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quinta-feira, 12 de maio de 2022

O CABELEIRA

 











(Por Alves Andrade,

baseado na obra de Franklin Távora)


No século dezenove,

No ano de setenta e seis,

Foi que veio então a lume

Mostrar do sertão a tez

O romance O Cabeleira,

O qual li mais de uma vez.


Sendo romancista histórico,

Franklin Távora escreveu,

Requintado em lucidez,

O que por ali se deu,

A história de Cabeleira

Mal feitor que ali viveu.


Era muito grande a fome

Que a seca pra li trazia;

Era muito grande a morte

Que a peste ali espargia;

Porém o maior flagelo

Cabeleira é que fazia.


Na região de Goiana,

De Santo Antão e Goitá,

Ninguém não tinha sossego

Nem mesmo dentro do lar,

Quadrilhas então à solta

Todo o povo a castigar.


Era o século dezoito,

Setecentos, coisa e tal,

O Brasil inda Colônia,

Pertencente a Portugal,

Pernambuco embrionário,

Capitania especial.


José Gomes foi menino,

Teve da mãe o carinho,

Mas o pai, criatura má,

Levou-o a mau caminho,

Ensinou-lhe assim que o certo

Era matar passarinho.


Tirar a vida dos outros

Depois de ser homem feito,

Foi ensinado na infância,

Pelo pai, um mau sujeito,

Enquanto por outro lado,

A mãe pregava o respeito.


Se cuidar dos animais

A mãe o orientava,

Joaquim, o pai malvado,

Malvadeza ensinava,

Tirar a vida dos bichos,

Era assim que o pai mandava.


A mãe com ele ajoelhada,

Lhe dava terço a rezar,

O pai então irritado

Lhe deu faca pra matar,

“Meu filho há de ser homem

Pra todo mundo assustar”.


E na hora de escolher,

Por medo ou por vaidade,

Seguiu o caminho do pai,

O caminho da maldade,

Deixando sua triste mãe

Pra não ter felicidade.


E pouco tempo depois,

José Gomes se tornou

O temível Cabeleira.

Muita gente ele matou

Além das propriedades

Que seu bando saqueou.


Era o horror das cercanias,

Matava só por prazer,

Não tinha respeito à vida,

Não quis, não queria ter,

Sua faca era invencível,

Fazia fogo sem ver.


O pai do bando era o chefe,

O filho, o mais temido;

Todo roubo que faziam

Pra Timóteo era vendido;

O capanga Teodósio,

Cão cerbero sem sentido.


A mata era seu castelo;

As serras, a fortaleza;

As estrelas, o farol;

As fogueiras, a clareza;

A loucura, a coragem;

A vida, uma tristeza.


Porém quando viu Luíza,

Amada de sua infância,

Cabeleira refletiu

Sobre sua ignorância,

Sobre o mal que tinha feito,

Sobre sua petulância.


Foi após uma ocorrência

Que Rosalina vitimou,

Preferindo então a morte,

Com fibra não hesitou,

Com as mulheres da família

No incêndio se queimou.


Cabeleira à Luíza

Amor eterno jurou,

No meio do matagal,

Com ela, ele noivou

Mas logo pela manhã

Para o céu ela voou.


Mas antes, porém, contudo,

Seu amado consertou,

Aos pés dela mui contrito,

Pôr-se bom ele afirmou,

Desfez-se de suas armas

No monturo as jogou.


Nossa! que momento belo

Essa Arte nos legou,

Com a pena banhada em tinta,

Franklin Távora consagrou

A redenção de um homem

Que só o amor alcançou.


Depois daquela partida,

Tristeza grande o tomou,

Saindo no mundo afora,

Só desespero encontrou.

Nunca mais matou ninguém,

Aquela alma ela salvou.


Dentro de um canavial,

A polícia o prendeu.

Indagou-lhe o capitão:

“Cabeleira é nome seu?”

“José Gomes, seu criado.”

Desta forma respondeu.


Levado para goiana,

Mesmo preso ali tocou

A viola enluarada,

Muita gente ali chorou.

A esposa do Capitão

Pelo bandido implorou.


Mas selaram seu destino

Para na forca morrer

Juntamente com seu pai,

Sem ninguém interceder,

A mãe, vendo-o pendurado,

Também veio a falecer.


Com esse livro o autor

Procura nos ensinar

Que o crime nunca compensa,

Mas também para cismar

O direito da justiça

De outro homem executar.


Mostra que as autoridades

Devem do broto cuidar,

Dar-lhe boa Educação

Pra bom caminho trilhar

E que a pena de morte

Devia se eliminar.


Séc’lo e meio se passou,

E essa má instituição

Ainda é vista por muitos

Como a grande solução

Para o fim de todo crime

IMENSA E MERA ILUSÃO!

sábado, 16 de setembro de 2017

A MÃO E A LUVA, de Machado de Assis





                Buscando uma leitura diferente de Machado de Assis, de repente me deparo com o romance a Mão e a Luva. Romance chato, com pouco desenvolvimento das ações e até meio sem ações. E é o próprio autor/narrador quem nos diz no capítulo IX:
Não será preciso dizer a um leitor arguto e de boa vontade... Oh! sobretudo de boa vontade, porque é mister havê-la, e muita, para vir até aqui, e seguir até o fim, numa história, como esta, em que o autor mais se ocupa de desenhar um ou dois caracteres, e de expor alguns sentimentos humanos, que de outra qualquer coisa, porque outra coisa não se animaria a fazer.

            Por ser um romance da época em que Machado escrevia romances românticos, trata-se, pois, de um romance romântico, que traz no seu bojo uma história de um indivíduo que atende por Estevão. Personagem que de cara já nos dá nojo pela sua pobreza de espírito e índole lânguida, se é que esse termos se ajusta a esse contexto. A heroína é uma menina de 17 anos, na primeira fase do “namoro”; 19, na segunda. É uma heroína romântica autêntica, aos moldes de Macedo, pelo menos nos trejeitos, achaques, roupas e penteados. Se o namoro não deu certo na primeira fase, na segunda gora do mesmo jeito. E o pobre Estevão vai chorar no colo do amigo Luis Alves, de índole completamente diversa da do colega de faculdade. O leitor aos poucos vai se aborrecendo com os nãos de Guiomar e os choros do enamorado.
            Até que aparece um embrião de trama. É quando o narrador nos apresenta as demais personagens: Mrs. Oswald e a Baronesa. Esta é madrinha de Guiomar e a tem por filha, porque assim a concebeu quando da morte da filha de sangue; aquela, uma agregada inglesa fã das tramas de Sir Walter Scott e de papel importante na concepção da trama. Além delas também nos é apresentado o Sobrinho da baronesa, Jorge, com quem a tia quer casar a afilhada e suposto rival de estevão. Com certeza o leitor fica estranhando o que Machado quer com a trama. Nisso, creio, o leitor tentará fazer uma relação entre o que está ocorrendo ao título e não percebe. É que o Bruxo do Cosme Velho já trazia na pena os truques da análise do ser humano, que lhe serão tão caros na sua fase áurea.
            Guiomar é uma  moça de personalidade forte, que em alguns momentos se mostra fria e até mesmo dissimulada. As infância não fora das melhores e isso encaliçou de certa forma sua personalidade. Era ambiciosa no bom sentido. Desde mito pequena já admirava o que era bom e prazeroso, queria ter, queria ser. E para isso não podia atar sua vida a uma alma insossa como a de Estevão. Mas também não poderia fazê-lo a Jorge, indivíduo boçal, narcisista e com ambições mesquinhas. Não, Guiomar queria unir-se a uma alma grande, que lhe pudesse dar não só a mão a passeio, mas lhe dar status e segurança de ânimo. Alguém que lhe prometesse não pieguices, ou bilhetes amorosos sem conteúdo.
            O leitor, que já deixou de lado o tédio do início, porque percebeu os verdadeiros motivos do autor/narrador percebe de chofre ex-abrupto, quem seria a mão que se encaixaria nesta luva. Exatamente: Luís Alves. Este entra na vida de Guiomar, sem pedir licença, sem palavras melosas. Corteja-a e a conquista.
            Não, o final não tem casamento, não tem festa. Apenas a certeza do leitor de que Guiomar e Luiz Alves se casarão. Ele, advogado e deputado, que conquistou todos os degraus  que Jorge e Estevão jamais se aproximariam. Ela, esposa e senhora de si, alma perfeita para unir-se a de um homem vencedor.
            Os detalhes desta belíssima narrativa de Machado de Assis, só lendo.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

EU TE AMO


              
         “Eu te amo.” É a frase mais dita e ouvida no mundo inteiro. Mas o interessante é como se diz: “Eu te amo...” baixinho, quase sussurrando, deprecando, quase implorando ao ser amado que devolva esse amor. Ou então “EU TEAMO!” arrogante, mandando, exigindo que a pessoa amada também o ame e propague ao mundo esse amor. Já ouvi, acho que numa música, um “Eu te amo, porra.” Esse não é arrogante, é intimidador, ameaçador. “Não vai me amar...? tente pra ver o que lhe acontece...” Coitado do ente ‘amado’. Já ouvi num desses cartõezinhos que são veiculados na rede um "Sorria, eu te amo". Dá pra perceber a importância do ser amado! Nenhuma. Importante aí é quem ama, pois é o motivo da alegria  de quem é amado, quando deveria ser exatamente o contrário. E assim vai.
              Durante o Romantismo, refiro-me ao período do século XIX em que predominou esse estilo de época, dizer “Eu te amo”, era um bom negócio. A sociedade estava precisando de ‘bons casamentos’ para produzir ‘boas famílias’. Mas “eu te amo” também era dito a beira de penhascos, em bosques ermos. E nos dois casos se a resposta fosse “mas eu não te amo”, o precipício seria a morada derradeira do amante não correspondido. Ou se dizia “eu te amo” entre quatro paredes, a sós, sem ninguém para ouvir. Só o amante e sua solidão. E assim já sabemos como fica o verbo amar.
              Já no período em que a máscara dos amantes caíra, refiro ao período do Realismo, dizer “eu te amo” era um caso de adultério, pois só as amantes casadas ouviam de seus amantes e não dos maridos “eu te amo”, flácido, apenas com interesses que não eram financeiros.
              Mas foi talvez no período das novelas televisivas iniciadas já na década de sessenta que dizer “eu te amo” tornou-se moda. E todos repetem inspirados nas novelas das seis, sete... “eu te amo”, mas sempre com tons suplicantes, arrogantes, ameaçadores. E o amor assim se torna moeda de troca ou de compra ou de mando. Não vamos mexer em jornalismo, mas quantas pessoas morreram só nos últimos anos ou mataram porque quem era amado não correspondia a esse estranho amor!

              O certo é que ninguém doa amor, ninguém ama para amar e ser feliz. Ninguém diz “eu te amo, obrigado”. Obrigado pelo quê!? Pela pessoa amada existir. Ninguém fala: “Eu te amo, obrigado por você existir, por eu ter a quem amar. Minha vida era tão sensabor, inodora, incolor até que você apareceu e eu encontrei um motivo para viver, um motivo para respirar. Minha vida hoje é um arco íris cujas cores alegram e enfeitam o que antes não tinha sentido.  Que alegria ter você no mundo. Não, não precisa me amar, viu. Seria ótimo se você me amasse, mas não dá, eu sei. Valeu mesmo, muito obrigado.”
(Professor Alves, 04/12)

sábado, 29 de janeiro de 2011

LUCÍOLA


(Soneto incidental)

Essa moça que vemos no ataúde
Atendia pelo nome de Lúcia
Virou-se na vida com garra e astúcia
'Té que uma paixão lhe levou a saúde.

Em vida, do alcouce foi rainha
E nenhuma disputou-lhe a coroa;
Molhada da cidade na garoa,
Despedaçou orgulho como fuinha.

Que demônio levou esse anjo à vida,
Pois habita em seus olhos pudicícia
E o sorriso lhe é meigo, divinal?

Foram aflições em que se viu metida
Dos tigres indecentes a malícia,
Mas o amor a livrou de todo o mal.

(Professor Alves, Setembro de 2003)