quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

POETA SOU? ORA, DIREIS!




Tenho tesão poético!
A poesia me estimula a viver
Faz relaxar, me excita
Mais, mais e mais
Sem necessidade
Com promiscuidade
Escrevo, escrevo
Mesmo de poema curto
Curto muito escrevê-lo
A tensão aumenta
Pego a pena, digo, a tecla
E vou me afogando
No meu próprio gozo
Na ejaculação de palavras
De versos, transbordantes
De orgasmos múltiplos
Soluçantes de amor, de dó
De tristeza, ou de alegria
Agonizantes,
Arrojados à tela
Sem pudor, sem vergonha
Mesmo sem vontade
Sem prazer ético
Sinto grande
Esse tesão poético!
(Alves Andrade, janeiro de 2017)

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

O CACHORRO E O MOTOQUEIRO





Desde a infância, uma história me chama a atenção pela distopia, pelo alerta que representa para a humanidade. Trata-se de O Planeta dos Macacos, livro de Pierre Boulle, transportado para o cinema e televisão do mundo todo. Nessa história, que todos conhecem, por isso não vou contá-la aqui, um astronauta acaba entre os macacos de um planeta dominado por raças simianas. Ao final, o leitor ou aqueles que assistiram aos filmes ou às séries compreenderão que na verdade trata-se do planeta terra, dominado pelos macacos.  
O que me fez lembrar agora dessa história foi uma cena no mínimo curiosa. Foi o seguinte. Por volta das seis da noite de segunda-feira, quando me dirigia ao trabalho, parando em um semáforo amarelo, chamou-me a atenção um cachorro (sempre fiz a distinção entre cão e cachorro. Cães são aqueles animais mimados que vivem fazendo estripulias no facebook. Cachorro são aqueles desamparados, que vivem na rua). Pois bem, o cachorro estava parado na faixa de pedestres, com a finalidade de cruzar a Avenida Paulino Rocha, aguardando o sinal ficar verde para ele. Antes, porém, pude observar que alguns humanos se arriscavam, tentando passar fora da faixa e com o sinal ainda vermelho. O cão, entretanto, impávido, esperava sua vez. Quando o sinal ficou verde, o mesmo pisou a faixa de pedestres e se dirigiu ao outro lado da avenida, tendo ainda que transpor o canteiro, certo de que estava com sua vida fora de risco.
Mas isso ainda não é o curioso da cena, pois o fato de cachorros agirem assim não é inédito, á ninguém, tampouco para mim. Há alguns anos, no dia 24 de dezembro, por volta das nove da noite, voltando da casa da sogra, onde fui buscá-la para passar o natal conosco, presenciei uma fila formada por aproximadamente dez cachorros aguardando, na faixa de pedestres, para atravessar a avenida Luciano Carneiro, no cruzamento com a Borges de Melo. Os animais não só o fizeram com o sinal verde, como aguardaram da mesma forma para cruzarem à referida Borges de melo, sem pressa, sem queixumes, apenas esperaram sua vez de agir. Iam, possivelmente, atrás do seus restos de um peru de Natal.
Voltemos, pois, à cena inicial. O curioso do ocorrido é que quando o cachorrinho, cruzando à Avenida Paulino Rocha, já deixava o canteiro, veio um motoqueiro, que avançou o sinal,  e quase o atropelou. O acidente só não aconteceu, porque o animal inteligentemente, conhecendo a burrice humana, já previa o que poderia acontecer e se safou. Deu uma olhada no homem que quase se tornara seu algoz e rosnou para o mesmo. Mas não foi um rosnado em forma de palavrão, foi muito mais um rosnadinho de desdém e de perdão.
Depois dessa cena, lembrei-me da História de O Planeta dos Macacos e me pus a refletir sobre o que acontecerá com a humanidade se continuar tão desumana e inconsequente.
(Francisco Alves de Andrade, janeiro de 2017)

NA ESCURIDÃO MISERÁVEL

FERNANDO SABINO  “Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me observava, enquanto punha o m...