A Vinha dos esquecidos
Prof. Allan Valenza da Silveira
Autor e obra
João Clímaco Bezerra nasceu em Lavras da Mangabeira, Ceará, em 1913. Durante a década de 40, o autor fez parte do grupo literário Clã, criado com o intuito de dar novo direcionamento às manifestações culturais produzidas no Ceará. Seu romance de estréia, Não há estrelas no céu, foi publicado em 1948 e A vinha dos esquecidos foi lançada em 1980.
Ao longo dos 25 capítulos de A vinha dos esquecidos, o enfoque narrativo alterna-se entre a vida de Padre Anselmo e a do negro Zacarias, foguista de uma fábrica de algodão. A narrativa inicia-se com o encontro desses dois personagens. Zacarias acorda o padre de madrugada pedindo para que ele realize o ritual da extrema-unção para sua agonizante mãe que morre nessa ocasião.
O espaço em que ocorre a narrativa é uma pequena cidade do interior do Ceará, sem denominação. Por ser sua cidade natal, padre Anselmo a escolheu, depois de ordenado, para realizar o seu trabalho de pároco. A insignificância do lugarejo e a simplicidade de seus habitantes são alguns dos motivos que levam Padre Anselmo a avaliar o seu trabalho como o condutor da moral das pessoas. Dessa situação, nasce a comparação com a parábola bíblica sobre a vinha que produz agraços, ou seja, frutos imprestáveis, em vez de uvas. Também é possível estabelecer outro paralelo com o texto bíblico: a imagem dos frutos lembra um poema de Olavo Bilac, Vinha de Nabot, que se desenvolve em sentido contrário, pois a prosperidade da vinha causa inveja ao observador. A vinha de padre Anselmo não é próspera, mas o bom semeador não a abandona. Esquecida por todos, a cidade está constantemente sob os cuidados de seu líder espiritual. Publicado em 1939, o romance As vinhas da ira, de John Steinbeck, escritor norte-americano, também emprega a imagem do vinhedo para instaurar a idéia da busca da prosperidade humana ao tematizar a época da Grande Depressão, crise econômica enfrentada pelos Estados Unidos a partir de 1929.
Em A vinha dos esquecidos, o tratamento dado ao espaço modifica-se quando os capítulos focalizam a vida de Zacarias. O personagem representa o extremo da exclusão social local: é negro, operário de uma fábrica e filho de mãe solteira que viveu na prostituição para sustentá-lo. Zacarias abandonou os estudos muito cedo, pois preferiu trabalhar arduamente para garantir o sustento da casa e retirar a mãe de sua triste situação. Durante a narrativa, percebe-se que ele é um jovem extremamente responsável, sério e obediente. A pequena cidade representa para Zacarias a possibilidade de trabalho honesto, mas que não lhe permite grandes ambições, constituindo-se apenas no meio de resguardar a dignidade familiar.
A rosa do povo
Análise elaborada por
Profª Edna Silva Polese Prof. Allan Valenza da Silveira
A rosa e o povo
As obras publicadas anteriormente ao livro A rosa do povo — Sentimento do mundo e Alguma poesia — trazem o tema da relação do indivíduo com o mundo ainda perpassada pela fina ironia, marca pessoal da escrita do poeta. Em A rosa do povo, publicado em 1945, o tom é bastante diferente. A situação política e social dos anos 30 e 40 do século XX resulta em uma obra em que há destaque para a poesia social. É a poesia que apresenta e denuncia os problemas políticos e sociais da nação e do mundo.
Carlos Drummond ocupou cargos públicos ao lado do amigo Gustavo Capanema em mais de uma ocasião. Mudou-se das Minas Gerais para o Rio de Janeiro, em 1935, para trabalhar como chefe de gabinete do amigo, então ministro da Educação e Saúde Pública. Toda essa mudança influenciou diretamente a obra de Drummond, tanto quanto à abertura de sua visão sobre o mundo — o que o fez largar aos poucos a figuração taciturna que fazia de si mesmo por meio de seus poemas — quanto em relação aos fatos históricos que ocorriam no mundo.
Getúlio Vargas, que estava no poder desde 1930, instaurou o Estado Novo em 1937. Em 1939, explodiu a Segunda Guerra Mundial. A situação era bastante tensa e tais acontecimentos foram diretamente trabalhados no livro A rosa do povo. O mundo em conflito, a política e os horrores da guerra acabaram por influenciar a produção poética de Drummond em que dicotomias como esperança versus pessimismo eram postas em voga.
Segundo Affonso Romano de Sant´Ana, crítico literário estudioso de Drummond, o título do livro sugere a idéia de complementação, de soma. Por um lado o autor trabalha o drama humano, a guerra e o medo, mas acrescenta a idéia de esperança — pela simbologia da flor — que rompe a dureza do mundo para celebrar a vida.
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A BAGACEIRA
Marco inicial da Segunda geração Moderna (1930 - 1945), escrito em 1928 por José Américo de Almeida, tem como cenário o estado da Paraíba entre o sertão e a região do engenho:
O romance se passa entre 1898 e 1915, os dois períodos de seca. Tangidos pelo sol implacável, Valentim Pereira, sua filha Soledade e o afilhado Pirunga abandonam a fazenda do Bondó, na zona do sertão. Encaminham-se para as regiões dos engenhos, no rejo, onde encontram acolhida no engenho Marzagão, de propriedade de Dagoberto Marçau, cuja mulher falecera por ocasião do nascimento do único filho, Lúcio. Passando as férias no engenho, Lúcio conhece Soledade, e por ela se apaixona. Os dois então passam a viver um idílio amoroso que mais lembra as descrições dos romances românticos. entretanto quem seduz Soledade é Dagoberto, pai de Lúcio.
O estudante retorna à academia e quando de novo volta, em férias, à companhia do pai, toma conhecimento de que Valentim Pereira se encontra preso por ter assassinado o feitor Manuel Broca, suposto sedutor e amante de Soledade. Lúcio, já advogado, resolve defender Velentim e informa o pai do seu propósito : casar-se com Soledade. Dagoberto não aceita a decisão do filho. Tudo é esclarecido : Soledade é prima de Lúcio, e Dagoberto foi quem realmente a seduziu. Pirunga, tomando conhecimento dos fatos, comunica ao padrinho (Valentim) e este lhe pede, sob juramento, velar pelo senhor do engenho (Dagoberto), até que ele possa executar o seu "dever": matar o verdadeiro sedutor de sua filha. Em seguida, Soledade e Valentim, acompanhados por Pirunga, deixam o engenho e se dirigem para a fazenda do Bondó. Cavalgando pelos tabuleiros da fazenda, Pirunga provoca a morte do senhor do engenho Marzagão, Dagoberto.
Com a morte do pai Lúcio herda a fazenda e se torna Senhor de engenho. Em 1915, por outro período de seca, Soledade, já com a beleza destruída pelo tempo, é que aparece, retirante, com sua prole para pedir estada na fazenda Marzagão, agora de propriedade de Lúcio. Trata-se portanto de um romance cíclico, como são, de um modo geral, aqueles que tratam do tema da seca ou da vida.
(Por Professor alves)
A CARNE, DE JÚLIO RIBEIRO
A carne, de Júlio Ribeiro, é um romance REALISTA de vertente NATURALISTA, publicado em 1888 que aborda temas até então ignorados pela literatura da época, como divórcio, amor livre e um novo papel para a mulher na sociedade.
O livro conta a história da garota Lenita, cuja mãe morrera em seu nascimento e o pai educara-a ministrando-lhe instrução acima do comum.
Lenita era uma garota especial, inteligente e cheia de vida.
Lenita era uma garota especial, inteligente e cheia de vida.
No entanto, aos 22 anos, após a morte de seu pai, tornou-se uma jovem extremamente sensível e teve sua saúde abalada.
Com o intuito de sentir-se melhor, Lenita decide ir viver no interior de São Paulo, na fazenda do coronel Barbosa, velho que havia criado seu pai.
Lá, conhece Manuel Barbosa, o filho do coronel.
Manuel era um homem já maduro e exímio conhecedor das coisas da vida, vivia trancado no quarto com seus livros e periodicamente partia para longas caçadas; vivera por dez anos na Europa, onde se casara com uma francesa de quem se separara.
Manuel era um homem já maduro e exímio conhecedor das coisas da vida, vivia trancado no quarto com seus livros e periodicamente partia para longas caçadas; vivera por dez anos na Europa, onde se casara com uma francesa de quem se separara.
Lenita firmara uma sólida amizade com Manuel, que, aos poucos, vai se revelando uma tórrida paixão, no início, repelida por ambos, mas depois consolidada com fervor em nome do forte desejo da "carne".
O livro narra a ardente trajetória desse romance singular, marcado por encontros e desencontros, prazer e violência, desejo e sadismo, batalha entre mente e carne.
A história caminha para um trágico desfecho a partir do momento em que Lenita, encontrando cartas de outras mulheres guardadas por Manuel, sente-se traída e resolve abandoná-lo; estando grávida de três meses, casa-se com outro homem.
Manuel, não suportando tamanha traição, suicida-se, o que comprova o resultado final da batalha "mente versus carne", além do elemento DETERMINISTA, matéria das obras naturalistas em que inserimos A CARNE.
No início, triunfam os prazeres da carne, no trágico final, os desenganos da mente.
O lançamento de A Carne, de Júlio Ribeiro, em 1888, fez grande sucesso e causou escândalo entre as famílias paulistanas tradicionais.
(Professor Alves)
A ESCRAVA ISAURA, DE BERNARDO GUIMARÃES
O GUARANI - JOSÉ DE ALENCAR
A ESCRAVA ISAURA, DE BERNARDO GUIMARÃES
Romance romântico à terceira geração, pois tipicamente abolicionista, é A ESCRAVA ISAURA a obra prima de Bernardo Guimarães, que antes já houvera escrito outro grande romance romântico, O GARIMPEIRO. Note-se que o nome do romance é A ESCRAVA ISAURA, o que denota simpatia do autor pela cor branca. Não era uma escrava, Isaura era a escrava. O que nos faz lembrar uma expressão atual: “Ele é o cara”. Há uma escrava negra na história, a Rosa, Mas que é tudo que não presta: nojenta, mentirosa, intriguenta, prostituta e vai por aí.
Em A Escrava Isaura, a temática abolicionista é tratada com simpatia. Uma espécie de romance às novelas tradicionais da Rede Globo, em que tudo corre para o final feliz. É tanto que a Referida emissora transformou esse romance, com algumas adaptações, é claro, em uma das maiores novelas produzidas no Brasil.
Isaura é uma cativa, filha de um português, feitor de uma fazenda vizinha com uma negra da fazenda onde nasce. Não nasceu para escrava. Sua senhora a talhara para os saraus, festas da época em que os mancebos, rapazes, requestavam as moçoilas casadoiras. Mas sua senhora morreu, depois o seu senhor se aposentou, indo para a corte, desfrutar dos últimos prazeres, e ela ficou a mercê de Leôncio, filho do comendador Almeida. Leôncio casou-se, mas nutre por Isaura o mais cego e violento amor. Ele chega à fazenda com sua mulher - Malvina - e seu cunhado - Henrique. Malvina era mulher dócil e tratava Isaura muito bem. Henrique era um filho rico, estudante de medicina. Henrique rapidamente percebe as intenções de Leôncio para com Isaura. Temendo que ele traia sua irmã, adverte-o que não tolerará tal ato. Henrique se oferece como amante para Isaura e daria em troca sua liberdade. O jardineiro da fazenda, um ser disforme e repugnante, também se oferece como amante. Isaura não dá atenção a essas propostas, e diz nunca casar sem amor. Leôncio é avistado por Henrique e Malvina quando fazia semelhante proposta à Isaura. Malvina sentencia: ou ela (Isaura) ou eu. No mesmo momento da calorosa discussão, aparece o pai de Isaura com o dinheiro suficiente, uma enorme quantia de 10 contos de réis, para comprar a liberdade dela conforme havia prometido o comendador Almeida. Leôncio não aceita o dinheiro e dá desculpas vazias.
Morre o pai de Leôncio e ele finge imensa tristeza por dias, o que o alija temporariamente de brigar com a mulher. Passado certo tempo, Malvina continua a pressão para que se liberte Isaura. Com as desculpas e adiamentos de Leôncio, ela decide voltar à casa do seu pai. A sua saída era caminho livre para os intentos indecentes de Leôncio. Como Isaura continuava a resistir, Leôncio ameaça com torturas. Miguel, sabendo do acontecido, decide fugir com Isaura para o Norte.
Chegando em Recife, a linda Veneza Americana, Isaura muda seu nome para Elvira e Miguel para Anselmo passando a morarem numa chácara no bairro de Santo Antônio. Álvaro era um moço rico, filho de uma distinta e opulenta família, liberal, republicano e abolicionista extremado. Ele avista Isaura ao passear perto da sua chácara e a conhece, passando a visitá-la constantemente. Álvaro se utiliza de todos os meios para convencer Isaura a ir a um baile com ele. Isaura não queria ir para não enganar a sociedade e iludir o seu amante. Ela por diversas vezes tentou contar a Álvaro que se tratava de uma escrava fugida, mas não tinha coragem. Ela só aceita ir diante do argumento de que tanta reclusão estaria despertando a atenção da polícia. Isaura sente um mau presságio desse baile.
No baile, Isaura se destaca no meio de todas as mulheres devido a sua beleza e por tocar muito bem piano. Contudo, é reconhecida por Martinho - um estudante de sórdida ganância e espírito de cobiça - que havia guardado um anúncio de escravo fugido. Ele provoca um escândalo durante o baile e Isaura confessa diante de toda a sociedade se tratar de uma escrava. Álvaro, não obstante, defende-a e devido a sua influência a toma por fiador, sem deixar que ela caísse nas mãos imundas de Martinho. Este, sem conseguir levá-la, escreve para Leôncio informando que havia achado sua escrava.
Graças a valiosa intervenção de Álvaro, Miguel e Isaura continuam na sua chácara em Santo Antônio na espera das ações que ele havia prometido tomar. Isaura conta que fugiu para escapar do amor de um senhor libidinoso e cruel. Enquanto Álvaro se encontrava na chácara, Leôncio aparece para sua surpresa e exige levar Isaura. Leôncio encontrava-se munido de um mandado de prisão contra Miguel e guardas para levar sua escrava. A aparição é seguida de forte discussão e Álvaro avança contra Leôncio. A briga é cessada com a aparição de Isaura que se entrega ao seu senhor.
Isaura volta a fazenda onde fica na mais completa reclusão. Leôncio se reconciliara com Malvina, pois iria precisar do seu dinheiro. Miguel é ludibriado na cadeia e convencido a tentar persuadir Isaura a se casar com Belchior, o jardineiro da fazenda, em troca da liberdade sua e da filha.
Isaura aceita o sacrifício de casar com detestável criatura, pois estava sem forças e sem esperança. Leôncio já havia tomado todas as providências para o casamento, quando é informado que alguns cavalheiros chegaram. Pensando se tratar do vigário e do tabelião, mando-os entrar. É tomado de surpresa ao avistar Álvaro. Este tinha ido ao Rio de Janeiro e descobre com alguns comerciantes que Leôncio estava falido. Compra os seus créditos e fica dono de toda a dívida de Leôncio.
Álvaro afirma a Leôncio que nada mais o pertence, que toda a sua fazenda incluindo os escravos passavam a ser dele com a execução dos débitos. Isaura abraça Álvaro. Leôncio jura que nunca irá implorar a sua generosidade para abrandar a dívida. Ele ausenta-se da sala e se suicida.
Morre o pai de Leôncio e ele finge imensa tristeza por dias, o que o alija temporariamente de brigar com a mulher. Passado certo tempo, Malvina continua a pressão para que se liberte Isaura. Com as desculpas e adiamentos de Leôncio, ela decide voltar à casa do seu pai. A sua saída era caminho livre para os intentos indecentes de Leôncio. Como Isaura continuava a resistir, Leôncio ameaça com torturas. Miguel, sabendo do acontecido, decide fugir com Isaura para o Norte.
Chegando em Recife, a linda Veneza Americana, Isaura muda seu nome para Elvira e Miguel para Anselmo passando a morarem numa chácara no bairro de Santo Antônio. Álvaro era um moço rico, filho de uma distinta e opulenta família, liberal, republicano e abolicionista extremado. Ele avista Isaura ao passear perto da sua chácara e a conhece, passando a visitá-la constantemente. Álvaro se utiliza de todos os meios para convencer Isaura a ir a um baile com ele. Isaura não queria ir para não enganar a sociedade e iludir o seu amante. Ela por diversas vezes tentou contar a Álvaro que se tratava de uma escrava fugida, mas não tinha coragem. Ela só aceita ir diante do argumento de que tanta reclusão estaria despertando a atenção da polícia. Isaura sente um mau presságio desse baile.
No baile, Isaura se destaca no meio de todas as mulheres devido a sua beleza e por tocar muito bem piano. Contudo, é reconhecida por Martinho - um estudante de sórdida ganância e espírito de cobiça - que havia guardado um anúncio de escravo fugido. Ele provoca um escândalo durante o baile e Isaura confessa diante de toda a sociedade se tratar de uma escrava. Álvaro, não obstante, defende-a e devido a sua influência a toma por fiador, sem deixar que ela caísse nas mãos imundas de Martinho. Este, sem conseguir levá-la, escreve para Leôncio informando que havia achado sua escrava.
Graças a valiosa intervenção de Álvaro, Miguel e Isaura continuam na sua chácara em Santo Antônio na espera das ações que ele havia prometido tomar. Isaura conta que fugiu para escapar do amor de um senhor libidinoso e cruel. Enquanto Álvaro se encontrava na chácara, Leôncio aparece para sua surpresa e exige levar Isaura. Leôncio encontrava-se munido de um mandado de prisão contra Miguel e guardas para levar sua escrava. A aparição é seguida de forte discussão e Álvaro avança contra Leôncio. A briga é cessada com a aparição de Isaura que se entrega ao seu senhor.
Isaura volta a fazenda onde fica na mais completa reclusão. Leôncio se reconciliara com Malvina, pois iria precisar do seu dinheiro. Miguel é ludibriado na cadeia e convencido a tentar persuadir Isaura a se casar com Belchior, o jardineiro da fazenda, em troca da liberdade sua e da filha.
Isaura aceita o sacrifício de casar com detestável criatura, pois estava sem forças e sem esperança. Leôncio já havia tomado todas as providências para o casamento, quando é informado que alguns cavalheiros chegaram. Pensando se tratar do vigário e do tabelião, mando-os entrar. É tomado de surpresa ao avistar Álvaro. Este tinha ido ao Rio de Janeiro e descobre com alguns comerciantes que Leôncio estava falido. Compra os seus créditos e fica dono de toda a dívida de Leôncio.
Álvaro afirma a Leôncio que nada mais o pertence, que toda a sua fazenda incluindo os escravos passavam a ser dele com a execução dos débitos. Isaura abraça Álvaro. Leôncio jura que nunca irá implorar a sua generosidade para abrandar a dívida. Ele ausenta-se da sala e se suicida.
Álvaro torna todos os escravos livre, casa-se com Isaura e são felizes para sempre.
A HORA DA ESTRELA - CLARICE LISPECTOR
Em A Hora da Estrela, de 1977, livro de despedida da autora, uma vez que ela faleceu naquele ano de um câncer no ovário "inoperável", pouco depois da publicação deste livro. É bom lembrar que Clarice Lispector é uma autora das mais significativas da terceira geração moderna, iniciada em 1945 com a publicação de Sagarana, de João Guimarães Rosa.
O que salta aos olhos de qualquer leitor a respeito de A Hora da Estrela é o fato de o narrador ser um homem. A narradora feminina cria um narrador masculino, uma vez que, segundo essa narradora, a história de Macabea é sórdida demais para uma mulher narrar. Salta aos olhos porque de um modo geral as personagens de Clarice são sempre femininas. O grande objetivo da autora foi sempre mostrar as angústias femininas, sejam de uma menina que adora leitura, de uma mulher desencantada com o casamento ou de uma velha às portas da morte.
Ainda sobre esse narrador é interessante notar a relação de amor e ódio que se estabelece com sua personagem, Macabéa. Humilha-a, considera-a reles, insignificante, da mais baixa espécie, mas fica tocado por sua fragilidade, tem desejo, muitas vezes, de protegê-la, ampará-la. É também alguém que precisa de Macabéa, personagem que inventou para compensar sua situação confortável – que sente ser uma injustiça diante de tanta pobreza. Ademais, a personagem acaba sustentando a vida do narrador, o que até nos faz entender o porquê de delongar a tratar da morte dela – seria também a sua.
Essa insignificância da personagem a torna pária, extremamente marginalizada do contexto social. Isso levanta a possibilidade de ser aproximada, pois, de várias personagens de nossa literatura, como os pobres de Machado de Assis, entre eles D. Plácida e D. Eugênia, de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Para garantirem um certo lugar ao sol, ou pelo menos sobrevivência, submetem-se a papéis terríveis, que custam a própria dignidade. Ainda assim, Macabéa não tem a determinação, não é ativa como as outras; simplesmente deixa as coisas acontecerem, numa inconsciência passiva absurda.
Esse deixar-se levar pela vida, pelo acaso, faz lembrar Leonardo, deMemórias de um Sargento de Milícias, e Macunaíma, do livro Macunaíma de Mário de Andrade. Mas, na realidade, os dois, de forma malandra, sabem se virar em meio às dificuldades que a sorte vai impondo, pelo menos desviando-se de tais. Macabéa não tem essa disposição. Simplesmente deixa acontecer.
Há quem enxergue nela a condição feminina humilhante, tão insignificante que todos os dias deveria ser demitida, mas seu chefe esquece de fazê-lo. Chegada do Sertão de Alagoas, vai trabalhar num escritório, cujo dono lhe paga mal, como ocorre com as moças que chegam a São Paulo. À noite se contenta em roer às escondidas um pedaço de pão seco, que guardara dias antes. Até que conhece Olímpico e se sente realizada. Olímpico nunca a vira porque em seus encontros estava preocupado com sua imagem, qual Narciso que não via as águas em que se mirava, apenas o próprio rosto. Assim é Olímpico. Certo dia a coitada da Macabea apresenta ao namorado sua colega de trabalho, loira.
Perde seu grande amor. Mas longe de ficar com raiva da amiga, passa a admirar, pois agora ela representa seu cavaleiro perdido.
Com certeza Macabea é singular personagem em nossas letras. Ela encontra sua hora de estrela, ou seja, o grande momento de sua vida, que ocorre justo quando morre. É um desfecho irônico que provoca uma imprecisão em sua qualificação: é cômico, trágico ou tragicômico?
Mas, se se desprezar o aspecto cômico de A Hora da Estrela (perfeitamente aceitável, assim como perfeitamente inaceitável), a aproximação com outras obras, como Libertinagem ou Morte e Vida Sverina não será totalmente absurda.
Eis aqui mais outro fato inusitado. Macabéa, instrumento que nos mostrará a explosão de viver, é a personagem mais vazia de tudo que se possa imaginar, inclusive de vida. Não se lembra de seus pais, no sertão de Alagoas; fora criada por uma tia religiosa, que lhe deu uma educação castradora. Torna-se uma mulher sem charme, expressividade, inteligência, sensualidade, carne, consciência. O conhecimento que tem do mundo é adquirido de forma fragmentada – e, por isso, inútil –, enquanto se anunciam as horas da madrugada (perdida nesse fluir do tempo e na insônia), reforça a inutilidade da existência da personagem.
A vida da protagonista, que sonha em ser estrela de cinema, mas que almoça cachorro quente para não gastar dinheiro, que come em pé nos botecos, que coleciona propagandas, que sonha com o dia em que conseguirá comprar um pote de creme hidratante (que chegaria a comer, tal a sua paixão), começa a ganhar sentido no momento em que conhece Olímpico. O relato desse encontro é o mais despropositado possível. Rodrigo S. M. informa que o havia composto numa boa forma literária, mas a faxineira havia jogado fora seus escritos. Assim, passa a refazê-lo, dessa vez de forma atirada. Informa apenas que os dois nordestinos se reconheceram como que no faro.
A chegada de Olímpico, que se orgulha de ter matado um cabra no sertão, que sonha ser deputado e ter a boca cheia de dentes de ouro, que admira touradas e açougueiros, em suma, um arrivista que quer subir na vida a todo custo, é importante, pois encorpa o caráter da protagonista. É quando ele diz seu nome – que indica seu caráter talhado para subir às alturas – que ficamos sabendo o nome de Macabéa. Pode-se até pensar na relação tosca entre os dois, ela ausente de carisma amoroso – o namoro consiste em passeios e momentos em que ficam sentados em bancos de praça –, ele grosseiro e autoritário, Macabéa é quem leva vantagem, pois sua personalidade vai parcamente enriquecendo. Isso se torna mais simbólico no dia em que vai ao zoológico. A protagonista fica tão estarrecida quando vê a massa compacta que é o corpo de um rinoceronte que acaba se urinando. Sua sexualização foi despertada.
No entanto, foi trocada pela companheira de escritório, Glória, datilógrafa muito mais eficiente do que Macabéa (semi-analfabeta que emporcalha o serviço), além de mais encorpada. Para Olímpico, casar-se com uma loira (oxigenada) e “carioca da gema” seria uma maneira de subir na vida. Nossa heroína, ainda assim, não sofre, mas sua libido fica mais despertada. Sintomático é, nesse contexto, o momento em que vai passar batom de forma desajeitada, usando um espelho quebrado. Enfeitar-se já indica que está com desejo, que ainda se demonstra de forma primitiva, grotesca e assustadora – mais espanta que atrai; não é à toa que a imagem que surge no espelho é retorcida.
O fato é que Macabéa está tendo atitudes inéditas – dando atenção a si mesma. Uma vez faltara ao serviço para ficar só, enquanto suas companheiras de quarto iam trabalhar nas Lojas Americanas. Em outra ocasião, tinha ido ao médico, que lhe diagnostica tuberculose. Ela nem sequer percebeu o que significava a doença.
Assim, aproveitando essa onda, Glória – talvez com remorso por ter tomado o namorado da amiga – aconselha a protagonista (até dinheiro empresta!) a ir a uma cartomante para tirar sua sorte. É a grande virada de sua vida, primeiro porque vai ganhar um destino, um futuro, algo que a impulsionasse para frente, que eliminasse de sua vida o simplesmente existir. O crítico, porém, é que isso virá da boca de outro.
Realmente, muita mudança ocorre. Enquanto Macabéa espera ser atendida, numa sala decorada por meio de um gosto duvidoso, seu “eu” já se está alterando. Novidade também é a forma como a cartomante, antiga prostituta e cafetina, trata Macabéa: é carinhosa, gostando até do nome dela. Adivinha perfeitamente a vida da protagonista, qualificando-a como horrível. Mas promete muita coisa boa. É nesse instante que a heroína percebe como a existência era de fato rala.
Então, a grande previsão. A cartomante vê um estrangeiro, alemão, Hans, que encherá Macabéa de amor, riqueza, jóias, casacos. Passará a ser amada, a ser bonita. O encontro com esse homem proporcionaria a Macabéa uma mudança radical em sua vida.
Dotada de um destino, Macabéa até sorri. Sai tão inebriada do lugar miserável em que ficava a profetisa que atravessa distraída a rua. É ironicamente atropelada por um Mercedes Benz (atropelada por uma estrela...) dirigido por um alemão, que nem pára para socorrê-la.
Nos seus últimos instantes, cabeça batida na guia, fala “Quanto ao futuro”. Está aparentemente realizada. Há pessoas prestando atenção nela. É o centro das atenções. É uma estrela. Tanto é que, em meio à sensualidade que vai sentindo, encolhendo-se como um feto, começa a delirar, imaginando que seu sangue era estrela. É o seu grande momento, proporcionado pela morte. Havia encontrado um motivo para o seu existir.
Veja abaixo o vídeo feito a prtir do conto Felicidade Clandestina
(Por Professor Alves)
CASA DE PENSÃO, ALUÍSIO AZEVEDO
Escrito em 1884, portanto três anos depois de O Mulato, Casa de Pensão é por assim dizer um intermediário entre O Mulato O Cortiço. Enquanto O Mulato ainda possui elementos que possam filiá-lo ao Romantismo, Casa de Pensão já filia seu autor totalmente ao Realismo/Naturalismo, vertente de cunho DETERMINISTA. Segundo essa corrente científica, o homem tem seu destino traçado por três elementos: a raça, o meio e o momento. Sendo assim, não resta nada ao indivíduo, a não ser sofrer as consequências que lhe são impostas, determinadas por esse trio nefasto. Mas em O Cortiço, principal obra de Aluísio Azevedo, o ponto auto deste autor.
Ainda é interessante lembrar, que o autor realista/naturalista , ao contrário do romântico busca inspiração na vida real. Casa de Pensão é um romance inspirado em um caso verídico, a questão Capistrano, que envolveu dois estudantes nas mesmas circunstâncias de Amâncio e João Coqueiro. A narrativa feita em terceira pessoas (narrador observador/onisciente) tema seguinte trama:
Amâncio de Vasconcelos, um jovem maranhense, de espírito indolente e corpo frágil, vem para o Rio de Janeiro, com o propósito de realizar o curso de Medicina. De início hospeda-se em casa de um conhecido da família, Luís Campos, que vivia com sua mulher Dona Maria Hortência e uma cunhada, Dona Cadotinha. Entretanto, Amâncio encontrara-se! com um amigo e co-provinciano, Paiva Rocha. Depois de conhecer um amigo deste, João Coqueiro, sua vida sofre grandes mudanças, uma vez que, levado pelo meio, acha muita graça na vida na corte e passa a viver uma vida desvairada e boêmia. As extravagâncias de chegar altas horas da noite, faltar às aulas, embebedar-se, não lhe eram permitidas em casa de Campos. Por outro lado, o jovem estudante começara a despertar um certo interesse no coração de Hortência. Levado por esses motivos, resolve ele depois de insistentes convites de Coqueiro, homem de maus bofes, que queria casar sua irmã com Amâncio a fim de meter a mão na fortuna do "amigo", mudar-se para a pensão de Madame Brizard, esposa cinquentona de Coqueiro. Acaba envolvido por Amélia, irmã de João Coqueiro, que finge ignorar o romance e explora-a, exigindo dinheiro do rapaz (Amâncio). Enredado no ambiente asfixiante e corrupto da pensão de João Coqueiro e de Mme. Brizard, sua mulher, envolvido em uma série de tramas, Amâncio resolve viajar para São Luís, para rever a mãe, agora viúva. João Coqueiro suspeita da viagem, e consegue que a polícia prenda Amâncio sob acusação de defloramento, da qual o estudante é absolvido, em rumoroso julgamento. Frustrado com o resultado do julgamento e vendo suas tentativas de ganhar dinheiro fácil ir pelo ralo, Coqueiro mata Amâncio. O romance se encerra com a chegada ao Rio da mãe do rapaz, que descobre aterrada o fim que teve seu filho.
(Por Professor Alves)
O GUARANI - JOSÉ DE ALENCAR
Geralmente enfocados em cenários selvagens, os heróis indígenas de José de Alencar emergem como elementos da natureza, enfatizam a cor local e são símbolos de um passado histórico idealizado e glorioso. O Guarani é exemplo cabal dessa visão em que o sentimento nativista e a valorização do índio ganham os tons da idealização e do exagero, principalmente quanto às características físicas e morais do índio, um herói sem vacilações.
Publicado em 1857, O Guarani é a primeira obra de fôlego de José de Alencar. Classificado geralmente como romance histórico-indianista, tem seus 54 capítulos divididos em quatro partes: Os Aventureiros, Peri, Os Aimorés e A Catástrofe. A ação do romance acontece em 1604, envolvendo o rio Paquequer (RJ), onde D. Antônio de Mariz constrói a Casa do Paquequer, portentosa fortaleza edificada à maneira dos castelos medievais. Este nobre português, para não servir a Filipe II – rei espanhol que une sob sua coroa Portugal e Espanha – prefere habitar as selvas brasileiras, estabelecendo-se às margens do Paquequer com toda sua família, em cujo seio vive a meiga fada loira de olhos azuis Cecília. Ligam-se a Ceci a figura impertinente do forte Loredano, que não hesita em trair D. Antônio para apossar-se da filha; o tímido Álvaro, primo da moça; e o índio goitacá Peri, espécie de anjo-da-guarda de Cecília, que simboliza a integração perfeita entre o homem e a natureza. Ao lado de Ceci, vive a mestiça Isabel, filha de amores ilícitos de D. Antônio de Mariz com uma índia, acolhida como "sobrinha". Apresentados os personagens, a trama segue revolvendo a imaginação, sendo regida pelo caráter dicotômico de forças maniqueistas (o bem x o mal). Em uma caçada, D. Diogo, filho de D. Antônio de Mariz, mata acidentalmente uma índia aimoré. Há uma consequente revolta dos índios contra a Casa do Paquequer. A tensão cresce quando um grupo de aventureiros, liderados por Loredano, se rebela contra D. Antônio de Mariz. O nobre português, para evitar maior catástrofe, resolve explodir a casa, mas antes pede ao índio Peri, que decide ser cristão, já que não possui mais parentes próximos vivos, para que salve Cecília. No final do romance, Ceci e Peri, sobreviventes de uma enorme tormenta que aumenta extremamente as águas do rio, descem o Paquequer usando uma palmeira como embarcação. Os dois reeditariam o dilúvio em que Tamandare e e sua companheira, dessa forma escapam e povoam a terra. Do consórcio entre índio e branco, segundo os românticos, nasceria o povo do Brasil.
Na primeira metade do século XVII, Portugal ainda dependia politicamente da Espanha, fato que, se por um lado exasperava os sentimentos patrióticos de um frei Antão, como mostrou Gonçalves Dias, por outro lado a ele se acomodavam os conservadoristas e os portugueses de pouco brio.D. Antônio de Mariz, fidalgo dos mais insignes da nobreza de Portugal, leva adiante no Brasil uma colonização dentro mais rigoroso espírito de obediência à sua pátria. Representa, com sua casa-forte, elevada na Serra dos Órgãos, um baluarte na Colônia, a desafiar o poderio espanhol.Sua casa-forte, às margens do Pequequer, afluente do Paraíba, é abrigo de ilustres portugueses, afinados no mesmo espírito patriótico e colonizador, mas acolhe inicialmente, com ingênua cordialidade, bandos de mercenários, homens sedentos de ouro e prata, como o aventureiro Loredano, ex-padre que assassinara um homem desarmado, a troco do mapa das famosas minas de prata.Dentro da respeitável casa de D. Antônio de Mariz, Loredano vai pacientemente urdindo seu plano de destruição de toda a família e dos agregados. Em seus planos, contudo, está o rapto da bela Cecília, filha de D. Antônio, mas que é constantemente vigiada por um índio forte e corajoso, Peri, que em recompensa por tê-la salvo certa vez de uma avalancha de pedras, recebeu a mais alta gratidão de D. Antônio e mesmo o afeto espontâneo da moça, que o trata como a um irmão.A narrativa inicia seus momentos épicos logo após o incidente em que Diogo, filho de D. Antônio, inadvertidamente, mata uma indiazinha aimoré, durante uma caçada. Indignados, os aimorés procuram vingança: surpreendidos por Peri, enquanto espreitavam o banho de Ceci, para logo após assassiná-la, dois aimorés caem transpassados por certeiras flechas; o fato é relatado à tribo aimoré por uma índia que conseguira ver o ocorrido.A luta que se irá travar não diminui a ambição de Loredano, que continua a tramar a destruição de todos os que não o acompanhem. Pela bravura demonstrada do homem português, têm importância ainda dois personagens: Álvaro, jovem enamorado de Ceci e não retribuído nesse amor, senão numa fraterna simpatia; Aires Gomes, espécie de comandante de armas, leal defensor da casa de D. Antônio.Durante todos os momentos da luta, Peri, vigilante, não descura dos passos de Loredano, frustrando todas suas tentativas de traição ou de rapto de Ceci. Muito mais numerosos, os aimorés vão ganhando a luta passo a passo.Num momento, dos mais heroicos por sinal, Peri, conhecendo que estavam quase perdidos, tenta uma solução tipicamente indígena: tomando veneno, pois sabe que os aimorés são antropófagos, desce a montanha e vai lutar "in loco" contra os aimorés: sabe que, morrendo, seria sua carne devorada pelos antropófagos e aí estaria a salvação da casa de D. Antônio: eles morreriam, pois seu organismo já estaria de todo envenenado.Depois de encarniçada luta, onde morreram muitos inimigos, Peri é subjugado e, já sem forças, espera, armado, o sacrifício que lhe irão impingir. Álvaro (a esta altura enamorado de Isabel, irmã adotiva de Cecília) consegue heroicamente salvar Peri. Peri volta e diz a Ceci que havia tomado veneno. Ante o desespero da moça com essa revelação, Peri volta à floresta em busca de um antídoto, espécie de erva que neutraliza o poder letal do veneno.De volta, traz o cadáver de Álvaro morto em combate com os aimorés. Dá-se então o momento trágico da narrativa: Isabel, inconformada com a desgraça ocorrida ao amado, suicida-se sobre seu corpo. Loredano continua agindo. Crendo-se completamente seguro, trama agora a morte de D. Antônio e parte para a ação. Quando menos supõe, é preso e condenado a morrer na fogueira, como traidor.O cerco dos selvagens é cada vez maior. Peri, a pedido do pai de Cecília, se faz cristão, única maneira possível para que D. Antônio concordasse, na fuga dos dois, os únicos que se poderiam salvar. Descendo por uma corda através do abismo, carregando Cecília entorpecida pelo vinho que o pai lhe dera para que dormisse, Peri, consegue afinal chegar ao rio Paquequer. Numa frágil canoa, vai descendo rio abaixo, até que ouve o grande estampido provocado por D. Antônio, que, vendo entrarem os aimorés em sua fortaleza, ateia fogo aos barris de pólvora, destruindo índios e portugueses.Testemunhas únicas do ocorrido, Peri e Ceci caminham agora por uma natureza revolta em águas, enfrentando a fúria dos elementos da tempestade. Cecília acorda e Peri lhe relata o sucedido. Transtornada, a moça se vê sozinha no mundo. Prefere não mais ir para o Rio de Janeiro, aonde Peri deveria levá-la. Prefere ficar com Peri, morando nas selvas. A tempestade faz as águas subirem ainda mais. Por segurança, Peri sobe ao alto de uma palmeira, protegendo fielmente a moça.Como as águas fossem subindo perigosamente, Peri, com força descomunal, arranca a palmeira do solo, improvisando uma canoa. O romance termina com a palmeira perdendo-se no horizonte, não sem antes Alencar ter sugerido, nas últimas linhas do romance, uma bela união amorosa, semente de onde brotaria mais tarde a raça brasileira...(Por Professor Alves)
PRIMO BASÍLIO
Eça de Queirós foi um dos principais responsáveis pela introdução do
realismo em Portugal, e O Primo Basílio foi um dos dois livros (sendo o outro 0
crime do Padre Amaro, também dele) que mais colaboraram para desbancar o
romantismo de Camilo Castelo Branco ou Júlio Dinis e instalar em Portugal novos
padrões de arte e de visão da sociedade e da vida.
O livro é um delicioso quadro da classe média de Lisboa, com inesquecíveis tipos caricatos, como o Conselheiro Acácio e Dona Felicidade, e uma história ao mesmo tempo banal e envolvente.
Luísa vive um casamento morno com seu prosaico marido, o engenheiro Jorge, e se intoxica de fantasias românticas, hauridas em livros ou sugeridas nas conversas com sua “devassa” amiga Leopoldina.
No meio de um verão sufocante, durante o qual Jorge faz uma viagem de trabalho, Luísa recebe a visita de um primo rico, seu ex-namorado, agora vivendo em Paris, cidade idealizada nos sonhos românticos da moça.
Uma velha empregada, a ressentida Juliana, a tudo assiste cheia de intenções de vingança. Esses são os ingredientes com que o estilo irresistível de Eça de Queirós compõe a trama do romance.
Disso resulta uma crítica demolidora da moral pequeno-burguesa. A aventura “romântica” de Luísa é vista sem nenhum romantismo; ao contrário, é desnudada pelas lentes implacáveis do realismo, que, nessa época, Eça abraçava com fervor, utilizando-o como método de análise para elaborar um amplo e devastador quadro crítico da sociedade portuguesa.
A força de O Primo Basílio, contudo, não provém de sua trama (que Machado de Assis, em crítica publicada na época do lançamento do livro, demonstrou ser defeituosa), nem de suas intenções de saneamento social, mas sim do poder com que Eça compõe as situações e do encanto do seu estilo.
O livro é um delicioso quadro da classe média de Lisboa, com inesquecíveis tipos caricatos, como o Conselheiro Acácio e Dona Felicidade, e uma história ao mesmo tempo banal e envolvente.
Luísa vive um casamento morno com seu prosaico marido, o engenheiro Jorge, e se intoxica de fantasias românticas, hauridas em livros ou sugeridas nas conversas com sua “devassa” amiga Leopoldina.
No meio de um verão sufocante, durante o qual Jorge faz uma viagem de trabalho, Luísa recebe a visita de um primo rico, seu ex-namorado, agora vivendo em Paris, cidade idealizada nos sonhos românticos da moça.
Uma velha empregada, a ressentida Juliana, a tudo assiste cheia de intenções de vingança. Esses são os ingredientes com que o estilo irresistível de Eça de Queirós compõe a trama do romance.
Disso resulta uma crítica demolidora da moral pequeno-burguesa. A aventura “romântica” de Luísa é vista sem nenhum romantismo; ao contrário, é desnudada pelas lentes implacáveis do realismo, que, nessa época, Eça abraçava com fervor, utilizando-o como método de análise para elaborar um amplo e devastador quadro crítico da sociedade portuguesa.
A força de O Primo Basílio, contudo, não provém de sua trama (que Machado de Assis, em crítica publicada na época do lançamento do livro, demonstrou ser defeituosa), nem de suas intenções de saneamento social, mas sim do poder com que Eça compõe as situações e do encanto do seu estilo.
Luíza desde sempre é desenhada como uma personalidade volúvel, romântica,
assemelhando-se à Mme Bovary.
Jorge, homem de bem, bem conceituado, conservador. Numa conversa com
amigos em casa enquanto debatem a respeito de um final para um a história de
adultério, Jorge é peremptório: A morte passional. Ele não admitia a traição. Condena
veemente a amizade entre Luíza e Leopoldina, mulher vulgar que, mesmo casada, trai
o marido sem nenhum remorso Entretanto, dar-se-á a IRONIA, figura de linguagem
tão comumente explorada nos romances realistas: Jorge, ao leito de morte de Luíza,
perdoa-lhe o pecado.
Basílio é o corruptor nato, o sedutor sanguinário, sem nenhum pudor de
seduzir. Já havia largado Luíza quando esta era adolescente. Volta e ao saber
que Jorge está em viagem de trabalho, aproxima-se de Luíza e está se dado o
desmastreio.
Juliana rouba a cena, com suas inquietações, admoestações e rancor por
ser a servil e não a patroa. Descobre os segredos de Luíza e a tortura à
exaustão. Aqui vemos a união entre o REALISMO e o NATURALISMO, comum à
literatura portuguesa e não à brasileira.
(Por Professor Alves)