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terça-feira, 29 de julho de 2008

PARA AUGUSTO CÉSAR




PARA AUGUSTO CÉSAR, COM UM POUCO DE ATRASO
(sacratíssimo imperador, filho do amigo Erasmo Belarmino)

           "Filhos! melhor não tê-los
                    Mas se não os temos
                    Como sabê-los!?"  (Vinícius)
Amigo Erasmo, há algum tempo ponho as roldanas da minha cabeça para funcionar com o objetivo de homenagear seu sacratíssimo filho com um texto. Desisti de buscar metáforas que não sejam clichês, antíteses e sinédoques. Não tendo talento para fazer um texto à altura do seu rebento, resolvi fazer apenas a homenagem. Afinal quem chega precisa de receber um bom-dia, um boa-tarde, ou um boa-noite. É falta de educação da parte de quem já está aqui não fazê-lo. Desenvolvi então as idéias que seguem, perdão se é apenas um texto medíocre.

Filhos são interessantes! Chegam e nem sequer nos cumprimentam. Pelo contrário, nos olham como se não nos estivessem vendo e nos olham com cara de “o que foi”. E a gente se derrama todo, fica feliz, ri à toa, bate foto e chama os vizinhos: “Não é a cara do pai?” Não. Filhos não se parecem com ninguém. Bebês então é que não se parecem mesmo. Parecem-se só uns com os outros, como se fossem todos gêmeos. E são todos lindos. Até os bebês dinossauros são belos como os nossos. Especialistas dizem que são artimanhas para se protegerem de nós. É, mas infelizmente alguns não conseguem.
Filhos são interessantes! E crescem sempre. Um dia você chega do trabalho, pensando em encontrar um bebezinho no berço, e toma um susto. Tem um menino, olhando para você com cara de “o que foi”? Do dia para a noite estão andando dentro de casa, ditando modas e modos. A casa passa a estar como eles querem, ou seja, desarrumada, brinquedo pra tudo quanto é lado, sofá rasgado, parede riscada. Para nós nos restam as saudades da arrumação.
Filhos são interessantes! De repente perdemos nossa identidade, e a casa! Passamos a ser apenas o pai e a mãe de fulano. Nossa casa, antes tão nossa, agora é a casa de fulano, nossos pertences agora não nos pertencem, para usar o computador, por exemplo, temos que pedir emprestado. E nossas férias já não são nossas. São eles que decidem o que vamos fazer. E haja escultura na beira da praia, correr atrás da bola que o vento teima em jogar para frente, enquanto a cerveja esquenta na mesa. E sentimos saudades do tempo em que aproveitávamos as férias para curtir uma gelada, enquanto mirávamos pernas com o canto do olhos! Lembra? São só lembranças.
Mas filhos são realmente interessantes! Principalmente quando começam a estudar. Perdemos a hora do almoço só para esperá-los na porta da escola todos os dias. E quando vêm (todo breado, a farda mais parece pano de chão) lembramos de nós, do futuro. Se somos professores, então, resolvemos que não vamos incorrer no mesmo erro. Ele vai ser astronauta, arqueólogo, no mínimo médico.
É, filhos são realmente interessantes! Além de nos deixar órfão de esposa, de pais (nossos pais agora são avós dele, esqueceram!) e objetos, tão pessoais, nós o amamos e damos a vida por eles. A vida não, todas ! Um amigo, quando o filho pegou uma pneumonia, fez uma promessa de que se ele ficasse bom, ele (o pai) não precisaria mais nascer. Sério. Pois é, amamos a ponto de fazermos coisas antes inimagináveis. E tudo para sermos pais, e em agosto comemorarmos o dia dos pais, e recebermos presentes, que nós mesmos pagamos.
Filhos são realmente muito interessantes.
(julho de 2008)