Eu percorro o labirinto dos momentos
Mas para qualquer lugar que eu me volto
Começa um novo começo
Mas nunca se encontra um final.
Eu caminho para o horizonte
E lá eu encontro um outro começo.
Tudo parece tão surpreendente
E então eu descubro que sei.
Você vai até lá,
Eu vou até lá, vou perder meu caminho.
Se nós permanecermos aqui, não estaremos juntos
Em qualquer lugar está...
O futuro tem muitos nomes.
Para os fracos é o inalcansável.
para os temerosos, o desconhecido.
Para os valentes é a oportunidade.
QUEM DORME NO CHÃO AO LADO DE COLCHÕES, ENTRARÁ NO CÉU DIRETAMENTE!
(Colaboração de Marley, amigo e poeta)
Trata-se de textos escritos a partir de experiências com pessoas, jovens e/ou adultas, para levar à reflexão sobre alguns aspectos da vida, como política, literatura, História, Felicidade. DEIXE UM COMENTÁRIO
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
A MÍDIA E O ESPORTE
"Vai começar a guerra!" Assim começava a chamada de uma rede de televisão para um campeonato de futebol.
Deparei-me então, mais uma vez, com minhas reflexões a respeito de afirmações dessa natureza, pois, para muitos, pode até parecer tolice, porém, para mim, trata-se de um incentivo ao sentimento, mesmo que inconsciente, da batalha entre inimigos, e não um incentivo a uma prática sadia e prazerosa como é o caso do futebol.
Infelizmente a mídia vem transformando o esporte e consequentemente os atletas, através dos tempos, devido ao fato de, cada vez mais, entrarem em campo os anúncios de marcas e produtos, o poder da exclusividade sobre transmissões e o mundo da fama e dinheiro, para quem chegar primeiro, juntamente com todo o poder dos que conduzem o "marketing" do esporte.
Os atletas fazem o que for preciso para chegar ao topo e virar "fenômenos". Os garotos-propaganda de tênis, roupas, celulares e até cervejas, vejam só, levam as pessoas ao confuso mundo dos bens de consumo e a uma ilusão da vida cheia de "glamour" de um astro do esporte.
As pessoas assistem passivas nas arquibancadas ou em seus sofás a este incrível espetáculo, enquanto bebem a cerveja ou o refrigerante que seu ídolo "toma", sem perceberem que a vida saudável que um atleta deve ter não lhes permite tais hábitos.
E assim a mídia vai conduzindo os rumos do nosso esporte, põe homens e mulheres nas arenas televisivas, e que vença o melhor, o mais forte, seja lá a que custo, de preferência a baixos custos e com margem de lucros certa.
Nossos dois heróis, "o amor pela camisa e o jogar com o coração", vão tentando sobreviver a todos esses holofotes que cegam e mostram somente o caminho do tapete vermelho, talvez por isso tanto gosto por ele, já que os gladiadores, heróis do passado, sobreviviam pisando no tapete vermelho do sangue de seus rivais.
Enquanto isso, durante os comerciais, os pais sonham com seus filhos virando "fenômenos", e os filhos sonham o mesmo sonho. Espera-se que entre um sonho e outro, o sonho de um homem melhor possa fazer um mundo melhor.
(Professor Joni, professor de Educação Física da EEFM Prof. Paulo Ayrton Araújo e do Colégio 7 de setembro)
MADRE TEREZA DE CALCUTÁ
O dia mais belo? Hoje.
A coisa mais fácil? Errar.
O maior obstáculo? O medo.
O maior erro? O abandono.
A raiz de todos os males? O egoísmo.
A distração mais bela? O trabalho.
A pior derrota? O desânimo.
Os melhores professores? As crianças.
A primeira necessidade? Comunicar-se.
O que mais lhe faz feliz? Ser útil aos demais.
O maior mistério? A morte.
O pior defeito? O mau humor.
A pessoa mais perigosa? A mentirosa.
O sentimento mais ruim? O rancor.
O presente mais belo? O perdão.
O mais imprescindível? O lar.
A rota mais rápida? O caminho certo.
A sensação mais agradável? A paz interior.
A proteção efetiva? O sorriso.
O melhor remédio? O otimismo.
A maior satisfação? O dever cumprido.
A força mais potente do mundo? A fé.
As pessoas mais necessárias? Os pais.
A mais bela de todas as coisas? O amor.
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
REDONDILHAS DE NATAL E ANO NOVO EM FAMÍLIA
Mais uma vez é natal,
Festejemos o ano bom,
(Que seja comercial!)
Digamos, pois, em bom tom.
Digamos Feliz Natal,
E de todo coração
Pra os que são presencial,
Para todos que não o são.
Digamos de coração,
Pois só assim Deus consente,
Comecemos a desejação
Aos que estão aqui presentes:
Desejemos bom natal
E um ano divino, pleno,
De conquista, assim, geral
Primeiro pra Eva e Gileno.
Digamos, pois, “Merry Christmas”
E um ano Bom genial,
“In new house and many kids”
Para Anísia e Pascoal.
Digamos Feliz Natal
E um ano assaz cristalino
De saúde e nenhum mal
Pra vovó e seu Gonçalino.
Digamos “Joyeux Noël”
E um ano que muito apraza
Com bênçãos vindas do Céu
Para o casal: Marco e Brasa.
Peçamos Feliz Natal,
A deus, um ano fino, grácil
De união plena total,
Pra Elieuda e Bonifácio.
“Decid Feliz Navidad”
E um ano de muito amor,
Para Alice, “mucha felicidad”,
E pr’ este bardo amador.
Digamos Bom Natal
E um ano só de bonanças,
De diversão animal,
Para todas as crianças:
Victor, Juju, e para o Yan,
Que Deus muito os abençoe,
Isabelle e o niño Juan,
Que os pecaditos perdoe.
Pra o que cá não viera
Bom Natal e Ano vindouro:
Vanessinha, Yuri e Vera,
Que Deus os cubra de louro.
Pra outras crianças também
Feliz Natal e Ano Bom
Que os anjos digam amém
Que o façam em alto e bom som.
Não esqueçamos, então,
De dizer Feliz Natal
Para os que vivem em vão,
U’a vida triste ilegal.
Não, porém, para os políticos
Que nos roubam amiúde,
Deixando os niños raquíticos
E os adultos sem saúde.
Pr’eles não queiramos mal,
Mas grã castigo de Deus:
O povo caia na real
E não lhes dê os votos seus.
(Professor Alves, 23/12/2007)
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
QUASE
Sarah Westphal
Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase.
É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas, resta-nos somente paciência porém,preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
SOBRE COMPORTAMENTO
A música Serra do Luar, de Walter Franco, é muito feliz quando afirma que “viver é afinar um instrumento, de dentro pra fora, de fora pra dentro”. Leila Pinheiro com sua voz magistralmente afinada transformou a letra de Walter Franco, de quem é também a música, num hino à canção popular brasileira. Adoraria discorrer hoje sobre música, sobre poesia. Mas como educador estou muito preocupado com o comportamento dos alunos brasileiros, sobremaneira daqueles pertencentes à escola pública.
Não preciso assistir ao programa do jornalista Caco Barcelos para falar a respeito de como anda o comportamento dos alunos Brasil a fora. Ano passado, outubro se não me engano, um menino de dezesseis anos disse que iria me matar. Disse isso após um entrevero que poderia perfeitamente ser evitado. A polícia passou uns três dias dentro da escola, e eu achei tudo uma grande palhaçada. Se o garoto quisesse me tirar a vida, tê-lo-ia feito a qualquer hora. Não estou afirmando que não é verdade, pois ouvi isso de sua própria boca. Mas o que fazer?
No dia em que ocorreu esse incidente, estava justamente pensando no fato de alguns garotos e garotas não frequentarem a escola conforme devem, regularmente e engajadamente. Alguns deles e algumas delas passam até vinte dias, e outros até mais, sem aparecerem na escola. Esta, por meio de seus gestores, não procura saber o que está acontecendo, por que eles e elas faltam tanto. Estes e estas quando aparecem na escola, com certeza, não o fazem com o intuito de estudar. Alguém discorda? Ele e/ou ela aparecem na escola porque naquele dia erraram o caminho só Deus sabe de onde. Consequentemente ficam na sala boiando e azucrinando a vida dos colegas e professores. Eu ia exatamente encaminhar o garoto ameaçador para conversar com a diretora e pedir que o pai do mesmo viesse à escola, para saber o que estava se passando com o menino, quando ele se insurgiu, tentou me agredir. Nisso apareceu o vigilante que o segurou e o levou à diretoria. Penso que se a Escola Pública (e aqui estão todas as escolas públicas do país, cuja disciplina ficou nos anais de sua história remota) tivesse um pouco mais de ações preventivas, esses incidentes nunca aconteceriam. As escolas não podem ser depósitos de crianças. Essas pessoas que estão na idade escolar precisam ir à escola sabendo que há um propósito para elas, os pais precisam dizer isso em casa, precisam amar seus filhos, mesmo que eles tenham vindo ao mundo de forma indesejada (mas isso é assunto para outra postagem), a Escola precisa construir, juntamente com seus quadros, seu conjunto de regras sobre o que os alunos e alunas podem ou que não fazer! Alguém certa vez me disse: “Professor, isso se chama Regimento Escolar, e a escola já tem o seu.” Que se dane o nome, de que adianta um nome tão pomposo se não serve pra nada!? Melhor não tê-lo!
O leitor deve está perguntando: “E a Serra do Luar, e a Leila Pinheiro, onde é que entram na história?” Eu respondo: “Não entram, iam entrar.” Eu iria escreve sobre a vida, sobre o instrumento, sobre melodia, sobre dança, sobre pássaros. Mas fica para depois.
Professor Alves
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
DIGNIDADE
Pensando hoje sobre dignidade, lembrei-me da história de um amigo. Chamo de amigos àqueles com os quais convivo e mantenho uma relação a mais que dar e receber bom-dia. Àqueles com quem interajo, e falo, e ouço sobre sonhos, sobre passado, presente e futuro; com quem não me refuto em comentar, quando há comentários a se fazerem, sem me intrometer, pois meu pai me ensinou que "cada qual com seu cada-qual". Mas são meus amigos, por isso me alegro e me entristeço, quando a situação é pra alegria ou pra tristeza.
Com esse, tinha longas e longas conversas. Lembro-me de que me falava de cavalos, de fazendas, de liberdade. Eu lhes contava minhas agruras, minhas risadas, os ossos do ofício com os quais convivo. Sorríamos entre um copo e outro, enquanto os carros passavam velozes em frente ao bar que não era seu, mas com o qual ganhava a vida.
Sumi, sumiu, sumimos. Cada um seu rumo, cada rumo distante. Sempre lembrava: "por onde anda meu amigo, quando o verei novamente, será que já tem cavalos, fazenda?"
Dia desses tomei um susto. Num jornal diário, lá estava sua foto. Mãos algemadas, cabeça baixa, sorriso desaparecido. O roubo de um banco. Cavando buraco. Imagino seu sorriso, amarelo, "estava só cavando buraco, não sabia pra que era". Sabia. Recebeu quatro milhões pelo tal buraco. Comprou fazenda, comprou cavalo. Tornou-se patrão à custa da liberdade. Ciquenta e sete anos! como é que sai?
Dia desses pensei em visitá-lo. Imaginei sua cabeça baixa, olhos fitos no chão, quase pedindo para eu ir embora. Compreendi. Não fui. Mas ficou a pergunta: por quê?
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
PESADELO DE CONSUMO
Dona Isabelle era um misto de nervosa e constrangida, pois no fundo sentia-se humilhada. Não conseguia ainda acreditar que estivesse ali. As pessoas olhavam-na aparentemente com curiosidade, mas na verdade estavam solidárias com seu sofrimento, uma vez que passavam pelo mesmo problema. Só na cabeça dela era que havia aquele desprezo.
Após o orador falar um pouco sobre a situação de cada um, sobre os avanços de uns e os retrocessos de outros, Dona Isabelle foi convidada a falar. Ela olhou para todos e começou a contar sua história, a princípio meio trêmula, mas pouco tempo depois já estava à vontade...
— Eu não sei bem quando isso começou. Talvez ainda na minha infância, ou na juventude. Só sei que aos poucos fui perdendo o controle. Lembro-me bem que quando ainda era adolescente eu ficava muito triste quando minha mãe não podia comprar algo que eu via na vitrine de uma loja. Causava-me isso um desânimo tão grande que minha mãe pensava que eu estava doente, e até eu mesma achava isso. Certa vez uma colega de escola me apresentou um estojozinho de botar canetas, novo, que a mãe lhe havia dado. Ela apresentou o objeto para todo mundo. Eu senti uma inveja tão grande, uma vontade de ter um igual... Quando cheguei em casa, logo depois do almoço fui lavar a louça, antes mesmo de minha mãe mandar. Assim que terminei, fui fazer as atividades da escola. Era assim que eu agia quando queria pedir algo à minha mãe. Logo ela desconfiou e me perguntou o que eu tinha. Sorri meio amarelo e lhe falei sobre o estojo da Laura. Minha mãe olhou bem para mim e me disse, “mas eu comprei um novo não faz um mês!”, ao que aleguei que já estava meio puído e já sem graça. Minha mãe riu de mim. Isso me deixou muito triste e chateada. E no meu íntimo prometi que um dia compraria tudo que eu quisesse.
Logo que terminei o ensino médio fui procurar emprego. Meu sonho infantil de um dia me formar em Medicina foi para o espaço, pois me guiava o gosto pelas compras. Quando recebi meu primeiro salário, fiz uma farra. Passei num “shopinzinho” que tinha perto de onde eu trabalhava e arrazei. Comprei tudo que eu via, pulseiras, brincos, colares, todo tipo de bijuterias que mais tarde ficaram esquecidas no fundo da gaveta; blusinhas, coletes, xortes, saias, roupas que no mês seguinte seriam trocadas por outras... Cheguei em casa com as mãos cheias de bolsas, sem um centavo, mas com um imenso sorriso que bem retratava como eu me sentia, uma alegria incontrolável. Nem mesmo quando minha mãe me lembrou que eu ficara de pagar a conta de luz, minimizou minha felicidade.
E assim se deu. Durante os trinta dias eu passava nas lojas e namorava os itens que compraria no final do mês. Quando recebia meu salário adentrava esses ambientes e só saía quando não tinha mais um centavo. Nem me importavam as reclamações de minha mãe pelo fato de ter de me dar dinheiro para eu pagar o ônibus e almoçar. Entretanto não houve na minha vida alegria maior do que quando recebi meu cartão de crédito. Esperei por ele durante quase um mês, eu o gestei como uma mãe gesta um filho. Quando o segurei nas mãos não pude controlar um grito de felicidade, acho que duas lágrimas rolaram de êxtase. Nos três dias seguintes comprei. Só parei quando a moça da loja me pronunciou as palavras mais cruéis que eu podia ouvir: “não autorizada...”. Não entendia. Fiquei muito abalada e naquela noite chorei, e nos meus sonhos nadava num mar de sacolas, cheias de objetos que eu nunca ia usar.
Minha juventude escafedeu-se sem que eu percebesse. Não tinha amigas, amigos, namorados. Mesmo assim casei-me com um homem maravilhoso, honesto, trabalhador, fiel. Entretanto minha mania de comprar tudo que eu via aos pouco foi nos afastando, e eu não compreendia suas reclamações, até que nos separamos. Comigo ficou a casa, uma pequena pensão e uma filha, Dienny. Agora eu tinha dois motivos por que comprar, ela e eu. O dinheiro que adentrava nossa residência ia-se embora em artigos para minha filha. Às vezes comprava mesmo sabendo que ela não iria usar. A pensão dava para as despesas básicas e para alimentar a barriga, mas não alimentava meus sonhos de consumo, que eram insaciáveis. Tive de voltar a trabalhar para voltar a gastar. Uma vez uma amiga de trabalho que estava me visitando estranhou a quantidade de aparelhos celulares que eu tinha, expliquei rapidamente que não serviam, mas pela primeira vez refleti sobre o assunto. Eu tinha exatamente doze aparelhos que eu não utilizava. Todos em perfeito estado. O que me fazia adquiri-los era a ilusão de que um fosse diferente do outro, e todos eram exatamente iguais. Quando comprava um novo, passava umas duas horas agarrada a ele até que descobria que não havia novidades, que suas funções eram iguais, nem os jogos de um diferia do outro. Isso me causava uma angústia tão grande, um vazio tomava conta do meu ser, mas logo me alimentava a ideia de que as indústrias estavam lançando novos modelos. Minha vontade era comprar todos os modelos caros que apareciam, mas meu salário não dava e eu me contentava com os modelos mais baratos. Quando caía em minhas mãos um desses encartes com “promoções”, a avidez me tomava conta, pois eu era vítima fácil dessas ofertas. Certa vez minha amiga sem querer deixou cair um cartão da bolsa, apanhei-o e lhe entreguei. Era um cartão do plano de saúde, ela me explicou que iria levar a filha ao médico e me perguntou que plano eu pagava. Nada lhe disse. Dei o silêncio por resposta. Mas no íntimo eu ri. Como eu iria pagar algo que eu não podia ostentar, algo que deveria deixar escondido na bolsa, algo que eu não iria utilizar!
Uma tarde, eu passeava pelo “shopping”, quando entrei numa loja de eletrodoméstico a fim de ver os aparelhos de tevê. O moço, muito gentil, me mostrou os últimos modelos e suas vantagens. Lembrei-me de que havia um aparelho na sala, um no meu quarto e outro no quarto da Dienny. Quase não ouvia as palavras do vendedor. Dentro de mim eu lutava buscando uma justificativa para comprar aquele aparelho de televisão. Até que convenci a mim mesma de que o aparelho da sala já estava fora de moda, que minha sala precisava de algo mais moderno. E assim cheguei em casa feliz. Mas a cada dia que passava a felicidade durava menos, a saciedade que eu sentia logo se ia, e logo eu precisava inventar algo para comprar. Como um bêbado eu andava por entre as vitrines em busca de algo que me desse prazer. Meu cartão de crédito estava sempre com o limite estourado, e eu dava sempre um jeitinho de acrescentar uma dívida a mais, afinal tudo era tão barato! Um celular, dez de trinta e cinco; um dvd, dez de onze e noventa; a tevê, doze de sessenta...
Mas o golpe maior veio. Era mais ou menos meia noite. Dienny acordou aos gritos com a mão na barriga. Dizia que sentia uma dor muito grande. Fiz-lhe um chá, mas não adiantou, a dor aumentava a cada minuto. Corri para o celular para chamar alguém para me ajudar, não havia créditos. Naquele mês não sobraram os doze reais da promoção OI. Corri a casa da vizinha, cujo marido era taxista e pedi que me levasse ao hospital mais próximo que depois lhe pagaria, ele foi, mesmo desconfiado de que não receberia o preço da corrida. Parei no hospital da UNIMED. Minha filha já estava quase desmaiada e eu tinha de acordá-la de quando em vez. A moça da recepção foi logo pedindo o cartão. Quando disse que não tinha, ela balançou a cabeça negativamente. Lembrei-me do cartão de crédito. Minha filha gemia ao meu lado, branca como se não tivesse uma gota de sangue. A moça, impassível, enquanto passava o cartão, conversava com a colega do lado e ria como se nada estivesse acontecendo. Depois meneou a cabeça e me disse “sinto muitos, mas o cartão não tinha saldo”. Tentei ainda argumentar, mas seu Gledson, me puxou e disse que iríamos ao hospital público. Dienny já não gemia, apenas arfava com certa dificuldade. Na Emergência do Gonzaguinha, a fila era grande. Tive de pegar uma senha. Estava desesperada, minha filha agonizando e as enfermeiras passavam e fingiam que nada estava acontecendo. Quando vociferei, clamando por atendimento, uma delas apenas me apontou a multidão que lá estava, também para ser atendida. Quando faltavam dois números para chegar nossa vez de ser atendidas, Dienny abriu os olhos e chamou por mim, mas sua voz já era muito fraca, e ela morreu com a cabaça nas minhas pernas, sem ser atendida.
A dor que eu senti ninguém pode imaginar. Era uma dor de quem perdeu o bem mais precioso que Deus pode lhe dar, um filho, e a dor de quem se sente culpado por essa perda. Enquanto chorava desesperada, cercada por pessoas estranhas, toda a minha vida passava como em “flash-back”, até que desmaiei. Acordei dias depois. Minha mãe disse que eu precisava ser sedada toda vez que despertava.
Hoje faz dois meses que aconteceu essa tragédia. Deus me deu uma nova chance de viver. De acreditar que existem muitas coisas que podem tornar uma pessoa feliz. Descobri que todas aquelas coisas que superlotam minha casa, meu guarda-roupa, minhas gavetas não valem a pena. Quando passo perto de uma loja, tenho que me controlar para não entrar. Deus me ajudou, por isso hoje eu não comprei.
(Professor Alves, 25/11/2010)
domingo, 21 de novembro de 2010
O VALOR DE UM SORRISO
Um sorriso não custa nada e rende muito. Enriquece quem o recebe e não empobrece quem o dá. dura apenas um instante, mas sua recordação é eterna.
Ninguém é tão rico que o possa dispensar, ninguém é tão pobre que não o possa dar. Cria felicidade no lar e sustento no trabalho.
Sinal de amizade profunda, o sorriso representa consolo na tristeza e alívio na angústia; coragem no desânimo, repouso no cansaço.
O sorriso é um bem que não se compra, nem se empresta porque o valor só percebe que o recebe de graça.
Mas se por acaso encontrares alguém que recusa um esperado sorriso, sê generoso em dar-lhe o teu, pois ninguém necessita tanto como aquele que não sabe sorrir.
(Colaboração de Dona Alderiza, mãe de Antônia Gislânia, aluna do 9° ano B)
domingo, 14 de novembro de 2010
ENSINANDO A TORCER
-- Vai pra cima delas..., força..., bate..., corta... - Parece um general comandando seu exército na batalha decisiva...
Nas arquibancadas, a torcida vibra, com uma espécie de porrete verde-amarelo na mão, grita:
-- Uuuuuuuuuuuu, Uuuuuuuuuuuu... - lembrando membros de uma suposta tribo pré-histórica em pé de guerra.
Em determinado momento do segundo set, a atacante brasileira corta a bola, que atinge de forma violenta o nariz da adversária, cujo nome é “Shocolova”...
— Poonto do Brasiiil! – grita em êxtase o narrador. Enquanto a jogadora “adversária esfrega o nariz, numa tentativa quase desesperada de respirar. A torcida vibra e brande os porretes como quem dissesse: “quisera eu lhe dar essa porretada no nariz...”.
Fim do set. o Brasil venceu esse. Para euforia dos amigos do narrador que se encontram numa sala reservada a fim de comentar o jogo. Uma cantora, um campeão mundial e uma campeã da mesma categoria. Possivelmente por não ter o que falar ou por maldade mesmo, a cantora diz:
— Sou muito fã dessa jogadora russa (com certeza foi a primeira vez que ouviu falar da mesma), mas adorei essa bolada que ela levou. – Para delírios dos que lá estão e do narrador, que ri um sorriso sem sentido, pobre de quem não sabe o que está fazendo direito. O coitado é pau-mandado da Rede Globo, não tem autonomia, só diz aquilo que os comandantes querem que diga, por isso não tem força moral para retrucar o que foi dito pela colega “artista”, não tem ânimo, alma, na verdadeira acepção da palavra, para dizer algo como: “Não devemos pensar assim, porque deve ter doído e causado, mesmo que de momento, certo sofrimento...”.
— Sou muito fã dessa jogadora russa (com certeza foi a primeira vez que ouviu falar da mesma), mas adorei essa bolada que ela levou. – Para delírios dos que lá estão e do narrador, que ri um sorriso sem sentido, pobre de quem não sabe o que está fazendo direito. O coitado é pau-mandado da Rede Globo, não tem autonomia, só diz aquilo que os comandantes querem que diga, por isso não tem força moral para retrucar o que foi dito pela colega “artista”, não tem ânimo, alma, na verdadeira acepção da palavra, para dizer algo como: “Não devemos pensar assim, porque deve ter doído e causado, mesmo que de momento, certo sofrimento...”.
Assim fico imaginando uma população de milhões e milhões de miseráveis, famintos de educação e respeito ao próximo, num país que se equivale ao Zimbabue, um dos mais pobre do mundo, no quesito Educação. Imagino-os durante todo o ano ouvindo esses comentários e sentimentos que se repetem em partidas de futebol, voleibol, basquete... É assim que estamos educando nossa população, é dessa forma que nossas crianças estão aprendendo a torcer!
Depois quando acontece uma desgraça, causada pela selvageria de torcedores alucinados, vemos os mesmos imbecis da Globo, caras compungidas, cenhos franzidos, lamentando aquilo que eles mesmos incentivaram.
(Professor Alves, domingo, 14 de novembro de 2010)
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
CORNO E AVILTADO
Uma aluna me fez uma pergunta que me deixou cabreiro (interessante essa expressão). A pergunta foi a seguinte:
Caraca, realmente não havia pensado nisso. Prometi a ela então pesquisar para poder lhe dar uma resposta decente. Nunca fui de ficar tentando inventar resposta. Muni-me, pois, de alguns dicionários (etimológico, sinônimos e antônimos, sinônimos). Mas nenhum deles continha o termo adequado para responder à duvída de minha aluna.
O certo é que a própria palavra "traído´" não diz muita coisa, pois o radical do verbo é muito claro, uma vez que traído, por exemplo, é o povo brasileiro, que acreditou numa mudança radical a qual pudesse modificar o país, e deu com os burros n'água; traído é o goleiro, quando acredita que a bola vai em suas mãos e vê a jabulani entrando no gol, pelo lado totalmente oposto; traído é o consumidor quando compra um produto, ciente de que este vai facilitar sua vida, tem uma enorme dor de cabeça quando o aparelho não funciona e ainda por cima não consegue falar com o suporte que promete resolver seus problemas.
Definitivamente esse termo não serve. Encontrei alguns outros, como ultrajado, enganado, aviltado. Também não servem. Nessa pesquisa, concluí que o termo adúltero também não é adequado para indicar o traidor ou a traidora, o infiel ou a infiel (estes são mais adequados) uma vez que adúltero é mais adjetivo que substantivo, pois indica modificado, falsificado, adulterado. Só em alguns dicionários mais chinfrins (essa é lídima), como o do Sr. Aurélio, é que adúltero/a aparece na conotação que conhecemos.
Fica o enigma da palavra, e eu tento decifrar o enigma da coisa.
CORNO é o indivíduo que ouve seus próprios clamores, berrando ser a companheira uma pessoa de pouca confiança, uma vez que seus olhos e ouvidos (dele) percebem tudo de forma ADULTERADA. Se as pessoas riem é porque estão zombando de sua insignificante criatura; se ouve um assobio, é o amante dando sinais, e essas baboseiras que já vimos, lemos e ouvimos na vida real, na literatura ou na cinematografia (esse é do baú). Esse é o corno, que esconde a mulher dos olhos dos outros e, quando a expões, é sempre com "cara-de-marido" (esse é de Chico Buarque).
TRAÍDO, AVILTADO, ULTRAJADO é o indivíduo, coitado, que não teve sorte e casou-se com uma mulher de maus bofes e sem caráter.
Pronto explicado, ou pelo menos tentado.
(Professor Alves)
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
ANONIMATO (NEM TÃO ANÔNIMO)
SONETO I
Sabe, Senhorita, o quanto suspiro
Toda vez que teu cheiro por mim passa
Sabe que se a teus pés não me atiro
É a voz do orgulho que o meu peito enlaça.
Sabe que os meus olhos seguem teus passos,
Quando mudas de rumo a face viro,
Sem querer me olhas, sonho ter teus abraços,
Assim que partes, triste me retiro.
No entanto mal surge o dia seguinte
‘Magino sorridente o teu semblante
E anseio logo estar perto de ti.
Vejo, então, feito um reles pedinte,
Do anonimato, o peito radiante,
Teu olhar que sempre igual nunca vi.
SONETO II
Porém, Senhorita, em breve estarás
Matrimônio ao pé do altar contraindo
Como um cisne, em véu contente sorrindo,
Triste, sombrio, meu peito deixarás.
Quando pisares o degrau vermelho
E as estrelas brilharem por teu encanto
Em teu louvor derramarei meu pranto
E então sonharei ser teu espelho.
A vida seguirá seu curso normal
Entanto algo em meu ser estará vazio
Um pedaço de mim estará faltando:
É teu olhar agora inda mais formal
É teu sorriso ainda mais fugidio:
A esperança anônima enfim findando.
Setembro de 2003
POST CONUBIUM
Senhora, ontem casualmente a vi
Fiquei pasmado com sua ímpar figura
Tão que no que vi, Senhora, não cri:
Há muito não via tanta feiúra.
Lembra-me a beleza que antes medi:
Porte airoso, corpo esbelto, tez pura,
Sua fina mão que outrora segui,
Seu lindo sorriso, digno de mesura.
Porém a imagem que hoje vislumbrei,
Dois cambitos, bucho proeminente,
O rosto diferia do que eu beijei.
Tão pouco tempo, meu bem, se passou
(Se não me engano faltam-lhe dois dentes)
E o casamento com você acabou!
janeiro de 2005
Professor Alves
domingo, 24 de outubro de 2010
SONETO DA BUSCA EM VÃO
Ó Senhora, quanto amor tive sem dizer
Quanto de amor tenho, Senhora, por viver
Quanto amor vi em tua retina, Senhora,
Por que me deixaste, de repente, ir embora?
Vi em teu semblante que me amavas, meu bem,
O quanto nenhum ser jamais amou alguém,
Permitiste, por meu grande pesar, entanto,
Qu’inda não percebesse, todo teu encanto.
Fui-me sem os teus doces beijos, minha vida
Sem o calor de tua voz me dispersei
Ouvindo surdo o retumbar da despedida.
E assim, minha loucura, pelo mundo errei
Sentindo às costas pesado o fardo da lida
Sem ter teu carinho, só espinho colherei.
(Professor Alves, 07/03/03)
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
O HOMEM QUE SEMEAVA AMIGOS
(Para Gonçalino Saboia, no dia da sua passagem)
Seu Gonçalo era um homem que semeava amigos. Por onde passava, onde quer que estivesse, com seu sorriso, sua generosidade e sua honestidade ia semeando novos amigos. Quando o conheci, fiquei surpreso ao ouvi-lo dizer:
─ E aí, meu amigo!
Fiquei surpreso porque nunca o havia visto antes. Mas na sua simplicidade ele nada me disse sobre isso. Só tempos depois é que viria a compreender o significado dessas palavras.
O homem que semeava amigos não via estranhos, só amigos a serem apresentados. Ele não tinha irmãos nem irmãs, não tinha genros, cunhados; sequer filhos tinha. Tinha amigos, pois até estes eram seus amigos. Era assim que ele via a vida, uma imensa fábrica de amigos. Amigos sem cor, sem religião, sem idade, sem status. Apenas amigos e amigas.
Certa vez andando ao seu lado fiquei estonteado com o número de pessoas de todos os naipes que o cumprimentavam, e ele retribuía o carinho com o mesmo carinho. Quase compreendi sua filosofia, quase, porque não havia filosofia. Na sua infinita simplicidade de seu sorriso infinito sabia que amor se ganha amando.
Quando um amigo se ia deste mundo, ele não dizia “adeus”, mas “até breve, amigo, logo terminaremos a nossa conversa”. Porque o homem que plantava a amizade adorava conversar. Passava horas e horas dando e recebendo ouvidos.
Até que chegou para ele o magno dia de também se ir. Aqui na terra, multidões vieram dizer “até breve”. As coroas de flores em sua homenagem tomaram três caminhões e muitas outras tiveram de ficar aqui. Seu féretro congestionou toda uma Br, até sua cidade natal, cujas ruas não comportaram tantos automóveis. O padre teve que fazer um apelo para que as pessoas parassem de chorar pelo homem que sabia fazer amigos, pois havia perigo de uma enchente...
Quando chegou ao céu, o homem que semeava amigos foi recebido por uma multidão que veio abraçá-lo e cobrar que se botassem as conversas em dia. Por trás da multidão, São Pedro, bonachão, balançava a cabeça, enquanto o homem que semeava amigos abria caminho entre a multidão, sussurrando a um, sorrindo ante o comentário de outro. Só horas depois transpôs aquele mar de amigos. Ao ver São Pedro, foi logo dizendo num largo sorriso:
─ E aí, meu amigo...
(Professor Alves)
terça-feira, 12 de outubro de 2010
ESTA VIDA
Um sábio me dizia: esta existência,
não vale a angústia de viver. A ciência,
se fôssemos eternos, num transporte
de desespero inventaria a morte.
Uma célula orgânica aparece
no infinito do tempo. E vibra e cresce
e se desdobra e estala num segundo.
Homem, eis o que somos neste mundo.
Assim falou-me o sábio e eu comecei a ver
dentro da própria morte, o encanto de morrer.
Um monge me dizia: ó mocidade,
és relâmpago ao pé da eternidade!
Pensa: o tempo anda sempre e não repousa;
esta vida não vale grande cousa.
Uma mulher que chora, um berço a um canto;
o riso, às vezes, quase sempre, o pranto.
Depois o mundo, a luta que intimida,
quadro círios acesos : eis a vida
Isto me disse o monge e eu continuei a ver
dentro da própria morte, o encanto de morrer.
Um pobre me dizia: para o pobre
a vida, é o pão e o andrajo vil que o cobre.
Deus, eu não creio nesta fantasia.
Deus me deu fome e sede a cada dia
mas nunca me deu pão, nem me deu água.
Deu-me a vergonha, a infâmia, a mágoa
de andar de porta em porta, esfarrapado.
Deu-me esta vida: um pão envenenado.
Assim falou-me o pobre e eu continuei a ver,
dentro da própria morte, o encanto de morrer.
Uma mulher me disse: vem comigo!
Fecha os olhos e sonha, meu amigo.
Sonha um lar, uma doce companheira
que queiras muito e que também te queira.
No telhado, um penacho de fumaça.
Cortinas muito brancas na vidraça
Um canário que canta na gaiola.
Que linda a vida lá por dentro rola!
Pela primeira vez eu comecei a ver,
dentro da própria vida, o encanto de viver.
(Guilherme de Almeida, do Site: www.revista.agulha.nom.br/gu.html)
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