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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A FELICIDADE CONTIDA

            
       O menino franzino, comprido caminhava pela rua com um recorte de jornal debaixo do braço. Queria que a primeira pessoa que visse aquilo fosse seu pai. Apesar de ele não ter dado grande apoio, também não se opôs que o jovem fosse para a capital tentar vestibular para Direito. Ele sempre estudara na cidadezinha de Independência, numa escola da CENEC e tinha ido a Fortaleza fazer vestibular, concorrer contra um monte de aluno escolado, treinado, estudado nas grandes escolas, e logo para um curso cuja concorrência amedronta qualquer um que pensa em ingressar numa faculdade pública.  
              O pai estava “despachando” um freguês. Um copo de abacatada e um pedaço de bolo. Era esse seu ofício. Dia após dia ali, naquele quiosque. Um copo d’água, uma vitamina, uma coca cola. Quando o filho chegou, ele, diplomado na escola da vida, sabia que algo de novo estava acontecendo. Mas não disse nada, esperou que o filho se pronunciasse. Este, silenciosamente estendeu o jornal, que o homem levou aos olhos. E ficou por alguns instantes sem saber se estava sonhando ou se estava acordado. O nome do filho gravado em letras de imprensa, junto a muitos outros, o nome do filho estampado no jornal. De súbito pensou na sua lida dia-a-dia, na infância no sol queimada, na vegetação arengueira que lhe fustigava a carne, nos aboios mato a dentro. Na felicidade de vir morar na sede da cidade, para dar aos filhos o pouco conforto que nunca tivera. E agora, o primogênito chega e lhe mostra o jornal com seu nome acompanhado do sobrenome da família impresso. Que alegria! Que coisa chata não saber pular, cantar de alegria, extravasar esse momento!   Nunca fora homem de arroubos, de demonstração das emoções, Quando os filhos nasciam, ele se impacientava, dava-lhe uma espécie de comichão pelo corpo, era a felicidade se manifestando. Quando na rua alguém indagava sobre o fato, ele ria e dizia: “É a família tá crescendo.” Era a sua forma de extravasar a alegria.
              Nesse dia ele também não disse muita coisa. Apenas abraçou o filho e disse: “Parabéns, meu filho! Estou muito orgulhoso de você.” O moço sabia que aquelas duas frases significavam um discurso à Fidel Castro e que aquele abraço representava todos os beijos e palavras de carinho que os filhos  jamais ouviriam. O pai dobrou delicadamente o recorte, o qual guardou na memória e numa mala de relíquias até o fim de sua vida.
  (Professor Alves) 

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