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domingo, 11 de setembro de 2011

INIMIGOS INSEPARÁVEIS



          Chamavam-se Reinaldo e Juazeiro. Não, não formavam uma dupla sertaneja, bem sertaneja. Eram inimigos. Não se podiam ver. Eram intrigados de sangue a fôlego, como diria minha mãe se os conhecesse. Ninguém que tivesse o bom senso chamá-los-ia para a mesma mesa. Distantes, não se olhavam; próximos, impossível. Apesar de trabalharem no mesmo quarteirão. Quando e como surgiu aquela aversão, ninguém o sabia. Talvez a profissão explicasse. Ambos eram vendedores de autopeças, digo, empresários nesse ramo.
         A primeira vez que tomei conhecimento da existência deles foi quando precisei “fazer” o motor do meu Voyage, que havia "batido" depois que esqueci de por água no radiador. Quando cheguei à loja do Reinaldo, alguém pilheriando perguntou se eu já tinha ido no Juazeiro. Não entendi de pronto, mas depois das rizadas, compreendi que se tratava de uma rixa pessoal. Com efeito, no próximo conserto que precisei fazer, fui comprar as peças no Juazeiro. E ri quando alguém me fez aquela pergunta, pelo verso. Juazeiro, assim como Reinaldo, deitou um olhar de desprezo ao infeliz que havia testado sua ira para com o rival.
        Com o tempo, passei a apreciar aquela contenda. Se falavam de Reinaldo ao Juazeiro este escarrava e se dirigia ao banheiro, e vice-versa. Se alguém dizia que a filha de Juazeiro ia casar-se, Reinaldo ria e dizia, coitado do pobre genro e saía cantarolando uma bossa baixinho. Se alguém, de propósito, dissesse a Juazeiro que tal peça no Reinaldo estava mais em conta, este jogava o dinheiro do cliente aos seus pés e não lhe vendia mais a peça nem Cristo descendo à terra. Entretanto as duas casas estavam sempre cheias de clientes, digo, abarrotadas. E em ambas  o assunto era sempre o mesmo: a ira, o ódio, a contenda envolvendo aqueles dois.
        Certa vez, em um feriado prolongado, deixei a cidade, como sempre o faço nesses casos, e me dirigi a Majorlândia. Uma simpática praia que dista cento e cinquenta quilômetros de Fortaleza. Lá a presença de fortalezenses, fora do período de carnaval, praticamente não existe. E alguém encontrar ali moradores do seu bairro é mais difícil ainda. A maioria dos frequentantes são do vale do Jaguaribe ou do estado vizinho, Rio Grande do Norte. Já devidamente hospedado, resolvi almoçar em uma barraca, cujos preços expostos eram convidativos. Sentei-me à mesa com minha esposa e meu filho e, antes de chamar o garçom, dei uma olhada em volta para fazer o reconhecimento da área. De repente, tomei um susto. O que vi não está escrito em nenhuns anais aerolandense, ou seja, do bairro Aerolândia. Reinaldo e Juazeiro, sentados à mesma mesa, diante de dois copos de uísque caro e de uma bandeja contendo enormes lagostas, davam risadas de alguma piada lembrada e batiam nas costas um do outro. Ao lado de cada um deles duas senhoras, provavelmente esposas conversavam como grandes amigas, enquanto dois pequerruchos, de seis ou sete anos, jogavam trunfo ao lado. Puxei o boné para os olhos e pus os óculos escuros para melhor observara a cena sem ser reconhecido. Realmente eram amicíssimos os dois inimigos. Quando o garçom se aproximou, perguntei-lhe discretamente sobre eles, e o garçom me garantiu que sempre frequentaram aquele estabelecimento. E mais, que eram irmãos gêmeos, bivitelinos, mas gêmeos.
         Só aí é que percebi a semelhança!  
                  (Professor Alves)

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