sábado, 16 de setembro de 2017

A MÃO E A LUVA, de Machado de Assis





                Buscando uma leitura diferente de Machado de Assis, de repente me deparo com o romance a Mão e a Luva. Romance chato, com pouco desenvolvimento das ações e até meio sem ações. E é o próprio autor/narrador quem nos diz no capítulo IX:
Não será preciso dizer a um leitor arguto e de boa vontade... Oh! sobretudo de boa vontade, porque é mister havê-la, e muita, para vir até aqui, e seguir até o fim, numa história, como esta, em que o autor mais se ocupa de desenhar um ou dois caracteres, e de expor alguns sentimentos humanos, que de outra qualquer coisa, porque outra coisa não se animaria a fazer.

            Por ser um romance da época em que Machado escrevia romances românticos, trata-se, pois, de um romance romântico, que traz no seu bojo uma história de um indivíduo que atende por Estevão. Personagem que de cara já nos dá nojo pela sua pobreza de espírito e índole lânguida, se é que esse termos se ajusta a esse contexto. A heroína é uma menina de 17 anos, na primeira fase do “namoro”; 19, na segunda. É uma heroína romântica autêntica, aos moldes de Macedo, pelo menos nos trejeitos, achaques, roupas e penteados. Se o namoro não deu certo na primeira fase, na segunda gora do mesmo jeito. E o pobre Estevão vai chorar no colo do amigo Luis Alves, de índole completamente diversa da do colega de faculdade. O leitor aos poucos vai se aborrecendo com os nãos de Guiomar e os choros do enamorado.
            Até que aparece um embrião de trama. É quando o narrador nos apresenta as demais personagens: Mrs. Oswald e a Baronesa. Esta é madrinha de Guiomar e a tem por filha, porque assim a concebeu quando da morte da filha de sangue; aquela, uma agregada inglesa fã das tramas de Sir Walter Scott e de papel importante na concepção da trama. Além delas também nos é apresentado o Sobrinho da baronesa, Jorge, com quem a tia quer casar a afilhada e suposto rival de estevão. Com certeza o leitor fica estranhando o que Machado quer com a trama. Nisso, creio, o leitor tentará fazer uma relação entre o que está ocorrendo ao título e não percebe. É que o Bruxo do Cosme Velho já trazia na pena os truques da análise do ser humano, que lhe serão tão caros na sua fase áurea.
            Guiomar é uma  moça de personalidade forte, que em alguns momentos se mostra fria e até mesmo dissimulada. As infância não fora das melhores e isso encaliçou de certa forma sua personalidade. Era ambiciosa no bom sentido. Desde mito pequena já admirava o que era bom e prazeroso, queria ter, queria ser. E para isso não podia atar sua vida a uma alma insossa como a de Estevão. Mas também não poderia fazê-lo a Jorge, indivíduo boçal, narcisista e com ambições mesquinhas. Não, Guiomar queria unir-se a uma alma grande, que lhe pudesse dar não só a mão a passeio, mas lhe dar status e segurança de ânimo. Alguém que lhe prometesse não pieguices, ou bilhetes amorosos sem conteúdo.
            O leitor, que já deixou de lado o tédio do início, porque percebeu os verdadeiros motivos do autor/narrador percebe de chofre ex-abrupto, quem seria a mão que se encaixaria nesta luva. Exatamente: Luís Alves. Este entra na vida de Guiomar, sem pedir licença, sem palavras melosas. Corteja-a e a conquista.
            Não, o final não tem casamento, não tem festa. Apenas a certeza do leitor de que Guiomar e Luiz Alves se casarão. Ele, advogado e deputado, que conquistou todos os degraus  que Jorge e Estevão jamais se aproximariam. Ela, esposa e senhora de si, alma perfeita para unir-se a de um homem vencedor.
            Os detalhes desta belíssima narrativa de Machado de Assis, só lendo.

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