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terça-feira, 8 de julho de 2014

QUE VENÇA O MELHOR

QUE VENÇA O MELHOR
Afligem-me as expectativas com relação ao resultado do jogo entre Brasil e Alemanha, pelas semifinais da copa do mundo de 2014. Me afligem e me deixam preocupado, se é que as duas expressões não são sinônimas, porque eu não vi nem ouvi de nenhuma  “personalidade” do mundo do futebol e/ou do mundo da televisão,  da política ou da religiosidade brasileira, pessoas que são formadoras de opinião em nossos brotos, uma resposta do tipo “QUE VENÇA O MELHOR”. Todos são unânimes: TEM QUE DAR BRASIL! E eu me pergunto “como assim, tem que dar Brasil?”.
Pode ser que alguém queira saber o porquê de meu espanto. E aí é que vem a reflexão. Imaginemos que todos nós, pais, professores, mães, tias, pastores, padres, líderes espíritas e até alguns políticos, queiramos um país de bem, um país em que se respeitem as faixas de pedestres, a leis constitucionais, o pagamento de  impostos de forma consciente, as leis de trânsito e que se tenha até orgulho dos nossos velhinhos, aposentados que tanto têm para ensinar aos nossos adolescentes inconsequentes. Se isso for verdade, não podemos admitir que seja verdadeira a premissa de que o Brasil tem que vencer a qualquer custo. Com gol de pênalti mal marcado aos 49 do segundo tempo, como ouvi de comentaristas esportivo. É preciso, pois, que se pregue para nossas crianças e adolescentes: QUE VENÇA O MELHOR.
Recentemente assisti a uma palestra (e dela participei) cujo tema era exatamente a maior perda de todas: a morte. E eu então faço a seguinte pergunta: como podemos querer que nossas crianças e nossos adolescentes se preparem para perdas grandes se não as educamos para a perda de um mínimo campeonato de futebol, quem não vale nada? Como queremos que nossos adolescentes, grande preocupação de pais e educadores, respeitem as leis naturais e as leis criadas pelos homens; como podemos querer que o Brasil no futuro seja um país grande com pessoas sensatas, honestas; como podemos querer que nossas crianças sejam, no futuro, políticos honestos que conduzam o Brasil ao primeiro mundo, se nós adultos dizemos em alto e bom som: temos que ganhar de qualquer maneira? Quão imbecis somos, não?
Quando escrevi a respeito de Brasil 3 X 1 Croata e aquele pênalti mal marcado, recebi algumas críticas. Compreendi então que me achavam tremendo idiota, imbecil. É preferível ganhar, mesmo que seja desonestamente. Assim os políticos que colocamos no poder eleições após eleições, estão isentos de qualquer punição, pois somos nós que damos a eles o aval: é preciso lucrar, ganhar, não importa como. Mas sei que não. As pessoas, coitadas, embriagadas pelo vinho entorpecedor do materialismo, do imediatismo é que estão equivocadas, porque a euforia da vitória passará, mas a lição de que é preferível vencer a qualquer preço ficará na mente de nossas crianças e adolescentes, até que se tornem adultos e achem normal, roubar, traficar, sonegar, desrespeitar. É por isso que digo ao meu filho QUE VENÇA O MELHOR!
(Francisco Alves de Andrade, 08 de julho de 2014, 14:24 h)


sexta-feira, 13 de junho de 2014

BRASIL 3 X 0 CROÁCIA (QUE ME PERDOEM O MAU TOM)


O Brasil é um país moldado, preparado, destinado à corrupção. Infelizmente esse é o  diagnóstico a que chego depois de ter assistido à vitória do Brasil sobre a Croácia, neste 12 de junho de 2014. Estou deveras desapontado, e peço desculpa a qualquer um que venha ler essa crônica, ou que  pergunte minha opinião a respeito da estreia do Brasil.
Digo isso porque, logo após a partida, me dirigi à casa de  amigos e lá encontrei todos felizes soprando apitos,  balançando bandeiras, numa alegria que contrastava em muito com a minha frustração, meu humílimo desolamento , minha insaciável  necessidade de cidadania. É, eu sofro deste mal!  Pois bem. Lá chegando fui abordado por um amigo dos meus ex-amigos que, me abraçando, ao me ver com minha surrada camisa da seleção, herança ainda de 82, quando a única seleção que deveria ter ganho o mundial não o fez, me perguntou sobre a minha felicidade quanto à maiúscula vitória do Brasil sobre a Croácia. Eu então pedi desculpas e mostrei meu descontentamento sobre o resultado. Disse-lhes que entendia que esse era o grande momento da redenção nacional. Esse seria o verdadeiro grito do Ipiranga, digo, do Itaquerão, a verdadeira independência. Seria esse o  momento em que Fred diria ao juiz “Professor”, sim porque aqui só quem não é tratado por professor é quem realmente merece, “não foi pênalti, eu, sem querer, me joguei...”. Tudo bem que o jogador seja analfabeto e nunca tenha estudado nada sobre ética! Mas, e a torcida? Esta poderia ter entoado o brado retumbante de que não havia sido Pênalti. Mas como o juiz já estava com o pagamento na sua conta bancária – só agora entendo a afirmação do Sr. José Maria Marin, presidente da CBF, de que ‘só um milagre tiraria essa copa do Brasil’ –  essa torcida poderia ter pedido ao Neymar para que esse mandasse a bola na arquibancada, imaginem quanto seria maravilhoso, jogadores de seleção, exemplo de consumo neste país, sendo exemplo de comportamento e ética!!
Imaginem o Brasil ser redimido e só assim ficar independente! Duvido que houvesse protestos nos jogos seguintes, duvido que black-blocs tivessem a quem cooptar, duvido que não houvesse um brasileiro que não torcesse pela seleção. Mas não! Continuamos com nossa vocação para a corrupção. Vamos sorrir, gritar, comemorar nossa seleção que, para ganhar da incipiente Croácia, teve que contar com a luxuosa colaboração do árbitro, que há quatro anos deixou de marcar um pênalti a nosso favor e contra a Holanda (dívida?).
Fico às  vezes pensando, e aqui queria pedir desculpas profundas a todos que agem com retidão, que eu é que sou o corrupto por querer que o Brasil vença a copa em seu território de forma honesta, por querer corromper as pessoas para que deixem de ser espertas e tomem fila ao invés de espertamente furá-la, por querer que a honestidade se superponha ao jeitinho brasileiro e que o caráter seja mais valioso que o cretinismo. Queria honestamente sorrir com a desonestidade dos nossos comentaristas, que tentam justificar os erros de arbitragem, mesmo quando fica claro que não houve erro, mas mal intenção.
Mas quero me solidarizar com Valter Casa Grande Jr., quando este indagado pelo corrupto maior do esporte brasileiro, Galvão Bueno, se nunca havia simulado um pênalti daquela maneira, ele disse firmemente que não. O locutor mor da Globo, fez uma cara de desdém, como a dizer “otário”!

(Francisco Alves, junho de 2014)

quarta-feira, 3 de abril de 2013

CIDADANIA





















Que palavra é essa
sem efeito
que efeito é esse sem causa
que causa é essa
que não se entende.

Existe um homem pobre
existe um filho sumido
existe um filho vivo
existe só descaso.

Que nome é esse
sem sentido
sentido sem razão
razão sem História
História com eco.

Eco de tristeza
eco de medo
eco de fome
eco sem nome.

(Professor Alves)

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

CIDADANIA: ESSE É O CAMINHO


A Semana > Entrevista Revista ISTO É
|  N° Edição:  2150 |  21.Jan.11 - 21:00 |  Atualizado em 27.Fev.11 - 12:45

Dom Manuel Edmilson da Cruz

"Votar em corrupto é votar na morte"
Bispo que rejeitou homenagem do Congresso lidera movimento para atrelar o reajuste dos parlamentares ao aumento do salário mínimo
Francisco Alves Filho
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INDIGNAÇÃO
Dom Edmilson diz que o brasileiro já

não suporta tanto desrespeito 

Os políticos costumam ser generosos quando seus salários são o assunto. Não há crise ou urgência de corte de gastos públicos que os constranjam. Invariavelmente, eles reajustam seus ganhos bem acima do patamar conseguido a duras penas pelos trabalhadores brasileiros. O último aumento auto-concedido pelos congressistas foi de nada menos que 61%, o que, considerando salários e benefícios, elevou para R$ 2 milhões o custo anual de cada um dos 81 senadores. Cada deputado federal passou a custar R$ 1,4 milhão anuais para o contribuinte. Mas este agrado ao próprio bolso, acertado com rapidez no final do ano passado, acabou provocando um movimento que se espalha pelo País: a defesa de uma lei que atrele o reajuste salarial dos parlamentares ao do salário mínimo e das aposentadorias.
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"O Congresso não tem ninguém do porte
de um Nelson Mandela, que baixou em
50% o valor de seus honorários”
No centro da articulação por esta nova lei está o bispo emérito de Limoeiro do Norte, no Ceará, dom Manuel Edmilson da Cruz. Ele vem recebendo e-mails de todo o País incentivando-o a assumir a liderança de uma campanha destinada a controlar o apetite dos parlamentares. Dom Edmilson, aos 86 anos, foi o responsável pela reação direta ao último aumento abusivo. Ele tinha sido convidado ao Senado, em dezembro, para receber a comenda dos Direitos Humanos Dom Helder Câmara, por sua luta em favor dos menos favorecidos do Nordeste. Da própria tribuna do Senado, no entanto, recusou a condecoração e deu um sermão nos parlamentares: “Isso (o aumento de 61%) é um atentado, uma afronta ao povo brasileiro, ao cidadão, à cidadã contribuinte”, disse dom Edmilson. “A comenda hoje outorgada não representa a pessoa do cearense maior que foi dom Helder Câmara. Desfigura-a.” Com quase 50 anos como bispo e acostumado a enfrentar os poderosos do Nordeste – inclusive criticando frente a frente generais que pontificavam na época da ditadura militar –, ele afirma que o “representante do povo” que votou a favor do aumento não é digno de tal função. “Isso não é um parlamentar, é ‘para lamentar’.”
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“Qual candidato, por mais abortista que fosse,
iria dizer ao povo que era a favor? Foi inoportuno
tratar do aborto na campanha"
 

ISTOÉ - O seu discurso no Senado ainda repercute muito
Dom Edmilson – Recebo e-mails pedindo para que eu lidere uma campanha por todo o Brasil para tornar lei uma proposta segundo a qual os salários dos parlamentares devem ser reajustados pelo mesmo percentual concedido ao salário mínimo e às aposentadorias. Essa ideia está movimentando muitos grupos pelo País afora, do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Rio de Janeiro, do Paraná, de Minas Gerais. É um movimento espontâneo, de cidadãos que sentem que não é possível continuar do jeito que está. A luta vai ser para transformar a proposta em projeto de lei. Por onde passo, recebo manifestações de apoio.

ISTOÉ – Qual seria o parâmetro para o aumento dos políticos?
Dom Edmilson – Concordo com a ideia de que o aumento dos políticos deveria ser o mesmo concedido ao salário mínimo. Isso daria um resultado muito grande como mudança de mentalidade. Passaríamos a fazer as coisas caminharem nos trilhos certos.
ISTOÉ – Alguns parlamentares defendem o percentual atual de aumento, dizendo que têm uma despesa muito alta...
Dom Edmilson – Isso não entra na minha cabeça. Tudo o que eles usam é pago com o nosso suor e o nosso trabalho. Há fatos que esses representantes fazem que não têm qualificação. Recentemente, um deles queria ressarcimento do erário público de uma noite de motel... Isso é razoável?? Uma pessoa tão bem remunerada cobrar do povo uma conta desse tipo? Não é possível aceitar uma coisa dessas

ISTOÉ – O sr. acha que forma de reajuste será mudada em curto prazo?
Dom Edmilson – Houve repercussão às minhas palavras e espero que haja algum efeito. Não porque fui eu que disse, mas porque essa é uma reclamação que está na alma do povo brasileiro. Sinto que o povo não está mais querendo aceitar esse tipo de coisa. Há uma exigência indignada por mudanças. Isso pode ter consequências, como desordens e coisas parecidas

ISTOÉ – O sr. vai participar de manifestações públicas?
Dom Edmilson – Recentemente, alguns estudantes me ligaram para ir a um evento público. Eu disse que não iria, nem ficaria bem, já que haveria também a presença de líderes partidários. Não apoio nem partidos nem candidatos. Poderei participar de qualquer debate sobre a ideia se não houver vinculação a algum partido. Entendo que não é tempo de aliança da Igreja com poder nenhum, seja de forma implícita ou explícita. Mas é tempo de colaboração com todos os poderes pelo bem do povo.

ISTOÉ – Qual deve ser a participação da Igreja na política nos dias de hoje?
Dom Edmilson – Há muitas possibilidades e muitas respostas para esta pergunta. Penso que no momento devemos colaborar para a formação da consciência cívica do cidadão. Nós herdamos uma tradição multisecular que veio de Portugal e Espanha em que, algumas vezes sem querer e sem notar, agimos como corruptos. Vou dar um exemplo. Imagine um sacerdote novo, cheio de boa vontade, que fique responsável por uma paróquia no sertão distante. Se esse padre quiser manter um colégio naquele lugar, vai passar por muito sofrimento, já que os pais não têm dinheiro para pagar e não se pode dispensar o aluno. Digamos que algum político queira ajudar e dê uma subvenção de R$ 1 milhão por quatro anos. O padre, no entanto, recebe R$ 900 mil e deve assinar como se tivesse recebido o total anunciado. Isso não é corrupção? Claro que sim, mesmo que haja muita boa vontade de ajudar o povo. Isso, infelizmente, acontece.

ISTOÉ – O que o levou a recusar a comenda naquela solenidade do final do ano passado?
Dom Edmilson – Estamos em um momento em que as aposentadorias estão baixas, o salário mínimo é insuficiente, os reajustes dos trabalhadores são ínfimos, como aconteceu com os motoristas de ônibus de Fortaleza que pediam 26% e ganharam apenas 6%. Pois em meio a essas injustiças, os parlamentares aprovam aquele aumento (de 61%) em seus vencimentos. Aquilo é uma bofetada nos contribuintes brasileiros, que são quase 200 milhões. Isso é insensibilidade, é desrespeito a si próprio e ao povo.
ISTOÉ – O sr. também foi acusado de ter desrespeitado o Congresso.
Dom Edmilson – Foi em respeito à instituição que fiz aquilo. Não quis afrontar ninguém. É uma questão de convicção, tento colaborar para o bem de todos. A minha fala teve uma repercussão muito grande porque coincidiu com o sentimento da populaçã

ISTOÉ – Como os senadores receberam as suas críticas?
 
Dom Edmilson – Alguns ficaram de cara emburrada, outros não. O Cristóvam Buarque vibrou, aplaudiu na hora. Houve quem argumentasse que as críticas deveriam ser consideradas no futuro, quando houvesse um novo reajuste, mas eu disse que essa atitude deveria ter sido tomada agora. Outro parlamentar disse que minha manifestação poderia ter sido feita de outro modo, em outro momento. Não. Era para ser naquele momento e naquele lugar. Eu estava dando uma colaboração ao dizer algo que tem a concordância da maioria absoluta do povo brasileiro. A população não apenas concorda, mas reage indignada. Digo com toda a humildade e sem querer dar lições a ninguém: temos ali no Congresso pessoas competentes, boas pessoas, grandes homens, mas ninguém ainda do porte de um Nelson Mandela, que, ao tomar posse na Presidência de seu país, fez baixar em 50% o valor de seus honorários.

ISTOÉ – O que o sr. acha do político que votou a favor desse aumento abusivo?
Dom Edmilson – Essa pessoa não representa o povo. Estará causando a morte de muitos, já que vão faltar recursos para a saúde, para o transporte, para a educação. E as pessoas morrem por causa disso. O que está por trás desses aumentos é algo muito profundo. É uma atitude inominável.

ISTOÉ – Qual a responsabilidade do eleitor na má qualidade dos políticos brasileiros?
 
Dom Edmilson – Vingou a ideia do ex-governador de São Paulo, Adhemar de Barros, que muitos diziam ser um grande administrador, mas que outros tantos também acusavam de roubo. E ele dizia: “Roubo, mas faço.” Agora, o pessoal pensa que todos os políticos são corruptos e os eleitores votam no candidato que acham que vai fazer alguma coisa, querem resultados. Com muita frequência, este político, depois de eleito, despreza a saúde, a educação... Aqui em Fortaleza temos pessoas em estado terminal espalhadas no corredor do Hospital Geral. O que o médico pode fazer, com 20 pessoas esperando por ele e sem recursos? Situações parecidas acontecem em outras cidades, até capitais. Isso ocorre porque a contribuição que deveria ir para a saúde é desviada. É uma coisa cruel demais. Por isso, cunhei a frase: votar em político corrupto é votar na morte.

ISTOÉ – Como o sr. viu a participação maciça de grupos religiosos na última eleição presidencial?
Dom Edmilson – Acho que os religiosos, sejam eles católicos, sejam evangélicos, tinham o direito de se manifestar contra o aborto. Mas, falar sobre o assunto naquela hora, puxar o assunto na campanha presidencial, achei inadequado. Naquele momento, qual o candidato, por mais “abortista” que fosse, que iria dizer ao povo brasileiro que era a favor do aborto? Criou-se um mal-estar desnecessário, foi inoportuno. Aborto não é um assunto religioso, é um assunto humano, é assunto relativo à vida.

ISTOÉ – Como o sr. vê o crescimento das denominações evangélicas? Estão tirando o espaço da Igreja Católica?
Dom Edmilson – Há muitos fiéis que saem das igrejas católicas, mas há muitos fiéis que saem também das outras religiões. O importante é que vejo que há uma sede de Deus, talvez pela insegurança que a população vem sofrendo. Observo que vez ou outra um engenheiro, um arquiteto, não apenas o povo mais humilde, pede ao padre uma bênção. Outro dia, uma senhora grávida pediu para que eu pusesse a mão em sua barriga para que abençoasse a criança que vai nascer. Mesmo em meio ao progresso tecnológico, ainda se mantém a fé, essa busca pela segurança divina.