segunda-feira, 17 de julho de 2023

DO QUEM É A CULPA?


(Alves Andrade)


Há duas semanas, durante uma aula de Espanhol, trabalhando com adjetivos, enquanto analisávamos alguns exemplos em Português dessa classe gramatical e sua função de modificador, um aluno me perguntou se eu iria dar aula de Português. Expliquei-lhe, então, que estava trabalhando com aqueles exemplos para em seguida transitar para o Espanhol, lembrando-lhes o aspecto concordância nominal. Feito.

Na mesma semana, em uma outra turma, trabalhando com o gênero sinopse, ao mesmo tempo em que trabalhávamos com vocabulário Ligado à teoria Literária, fiquei assaz surpreso ao perceber que para muitos do grupo, que já havia estudado teoria literária em Literatura de Língua Portuguesa, aqueles vocábulos eram estranhos. Os vocábulos eram ficción, versión, argumento, técnica narrativa, novela etc. Era-lhes difícil relacionar esses termos com os outros que haviam estudado em Português.

Nesta semana, estudando os tempos do pretérito, buscando, no apagar das luzes, uma definição para o pretérito pluscuamperfecto, encontrei em um site a seguinte definição:

El pretérito pluscuamperfecto de indicativo se utiliza en español para expresar la anterioridad de una acción pasada respecto a otra también pasada. Es decir: es el pasado del pasado. (disponível em https://espanol.lingolia.com/es/gramatica/tiempos/preterito-pluscuamperfecto)

Transcrevi a explicação, omitindo a expressão “en español”. E fiquei me perguntando de quem é a culpa pelo pouco aprendizado dos alunos com relação aos conteúdos ministrados em sala de aula e em qualquer disciplina. Será dos professores, que não estamos lendo, estudando, nos preparando o suficiente para as aulas? Será dos alunos, os quais não estão nem aí para o que tentamos ensinar-lhes ou pela sua pouca inteligência? Será dos pais, que não estão preparando seus filhos para encarar com seriedade o mundo, a partir do universo sala de aula? Ou será da falta de peia, como adoram dizer alguns, criticando a juventude hodierna?

Observo dia a dia a prática dos meus colegas em nosso local de trabalho. Vejo sua faina diária com o intuito de buscar a melhor forma de trabalhar cada conteúdo. Como são belos, em suas magistrais posturas. Cortando papel, preparando slides, ouvindo músicas, montando jogos, selecionando conteúdos… Estão, pois, devidamente absolvidos.

Se cada pessoa tem seu momento, ou o seu tempo, para aprender algo. Se cada aluno tem uma capacidade diferenciada de assimilar conteúdos diversos. Se cada criança possui uma predisposição para determinada área de conhecimento. Então todos têm o mesmo nível de inteligência, portanto todos estão aptos a aprenderem, em seu tempo, Português, Matemática, História… Também não podemos dizer que não estão nem aqui para os ensinamentos, pois sabemos que muitos se esforçam ano após ano, às vezes exaustivamente, mas no conjunto os ensinamentos não ficam. Estão, portanto, redimidos.

Os pais, por menos preparados que sejam, estão sempre preocupados com o futuro dos filhos, salvo raras exceções. Sabem que o melhor está na escola, no aprendizado de conteúdos que os levarão a uma universidade ou a um curso técnico que lhes possibilitará um emprego no futuro. Assim, estão isentos da culpa.

É sabido que à época da palmatória ou da vara no lombo foi um dos períodos negros da educação e que essa prática afugentava os alunos, sobremaneira da Escola Pública, onde essa prática era constante. O Educador Hippolyte Denizard Rivail, na frança oitocentista, alertava que educar é antes de tudo um ato de amor. Pregava Alan Kardec (pseudônimo de Rivail na codificação do Espiritismo) que o principal elo entre o educando, o educador e o aprendizado é a empatia, é o tratamento amigável. Pregava ainda que qualquer um que não tivesse esses atributos não poderia ser educador. Desse modo, a vara e a palmatória estão fora do processo.

Mas quem ou o que é o culpado do entrave no aprendizado dos alunos? Simples o sistema vigente. Cheguei a essa conclusão a partir da reflexão feita nos ocorridos registrados aqui, nos três primeiros parágrafo. Os conhecimentos, que deveriam estar interligados, estão todos soltos, como se Português, História, Matemática e Literatura, por exemplo, fossem conhecimentos estranhos entre si. Mas o que me surpreende é quando se trata de ensino de línguas. Não existe adjetivo em Língua Portuguesa, Língua Espanhola, Língua Alemã ou mesmo Língua Chinesa. Adjetivos existem em todos os idiomas, assim como os tempos do pretérito e a Teoria Literária. Não nos esqueçamos que aprendemos, compreendemos a linguística através do francês Saussure e do russo Mikhail Bakhtin. Mas, infelizmente, os alunos não sabem disso. O sistema, não só educacional, mas histórico-socio-político-educacional, já que todas as nossas ações são políticas, históricas, sociais e visam a Educação, busca em grande azáfama destruir o elo que une as pessoas. Para a elite, que manipula e dita nosso dia-a-dia, quanto mais separar melhor. Assim a ideia do coletivo vai mais uma vez para o espaço. A desagregação é generalizada. Não somos mais um povo, somos católicos, mulçumanos, judeus, evangélicos, brasileiros, venezuelanos, petistas, nazistas. Nada temos em comum. É preciso que cada um ocupe seu espaço e tome o do outro, que cada um diga que é o melhor, que mande no outro, uma vez que não podemos trabalhar juntos. Assim a nossa Democracia nunca se consolidará. E no meio desses fogos cruzados, dessas ordens cuspidas, está o jovem, devorado e devorador, destruído e destruidor, perdido e perdedor.

Como bem disse Caetano, precisaremos de mais zil anos, para juntar os pedaços do uno que fomos, porque enquanto os homens exercerem dessa forma seus podres poderes, morrer e matar de fome, de raiva e de sede serão sempre gestos naturais.





domingo, 9 de julho de 2023

DO QUE VALE REALMENTE A PENA


Por Alves Andrade


O psiquiatra Antônio Mourão Cavalcante afirmou, certa vez, que não podemos combater o uso de drogas falando em drogas. Segundo ele, era como se estivéssemos fazendo uma apologia ao erro e, ao mesmo tempo, incitando sua prática. Logo, a forma mais eficaz, de acordo com Mourão, de se combater o uso de drogas é falar em vida. Abordar as diversas possibilidades de se viver e ser feliz. Por muito tempo, fiquei reflexivo a esse respeito para finalmente concordar com o professor e psiquiatra, que faleceu em 2022. 

A Rede Globo, odiada e amada por muitos e poucos, dependendo do contexto no qual se insere, por muito tempo combateu a discriminação racial falando dela. Expondo-a em novelas, mini séries, programas jornalísticos etc. Até que que percebeu o erro. Assim, resolveu não mais abordar o preconceito racial em suas telenovelas. Apenas pôs atores negros e brancos lado a lado. As personagens, nesse novo contexto, não pertencem a raças, apenas vivem, amam, se digladiam, vencem e perdem. Ou seja, não existe aí a abordagem do preconceito racial. Quem está acompanhando as novelas Amor Perfeito e Terra e Paixão sabe do que estou falando. O mesmo acontece com as questões LGBT. Era a esse comportamento que Antônio Mourão queria se reportar. Bingo, a Emissora dos Marinhos marcou ponto no combate a qualquer tipo de discriminação.

Entretanto, a grande imprensa e mídias nacionais claudicam quando  insistem em trazer a tona o nome de um defunto. Me explico. Quem é o Sr. Jair Bolsonaro? Um nada, que surgiu do nada, embalado por uma onda nazifascista, que enganou um monte de besta e atraiu para seu seio um dos segmentos pseudocristãos mais desprezíveis, o neo pentecostalismo. Hoje, esse idiota nem existe mais. Não é presidente (aliás nunca foi), nem elegível é mais. Portanto, assim como as drogas, os preconceitos, devemos combater esse imbecil, simplesmente falando daquilo que vale a pena. Falemos pois de uma boa música, ouçamo-la e a cantemos; peguemos uma boa obra literária, um Machado, um Stephen King, um H. G. Wells e leiamo-la; bebamos um bom vinho; falemos do amor de Cristo e de sua luta pelos menos favorecidos. Assim esse indivíduo que desgovernou o Brasil durante quatro anos para para o lugar de que nunca deveria ter saído, ostracismo.

NA ESCURIDÃO MISERÁVEL

FERNANDO SABINO  “Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me observava, enquanto punha o m...