Peço licença
aos senhores
Pras coisas
que vou narrar,
Peço
desculpas também
Se, este,
talento não tem.
Mas creio na
providência
Que vou
fazer algum verso
Mesmo de
pouca ciência.
Para
integrar o certame
Pedi a Luiz
Gonzaga
O nosso rei
do baião
Que me desse
inspiração
Para o que
quero dizer
Seguindo
métrica e rima
Assim
pretendo fazer.
***
Vou então
aproveitando
Para aqui
homenagear
Mestre
Raimundo Jacó,
Que foi o
vaqueiro maior,
Que até hoje
existiu,
Pelo sertão
brasileiro,
Outro igual
nunca se viu.
Sem porquê
havia inveja
No sertão em
que vivia,
Foi por tipo
enciumado
Cruelmente
assassinado!
Mas justiça
não se fez
E o povo
lembra o herói
Todo ano no
mesmo mês.
É em todo mês de julho,
Na cidade
de Serrita,
O povo
lembra essa morte,
Reza muito e
pede sorte
Pr’os
vaqueiros de agora,
Proteção de
toda parte
Nessa missa
a gente chora!
Senti toda
essa emoção
Quando vi a
grande missa
No sertão de
Pernambuco,
Terra de
Joaquim Nabuco,
E do
vaqueiro citado
Sertanejo
original
Homem mui
equilibrado.
Tinha gente
a dar com pau
Da Bahia e
Ceará,
Rio
Grande, e Piauí,
De Mossoró a
Aracati
Toda gente
aconchegada
Sob o sol da
caatinga
Contrita,
emocionada.
***
Naquele
instante lembrei
Do meu velho
e amigo avô,
Há muito
tempo morrido,
Mas não por
nós esquecido,
Que foi
vaqueiro e do bom
Amado e
querendo a todos,
Falando
sempre em bom tom.
Acordava bem
disposto
Com os galos
a cantar,
Já
desperto ajoelhava,
Muito
contrito rezava
Agradecendo, com amor,
O dia que
recebia
Das mãos de
Nosso Senhor.
Já o dia
estava em festa
Com cantiga
de mulher,
Cheiro de
café gritando
Animais se
barulhando,
E o cachorro
Vamo-ver,
Correndo
atrás dos gatos
E as arv’re
sem se mover!
Ficava eu
espiando
Meu avô se
arrumar,
Guarda
peito, gibão
Perneiras,
luvas pras mão,
Com couro
calçava os pés,
Punha então
chapéu de couro,
Pra se
livrar de revés.
Formava
junto com ele,
Filho, irmãos,
primos, colegas,
Um grupo
muito valente,
Sempre aboiando contente,
Da caatinga
no seio
Levando e
trazendo o gado,
‘Pesar de
agruras no meio.
Havia dias
de festa,
De muito
forró do bom,
Havia à
farta comida,
Pra todo
canto bebida,
Namoro
sincero havia,
Pedido de
casamento
E choro de
quem nascia.
Mas nem tudo
eram flores
Nas trilhas
do meu avô,
Tinha muito
sofrimento
Reza muita e
lamento,
Quando era a
seca que vinha
A morte
levava tudo
Homem, gado
e criancinha.
Era tristeza
demais
Naquele mato
sem flor,
Naquela
terra sem vida,
Naqueles
braços sem lida,
Naquele chão
esturricado,
Naquelas
veias abertas,
Naquele
campo queimado.
Era quando então
se via,
Nos olhos da
vaqueirama
Lágrima seca
a correr,
A pele negra
a tremer
E o músculo
retesado
Mirando o
horizonte limpo,
E o sertão
todo abrasado.
Até que Deus
se condoía
Daquele imenso
sofrer,
Mandava
chuva bendita,
Era assim a
grande visita
Da vida que
então chegava
E os olhos
de toda gente
Logo então
se alumiava.
O gado
sorria a mugir
Risadas se
ouviam sempre
Agradecia-se
assim ao céu
A chuva que
sabia a mel
O verde que
florescia
A vida que de
repente
Do inferno
renascia.
***
Mas hoje,
daquele tempo,
Só trago
muita lembrança,
Longe do
amigo vaqueiro
Do
autêntico, verdadeiro.
Morando hoje
na cidade
Pra ver pega
de boi brabo
Só na tela
da saudade.
Tem alguns
broxotezinhos
Na capital
onde moro
Com
roupinhas apertadas
Limpinhas e
perfumadas
Todos
cheirando à lavanda
Contando
muita lorota
Mas fugindo
se há demanda.
Mesmo em
sertão de verdade
Já trocaram
o seu cavalo
Por um bicho
de barulho
Que tropeça
em pedregulho
O tal bicho
tem motor
Não serve
pra chão incerto
Faz zoada e
faz terror.
Não existe
mais amor
Nessa amada
profissão!
O que tem de
verdadeiro
Nesta vida
de vaqueiro
É o vaqueiro
na peleja
Para manter
a memória
Da cultura
sertaneja.
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