Mostrando postagens com marcador Meu amigo: o Primo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Meu amigo: o Primo. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 5 de julho de 2010

MEU AMIGO, O PRIMO

Chamávamos a ele “Primo”, um apelido que ganhou devido às exibições do quadro “PRIMO RICO E PRIMO POBRE”, em que Paulo Gracindo, juntamente com outro grande nome da televisão, cujo nome me foge à memória, representavam esses papéis. O certo é que Primo era uma figura inusitada. Nunca conheci pessoa mais feliz. Tudo era motivo para rir, estava sempre tirando brincadeira com um e com outro. Isso me faz agora refletir que a Felicidade se encontra nas coisas simples. Disso todo mundo sabe, mas não me refuto a afirmar isso, mesmo sendo verdade e conhecimento absolutos. Porque Primo era simples, humilde, ingênuo e Feliz. Às vezes nos arvoramos, achando que somos um poço de conhecimento, ou um livro de sabedoria, para depois nos entristecermos, reconhecendo que não somos de nada, e que os verdadeiros sábios são pessoas como o Primo.
Primo não morreu ainda. Acho! Pois pessoas como ele vivem muitos anos, principalmente  nas memórias. Se falo no passado é que ele se foi das minhas relações, nunca mais o vi. Gostaria de dizer “nunca mais o vimos”, mas também não vejo aqueles outros que comigo admiravam o Primo e se compraziam com sua alegria. O tempo é cruel, se atreve à colunas de mármores quanto mais a amizades de palha, para parafrasear Vieira. E passou, mas não deixou de ficar (agora é Drumond). E deixou com ele as lembranças livres e sorridentes de um tempo cujo valor a gente só dá quando já ficou bem para trás.
Deixemos as reflexões e lembremos de um fato, cuja lembrança me fez sentar à frente desta máquina para tentar relatá-lo. Estávamos na flor da idade, conforme reportado, treinávamos a arte de Funakoshi, jogávamos futebol e paquerávamos garotas. Primo nunca teve muita sorte com as mulheres, talvez seu olhar brincalhão e sua ingenuidade. Ou talvez sua fixação por mulheres do baixo meretrício, fosse o motivo de sua inacessibilidade aos lábios das moçoilas da época. Era uma sexta-feira à noite, saíamos do cursinho quando Primo me fez o convite para visitarmos uma dessas casas.  Tentei desviar da ideia reportando minha usual liseira. Ao que meu amigo cortou dizendo que era um passeio rápido e que me pagaria uma cerveja e uma carteira de cigarro. Primo não fumava e nem bebia. Alegrei-me com a ideia e o acompanhei. Era um recinto para mim à época estranho. Homens fortes vestidos de paletó estavam por todos os lados, o ambiente tresandava a álcool e nicotina, cheiro nada estranho a mim. Além é claro do perfume barato e das toalhas vermelhas que davam um tom sensual de preço baixo ao ambiente. Moças e outras nem tanto circulavam com sorrisos de algodão-doce e olheiras cavadas, que lhes revelavam o sofrimento de diamante. Em uma clareira feita por um conjunto de mesas, um bêbado tentava retirar dos bolsos o que não mais havia, e olhava para o garçom com um sorriso de quem diz, “mas estava nesse bolso!” e tornava a buscar no outro. Enquanto enchia primeiro o copo de cerveja e acendia o primeiro cigarro, vi o Primo chamar uma garota, cujo    vestido decotado deixava transparecer apartadas as carne de seus seios. Era um vestidinho azul, dois palmos acima do joelho e que atrás ficava mais curto devido ao tamanquinho alto que lhe arrebitava o bumbum, tornando-o apetitoso. Logo me vi sozinho, para voltar a admirar o ambiente e suas figuras pitorescas. Não deu meia hora, meu companheiro estava de volta. E foi logo dizendo: “Primo, hoje eu estou demais!” (Acho que esqueci de dizer que o Primo chamava todos mundo de “primo”) E foi contando suas peripécias à Ponciano de Azeredo, aquela personagem maravilhosa do romance O Coronel e o Lobisomem. 
Já de cerveja nova na mesa e acendendo mais um cigarro, e meu amigo de refrigerante trocado, vi que ele procurava outra garota. Até que seus olhos deram com uma garota dentro de um vestidinho bege, de gola alta e sandália baixa. Rápido, perguntou o que eu achava dela, mas antes que lhe respondesse, chamou-a para perto de si. Ela me olhou com olhos cúmplices, pediu-me um cigarro e colocou a mão sobre o ombro de meu amigo, que, sem demora, levou-a para o quarto. Ao retornar, me indagou novamente  o que eu achara da moça, ao que lhe respondi:
¬ Mas Primo, essa moça era a mesma com que você saíra há pouco tempo, ela apenas trocou de roupa!
                  Professor Alves, 05/07/2010