Mais que em
qualquer outro lugar,
No Ceará se
agradece
Se o tempo é
limpo, sem nuvem
E se o sol a
terra aquece,
Se se treme
à claridade
Ou se ao
longe um som estremece.
E o povo
cabra da peste,
Gente humilde
reza a Deus,
Agradecendo
por tudo:
Paz, luta, motivos
seus,
Olha o céu e
diz brigado,
Mas cuidai
dos filhos teus.
De repente,
o céu se muda
E vem grande
maravilha!
Se a Asa
branca retorna,
Se uni logo
a família,
Dando-se
graças a Deus,
Ficando de
lado a bilha.
Caindo os
primeiros pingos,
Desde o
primeiro momento,
A vida é só
alegria,
Não existe mais
lamento,
Quando chove
no sertão,
Desaparece o
tormento.
No sertão de
Independência,
Ao se ouvir
a melodia
D’água
batendo lá fora,
É bem grande
a euforia,
Pois logo a
vida se alegra
É bem grande
a alegria.
Busca-se
logo notícia,
Se choveu em
todo canto,
Se não foi chuva
isolada,
Preocupa-se
logo, entanto,
Saber se foi
chuva boa
Chuva de
charco e encanto.
As notícias
logo correm:
“Tem açude
já sangrando,
As lavouras
dando milho,
Gente, bicho
se banhando,
É muita
bênção de Deus
Que nós
estamos ganhando.
“Jaburu já
tem é água,
Em breve já vai
sangrar;
Lá no açude
do Eliardo,
Dá até pra
se banhar;
O Falcão é
um absurdo
É muita água
a transbordar!
“A Pedra
Lisa tá bonita,
As águas
muita a correr,
A gente vai
tirar self
E alguns já querem
beber,
Mas é
preciso cuidado
Pro de bom
acontecer.
“O Açude do
seu França,
Da dona Rita
Também,
E aquele do seu
Honório,
Daqui um
pouco mais além,
Tá tudo
cheim de peixe!
Que alegria
a gente tem!”
O Açude
Barra Velha
Falta ainda
transbordar,
Mas é só questão
de tempo
Pro gigante
desaguar.
E quando
isso acontecer,
Todo mundo
vai cantar.
De Brasília até
São Paulo,
Vai ter gente
a despertar,
Amantes
daquela terra
Passagem logo
a comprar:
“Vou passar
Semana Santa
No meu
torrão, meu lugar”
Vem do Pará
e dos Estêites,
Maranhão e
Piauí,
Vem até do
Juazeiro,
Vem gente do
Icaraí
Gente de
todo canto,
De canto
longe daqui.
E é na
Semana Santa
Que vai ser
grande a biqueira,
Bebida de
todo jeito,
Carne a
assar na madeira,
Muita reza e
alegria,
Festa, riso
e brincadeira.
É sempre
assim que acontece
No Nordeste
brasileiro,
Mas puxo
brasa à sardinha
Do torrão
hospitaleiro,
Independência
que amamos
Com querer
bem verdadeiro.
(Alves Andrade, março de
2020)