“Today
is my birthday.” Diria hoje John Lennon, que estaria completando 78 anos de
idade. Caso não tivesse sido morto, assassinado por um louco. Eles existem. Não
são apenas matéria da ficção. E estão por aí, nos espreitando. O sonho acabou.
O sonho de ver novamente os Beatles juntos, cantando sua alegre irreverência,
com poucas palavras e versos simples, como I wanna hold your hands. Simples
assim. Era o último ano de uma década explosiva. Na verdadeira acepção da palavra.
Um ano antes, uma bomba havia explodido no Rio Centro, a culpa deveria cair
sobre os civis, se não fosse a burrice dos militares. O sargento morreu, e o
capitão saiu ferido. Era a máscara da ditadura que continuava a cair, e as
pessoas na rua continuavam protestando.
Hoje
é o dia do meu nascimento, digo eu, quando completo 53 anos. É sempre uma data estranha
para mim. Há poucos dias confessei isso aos meus alunos, enquanto catávamos
parabéns para um deles. Disse-lhes que é um momento para reflexão. Ou, como bem
disse Raquel de Queiroz, um dia para se contar quantos dias faltam antes do
desencarne, antes da morte. É uma conta que não fazia quando menino, mesmo na
adolescência. O mundo estava apenas se abrindo, se descortinando. E os sonhos,
embotados de cimento e lágrimas, começavam a ser...apenas sonhos.
Assim,
busquei algo que me remetesse à infância, naquela década explosiva, que
culminou, no dia 8 de dezembro com o assassinato de John Lennon. Quando de
repente uma música começou a tocar na minha mente: “Assassinaram o camarão/ assim
começou a tragédia no fundo do mar...” Quem não lembra dos Originais do Samba,
grupo musical que tinha Antônio Carlos, o imortal Muçum, dos Trapalhões!? Pois que
seja esse samba, de Ibrahin Zeré, a trilha sonora deste 9 de outubro. Até
porque o momento político não é muito diferente. Corremos grande risco de
termos aqueles dias de volta. Que Deus nos proteja. Foram dias tortuosos e
torturantes, no verdadeiro sentido. E essa tortura foi muito bem engessada na
metáfora da Tragédia no fundo mar: “O guaiamum que não se apavora/ disse ‘eu
que vou investigar/ vou dar um pau nas piranhas lá fora, vocês vão ver/ elas
vão ter que entregar’” Como é que não entrega?! Era essa a tônica da tortura.
Imagino um governo que resolvesse diminuir a criminalidade, em nosso país, na
base da tortura. As comunidades seriam invadidas por agentes da “inteligência”
para prender os culpados. Mas os culpados estão protegidos, então quem iria
sofrer seriam os peixinhos, como na Tragédia do fundo do mar.
Mas
hoje não é meu aniversário, eu apenas estou completando ano, como diria meu
pai, seu Luís Alves. Ele sempre afirmava: “pobre não faz aniversário, completa anos”.
Pois bem, estou eu cá completando anos, digo melhor, décadas. Quem está
aniversariando é Mário de Andrade, o homem que iniciou a revolução modernista
em 1922. Que desbravou palmo a palmo os rincões desta pátria para compreender seu
povo e sua cultura. Quem está aniversariando hoje é Taiguara, Fernando Brant,
Steve McQueen, Guillermo del Toro, Sean Lennon e seu pai, John.
O
mais ilustre dentre esses é John Lennon. Não pelos Beatles, não por Yoko Ono. Mas
por Imagine, uma das músicas mais executadas da história. E que queria que
fosse a trilha sonora de hoje. Mas o camarão foi ser assassinado! Que fazer.
Queria ter acordado com os versos: “Você pode dizer que eu sou um sonhador/ mas
eu não sou o único/ e eu espero que um
dia você se junte a nós”. Amém para todos nós, que eu também preciso!
(Professor Alves Andrade)
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