Não existem estranhos.
O que há são amigos
que ainda não nos foram
apresentados.
(Charlie Chaplin)
Velha História,
de Mário Quintana, o eterno poeta de alegrete, nos conta a provável história
entre um homem sério, que se vestia de negro e tinha um ar preocupado, e um
peixinho pequenino, de escamas azuladas e grande ar de inocência. O que torna verossimilhante
essa fantástica fábula são os mesmos fatores que tornaram possíveis duas outras
histórias extraordinárias que narro a
seguir.
A primeira vem de um romance de ficção e se reporta
à amizade entre dois adolescentes com câncer em estado terminal. O que torna inverossímil
e ao mesmo termo provável esse interminável laço é a distância que os envolve
numa aura de poesia em busca de suas últimas realizações. Enquanto pessoas
saudáveis estão nesse momento em busca da morte pelo desencanto extraqualquer
coisa, eles buscaram, não solução para seus males, irreversíveis, mas força
para viverem os últimos instantes. É, amparados um no outros, que veem suas
vidas se prolongarem por tempo indeterminado, até que, por fim, a morte os une definitivamente.
A outra é um fato
real, mas que se fosse ficção, também não causaria estranhamento. É a história
de um americano e um motoboy brasileiro, unidos por uma paixão chamada futebol.
Que magia tem esse esporte de atender aos apelos das estrelas e então se
realizar para que destinos possam se encontrar! Como diria Caetano, “é incrível
a força que as coisas parecem ter, quando precisam acontecer”. Eu não vi e não
ouvi a história por completo, mas acho que basta a ideia do aluguel de um lugar
para ficar numa comunidade humilde como Itaquera, próximo ao local de abertura
da copa, a vontade de passear, conhecer outro modus vivendi, o encontro quase
fortuito com o motoboy, o sorriso, a aproximação magnética, como dois ímãs que
se atraem pelos opostos. Imagino em outra vida, os dois destinos separados
abruptamente. Amigos, cônjuges, pai e filho? Não importa. Lá na pátria maior,
os dois se buscando. E aqui os dois se reencontrando. Parece que o americano
quis ficar na humilde moradia do novo amigo, que surpreso recebeu das mãos
daquele o ingresso tão sonhado para assistir à estreia do evento maior do
futebol. Não por pagamento, mas por coroamento do contrato feito na outra
pátria, a maior.
É o mesmo sentimento que tornou possível a amizade
entre o peixinho e o homem, entre a jovem e o jovem do romance de John Green, que
uniu brasileiro e americano. É o mesmo sentimento que torna possível o que não
tem explicação. Isso se chama AMOR. Esse sentimento maior, que a todo instante
é confundido com outros menores. É o AMOR imensurável, divino, sublime, coordenado
do alto pelas estrelas pela diafaneidade do invisível que envia à terra, a todo
instante, a energia de que precisa a humanidade para sua evolução.
(Francisco Alves, junho de 2014)