(Alves
Andrade)
Em um
depoimento à Rádio Bandeirantes, um professor de Direito disse que muitas vezes
se sente um professor incompetente ao dar aulas para alunos que não leem, não vão
ao cinema ou ao teatro, não viajam. E que em outros momentos se sente o melhor
professor do mundo, quando está diante de alunos que têm acesso à leitura, ao cinema,
ao teatro, a viagens etc. Com poucas
palavras, se faz entender e o tempo rende, e o aprendizado é quase imediato.
Lembrei-me
dessa entrevista devido aos resultados do PISA, exame internacional de
proficiência básica em Leitura, Matemática e em Ciência. O Brasil mais uma vez
fica atrás de cinquenta países, ocupando
a posição 57ª entre setenta países examinados. O máximo que se conseguiu foi a
compreensão de uma ideia explícita. Interpretar uma letra de Caetano Veloso,
impossível. Apesar de o novo presidente da Biblioteca Nacional, Rafael
Nogueira, ter associado o poeta, músico e pensador baiano ao analfabetismo de
nossos jovens. Segundo ele, os livros didáticos têm muitos textos de Caetano, Chico, Gabriel (o Pensador) etc, por isso nossos jovens não conseguem tirar
boa nota no PISA (grifo nosso)*.
Voltando
às palavras do professor de direito supracitadas, lembro-me de que tenho
colegas na rede pública de ensino que também trabalham na rede particular, em
grandes escolas, cujos alunos são bem alimentados, possuem padrão de vida
confortável, viajam, vão ao cinema (nunca ao teatro), mas não leem. Por esse
último motivo, continuam analfabetos e, se um dia se formarem em universidades
particulares, continuarão analfabetos. Esses colegas, pelo que me consta,
realizam o mesmo trabalho, com o mesmo denodo com que o fazem na rede privada.
O
professor de Direito está certo. Se trabalhamos com alunos mais predispostos ao
entendimento, eles vão brilhar mais rápido. O problema é que nem lá (na
privada) nem cá (na pública) existem leitores, logo não haverá entendimento. E se
aqueles vão se formar e continuar o legado de seus pais, estes não irão, mas o
legado será continuado por motivos óbvios.
Aqui,
a fome, a falta de oportunidade de leitura e o a falta de empenho do estado são
os grandes culpados pela derrota do menino. Lá, eles nunca serão vitoriosos,
porque diploma não resgata dignidade. Continuarão obnubilados pela incerteza da
existência. Terão dinheiro, filhos na mesma escola, quiçá fama, mas não serão
livres das amarras da ignorância, que os prendem nas teias do preconceito ou da
boçalidade mesmo.
Aqui,
a polícia, a serviço do Estado, continuará a mandar para o cemitério milhares
de jovens, como aqueles pisoteados em Paraisópolis, ou aqueles que são
chacinados todos os dias nos morros cariocas e nas ruas de Fortaleza, Teresina,
São Luiz, como os onze que foram violentamente assassinados pela polícia do Sr.
Camilo Santana, em 2015. A truculência do estado não tem partido, não tem
ideologia. Quando não for a polícia, serão as péssimas condições de vida que os
empurrarão para a vala comum, como as duas crianças que morreram hoje, pela
madrugada, queimadas em barracos Brasil a fora. Seja no jangurussu, em Fortaleza,
ou num barraco na zona sul de são Paulo, conforme a que estampou o portal G1,
deste 03/12.
No
entanto o capitão manda a manobra, E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar, Diz do fumo
entre os densos nevoeiros: "Vibrai
rijo o chicote, marinheiros! Fazei-os mais dançar!..." E o chicote
estala. O mesmo chicote citado por Castro Alves (não tem metáfora, não tem
figuras, é tudo verdade) foi o que encurralou os jovens num beco sem saída lavando-os
ao pisoteio, lá em Paraisópolis. O Capitão dos navios negreiros continuam em
ação, seja no Planalto seja nos camburões. Lembremos que todo camburão tem um
pouco de navio negreiro.
E os
ídices do Pisa? Que ídice? Precisamos primeiro lutar para que os índices de
assassinatos de jovens diminuam para que pensemos em crescimento nos índices da
Educação.
*(https://www.cartacapital.com.br/educacao/pisa-metade-dos-estudantes-brasileiros-ainda-nao-consegue-compreender-um-texto/)