O Brasil é um
país moldado, preparado, destinado à corrupção. Infelizmente esse é o diagnóstico a que chego depois de ter
assistido à vitória do Brasil sobre a Croácia, neste 12 de junho de 2014. Estou
deveras desapontado, e peço desculpa a qualquer um que venha ler essa crônica,
ou que pergunte minha opinião a respeito
da estreia do Brasil.
Digo isso
porque, logo após a partida, me dirigi à casa de amigos e lá encontrei todos felizes soprando
apitos, balançando bandeiras, numa
alegria que contrastava em muito com a minha frustração, meu humílimo
desolamento , minha insaciável necessidade
de cidadania. É, eu sofro deste mal!
Pois bem. Lá chegando fui abordado por um amigo dos meus ex-amigos que,
me abraçando, ao me ver com minha surrada camisa da seleção, herança ainda de
82, quando a única seleção que deveria ter ganho o mundial não o fez, me
perguntou sobre a minha felicidade quanto à maiúscula vitória do Brasil sobre a
Croácia. Eu então pedi desculpas e mostrei meu descontentamento sobre o
resultado. Disse-lhes que entendia que esse era o grande momento da redenção
nacional. Esse seria o verdadeiro grito do Ipiranga, digo, do Itaquerão, a
verdadeira independência. Seria esse o
momento em que Fred diria ao juiz “Professor”, sim porque aqui só quem
não é tratado por professor é quem realmente merece, “não foi pênalti, eu, sem
querer, me joguei...”. Tudo bem que o jogador seja analfabeto e nunca tenha
estudado nada sobre ética! Mas, e a torcida? Esta poderia ter entoado o brado
retumbante de que não havia sido Pênalti. Mas como o juiz já estava com o pagamento
na sua conta bancária – só agora entendo a afirmação do Sr. José Maria Marin, presidente
da CBF, de que ‘só um milagre tiraria essa copa do Brasil’ – essa torcida poderia ter pedido ao Neymar para
que esse mandasse a bola na arquibancada, imaginem quanto seria maravilhoso,
jogadores de seleção, exemplo de consumo neste país, sendo exemplo de
comportamento e ética!!
Imaginem o
Brasil ser redimido e só assim ficar independente! Duvido que houvesse
protestos nos jogos seguintes, duvido que black-blocs tivessem a quem cooptar,
duvido que não houvesse um brasileiro que não torcesse pela seleção. Mas não!
Continuamos com nossa vocação para a corrupção. Vamos sorrir, gritar, comemorar
nossa seleção que, para ganhar da incipiente Croácia, teve que contar com a
luxuosa colaboração do árbitro, que há quatro anos deixou de marcar um pênalti
a nosso favor e contra a Holanda (dívida?).
Fico às vezes pensando, e aqui queria pedir desculpas
profundas a todos que agem com retidão, que eu é que sou o corrupto por querer
que o Brasil vença a copa em seu território de forma honesta, por querer
corromper as pessoas para que deixem de ser espertas e tomem fila ao invés de espertamente
furá-la, por querer que a honestidade se superponha ao jeitinho brasileiro e
que o caráter seja mais valioso que o cretinismo. Queria honestamente sorrir
com a desonestidade dos nossos comentaristas, que tentam justificar os erros de
arbitragem, mesmo quando fica claro que não houve erro, mas mal intenção.
Mas quero me
solidarizar com Valter Casa Grande Jr., quando este indagado pelo corrupto
maior do esporte brasileiro, Galvão Bueno, se nunca havia simulado um pênalti
daquela maneira, ele disse firmemente que não. O locutor mor da Globo, fez uma
cara de desdém, como a dizer “otário”!
(Francisco
Alves, junho de 2014)