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quarta-feira, 21 de agosto de 2013

ATÉ ISSO PASSARÁ

            

Hoje a piscina estava vazia. Não que estivesse sem água. Pelo contrário, a água transbordava ao sopro do vento matinal. Não que não houvesse pessoas. Muito pelo contrário, estava repleta de cabeças, troncos e membros. Havia, entretanto, um silêncio, que a tornava vazia, com um  zumzumzum  baixinho, silente. Vez por outra,  ouvia-se um riso, porém tênue, como se houvesse um acordo para que se mantivesse apenas o som do silêncio.
            Não, não fiquem consternados. Ninguém morreu, ninguém com enfermidade grave. Mas é sempre assim quando seu Joaquim não aparece por aqui. Ninguém sabe por quê, de repente ele não compareceu. Possivelmente algum compromisso fortuito, desses que chegam sem aviso e nos tiram dos compromissos rotineiros. Daí o motivo daquela quase entorpecimento na aula de hidroginástica. Do meu canto vislumbrei alguns olhares indecisos, arapongas na direção do portão. O professor quebrou o silêncio, quase sem querer, indagando pelo cliente faltoso. As amigas ficaram órfãs por hoje. Não estavam tristes, apenas não estavam à vontade, como que sentindo que a manhã estaria incompleta, com a ausência do amigo.
            Mas sabemos que daqui a dois dias, logo cedo, Seu Joaquim adentrará o portão, já sorridente, indagador, cumprimentador. E logo a água da piscina sorrirá ao embalo do vento mais solto. O professor Metusalem, com seus trocadilhos à vovó, indagará sobre os netos, sobre a obra, sobre a garrafada alemã, pseudo motivo de toda aquela virilidade. Com respostas rápidas e sem papas, Seu Joaquim irá respondendo e acrescentando tantas outras pilhérias, levando muitos à descontração. Outros clientes, um pouco ingratos, torcerão a face a esse mundo de brincadeiras, tecendo comentários, mas, no fundo, rindo  de todo aquele bom humor. E as amigas perdoarão a ausência passada e voltarão a sorrir, com a plenitude daquela manhã.
            Entretanto haverá uma manhã em que a piscina estará vazia. Não por falta d’água, não porque não tenha gente. Mas porque tudo nessa vida é efêmero, tudo é passageiro, inclusive o trocador e o motorista. E toda essa alegria também um dia passará e ficará apenas na lembrança daqueles que convivem com seu Joaquim.
(Agosto de 2013)