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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

TRÊS GERAÇÕES E UM SÓ DESTINO

        Três gerações trabalham nas obras do estádio Castelão, emFortaleza.” Esse é o título de uma matéria veiculada pelo programa Globo Esporte, da rede Globo.
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       Em 1971, na construção do Estádio Castelão, Juraci Damasceno e seu pai (provavelmente morto) trabalharam de pedreiro. Hoje, quarenta anos depois, na reconstrução do mesmo estádio, ele, Juraci, e sua filha, Francisca Falcão Damasceno, trabalham na mesma profissão. Apesar de ela ter nome de Juíza, desembargadora, médica, não o é. É pedreira, como seu avô e seu pai, trabalhando de sol a sol, alimentando-se mal e não tendo condições de dar uma educação digna ao filho ou a filha, pois só assim o círculo se quebraria.
         Não interessa o tom de glamour que a Globo tenha dado ao caso. Trata-se apenas de mais uma história de perpetuação da miséria humana. Como acontece no romance A Bagaceira, em que Soledade perpetua a miséria da família de retirantes iniciada gerações antes. Por sua vez Lúcio, filho do antigo dono da fazenda, é agora o senhor dela. Com Francisca Falcão Damasceno ocorre o mesmo. É preciso que o espelho se quebre, que a linha cíclica que une três gerações, ou muitas outras, se desfaça. Que alguém dessa pobre família tenha acesso aos estudos de fato, para, ao invés de no futuro continuarem se orgulhando de serem pedreiros e trabalharem numa grande obra, se orgulhem de ser engenheiros, médicos, advogados, cientistas.
         Tenho batido nessa tecla com meus alunos tantas vezes, que às vezes acho que eles me odeiam ou no mínimo me acham chato. Quando trabalhava na escola particular, tive como aluna uma das filhas do então governador. Ela estudava numa “classe especial”, com mais uns trinta e nove alunos e alunas. Mas ela não estava lá por ser filha do governador. Estava lá porque tinha competência. Nessa sala só havia alunos com média acima de 9,3. E ela estava lá para perpetuar sua família no topo da pirâmide social. Fico imaginando onde estudou Francisca Falcão, que apesar do sobrenome não teve chance de voar alto. Possivelmente numa escola pública em que os professores, como eu, fazem greve anos sim ano não, para tentar forçar ao governo um reajuste salarial miserável. Imagino-a sem livros, sem tablet, sem bola de cristal (para fazer alusão aos alunos do Christus que já veem as questões de forma antecipada). Vejo-a ainda sem lazer, sem conforto, tendo que acompanhar o pai desde os quatorze anos, virando massa, empurrando carrinho, para só mais tarde aprender a assentar o tijolo, jogar o chapisco, rebocar a parede.
http://imgsapp.esportes.opovo.com.br/app/noticia

         Não vejo como aviltante nenhuma profissão. Meu pai foi pedreiro e meus irmão lhe seguiram o caminho. Eu quebrei o espelho e criei um novo rumo. O que vejo como aviltante é o fato de as pessoas se dobrarem a esse maldito determinismo. Não criarem a consciência de que, apesar das escolas, dos governos, dos políticos e da rede Globo, elas podem fazer sua própria história para reconstruir o caminho das gerações vindouras, e que só a Educação será sua arma para tal fuga.
Que me desculpem o mal tom!  
(Professor Alves)