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terça-feira, 17 de junho de 2008

DIÁLOGO DA VIDA INTEIRA

DIÁLOGO DA VIDA INTEIRA

A existência inteira é um diálogo,
Nesse, entre pares, por demais franco!
Um jovem animado a discutir
Com um velho já de cabelo branco.

O jovem, elétrico, agita os braços,
Assim, não pára um minuto sentado.
O velho, a cismar, com um sorriso brando,
Fita o chão, antes, por ele riscado.

O jovem, rebelde, é uma fogueira,
De chama, sensação e atitude.
O ancião, observando, logo pensa:
“Assim já fui na minha juventude”

O jovem diz, entre riso nervoso:
─ Para mim, tudo tem que ser agora!
O velho ouve para depois falar:
─ O abraço o beijo, tudo tem sua hora.

Para o jovem, o gozo dessa vida
Precisa rápido se realizar.
O ancião, fitando a teia do tempo,
Diz: ─ Até isso, filho, pode esperar.

─ Por que tu és tão tranqüilo, sereno,
Se daqui a pouco tempo irás morrer,
Se em terra não te resta muito tempo?
Por que logo não te pões a correr?

Sorrindo, insoberbo, diz-lhe o velho:
─ Eu sou, ó criança, a eternidade.
Em breve deixarás então de ser jovem,
E, quiçá, chegues à minha idade.

­─ Se isso acontecer, continua o velho,
Transformar-te-á em sabedoria,
Aquilo que te atormenta agora
Será paz, não será mais correria.

─ O fogo que te queima as entranhas
E te leva a delírios passageiros,
Em breve, se transpuseres esse estágio,
Será água, terra e ar alvissareiros.

─ Tua paciência para te realizares –
Diz nosso jovem – deixa-me nervoso,
Preciso do fogo alimentador,
Sussurros, beijos abraço ardoroso.

─ Pensas que também não me aprazem?
– Indagou o homem sem idade –
Em minhas veias corre muita energia,
Pronta para enfim ser realidade.

─ É que sou como um arqueiro experiente,
Que espera o tempo certo para atirar,
Minha seta vai direto ao alvo,
Nunca atiro sem antes muito mirar.

─ És, jovem, como os arqueiros insanos,
Tens em mãos o melhor arco do mundo,
Mas, não tendo paciência nem tino,
Torna o projétil mero vagabundo.

─ Sou a águia do tempo, meu jovem,
Vôo alto, para o ser admirar,
Habito a amplidão do ego humano,
Também sou puma pronto para amar.

─ És angustiado como as galinhas,
Freneticamente ciscando o chão,
Esporeando pra tudo quanto é lado,
Gozo verdadeiro não encontras não.

─ Sou o aqui e o agora, ó moribundo,
Não sei o que será no amanhã!
És carne fraca já quase sem vida,
Ser fora do tempo, fruta temporã.

─ Sou água de março, tempo fértil,
Auspicioso, irrigando o sertão.
És outono, penúria, és o fim,
Folha podre decaída no chão.

─ Te enganas, minha pobre criatura,
Sou Gabriel, anjo da anunciação,
Em mim reside toda sabedoria
Sei, do mundo, a chave da criação.

Os dois, cansados dessa brigaria,
Abraçam-se, e para casa se vão,
Porque a casa deles dois é a mesma,
É um prédio chamado coração

Amor é o nome do sábio, paciente,
quieto e tranqüilo ancião.
O outro, que atiça os sentimentos,
Atende por este nome: Paixão.
(professor Alves, 05/08)

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