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segunda-feira, 11 de abril de 2011

QUEM É WELLINGTON MENEZES DE OLIVEIRA

       Acho que essa é a pergunta que o país inteiro se faz desde quinta-feira, às oito e trinta da manhã. Aos poucos sua máscara vai caindo, e por trás vislumbramos um monstro, como muitos já pensariam. Principalmente devido à frieza com que praticou sua chacina. Digo “sua” porque, infelizmente, virão outras, caso não se tomem uma série de medidas Brasil afora, e as autoridades sabem muito bem quais são. Trata-se de um indivíduo atormentado pelas dúvidas diante das quais o mundo o pôs. Apesar do grande sofrimento que se abateu sobre o país, não vejo nos rostos nenhum esgar de mágoa contra Wellington. O que vemos é a população séria, compungida, com lágrimas nos olhos, inclusive da presidenta (a quem começo a admirar pela ausência do populismo). São pessoas que se solidarizam e mentalmente enviam abraços, pêsames às famílias de fato enlutadas. Como se tivessem certeza da miséria humana cada vez mais em evidência. Miséria causada pela ausência dos valores essenciais. Mas quem é Wellington Menezes de Oliveira? Acho que a pergunta deveria ser outra: Quem são e quem serão os wellingtons da vida?

      Na minha infância conheci um garoto cuja atitude recatada em excesso nos chamava a atenção. Todas as tarde, quando estávamos no campinho, ele aparecia por lá. Pouco conversava. Geralmente por monossílabos. Não jogava conosco, limitava-se a rabiscar o chão com um graveto ou ficar encostado num poste batendo o calcanhar. Diferente dos irmãos, alegres bem dispostos. Não tinha nenhum retardamento mental. Num dia desses, comuns, simplesmente se matou. Na ausência dos familiares, trespassou uma corda pelo caibro e se enforcou.
        Morava perto de nossa casa um homem que criava uma macaca, dessas tipo macaco prego. Com ela fazia apresentações, e com ela ganhava a vida. Chamavam-no “véi da macaca” ou “gigolô da macaca”. Ele não gostava, por isso evitava estar onde havia pessoas. Preferia a companhia do animal. Certa vez um grupo de crianças resolveram achincalhá-lo. Era domingo de missa, Domingo de Ramos. Ele chegou ao limite, pegou uma tranca e investiu contra os garotos, atingindo um deles com certa violência. Por pouco não o matou, o menino passou dias em coma. O velho foi preso. Quando solto, foi embora, e nunca mais ouvimos falar dele.
        Na escola em que trabalho, há uma garotinha que não fala com ninguém, não tem amizades, e não responde quando instigada a participar da aula. Comunicado o fato ao NAPE (Núcleo de Apoio Pedagógico Especializado), o pessoal diz que não tem nada a ver com o caso. Como ela, pela escola há uma legião de pessoas tristes, desolados, infelizes, que, por motivo desconhecido, se sentem como se não fizessem parte da sociedade, como se não fossem pessoas iguais às outras. Ainda na mesma escola há um garoto que pouco fala e, nos intervalos, se esconde em algum lugar com a bíblia nas mãos, que lê interminavelmente. Ano passado foi reprovado por falta.
http://sol.sapo.pt/photos/bbc/images/871530/original

      Com certeza, nossos leitores têm uma centena de casos semelhantes para contar. Gostaria de conhecê-los para futuras postagens. Todas essas histórias não são de fato levadas em conta pela população, nem pelas autoridades. Eles e elas são os wellingtons da vida, são aqueles que um dia tentarão se vigar da sociedade que os excluiu por falta de motivos. Seu filho assim como o meu sempre chega em casa relatando um caso de discriminação dentro da escola: é um “gordinho”, uma menina fora de faixa, outro que usa óculos fundo-se-garrafa, uma magricela, um “doidim” e por aí vai. Digamos sempre “filho isso não se faz, o que não queremos para nós também não devemos querer para os outros”. Se a sociedade não se mobilizar para acabar de vez com essa praga da arenga (bulling) e com o desprezo para com outras pessoas diferentes, que fogem ao paradigma, teremos muitos wellingtons por aí, atirando, para se vingar de um passado de tristeza e humilhação. Já ouvi alguém dizer “é culpa da televisão, é importação do que acontece nos Estados Unidos”. A culpa é nossa que fomentamos uma sociedade preconceituosa e que valoriza o ter em detrimento do ser. Quanto ao fato de copiarmos, é bom lembrar que somos mímese, somos cópia e não essência. Por isso temos o hábito da cópia. Mas é bom lembrar que copiamos o que está diante de nós. Coisas boas e coisas ruins. É preciso que vejamos as coisas boas, os bons exemplos, caso contrário só copiaremos o monstro e não o belo.  

sexta-feira, 11 de março de 2011

ESTUDANTES ACHAM "NORMAL" QUESTÕES DE MATEMÁTICA COM MOTIVOS CRIMINAIS

Há uma semana, os alunos do primeiro ano do ensino médio da Escola Estadual João Octávio dos Santos, no Morro do São Bento, em Santos, receberam uma avaliação de matemática inusitada. O professor Lívio aplicou problemas matemáticos com contextos de atividades ilícitas, como venda de drogas, roubo de carros, assassinato, armas e prostituição. Apesar de os pais de uma aluna terem denunciado o caso à Polícia e do docente ter sido afastado do cargo, o conteúdo não assustou os estudantes.
As questões que perguntavam sobre a quantidade de tiros que uma AK-47 pode dar sem ser recarregada e sobre o lucro da venda de heroína “batizada” com pó de giz não causaram espanto para os alunos entrevistados pela reportagem do iG. “Não vi nada de errado na hora que ele aplicou a prova. Só depois é que virou polêmica”, afirma Luan, de 14 anos. Marcelo, 15, e Kaiq, 14, também afirmam não ter encontrado problemas nas questões. “Achei normal”, declara Marcelo.

Foto: Marina Morena CostaAmpliar
Entrada da Escola Estadual João Octávio dos Santos
Para Talita, de 15 anos, o professor foi mal interpretado. “Ele queria mostrar que o crime não compensa. Acho que ele não tem relação nenhuma com criminosos”, diz a estudante. A colega Alice acredita que o professor queria chamar a atenção da turma. “E ele conseguiu, porque os meninos ficaram bem mais interessados”, conta a aluna de 15 anos.
Silvia Colello, professora doutora da Universidade de São Paulo (USP), avalia que foi o professor de matemática quem mal interpretou o principio de trazer a realidade para a escola. “A prova tem uma ideologia implícita, porque mostra sempre o ponto de vista do bandido. É ele quem lucra, quem vende, quem faz a ação. Não há nenhuma questão educativa, que abra espaço para a discussão, para o debate”, analisa a especialista em Psicologia da Educação.
Silvia avalia que a troca de bolinhas de gude, frutas e figurinhas – objetos costumeiramente usados em problemas matemáticos – por armas e drogas foi uma tentativa mal sucedida de deixar a prova “engraçada” e atrativa aos estudantes.
Em casa, a reação dos pais foi diferente da dos alunos. Quando souberam do teor da prova, muitos ficaram furiosos. “Minha mãe não entendeu o que ele (professor) fez”, diz Jéssica, 15 anos. Raquel da Silva Xavier, mãe de um aluno da 9ª série, achou a prova “um tremendo absurdo”. “A gente tenta com muito custo deixar nossos filhos fora disso e os problemas que ele deu eram todos parte desse mundo do crime”, reclama.
Segundo relatos de estudantes que preferiram não se identificar, o tráfico de drogas é uma realidade presente no cotidiano do bairro. As gírias e expressões utilizadas pelo professor Lívio na prova estão nas rodinhas de estudantes. A escola fica localizada no alto do Morro São Bento, bairro de classe média baixa de Santos. Em frente à instituição, há uma base da Polícia Militar.
E você, o que acha disso? Deixe seu comentário.