Mais uma poetisa cearense de grande vulto, escondida pelo cânone masculino
AO CORAÇÃO
Porque suspiras, coração dolorido?
Ermo de afetos, cheio de amargura!
Fugiu de ti a plácida ventura!
Eis-te sozinho, a suspirar descrido!
Não mais no mundo pérfido, iludido.
Serás de afetos vãos da criatura,
Brilha em teu céu uma esperança pura,
É Deus que atenta o ser desiludido!
Busca o conforto místico, que vem
Trazer-te a luz, que dimanou do bem,
E que fulgiu nos braços de uma cruz;
Despreza os bens efêmeros da terra,
Busca o tesouro que somente encerra
O amor perfeito que sonhou Jesus.
(Almanach dos Municípios do Ceará, 1908, pág. 121)
PRECE
Oh! Bendita Virgem, Mãe piedosa,
Nívea dos céus, Maria Imaculada
Dentre as flores do céu mística rosa
Entre as mulheres, Santa proclamada!
Tua pureza Angélica e ilibada
Não teve manchas... Linda, fulgurosa
É corno de uma estrela, a luz radiosa
Que esgarça a treva aos beijos d’alvorada.
Conforta o nosso pranto, escuta a prece
Do triste, do exilado que padece,
Nesta vida cruel, desoladora;
Oh! Tu, Onipotente junto a Deus,
Desprende sobre nós do azul dos céus
Tua benção de Mãe consoladora.
(Revista A Estrella, Aracati, abril de 1915 p. 2)
PARA O IGNOTO
(Ao ilustre Cel. Probo Câmara)
Eles têm que partir!... A caravana triste
Despede-se a chorar de doce abrigo,
No campo nem sequer uma florzinha existe,
O flagelo varreu todo o esplendor antigo!
A casinha, esta sim, tão alva inda persiste,
Inda guarda o verdor o juazeiro amigo;
Mas, lá longe, na estrada, o horror, o desabrigo,
A saudade cruel a que ninguém resiste!
E eles têm de partir! O rossicler do dia
Já brilhou no horizonte em clarão de agonia,
A lembrar-lhe o exílio em um país remoto.
Olham mais uma vez a casa... o céu azul
E se vai chorar o triste bando exul,
Em procura do Além, em busca do Ignoto.
(Revista A Estrella, ago/set de 1915)