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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

NÓS QUE AMÁVAMOS TANTO A REVOLUÇÃO


          Esses dias comemorou-se a aniversário de dois brasileiros muito importantes para nossa história, para luta pela democratização , e a luta pela educação pública. D. Paulo Evaristo e Paulo Freire. Dois Paulos. Ambos 90 anos. D. Paulo, corajosamente, rompia o silencio imposto pela ditadura para denunciar a tortura, acolher os torturados e silenciados. Teve papel fundamental para resgatar a memória desse período com o projeto “Tortura Nunca Mais”. Freire tocou as consciências. Acreditava na autonomia e não na tutela, no compromisso e chamava ao coletivo: “Nóss educamos uns aos outros. Ninguém se educa sozinho”. Acreditava na transformação e na educação como fundamental para isso. Ambos declararam sua crença nos seres humanos. No povo e no poder do povo. Por isso, a educação precisa(va) tomar lugar. Educação para a liberdade! Freire não está mais entre nós; D. Paulo, sim.

          Pensei muito nesses dois homens, enquanto assistia às cenas de violência contra os professores e professoras na Assembleia Legislativa. Outra vez, o parlamento como palco de violência contra educadores e a educação. Outra vez a violência comandada, e com a cumplicidade daqueles que, não faz tanto tempo, estavam do outro lado do front e agora tentam encontrar os argumentos que justifiquem essa violência descabida. Havia arma branca. Uma faca! Havia infiltrados entre os professores(!), estavam depredando o patrimônio público. Por isso era preciso uma aula de democracia: a policia, os cacetetes, o spray de pimenta, os murros, os chutes, cabelos puxados, o sangue escorrendo da cabeça do professor.
           O Brasil ainda possui 14 milhões de analfabetos. Dizem os especialista que, se juntamos com os analfabetos funcionais, esse número vai para 24 milhões! Os que lutam pela educação, dizem que com menos que 10% do PIB não se reverte esta realidade. Sigo pensando em Dom Paulo e Paulo Freire e me perguntando para que nos serve, os que sonham com outro mundo , estar no poder institucional , senão para transformar esta realidade! Também não posso me furtar a pensar de que matéria são feitos homens e mulheres que não se dobram, não se corrompem, não abrem mão de suas convicções e muito menos de seus sonhos?
Margarida Marques
Membro da Coordenação colegiada do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente - CEDECA/CE
Rua Deputado João Lopes, 83, Centro, Fortaleza/CE, 85- 32524202