Analisando imagens de pessoas que
participam de protestos a favor do presidente, não vi ninguém que conheço
pessoalmente, ninguém do meu círculo de amizade, nenhum aluno ou ex-aluno, nenhum
amigo professor! Por que será?
A resposta é simples. Não sou militar
(detesto armas). Sou professor, não ando em carro importado, não vou aos EUA ou
à Europa todo ano, não moro em áreas nobres de Fortaleza, como Beira Mar, Cocó, Meireles, Alphaville, ou coisa que os
valha. Mas essas características estão registradas nos rostos e atitudes daqueles
verdadeiros apoiadores do presidente do Brasil, que se reúnem principalmente na
Praça Portugal, quartel general da burguesia fortalezense.
Digo “dos verdadeiros apoiadores” porque aquela gente que não faz
parte do supracitado grupo foi iludido e pensa que apoia Jair Bolsonaro. Um
estudante da escola pública, um professor, um indivíduo que precisa da assistência
social, um morador da desassistida periferia daqui e do resto do país, mas que
defendem em suas redes sociais o atual presidente na verdade não passa de um
iludido que pensa está fazendo história no país, ou não pensa. Possivelmente
achava que teria direito a uma arma para “se defender”, que se tornaria um
empreendedor com o fim da CLT, que veria o fim da corrupção no país, que teria
a redução da violência na sua rua. Não conhece o significado da palavra milícia
ou seu derivado miliciano, assim como desconhece pra que serve o FUNDEB, não
entende por que a polícia age de forma tão ostensiva na periferia, não conhece
o motivo pelo qual a violência contra negros, índios e mulheres aumentou tanto
em 2019 e 2020. Não sabe o porquê da necessidade da manutenção da floresta
amazônica, das reservas indígenas, ou mesmo aqui das dunas do Parque Municipal
da Sabiaguaba ou do Parque do Cocó. Talvez não compreenda por que a Fortaleza
burguesa cresce tanto para os lados do Eusébio e a Fortaleza pobre crese para
as bandas do Jangurussu até a Barra do Ceará.
A partir do momento em que essa
consciência despontar, os apoiadores de Jair Bolsonaro resumir-se-ão àqueles
empresários que querem reduzir direitos dos trabalhadores, para se locupletarem
mais ainda; às socialaites que se incomodam com filho de pobre estudando em
universidades ou com o motorista indo a Miami; aos militares que estão muito
felizes com os aumentos de salários concedidos pelo pseudo capitão, assim como
a manutenção de prerrogativas na hora de aposentarem-se com cinquenta anos; aos
empresários da área de educação que se encontram exultantes com a perspectiva
de sucateamento da Escola Pública, o que levará os filhos da classe média para
suas salas de aula, cada vez mais superlotadas; a todos aqueles que, de certa
forma, se comprazem com um governo homofóbico, ginófobo e machista,
americanizado (na pior acepção) e genocida!
(Professor Alves Andrade, Julho
de 2020)