Essa semana que
passou foi mais uma de grande comoção, como sempre ocorre quando há um crime de
latrocínio, principalmente quando familiares da vítima são pessoas esclarecidas,
que tocam o trombone nas redes sociais, exigindo atitude por parte da polícia. Para
aumentar a comoção desta semana, na quinta feira (13/08/20), uma professora de
trinta e cinco anos foi vítima de atropelamento fatal, numa dessas tragédias em
que só podemos pedir a Deus consolo para os familiares e amigos, os quais pelas
postagens nas redes sociais não eram poucos. Infelizmente, fatos como esses só não
ocorrem nas calendas gregas. Mesmo assim, creio que deve e podem ser evitados.
Mas quero
abordar, neste texto, o 11º (décimo primeiro) assassinato de motorista de
aplicativo, ocorrido nessa semana. Foram onze homicídios covardemente
cometidos, somente neste ano (e que ano!🙏). Desde a segunda feira
(10), que o chofer estava desaparecido. No dia seguinte, a ocorrência já era
destaque nos jornais televisivos. Na quarta-feira, infelizmente seu corpo foi
encontrado. Na sexta (14), a polícia apresentou o grupo composto por cinco
indivíduos, e ainda havia um desaparecido, capturado em seguida. Você imagina
então o tamanho da tragédia: seis indivíduos formam uma quadrilha para assaltar
um motorista de aplicativo; o resultado da empresa é um carro desmanchado, cujas
peças vão parar na avenida José Bastos, que todo mundo sabe onde fica,
inclusive a boa e velha polícia; a venda de um som, talvez o celular da vítima
também seja negociado; o resultado desta ação foram alguns reais, os quais não
resolverão a vida de ninguém. É mister lembrar que entre os presos havia o
comprador do som do carro do rapaz, não quero saber quem é, mas deve ser um receptor
contumaz de utensílios roubados neste tipo de ação.
Estava eu pensando
em toda essa desgraça que acontece sempre em nossa iluminada cidade, pensando
no sofrimento da família, na tristeza dos amigos e na comoção das pessoas nas
redes sociais, que lamentavam mais esse acontecido, quando me chega um amigo e
diz que, precisando de uma porta para seu Ônix, foi a uma autorizada e se
assustou com o preço: 1.200 reais na promoção. Em seguida, abrindo um largo
sorriso, disse que comprara uma novinha por 495 reais. “Uma pechincha!” Adivinha
onde ele comprou? Exatamente, na avenida José Bastos, numa revenda de “sucata”.
Tomara que não ocorra, mas fiquei pensando que ele poderá em breve ser também
assaltado e seu carro levado para aquela avenida, ou outro endereço qualquer,
onde haja peças e acessórios bem baratinhos. Não estou dizendo que todos os
acessórios e/ou peças vendidas ali são de procedências duvidosas. Mas parece-me
que um bom número sim.
Onde quero chegar?
Calma, já cheguei: Até quando, nós vamos querer levar vantagem em tudo, querer comprar objetos com preços muito
abaixo do mercado, mesmo sabendo que aquele objeto (celular, aparelho de som
para carro, porta de automóveis) pode ser fruto de roubo, e que, nessa ação
criminosa, pode ter havido uma vítima fatal?
Então é melhor
pararmos de nos lamentar, de ficar comovidos quando um fato triste, tal qual o
ocorrido com o motorista de aplicativo, aparecer nos noticiários e nas redes
sociais. É preciso, pois, colocarmos a mão na consciência e sabermos que
enquanto mantivermos o mau hábito de comprar coisas sem uma honesta procedência,
estaremos alimentando as ações criminosas em nossa e em outras cidades.
(Alves Andrade,
agosto de 2020)