono que o leva pra junto de Deus
aqui na terra como no céu ele continua vivo
em todos nós, em cada olhar de  criança.

João Hélio não morreu
ele está no meio de nós,  multiplicou-se
em milhares de Joões Hélios
é nome de praça será nome de filhos
será nome de ruas
é assim que se encontra a imortalidade
quando se  imola para redimir um país.

Não, João Hélio não morreu
ele brinca de ser pingente
descendo calmamente sem pejo
escorregando pela face da gente
e como trapezista passeia
de lado a lado na consciência das autoridades
que não querem que ele viva.

Mas João Hélio, Senhores,
continua  e lhes diz, abusado:
“olhem em volta e vejam o país que estão destruindo!
quantos sóis serão necessários para que criem vergonha na cara,
para que deixem de brincar de pessoas sérias!”
ele caminha de mãos dadas com os pais
por entre letras dos jornais, revistas e páginas da internet
em busca de mudança,em busca de solução.

João Hélio está vivo e viverá eternamente
deixemos, pois, que ele, cansado de chacoalhar,
de brincar, de zombar dos donos do país
descanse em paz para de quando em vez
despertar dos braços de Morfeu
e sorrateiramente nos acordar
com olhar brincalhão
pois João Hélio não morreu!
            (Poema composto em 10/02/2007)
          

As lágrimas de Lula e o espírito olímpico de Tostão



14/10/2009
Por Edilson Silva* – http://twitter.com/EdilsonPSOL, em 12.10.2009 


Lula chorou no anúncio da vitória do Rio de Janeiro para sediar os Jogos Olímpicos de 2016. Não há razões para se duvidar da honestidade das lágrimas do presidente, afinal de contas, lá no seu íntimo, ele deveria estar pensando algo do tipo: “nunca antes na história deste país…”
As emoções fazem parte do espírito olímpico. Ali, naquele momento, era como se o presidente estivesse num pódio, recebendo uma coroa de louros, como na Grécia Antiga. A superação, a vitória! As lágrimas foram inevitáveis. 
Mas o espírito olímpico do presidente parece resumir-se às lágrimas que percorreram o mundo na velocidade da luz. Enquanto a comitiva brasileira, composta de notáveis como Pelé e Paulo Coelho, comemorava a vitória em Copenhage, e outros tantos milhões de corações brasileiros vibravam onde estivessem, mas certamente com mais força na praia de Copacabana, onde uma grande festa acompanhava a definição do resultado, o governo Lula ia costurando um proposta que em nada se assemelha ao espírito olímpico. 
A tal proposta prevê a premiação com cerca de R$ 400 mil a cada um dos campeões mundiais de futebol pela seleção canarinho. Somente aos campeões e somente para a modalidade futebol. A primeira e contundente reprovação veio do sóbrio Tostão, campeão e craque de bola da seleção de 70, em artigo publicado em jornais de grande circulação:“(…) Podem tirar meu nome da lista… (…) O Governo não pode distribuir dinheiro público. Se fosse assim, os campeões de outros esportes teriam o mesmo direito. E os atletas que não foram campeões do mundo, mas que lutaram da mesma forma? 

Sobra espírito olímpico em Tostão. Há um déficit razoável deste espírito na turma do governo Lula. E não só por conta desta proposta, mas pelo que foi feito no Pan, por exemplo, realizado também no Rio de Janeiro em 2007. Para o governo, os esportes são negócios capitalistas, onde os campeões conseguem se virar e os derrotados devem amargar a dor da pobreza e da falta de condições mínimas para serem “tão somente” atletas representantes de seu país. 
Mas Tostão não se limitou a recusar o prêmio e criticar o seu casuísmo. Deu pistas de onde o governo poderia investir o dinheiro e depositar sua vontade de contribuir para os esportes: (…) O que precisa ser feito pelo Governo, CBF e clubes por onde atuaram esses atletas é ajudar os que passam por grandes dificuldades, além de criar e aprimorar leis de proteção aos jogadores e suas famílias, como pensões e aposentadorias. É necessário ainda preparar os atletas em atividade para o futuro, para terem condições técnicas e emocionais de exercer outras atividades. A vida é curta, e a dos atletas, mais ainda (…)”.
É um craque, dentro e fora das quatro linhas. Quem sabe o Lula não se emociona também com mais este golaço do Tostão? 
Presidente do PSOL/PE

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

VIDA, crônica de rachel de queiroz

DO PRIMEIRO dia ao último, sempre essa ilusão, esse engano: você pensa que está vivendo - qual! - e todo tempo você está morrendo. Ninguém vive - todo mundo apenas morre. Acontece que o processo de morrer é lento, e a esse acabar-se devagarinho é que os homens chamam de viver. Nasce um menino, por exemplo. Veio roxo e mudo, é um pequeno defunto maltratado. O médico faz as manipulações clássicas, cabeça para baixo, palmada, ar no pulmão - o menino dá um grito agudo e dilacerante e o pai sorri deslumbrado: "Meu filho está vivendo, começou a viver!" viver nada, seu idiota, seu filho começou foi a morrer. sim desde aquele primeiro instante. Porque vida é um processo negativo, enquanto a morte é o processo positivo. Viver é andar para trás, é ceder terreno, é assim como um perde-ganha. A gente faz a conta da idade: quantos anos já viveu? Para que essa conta, senão por um único motivo: para fazer o cálculo provável do quanto ainda nos resta, antes de morrer. A cada ano, a cada dia, a cada hora e minuto, você tem menos vida dentro de si: menos coração, menos veia, menos músculo, menos reserva na fonte de energia. viver, para resumir, é usar-se. Lanterna de bolso com a pilha que não se substitui. Acabou-se a pilha, acabou-se tudo, joga fora o casco inútil, que luz não sai mais dali.
E ASSIM, portanto, não adianta ambição. Você trabalhando por um lado, a morte trabalhando pelo outro, são como duas cobras que se mordem pela cauda. você se agitando, cuidando que está construindo, enquanto ela, silenciosa, rói sem parar a  estrutura interna, deixando apenas a ilusão da superestrutura: mas é oca, já não tem nada dentro. você compra, vende, aprende alemão, constrói casa nova e faz ginástica. Tudo isso a serviço de quem se supões vivo - pelo menos por um prazo: como se o relógio parasse para você gozar um momento a paisagem e o ar bom! Porém na verdade você desde o começo é um meio morto, que aos pouco vai se entregando - todo dia um pedacinho, até à entrega definitiva.
E DEPOIS não adianta orgulho. você ergue a voz - mas sabe por acaso com  o que conta para apoiar a sua arrogância? Talvez na sua caixa do peito só reste um fole vazio. Seu passo é firme, agora, mas pode estar cambaleante dentro de dez minutos. Sabe, talvez você há anos esteja se mantendo de pé apenas por auto-sugestão.
E ESCUTE MAIS: nem o pudor adianta. Esse ciúme de si mesmo que muitos pensam que é virtude, essa valorização da carne-viva, esse mistério, que nem aos olhos amantes se devenda total, essa fração de corpo secreta e triste que todos escondemos até de nossa própria vista - talvez hoje, talvez daqui a pouco, seja tirada ao seu controle, entregue às mãos dos outros, exposta, manipulada, discutida, retratada. E aí de que serviram tantos anos de recato? para chegar a tal exibição?
E ENTÃO para que todo esse esforço? Para que glorificar o que é apenas um simples processo de desgaste e enfeitá-lo com paixões, conquistas e esperanças? Se viver é a própria negação da vida, ou  a sua destruição - para que sofrer e lutar, enfrentando esse duro caminho que não leva a lugar nenhum? É como nadar de terra para o mar alto. Adiante não há mais nada, só água funda, comedeira. Então que loucura é essa de oferecer o peito à vaga, furar a rebentação, cortar a água com os braços? Por mais que se esforce o nadador, mais hora menos hora, terá que parar, exausto, mergulhando de vez na onda amarga. Digam, digam: - para que deixar a praia, se há a certeza de que nada espera o nadador, nada, senão a asfixia final?

           (Rachel de Queiroz, in 100 Crônicas Escolhidas, josé Olimpo Editora, 3a edição, Rio 1973) 

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Frases de grandes homens

"É incrível a força que as coisas parecem ter quando precisam acontecer." (Caetano Veloso)






















"Os poetas como os cegos podem ver na escuridão" (Chico Buarque)


"Quanto mais conheço os homens, mais admiro as mulheres." (Alguém muito inteligente)






"Quando uma mulher quer ir para a cama com um homem, não existem barreiras que ela não destrua, não existem tabus que ela não quebre, não existe deus que valha." (Gabrial Garcia Marquez)









"Não existem estranhos, o que há são amigos que não nos foram apresentados." (Chaplin)


"A felicidade é como uma borboleta, se a perseguimos desesperadamente, ela foge de nós, mas se a esperamos no cumprimento do dever, ela vem pousar em nossos ombros." (Freud)


"Para que servem os calos, senão para aumentara felicidade dos pedestres." (Machado de Asssis)
















"Ser culto é a única forma de ser livre." (Não me lembro agora)




"O ódio é um ônus, a vida é muito curta para se viver zangado. Não vale a pena." (do filme A Outra História americana)








"Se pobre tivesse sorte, pobre não nasceria pobre, já nasceria rico." (eu, Professor Alves, frase proferida pela personagem Caco Antibis, num dos episódios do programa Sai de Baixo da Rede Globo)



segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A GENIALIDADE DE CHAPLIN

A PERENIDADE TEXTUAL

A PERENIDADE TEXTUAL
(Por Professor Alves)

        

    É incrível como alguns textos conseguem ser eternos. Essa perenidade, entretanto, não é privilégio de todos os escritos. Apenas alguns conseguem ser perpétuos. Entre eles está O Último Discurso, de Charles Chaplin. Talvez quando o autor o compôs não tivesse o intuito de perpetuar as ideias nele presentes. Quiçá o fizera apenas para seguir as orientações americanas contra o Nazi-facismo. A atualidade de seu programa, bem como a existências de governantes inescrupulosos responsabilizaram-se pela eternidade do discurso.
            O texto é na verdade um apelo à união dos povos contra as tiranias e uma apologia das qualidades humanas. Isso está claro na afirmação “Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo.” Mais a frente Chaplin vai-nos lembrar que a tecnologia (à época, a aviação e o rádio; hoje, a televisão, a telefonia, a internet) é “um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós”, e na sequência arremata “lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais”.

 

            Não obstante o fato de essas ideias percorrerem o globo dia após dia, hoje, mais do que nunca, se propaga a cultura do indivíduo, do egoísmo. Hitleres há em toda parte, embora camuflados de democratas, pseudo-realidade do mundo moderno. Em função da cultura do eu. Querem um exemplo? No seu comentário esportivo de hoje (28/09/2007), Juca Kfouri iniciou dizendo:
            − 27 de setembro de 2007, dia de Marta. Numa referência ao bom futebol exibido pela atacante brasileira contra a seleção dos Estados Unidos. Não é de se estranhar que quando um repórter a entrevistou ela tenha proferido:
            − EU sou assim...
Claro! Se os comentários exibidos no dia anterior já a individualizaram, tornaram excelência perante as outras, enalteceram o indivíduo em detrimento do coletivo! É óbvio que ela também o faça. Esquecem-se de que o grupo poderia vencer sem ela, ela não o faria sem o conjunto. Pois são como formigas, que só realizam prodígios em conjunto. Sozinhas são ínfimas; unidas, porém são imbatíveis e eficientes. É assim que somos.

            É assim que políticos (meu objetivo é este sim), colocando-se como representantes do povo, desprezam amiúde o coletivo, agem peremptoriamente em proveito próprio, a ponto de um senador, quando da absolvição do outro, cujo nome me dá nojo até digitá-lo, disse a uma emissora de rádio que os senadores não podiam atender ao apelo popular e assim cassar o facínora porque o povo não sabe o que quer, "o povo não está por dentro do que acontece dentro do Congresso"

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            E é assim que políticos de todas as cidades do país se preparam para uma guerra particular que desenvolverão em 2008 (hoje 2010) para atingir seus interesses particulares. É por isso que a prefeita de Fortaleza listou 21 projetos que executará em 2008 (o mesmo agora acontece em 2010), ano de eleição (por que não os realizou antes?). Isso está acontecendo também na sua cidade! Mas o pior de tudo é que os de sempre estão se preparando para a eleição e arregimentando o povo para defendê-los em praça pública. O Povo ingenuamente vai para as ruas brigar, discutir, morrer pelos seus candidatos, esquecendo-se de que eles sãos os mesmos que, na eleição passada, prometeram lutar por interesses coletivos, ofereceram melhor Educação, Saúde e Segurança e nada fizeram.



                        É por isso que nos sentimos no direito de parafrasear as palavras de Charles Chaplin: Eleitores não se entreguem a esses brutais... que os desprezam... que os escravizam... que arregimentam as suas vidas... que ditam os seus atos, as suas idéias e os seus sentimentos! Que os fazem votar no mesmo passo, que os submetem a uma alimentação regrada, que os expõem à violência, que negam a seus filhos o direito a uma Educação de verdade, que os tratam como um gado humano e que os utilizam como marionetes! Vocês não são irracionais! Humanos é que são! E com o amor da humanidade em suas almas, saberão finalmente encontrar o caminho, que não o do voto, mas o da união, da solidariedade, da cooperação.
(28/09/2007)

Esse texto, que foi escrito em 2007, como atesta a data, poderá ser publicado em 2020, se não nos cuidarmos, continuará atual. 

NA ESCURIDÃO MISERÁVEL

FERNANDO SABINO  “Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me observava, enquanto punha o m...