Mostrando postagens com marcador Soneto. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Soneto. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 6 de março de 2012

AMOR E DESPEITA


SONETO I
(do anonimato)

Sabe, Senhorita, o quanto suspiro
Toda vez que teu cheiro por mim passa
Sabe que se a teus pés não me atiro
É a voz do orgulho que o meu peito enlaça.

Sabe que os meus olhos seguem teus passos,
Quando mudas de rumo a face viro,
Sem querer me olhas, sonho ter teus abraços,
Assim que partes, triste me retiro.

No entanto mal surge o dia seguinte
‘Magino sorridente  o teu semblante
E anseio logo estar perto de ti.

Vejo, então, feito um reles pedinte,
Do anonimato, o peito radiante,
Teu olhar que sempre igual nunca vi.

(Professor Alves)

SONETO II
(do enlace fatal)

Porém, Senhorita, em breve estarás
Matrimônio ao pé do altar contraindo
Como um cisne, em véu contente sorrindo,
Triste, sombrio, meu peito deixarás.

Quando pisares o degrau vermelho
E as estrelas brilharem por teu encanto
Em teu louvor derramarei meu pranto
E então sonharei ser teu espelho.

A vida seguirá seu curso normal
Entanto algo em meu ser estará vazio
Um pedaço de mim estará faltando:

É teu olhar agora inda mais formal
É teu sorriso ainda mais fugidio:
A esperança anônima enfim findando.

                    Professor Alves,  setembro de 2003
  

POST CONUBIUM
(da despeita)

Senhora, ontem casualmente a vi,
Fiquei pasmado com sua ímpar figura
Tão que no que vi, Senhora, não cri:
Há muito não via tanta feiura.

Lembra-me a beleza que antes medi:
Porte airoso, corpo esbelto, tez pura,
Sua fina mão que outrora segui,
Seu lindo sorriso, digno de mesura.

Porém, a imagem que hoje vislumbrei,
Dois cambitos, bucho proeminente,
O rosto diferia do que eu beijei.

Tão pouco tempo, meu bem, se passou
(Se não me engano, faltam-lhe dois dentes)
E o casamento com você acabou!
                  
 ( Professor Alves, janeiro de 2005 ) 

sábado, 15 de janeiro de 2011

SINA


Um homem e uma mulher a que se destinam?
Para o entrelaçamento amoroso
Para o riso farto depois do gozo
Para a união que cheira à fresca resina.

Antes no varandim, as mãos unidas,
A lua fitando mesmo sem vê-la,
Ou no barzinho, ouvindo estrela,
Só este pensamento une duas vidas:

Na favela, caatinga ou mansão
Sem pejo, enigma nem mistério
Homem e mulher, lúbricos, se olham.

O amor, o sexo movem uma nação
Que digo, galáxias inteiras se amam!
E nisso não há nenhum despautério.
             (Professor Alves; 2005)

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

NEL MEZZO DEL CAMIN...



Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...

E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

Hoje, segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.

(Mário Pederneiras, Poesias, Sarças de fogo, 1888.)

sexta-feira, 14 de maio de 2010

SONETO DO AMOR TRAÍDO

SONETO DO AMOR TRAÍDO

Não há traição:
                        Quem ama não trai nunca.
Seu amor não 'tá só no que defronta
mas n'alma com que olha
                                     - e o que vê sempre


É o seu próprio ser 
                             multiplicado.
E não se trai a si. 
                           Quando
                                       (por curvas)
alguém larga um alguém por outro alguém,
isso já estava morto
                               e martelava
por hábito
                por vício
                             por capricho
ou por receio de encarar o novo
que entanto acresce
                                enquanto o já provado
apenas nos repisa.
                             Se é traição
quem trai faz um favor:
                                  derrete o nó.
E segue a natureza
                              porque aquilo
não era mais amor: 
                              - era insistência.             
  
 (Pedro Lira, in Desafio)                

sábado, 1 de maio de 2010

SONETO DE DEVOÇÃO




SONETO DE DEVOÇÃO
(Ode ao mais querido)

O amor imenso que brota no peito
Tem a cor da vida, é da carne a cor!
O medo é negro, tem a cor da dor.
Rubro e negro o matiz de um povo eleito!

Amor e medo paradoxo perfeito
Quando o que explode grená é uma flor!
Mas como pode sem nenhum pudor
Os opostos casarem desse jeito?

Porque existe no mundo uma devoção
Que une pessoas também diferentes,
Faz ricos e pobres um hino entoar!

Mais que um time, és uma religião
Somos Raça, Somos Amor, e Paixão,
Oh meu, ò seu, ó nosso: MENGÃO! 

           Professor  Alves, setembro de 2003

sexta-feira, 11 de julho de 2008

SONETO DA BELEZA

SONETO DA BELEZA
(Para Vanessa, uma beleza ainda arisca )


A beleza não está no que defronta,
Mas na alma plena que se manifesta.
Não está na roupa com que se apronta,
Mas no sorriso que se abre em festa.

É um esplendor que o dedo não aponta,
É um detalhe que um muxoxo empresta.
Todos dizem: linda! Demais da conta!
Se faceira, o mundo todo a requesta.

Porém se o belo não se faz notar,
Não se mostra em linhas sinuosas,
Se fica assim a formosura latente,

Não se vai desta forma realçar,
Não serão as graças então formosas,
A alma fria não estará contente.
(Professor Alves, junho de 2008)