“A
vida não tá fácil pra ninguém!” Denuncia a postagem-meme nas redes sociais, em
que, além da legenda, aparecem supostamente as imagens de Ronaldo (Fenômeno),
Romário e Ronaldinho Gaúcho, no interior de um ônibus. Meme à parte, o negócio
tá sério. Ou como diria Galvão, “tá fea a coisa”. Além do governo alardear
liseira nos cofres da previdência, se preparando pra dar uma facada no bolso e
na vida do pobre trabalhador, a reforma trabalhista vem com gosto de gás tirar
o trabalho de quem já não trabalha, há muito. E sonhava pelo menos conseguir
um.
Falando
de funcionalismo público, inimigo número um de todos os governos, estamos
ferrados. Sem aumento salarial, sem sequer reposição da inflação, a galera tá
tentando se virar, alguns literalmente. É o caso de uma amiga a qual confessou
que, para pagar as contas no final do mês, de vez em quando está fazendo bico
na profissão mais antiga do mundo. Outro colega, disse que, quando chega em
casa cedo da noite, no começo do mês, arma um fogozinho na frente da casa, põe
uma carninha no espeto e vende para os passantes. Às vezes, disse ele, não tem
dinheiro para comprar carne, então os gatos da redondeza estão sumindo. Coitado
do gato. E o povo vai se virando. Na hora do descanso, as colegas funcionárias
públicas não descansam. Fazem sanduíche natural pra vender pros colegas,
docinhos, brigadeiros, revista da Avon etc. tudo para completar as contas do
final do mês. Os colegas pegam o carro e vruuumm, saem de UBER ou 99 pop.
Mas
o jeito mais estranho de ganhar a vida não é nenhum desses. Confessou-me um
recente amigo, cabo Edmundo (realmente não tá fácil nem pro Animal). Contou-me
o mesmo que num dia de profunda angústia, vendo as contas do final do mês sem
paradeiro e vendo que já não dava para sortear uma e deixar as outras para o
outro período, saiu de casa para pensar em algo. Na descida do viaduto, parou
para ver se tinha passagem, quando alguém, um apressadinho, bateu-lhe na
traseira do carro. Viu que o rapaz estava um pouco nervoso, olhou e não viu
nada de mais, seu carro não tinha sido avariado. Foi então que uma luz se
acendeu no final do túnel de sua mente, recheada de contas pra pagar. Explicou
então para o rapaz que seu carro era novo e que qualquer arranhão o
entristecia. O rapaz então lhe perguntou quanto seria para reparar o dano que
supostamente teria causado... A conta de luz estava paga!
O
cabo contou-me isso sem rir, não era de sua índole extorquir dinheiro de
ninguém. Mas não era bonito, não era sequer mulher, não sabia vender Avon, era
amante de animais principalmente de gato, nem tinha coragem de dirigir à noite,
nesta cidade tão insegura, até mesmo para um policial. Essa foi a maneira que
encontrou para minimizar as contas do fim do mês, descer o viaduto, esperar a
leve pancada atrás (sem trocadilhos) e receber cem, duzentos e até quinhentos,
dependendo da condição financeira do abalroador.
Eu
também estou procurando meu estranho meio de me virar (metaforicamente
falando). Além de ter aprendido apenas a dar aulas, ou vendê-las muito baratas,
não sei fazer mais nada, pelo menos que dê para ganhar algum extra.
(Alves Andrade, refletindo sobre o
futuro das contas)