Não me recordo
bem o ano, talvez 92-94, quando percebi pela primeira vez a expressão natal
do.... Era o natal do videocassete.
Era boom do comércio de imagens, todos queriam combinar a tecnologia da
televisão com a tecnologia das caixinhas que invadiam as estantes e quase
ocuparam o lugar dos livros. Mas os livros são insubstituíveis.
Depois veio o
natal do “cd players”. Os velhos discos de cera, que tiveram seu apogeu entre
1912 a 1964, estavam vingados. Os vinis, algozes daqueles, eram jogados ao canto
e substituídos de vez pelos cds.
Mas o comércio
e a indústria queriam mais. Precisavam de novos natais. E logo foram premiados
e tiveram suas marcas festejadas no natal do DVD. Genial. Os ruídos, outrora imperceptíveis, agora assustavam. “Nossa! como não ouvíamos esses ruídos,
que imagens limpas...” As pessoas ávidas pelos novos natais, já aguardavam o
próximo. E eles vieram: O natal do celular, o natal da tv de plasma, o natal do
notebook. Este possivelmente é o natal do táblete. Ou muitos natais juntos.
E eu aqui me
pergunto: e o natal do Senhor? E o natal de Jesus? Quando virá? Já imagino as
pessoas desembrulhando presentes, abraçando os pais, o irmão, o namorado, a namorada,
o marido, a marida, agradecendo o “smartfhone”, o tablete, o “I-phone”, a tv de
42 polegadas nas quais assistirão ao Salve Jorge, à Copa da Confederações, mas
que já não servirá para assistir à Copa de 2014, pois é para isso que haverá o
natal da tv 3D, que será 2013.
Ao canto,
esquecido, um lindo presépio, comprado numa loja especializada, pois fazer um
não tem graça. Nele, um menininho sorridente, numa manjedoura, espera ingenuamente
os abraços, que não virão, os parabéns, que não serão cantados, os
agradecimentos pelo sacrifício do pai... Talvez no seu meigo sorriso ele queira
dizer: “Vejam, estou aqui. Esqueceram, a festa é minha!”. Mas todos estão muito
ocupados com seus novos brinquedos para perceberem a presença dele, para
notarem seus apelos. Agora são os quitutes de cá, de lá, as bebidas e as
brincadeiras com um time a ou time b, o destino das personagens da
novela ou a festa do Reveillon. Quando as luzes se apagarem e todos se
recolherem aos seus sonhos, de consumo, lá do presepinho comprado, ele ainda
dirá com a vozinha cheia de perdão: “Perdoa-lhes, Pai, eles não sabem o que
fazem”.
(Professor
Alves, 06/12/2012)
Um comentário:
Eu li essa crônica naquele livro que você deu ao Professor no encontro. É muito interessante seu texto: leve, com um leve senso de humor, crítico. Enfim, gostei muito.
Sua colega de mestrado, Leda
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