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Quando comecei a ler, digo, ouvir A Lição Final, de Randy Pausch, na belíssima voz de Paulo Beth, achei que estava apenas diante de uma bela história escrita com o fim de nos estimular à prática de boas ações e belas atitudes. Principalmente por se tratar de uma narrativa em primeira pessoa, em que seu narrador-personagem realiza quase todos os seus sonhos de infância. Mas à medida em que ia tomando conhecimento da vida de Randy, mais fictícia me parecia. Apesar dessa certeza, fui pesquisar na internet. Para minha surpresa, descobri que Randy Pausch faleceu em 2008, de um câncer terminal, aos 47 anos e 08 meses.
Trata-se de uma história fabulosa, de um paciente terminal que, ao invés de se lamentar porque estava às portas da morte, decide viver. E viver para ele não era apenas respirar. Para ele viver era ter vida e vida com abundância. Ao receber o diagnóstico final, ele resolve comprar um conversível, faz vasectomia, muda-se para Virgínia, onde moram os pais de sua esposa, e juntamente com sua mulher, Jay, e seus filhos vivem intensamente cada momento que lhe resta. Mas Randy não era um homem comum, era um vencedor, teimoso, por isso resolveu também ministrar a última palestra na Carnegie Mellon University, onde trabalhara até então. Sua palestra versou exatamente a respeito do enfrentamento de seus últimos momentos, além de alguns conselhos de como tornar-se um ser realizado. Baseado nessa palestra, que se tornou grande sucesso e pode ser facilmente encontrada no youtube, ele escreveu o livro ao qual me referi, que se tornou também grande sucesso.
Não é minha intenção aqui resumir ou fazer a crítica ao trabalho do professor da Carnegie Mellon. Gostaria de algumas reflexões sobre a morte, que segundo Raul Seixas é “o segredo desta vida”. Palavras vãs, reconheço. Mas é certo que as pessoas fazem grande celeuma diante do fato mais certo de nossa existência. Alguns que já leram ou ouviram o livro de Randy podem afirmar que é muito fácil morrer aos 47 anos para quem conseguiu realizar todos os sonhos de infância, pois o cara teve uma família muito bem estruturada, frequentou boas escolas, visitou a Disney quando criança e, quando professor, trabalhou e teve grande trânsito nesse espaço, além da fama que conquistou. Enfim teve tudo aquilo que vislumbramos só a distância. Mas é bom salientar que teve tudo, porque sonhou e correu atrás. Mas não é que seja fácil, é porque é necessário. As pessoas precisam encarar a morte como algo inexorável. Lembro-me de que em uma entrevista na Rádio FM 104.9, de Independência, meu sogro, Seu Gonçalino Saboia, quando abordado sobre esse tema, disse que para ele a morte só acontecia aos outros, nunca na sua família. E na mesma reflexão salientou que ela, depois que apareceu, nunca mais se foi. Referia-se aos falecimentos de seu pai, sua mãe e irmãs. Infelizmente, ele também não está mais entre nós. Mas esta é a sina de todos que estamos cá respirando. Raquel de Queiroz ironicamente nos mostra na crônica Vida que a “morte é o processo positivo”. Enquanto pensamos que estamos vivendo estamos é morrendo, “sim desde quele primeiro instante”.
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Faz-se mister que as pessoas aprendam a ser felizes mesmos na iminência da morte. Concordo com Guimarães Rosa quando o mesmo afirma que “viver é tão bom que dá até pena morrer”. Mas se temos que partir que o façamos de forma digna, como o fez Randy Pausch. É verdade que ele passou por momentos de grande angústia, que chorou junto à esposa, teve noites de insônia, além de se lastimar sobre como seria não ver seus filhos crescerem. Meu pai faleceu aos 85 anos. Mesmo lúcido, firme, não tinha gosto pela vida, mas não queria a morte. Certo dia, quando cheguei à sua casa e o convidei para almoçar fora, ver o mar, olhou-me com um desdém que me fez ter pena. Logo ele que quando novo foi rei das noites, amante da lua e das mulheres. Todo aquele encanto se foi antes de descer ao túmulo.
Queria muito, num futuro bem remoto (rsrs), ter a consciência que tenho hoje, para saber os poucos meses, anos, que me restam. Iria viajar, conhecer pessoas novas, ruas diferentes. Acho que as pessoas deveriam aconselhar seus velhos e velhas a fazerem isso, pois conhecer coisas novas rejuvenesce, nos dá a real sensação de que estamos vivendo.
(Professor Alves, 26/04/2011)