Desde a
infância, uma história me chama a atenção pela distopia, pelo alerta que representa para a humanidade. Trata-se de O Planeta
dos Macacos, livro de Pierre Boulle, transportado para o cinema e televisão do
mundo todo. Nessa história, que todos conhecem, por isso não vou contá-la aqui, um astronauta acaba entre os macacos de um planeta dominado por raças simianas.
Ao final, o leitor ou aqueles que assistiram aos filmes ou às séries
compreenderão que na verdade trata-se do planeta terra, dominado pelos macacos.
O que me fez
lembrar agora dessa história foi uma cena no mínimo curiosa. Foi o seguinte.
Por volta das seis da noite de segunda-feira, quando me dirigia ao trabalho,
parando em um semáforo amarelo, chamou-me a atenção um cachorro (sempre fiz a
distinção entre cão e cachorro. Cães são aqueles animais mimados que vivem fazendo
estripulias no facebook. Cachorro são aqueles desamparados, que vivem na rua).
Pois bem, o cachorro estava parado na faixa de pedestres, com a finalidade de cruzar
a Avenida Paulino Rocha, aguardando o sinal ficar verde para ele. Antes, porém,
pude observar que alguns humanos se arriscavam, tentando passar fora da faixa e
com o sinal ainda vermelho. O cão, entretanto, impávido, esperava sua vez. Quando
o sinal ficou verde, o mesmo pisou a faixa de pedestres e se dirigiu ao outro
lado da avenida, tendo ainda que transpor o canteiro, certo de que estava com
sua vida fora de risco.
Mas isso ainda
não é o curioso da cena, pois o fato de cachorros agirem assim não é inédito, á ninguém, tampouco para
mim. Há alguns anos, no dia 24 de dezembro, por volta das nove da noite,
voltando da casa da sogra, onde fui buscá-la para passar o natal conosco,
presenciei uma fila formada por aproximadamente dez cachorros aguardando, na
faixa de pedestres, para atravessar a avenida Luciano Carneiro, no cruzamento
com a Borges de Melo. Os animais não só o fizeram com o sinal verde, como
aguardaram da mesma forma para cruzarem à referida Borges de melo, sem pressa,
sem queixumes, apenas esperaram sua vez de agir. Iam, possivelmente, atrás do
seus restos de um peru de Natal.
Voltemos, pois,
à cena inicial. O curioso do ocorrido é que quando o cachorrinho, cruzando à
Avenida Paulino Rocha, já deixava o canteiro, veio um motoqueiro, que avançou o
sinal, e quase o atropelou. O acidente
só não aconteceu, porque o animal inteligentemente, conhecendo a burrice
humana, já previa o que poderia acontecer e se safou. Deu uma olhada no homem
que quase se tornara seu algoz e rosnou para o mesmo. Mas não foi um rosnado em
forma de palavrão, foi muito mais um rosnadinho de desdém e de perdão.
Depois dessa
cena, lembrei-me da História de O Planeta dos Macacos e me pus a refletir sobre
o que acontecerá com a humanidade se continuar tão desumana e inconsequente.
(Francisco
Alves de Andrade, janeiro de 2017)