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quinta-feira, 1 de julho de 2010

CACHAÇA COM SALMÃO

Uma história, ou ficção?
Vou contar para vocês
pra mostrar, nesse mundão,
que não surgiu de uma vez,
há fatos inusitados
sem nenhuma explicação.

Chico Papada, um apelido,
De um Francisco das Chagas,
mui tímido não temido
que morava nessas plagas
a fé em Deus tinha muita
de dinheiro desiludido.

O homem era trabalhador,
ganhava a vida nos carros
limpando radiador,
ou então fazendo barro,
e outro tipo de serviço
pra erguer casa de doutor.

Era ele crente que na vida
tudo fora sempre assim
alguns pra folgar na lida
outros pra vida ruim,
e só bem depois da morte
vida boa é garantida.

Deixando um dia oficina,
com os ombros encurvados,
mirou perna de menina,
sorriu com os lábios parados,
mesmo sem tostões furados,
olhou pro bar de Marina.

Matar bicho não podia,
grande era sua liseira,
fiado não se vendia,
pensou então na companheira
que em casa estava só,
foi se divertir com Maria.

Já estava perto de casa
quando a vontade o atacou,
perturbando-o feito brasa
prum terreno ele saltou
e ali mesmo aperreado
foi que a massa ele arriou.

Já saía de fininho
quando um saco ele avistou,
chegou bem devagarinho,
calmamente se agachou,
“Ah! se fosse um dinheirinho”.
foi isso que ele pensou.

Mas para sua surpresa
não havia dinheiro não,
era um peixe, cor vermelha,
peixe de nome salmão
do qual não sabia parelha
o qual não conhecia não.

Pôs-se então a caminhar
indo pra casa retinho
porém antes de lá chegar
topou o colega Dezinho
Que se pôs a papear
tirando dele o caminho.

O amigo logo o chamou
pra tomar uma lapada
A cabeça meneou
não tinha dinheiro pra nada
quando o colega indagou,
perguntou a Chico Papada:

“Desculpe meu grande amigo
mas que neste saco traz?”
“Nada que traga perigo
é só peixe e nada mais
que achei lá naquele abrigo.”
Explicou logo o rapaz.

“Que tipo de peixe é que é,
você pode me dizer...”
“É um que nunca vi, Dé,
sei nem se dá pra comer
Vou levando pra mulher
pra comer no anoitecer.

O amigo então o saco abriu.
“Cara, disse, é peixe raro,
de certo, pobre não viu,
o quilo deve ser caro,
vamos vender à Jamil
e tomar cachaça, é claro!”

pra lá se foram então,
mostraram pra mulher
que comprar queria não,
tornaram assim a bater pé,
debaixo do braço o salmão
seja o que o bom Deus quiser.

Depois de bem caminhar,
conseguiram-no vender
foram então ao amigo bar
pra começar a beber
para assim o bicho matar
e os problemas esquecer.

Mas só que Chico Papada
o peixe todo não vendeu
tirou dele uma lapada
pra lembrar do gosto seu
foi tomar suas tragadas
pois de água a  boca encheu.

Já no bar ele pediu
para dona o peixe assar,
mas algo estranho sentiu
porém não era de assustar
nem sequer o amigo viu
crispada a face ficar.

O peixe que ele tirou
não era muito grande não,
num tom solene fitou,
com uma garfada de salmão,
foi que o gosto ele tirou
nem limpou a boca com a mão.

Aí ficou diferente
coisas sem tino falou
olhou todos de repente
“tragam-me um bordeaux”
falando num tom insolente,
todos no bar assustou.

desfilou pelo salão,
viu os colegas de soslaio,
como a buscar um garção
mandou procurar o baio:
“Não posso estar aqui não!”
mostrou mui insatisfação.

Depois dessa encenação,
sentou no mesmo lugar,
encostou-se no balcão,
pôs-se então a cogitar
tomando pinga e salmão
sem de nada se lembrar.

Daquele dia em diante,
porém, Chico não era o mesmo,
andava meio distante,
andava por aí a esmo
não era o de sempre falante
que bebia com torresmo.

Era sempre visto sozinho
cismando em quê não se sabia,
se alguém vinha de mansinho,
sem resposta ele saía,
não mais falou com os vizinhos,
também ao bar não mais ia.

‘Té a companheira, Maria,
Aos poucos abandonou,
procurá-la não queria,
os filhos não abençoou,
pôs se nessa letargia
do mundo ele se isolou.

Seu companheiro Dezinho
um dia pra ele chegou
“o que que há meu amiguinho
que bicho te molestou
que te faz andar sozinho
que de nós o afastou?”

Passando as mãos no cabelo
disse “tá meu grande amigo
se queres mesmo sabê-lo
só a ti, Dezinho, te digo
foi o salmão, após comê-lo
me vi longe em outro abrigo

“Lembrei uma vida passada
em que era eu um magnata,
não me chamavam Papada,
vestia terno e gravata
pisava rua calçada
não tinha essa vida ingrata.

“Bebia vinho bordeaux,
deixando o gosto a salmão
morava em um bangalô
fome não passava não
trabalhava num birô
Não era má a vida não.”

Dé desconheceu o amigo
Pelo novo linguajar,
sabia estar em perigo,
sem saber como o ajudar:
“está presa do inimigo!
Essa agora é de lascar!”

O tempo foi-se passando,
Chico enfim se escafedeu,
mesmo ele se procurando,
com ele ninguém nunca deu
mas ninguém ficou chorando,
por ele ninguém morreu.

Criou-se então uma lenda
muitos dizem “suicidou-se”,
histórias se ouvem na venda,
dizem “ Satã o levou,
teve com ele uma contenda,
e o tinhoso essa ganhou”!

Maria a outro se juntou,
a dezinho o melhor amigo,
logo ninguém mais lembrou
daquele vizinho antigo,
a vida assim descambou.
O tempo é nosso inimigo!

Um dia lá apareceu
um homem muito diferente
dos que por ali viveu,
homem assim diligente
ninguém ali conheceu.
Tudo muito de repente!

Montou perto da cidade
uma fábrica de cachaça,
deu emprego à sociedade
e sem pejo e sem chalaça
pôs ali felicidade
sem precisar muita graça.

Mas algo chamou a atenção:
Foi construída uma praça
no meio do quarteirão,
O símbolo era cachaça,
ao lado de um grande salmão
do qual só tinha a carcaça.

O dono ninguém conhecia
nem sabia onde morava
o rosto dele ninguém via
num carro preto ele andava
o nome ninguém sabia
nem os que pra ele trabalhava.

Esta história aqui se encerra
Como o bardo inglês diria:
“Há mais mistério na terra
que sonha a filosofia”.
( Professor Alves)
04/12/2006

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