baseado na obra de
Franklin Távora)
No século dezenove,
No ano de setenta e seis,
Foi que veio então a lume
Mostrar do sertão a tez
O romance O Cabeleira,
O qual li mais de uma vez.
Sendo romancista histórico,
Franklin Távora escreveu,
Requintado em lucidez,
O que por ali se deu,
A história de Cabeleira
Mal feitor que ali viveu.
Era muito grande a fome
Que a seca pra li trazia;
Era muito grande a morte
Que a peste ali espargia;
Porém o maior flagelo
Cabeleira é que fazia.
Na região de Goiana,
De Santo Antão e Goitá,
Ninguém não tinha sossego
Nem mesmo dentro do lar,
Quadrilhas então à solta
Todo o povo a castigar.
Era o século dezoito,
Setecentos, coisa e tal,
O Brasil inda Colônia,
Pertencente a Portugal,
Pernambuco embrionário,
Capitania especial.
José Gomes foi menino,
Teve da mãe o carinho,
Mas o pai, criatura má,
Levou-o a mau caminho,
Ensinou-lhe assim que o certo
Era matar passarinho.
Tirar a vida dos outros
Depois de ser homem feito,
Foi ensinado na infância,
Pelo pai, um mau sujeito,
Enquanto por outro lado,
A mãe pregava o respeito.
Se cuidar dos animais
A mãe o orientava,
Joaquim, o pai malvado,
Malvadeza ensinava,
Tirar a vida dos bichos,
Era assim que o pai mandava.
A mãe com ele ajoelhada,
Lhe dava terço a rezar,
O pai então irritado
Lhe deu faca pra matar,
“Meu filho há de ser homem
Pra todo mundo assustar”.
E na hora de escolher,
Por medo ou por vaidade,
Seguiu o caminho do pai,
O caminho da maldade,
Deixando sua triste mãe
Pra não ter felicidade.
E pouco tempo depois,
José Gomes se tornou
O temível Cabeleira.
Muita gente ele matou
Além das propriedades
Que seu bando saqueou.
Era o horror das cercanias,
Matava só por prazer,
Não tinha respeito à vida,
Não quis, não queria ter,
Sua faca era invencível,
Fazia fogo sem ver.
O pai do bando era o chefe,
O filho, o mais temido;
Todo roubo que faziam
Pra Timóteo era vendido;
O capanga Teodósio,
Cão cerbero sem sentido.
A mata era seu castelo;
As serras, a fortaleza;
As estrelas, o farol;
As fogueiras, a clareza;
A loucura, a coragem;
A vida, uma tristeza.
Porém quando viu Luíza,
Amada de sua infância,
Cabeleira refletiu
Sobre sua ignorância,
Sobre o mal que tinha feito,
Sobre sua petulância.
Foi após uma ocorrência
Que Rosalina vitimou,
Preferindo então a morte,
Com fibra não hesitou,
Com as mulheres da família
No incêndio se queimou.
Cabeleira à Luíza
Amor eterno jurou,
No meio do matagal,
Com ela, ele noivou
Mas logo pela manhã
Para o céu ela voou.
Mas antes, porém, contudo,
Seu amado consertou,
Aos pés dela mui contrito,
Pôr-se bom ele afirmou,
Desfez-se de suas armas
No monturo as jogou.
Nossa! que momento belo
Essa Arte nos legou,
Com a pena banhada em tinta,
Franklin Távora consagrou
A redenção de um homem
Que só o amor alcançou.
Depois daquela partida,
Tristeza grande o tomou,
Saindo no mundo afora,
Só desespero encontrou.
Nunca mais matou ninguém,
Aquela alma ela salvou.
Dentro de um canavial,
A polícia o prendeu.
Indagou-lhe o capitão:
“Cabeleira é nome seu?”
“José Gomes, seu criado.”
Desta forma respondeu.
Levado para goiana,
Mesmo preso ali tocou
A viola enluarada,
Muita gente ali chorou.
A esposa do Capitão
Pelo bandido implorou.
Mas selaram seu destino
Para na forca morrer
Juntamente com seu pai,
Sem ninguém interceder,
A mãe, vendo-o pendurado,
Também veio a falecer.
Com esse livro o autor
Procura nos ensinar
Que o crime nunca compensa,
Mas também para cismar
O direito da justiça
De outro homem executar.
Mostra que as autoridades
Devem do broto cuidar,
Dar-lhe boa Educação
Pra bom caminho trilhar
E que a pena de morte
Devia se eliminar.
Séc’lo e meio se passou,
E essa má instituição
Ainda é vista por muitos
Como a grande solução
Para o fim de todo crime
IMENSA E MERA ILUSÃO!
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