Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal perde
o sabor, com que lhe será restituído o
sabor?
Para nada mais serve senão para
ser lançado fora e calcado pelos homens.
(Mateus, 5: 13 – 16)
Nesse último final
de semana, alguns fatos ocorreram que me deixaram pelo menos horrorizado e
reflexivo sobre o caminho pelo qual a (des)humanidade está se orientando. E não
são poucos esses casos, nem são bonitas as suas práticas.
Em Fortaleza,
mais precisamente no bairro Cajazeiras, onde moro, um irmão matou o outro a
chutes e pontapés, perdoem-me a redundância, é que sempre vi diferença nessas
expressões. Desculpem-me ainda por ofuscar os olhos de algum leitor fortuito,
eu também sei contar histórias alegres, animadas e, às vezes, até cômicas. Mas
o que me trouxe a essas teclas foi a angústia da violência, que cresce e nos
embrutece, violência, a qual não podemos dizer gratuita, porque custa muito
caro e o ônus não é material. O preço é social, abstrato, moral. O motivo desse
fratricídio não interessa muito. Parece
que foi uma acusação real ou inventada. Mas me medra essa justiça feita pelas
próprias mãos, em crescimento Brasil a fora.
Nesse
mesmo final de semana, em São Paulo, uma mulher, acusada de sequestro de
crianças para ritual de magia negra, foi brutalmente linchada por populares e
seu corpo arrastado pelas ruas. A tragédia foi ainda filmada e divulgada na
internet. Tampouco me interessa dizer que tudo não passou de um terrível
equívoco. O que me choca é o modo como a população volta à barbárie e comete
atrocidades que envergonharia uma matilha de cães famintos.
Na
pacata cidade de Cocal, no Piauí, onde eu me encontrava para a realização de um
concurso público, um “amigo”, com um gogó de garrafa, abriu o companheiro de
bebedeira do umbigo ao ligamento das costelas. Esse óbito também me deixou triste,
e a cidade, cuja população tem riso fácil e ações prestativas, estarrecida.
Mais um em que não foi utilizada a famigerada arma de fogo, mais um que prova a
involução do ser humano, próximo aos seus instintos mais primitivos.
Mas
o final de semana não estava completo, infelizmente! Em Pernambuco, um
torcedor, com o perdão da palavra, arremessou sobre outro, de outro time que
não o seu, um aparelho sanitário. Sim, se você viu a cena, ouviu a notícia e
ainda está incrédulo, repito uma pri-va-da. Se ele tivesse atingido o “adversário”
com o conteúdo do vaso, certamente não teria feito tanta merda. Esse assassinato de repercussão mundial não só
me entristeceu, como também me desnorteou. Mas uma vez um brutal assassinato
não foi cometido por armas, mas por um instrumento cuja finalidade é outra bem
diversa.
Lembrei,
assim, de uma cena grotesca que presenciei há muitos anos. Era domingo e eu me
dirigia à casa de um amigo, quando tudo aconteceu. Um homem, possivelmente um
pastor evangélico, com uma bíblia debaixo do braço, encontrou-se com um rapaz,
e os dois discutiram. De súbito, o pastor bateu forte na cara do rapaz com a
bíblia! Pasmem, com a bíblia. O ataque foi tão violento que o rapaz caiu. Nisso
o pastor cristão pisou sobre o ventre do indivíduo e bateu-lhe com o livro sagrado,
pelo menos cinco vezes, até que outros crentes que vinham atrás correram e
evitaram o pior. E o pior seria um homem morto a golpes de bíblia.
Quando
da campanha do desarmamento, eu me pus contra porque imaginava, como ainda
imagino, que não adianta retirar as armas do cidadão, das pessoas. O que mata
não é a arma, mas o instinto assassino, que parece entranhado entre os
neurônios daqueles que se dizem racionais. As pessoas quando alimentam seus
instintos destruidores, utilizam, como vimos nos exemplos acima, qualquer coisa
que possa eliminar o outro. E esse outro não precisar ser inimigo, bastar não
estar sintonizado com aquele num dado momento. É preciso desarmar o homem
desses desejos violentos, da sua incredulidade no bem, uma vez que só aquele
que não acredita no bem é capaz de se deixar levar pelo mal, de agir pelo mal.
Faz-se necessário, pois, armá-lo com o verdadeiro cristianismo, com a paz, com o
perdão do Sermão da Montanha. Bem aventurados, portanto, aqueles que buscam ter
Jesus no coração. Assim seja! (maio de 2014)