Trata-se de textos escritos a partir de experiências com pessoas, jovens e/ou adultas, para levar à reflexão sobre alguns aspectos da vida, como política, literatura, História, Felicidade. DEIXE UM COMENTÁRIO
sexta-feira, 4 de julho de 2014
terça-feira, 17 de junho de 2014
ESCRITO PELAS ESTRELAS
Não existem estranhos.
O que há são amigos
que ainda não nos foram
apresentados.
(Charlie Chaplin)
Velha História,
de Mário Quintana, o eterno poeta de alegrete, nos conta a provável história
entre um homem sério, que se vestia de negro e tinha um ar preocupado, e um
peixinho pequenino, de escamas azuladas e grande ar de inocência. O que torna verossimilhante
essa fantástica fábula são os mesmos fatores que tornaram possíveis duas outras
histórias extraordinárias que narro a
seguir.
A primeira vem de um romance de ficção e se reporta
à amizade entre dois adolescentes com câncer em estado terminal. O que torna inverossímil
e ao mesmo termo provável esse interminável laço é a distância que os envolve
numa aura de poesia em busca de suas últimas realizações. Enquanto pessoas
saudáveis estão nesse momento em busca da morte pelo desencanto extraqualquer
coisa, eles buscaram, não solução para seus males, irreversíveis, mas força
para viverem os últimos instantes. É, amparados um no outros, que veem suas
vidas se prolongarem por tempo indeterminado, até que, por fim, a morte os une definitivamente.
A outra é um fato
real, mas que se fosse ficção, também não causaria estranhamento. É a história
de um americano e um motoboy brasileiro, unidos por uma paixão chamada futebol.
Que magia tem esse esporte de atender aos apelos das estrelas e então se
realizar para que destinos possam se encontrar! Como diria Caetano, “é incrível
a força que as coisas parecem ter, quando precisam acontecer”. Eu não vi e não
ouvi a história por completo, mas acho que basta a ideia do aluguel de um lugar
para ficar numa comunidade humilde como Itaquera, próximo ao local de abertura
da copa, a vontade de passear, conhecer outro modus vivendi, o encontro quase
fortuito com o motoboy, o sorriso, a aproximação magnética, como dois ímãs que
se atraem pelos opostos. Imagino em outra vida, os dois destinos separados
abruptamente. Amigos, cônjuges, pai e filho? Não importa. Lá na pátria maior,
os dois se buscando. E aqui os dois se reencontrando. Parece que o americano
quis ficar na humilde moradia do novo amigo, que surpreso recebeu das mãos
daquele o ingresso tão sonhado para assistir à estreia do evento maior do
futebol. Não por pagamento, mas por coroamento do contrato feito na outra
pátria, a maior.
É o mesmo sentimento que tornou possível a amizade
entre o peixinho e o homem, entre a jovem e o jovem do romance de John Green, que
uniu brasileiro e americano. É o mesmo sentimento que torna possível o que não
tem explicação. Isso se chama AMOR. Esse sentimento maior, que a todo instante
é confundido com outros menores. É o AMOR imensurável, divino, sublime, coordenado
do alto pelas estrelas pela diafaneidade do invisível que envia à terra, a todo
instante, a energia de que precisa a humanidade para sua evolução.
(Francisco Alves, junho de 2014)
segunda-feira, 16 de junho de 2014
OUTRA NEGA FULÔ
O sinhô foi
açoitar
A outra nega
Fulô
– ou será
que era a mesma?
A nega tirou
a saia,
A blusa e se
pelou ,
O sinhô
ficou tarado,
Largou o
relho e se engraçou.
A nega em
vez de deitar
Pegou um pau
e sampou
Nas guampas
do sinhô.
– Essa nega
Fulô!
Esta nossa
Fulô!,
Dizia
intimamente satisfeito
O velho pai
João
Para escândalo
do bom Jorge de Lima,
Seminegro e
cristão.
E a mãe
preta chegou bem cretina
Fingindo uma
dor no coração.
– Fulô!
Fulô! Fulô!
A sinhá
burra e besta perguntou
Onde é que
tava o sinhô
Que o diabo lhe
mandou.
– Ah, foi
você que matou!
– É sim, fui
eu que matou –
Disse bem
longe a nega Fulô
Pro seu
nego, que levou
Ela pro
mato, e com ele
Aí sim ela
deitou.
Essa nega
Fulô!
Esta nossa
Fulô!
(Oliveira Siveira)
sexta-feira, 13 de junho de 2014
BRASIL 3 X 0 CROÁCIA (QUE ME PERDOEM O MAU TOM)
O Brasil é um
país moldado, preparado, destinado à corrupção. Infelizmente esse é o diagnóstico a que chego depois de ter
assistido à vitória do Brasil sobre a Croácia, neste 12 de junho de 2014. Estou
deveras desapontado, e peço desculpa a qualquer um que venha ler essa crônica,
ou que pergunte minha opinião a respeito
da estreia do Brasil.
Digo isso
porque, logo após a partida, me dirigi à casa de amigos e lá encontrei todos felizes soprando
apitos, balançando bandeiras, numa
alegria que contrastava em muito com a minha frustração, meu humílimo
desolamento , minha insaciável necessidade
de cidadania. É, eu sofro deste mal!
Pois bem. Lá chegando fui abordado por um amigo dos meus ex-amigos que,
me abraçando, ao me ver com minha surrada camisa da seleção, herança ainda de
82, quando a única seleção que deveria ter ganho o mundial não o fez, me
perguntou sobre a minha felicidade quanto à maiúscula vitória do Brasil sobre a
Croácia. Eu então pedi desculpas e mostrei meu descontentamento sobre o
resultado. Disse-lhes que entendia que esse era o grande momento da redenção
nacional. Esse seria o verdadeiro grito do Ipiranga, digo, do Itaquerão, a
verdadeira independência. Seria esse o
momento em que Fred diria ao juiz “Professor”, sim porque aqui só quem
não é tratado por professor é quem realmente merece, “não foi pênalti, eu, sem
querer, me joguei...”. Tudo bem que o jogador seja analfabeto e nunca tenha
estudado nada sobre ética! Mas, e a torcida? Esta poderia ter entoado o brado
retumbante de que não havia sido Pênalti. Mas como o juiz já estava com o pagamento
na sua conta bancária – só agora entendo a afirmação do Sr. José Maria Marin, presidente
da CBF, de que ‘só um milagre tiraria essa copa do Brasil’ – essa torcida poderia ter pedido ao Neymar para
que esse mandasse a bola na arquibancada, imaginem quanto seria maravilhoso,
jogadores de seleção, exemplo de consumo neste país, sendo exemplo de
comportamento e ética!!
Imaginem o
Brasil ser redimido e só assim ficar independente! Duvido que houvesse
protestos nos jogos seguintes, duvido que black-blocs tivessem a quem cooptar,
duvido que não houvesse um brasileiro que não torcesse pela seleção. Mas não!
Continuamos com nossa vocação para a corrupção. Vamos sorrir, gritar, comemorar
nossa seleção que, para ganhar da incipiente Croácia, teve que contar com a
luxuosa colaboração do árbitro, que há quatro anos deixou de marcar um pênalti
a nosso favor e contra a Holanda (dívida?).
Fico às vezes pensando, e aqui queria pedir desculpas
profundas a todos que agem com retidão, que eu é que sou o corrupto por querer
que o Brasil vença a copa em seu território de forma honesta, por querer
corromper as pessoas para que deixem de ser espertas e tomem fila ao invés de espertamente
furá-la, por querer que a honestidade se superponha ao jeitinho brasileiro e
que o caráter seja mais valioso que o cretinismo. Queria honestamente sorrir
com a desonestidade dos nossos comentaristas, que tentam justificar os erros de
arbitragem, mesmo quando fica claro que não houve erro, mas mal intenção.
Mas quero me
solidarizar com Valter Casa Grande Jr., quando este indagado pelo corrupto
maior do esporte brasileiro, Galvão Bueno, se nunca havia simulado um pênalti
daquela maneira, ele disse firmemente que não. O locutor mor da Globo, fez uma
cara de desdém, como a dizer “otário”!
(Francisco
Alves, junho de 2014)
domingo, 25 de maio de 2014
TUDO VALE A PENA QUANDO A ALMA NÃO É PEQUENA
Quem são esses
senhores e essas senhoras que se arregimentam em verdadeiras legiões pelas
ruas, descendo de ônibus lotados, ou guiando seus automóveis, invadindo espaços
diversos, seja segunda ou seja domingo? São professores e professoras,
dedicados cidadãos e cidadãs, que abandonam suas famílias para a construção
daquilo que chamamos vulgarmente de saber.
Ó, como é
lindo vê-los entrando em salas de aula, riscando no quadro branco, outrora
negro, palavras de sabedoria, de conhecimento ou simplesmente aquilo que se
encontra nos currículos. Belos são seus lábios pronunciando verdadeiras
filosofias de vida, entre uma reprimenda ou apenas numa acolhida individual.
São pais e são mães que, colocando-se no lugar do outro, sabem, com doçura na
voz, conduzir destinos, sem muitas vezes conhecer a própria sina.
Ó, como é
maravilhosos ver esses senhores e essas senhoras felizes quando encontram “seus
filhos” encaminhados. Olham para os seus próprios rebentos e se sentem
radiantes quando veem que valeu a pena tê-los abandonado momentaneamente para a
construção do caminho daqueles que lhe foram confiados.
Mas não se
iludam, senhores e senhoras! Esses cidadãos e essas cidadãs, corajosos e
destemidos, não ficam tristes, infelizes, quando no final do mês veem seus
minguados salários. Eles e elas sabem que terão que apertar sempre mais e mais
o orçamento para poderem sorrir para seus alunos, para seus colegas e para si
mesmos. Longe de serem infelizes, esses Senhores e essas senhoras destemidos
são conscientes de sua missão, e é por isso que invadem também as ruas, as
praças nos fins de semanas sem descansarem. Estão sempre em busca de algo mais
que possa melhorar-lhe o ganho mensal, pois também precisam de ter motivos outros
para sorrir, porque sabem que “tudo vale a pena, quando a alma não é pequena”.
(Professor Alves,
maio de 2014)
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