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quarta-feira, 7 de maio de 2014

VIOLÊNCIA, CALMA!



                
Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal perde
o sabor, com que lhe será restituído o sabor?
Para nada mais serve senão para
ser lançado fora e calcado  pelos homens.
(Mateus, 5: 13 – 16)

Nesse último final de semana, alguns fatos ocorreram que me deixaram pelo menos horrorizado e reflexivo sobre o caminho pelo qual a (des)humanidade está se orientando. E não são poucos esses casos, nem são bonitas as suas práticas.
Em Fortaleza, mais precisamente no bairro Cajazeiras, onde moro, um irmão matou o outro a chutes e pontapés, perdoem-me a redundância, é que sempre vi diferença nessas expressões. Desculpem-me ainda por ofuscar os olhos de algum leitor fortuito, eu também sei contar histórias alegres, animadas e, às vezes, até cômicas. Mas o que me trouxe a essas teclas foi a angústia da violência, que cresce e nos embrutece, violência, a qual não podemos dizer gratuita, porque custa muito caro e o ônus não é material. O preço é social, abstrato, moral. O motivo desse fratricídio  não interessa muito. Parece que foi uma acusação real ou inventada. Mas me medra essa justiça feita pelas próprias mãos, em crescimento Brasil a fora.
                Nesse mesmo final de semana, em São Paulo, uma mulher, acusada de sequestro de crianças para ritual de magia negra, foi brutalmente linchada por populares e seu corpo arrastado pelas ruas. A tragédia foi ainda filmada e divulgada na internet. Tampouco me interessa dizer que tudo não passou de um terrível equívoco. O que me choca é o modo como a população volta à barbárie e comete atrocidades que envergonharia uma matilha de cães famintos.
                Na pacata cidade de Cocal, no Piauí, onde eu me encontrava para a realização de um concurso público, um “amigo”, com um gogó de garrafa, abriu o companheiro de bebedeira do umbigo ao ligamento das costelas. Esse óbito também me deixou triste, e a cidade, cuja população tem riso fácil e ações prestativas, estarrecida. Mais um em que não foi utilizada a famigerada arma de fogo, mais um que prova a involução do ser humano, próximo aos seus instintos mais primitivos.
                Mas o final de semana não estava completo, infelizmente! Em Pernambuco, um torcedor, com o perdão da palavra, arremessou sobre outro, de outro time que não o seu, um aparelho sanitário. Sim, se você viu a cena, ouviu a notícia e ainda está incrédulo, repito uma pri-va-da. Se ele tivesse atingido o “adversário” com o conteúdo do vaso, certamente não teria feito tanta merda.  Esse assassinato de repercussão mundial não só me entristeceu, como também me desnorteou. Mas uma vez um brutal assassinato não foi cometido por armas, mas por um instrumento cuja finalidade é outra bem diversa.
                Lembrei, assim, de uma cena grotesca que presenciei há muitos anos. Era domingo e eu me dirigia à casa de um amigo, quando tudo aconteceu. Um homem, possivelmente um pastor evangélico, com uma bíblia debaixo do braço, encontrou-se com um rapaz, e os dois discutiram. De súbito, o pastor bateu forte na cara do rapaz com a bíblia! Pasmem, com a bíblia. O ataque foi tão violento que o rapaz caiu. Nisso o pastor cristão pisou sobre o ventre do indivíduo e bateu-lhe com o livro sagrado, pelo menos cinco vezes, até que outros crentes que vinham atrás correram e evitaram o pior. E o pior seria um homem morto a golpes de bíblia.
                Quando da campanha do desarmamento, eu me pus contra porque imaginava, como ainda imagino, que não adianta retirar as armas do cidadão, das pessoas. O que mata não é a arma, mas o instinto assassino, que parece entranhado entre os neurônios daqueles que se dizem racionais. As pessoas quando alimentam seus instintos destruidores, utilizam, como vimos nos exemplos acima, qualquer coisa que possa eliminar o outro. E esse outro não precisar ser inimigo, bastar não estar sintonizado com aquele num dado momento. É preciso desarmar o homem desses desejos violentos, da sua incredulidade no bem, uma vez que só aquele que não acredita no bem é capaz de se deixar levar pelo mal, de agir pelo mal. Faz-se necessário, pois, armá-lo com o verdadeiro cristianismo, com a paz, com o perdão do Sermão da Montanha. Bem aventurados, portanto, aqueles que buscam ter Jesus no coração. Assim seja! (maio de 2014)