Dia desses escrevi sobre o ciúme, que me assolou na adolescência, e prometi falar sobre o primeiro amor. Promessas são dívidas, e aí vai como se deu minha primeira história.
Ela chegava em minha casa sempre pela noitinha. Tinha atividades na escola e só podia chegar por aí. Era linda! Assim dizia minha infantil criatura de apenas dez anos de idade. E foi aí que me apaixonei. Ela tinha quatorze anos e fumava. Era época em que o o hábito de fumar era “glamour”. Atrizes e atores nas novelas ostentavam grandes piteiras e baforavam pelas milhares de telas Brasil a fora. Era apenas mais um motivo para admirar a minha deusa e seu sorriso que me deixava sempre feliz.
Chegou ao bairro por volta de 1973. A família vinda de Monsenhor Tabosa se instalara a um quarteirão onde morávamos. Para nós era novidade, pois havia poucas casas por perto. Havia um monte de gente nessa casa, marido, mulher, filhas (umas quatro), filhos (uns três). Mas eu só vira a ela, Rosália. Enquanto os trabalhadores do caminhão desbastavam os móveis, depois de quase duas horas de atoleiro no areal, ela apareceu. Sorriso franco, mascando um chiclete eterno, cujo cheiro me habituei a sentir misturado ao do cigarro.
Era feliz, eu, até aquele dia negro, ruim, lúgubre em que a vi beijando outro garoto, da mesma idade dela. Foi quando percebi a tal fraternidade. Mas não sem antes subir num pé de árvore e ficar triste, com vontade de virar éter, abandonar o frasco físico e me mandar céu a fora. Não fiz nada compreendi e continuei a amá-la. Já um amor meio frouxo, esgaçado pelo vexame...
Quando me formei em 1994, ela já não estava entre nós. Fora vítima, aos trinta e quatro anos, do seu amigo inseparável, o cigarro. Na formatura não compareci, pois havia decidido muito antes que ela seria minha madrinha de formatura. Mesmo casada, eu sempre soube onde ela estava. Um de seus irmão é meu amigo até hoje, os demais não sei do paradeiro. Quanto à formatura, só dias depois, ao pé do reitor recebi o canudo tão almejado, cujo maior responsável foi ela.
(Professor Alves)
(Professor Alves)