quinta-feira, 30 de julho de 2020

CHUVA EM INDEPENDÊNCIA

 

Mais que em qualquer outro lugar,

No Ceará se agradece

Se o tempo é limpo, sem nuvem

E se o sol a terra aquece,

Se se treme à claridade

Ou se ao longe um som estremece.

 

E o povo cabra da peste,

Gente humilde reza a Deus,

Agradecendo por tudo:

Paz, luta, motivos seus,

Olha o céu e diz brigado,

Mas cuidai dos filhos teus.

 

De repente, o céu se muda

E vem grande maravilha!

Se a Asa branca retorna,

Se uni logo a família,

Dando-se graças a Deus,

Ficando de lado a bilha.

 

Caindo os primeiros pingos,

Desde o primeiro momento,

A vida é só alegria,

Não existe mais lamento,

Quando chove no sertão,

Desaparece o tormento.

 

No sertão de Independência,

Ao se ouvir a melodia

D’água batendo lá fora,

É bem grande a euforia,

Pois logo a vida se alegra

É bem grande a alegria.

 

Busca-se logo notícia,

Se choveu em todo canto,

Se não foi chuva isolada,

Preocupa-se logo, entanto,

Saber se foi chuva boa

Chuva de charco e encanto.

 

As notícias logo correm:

“Tem açude já sangrando,

As lavouras dando milho,

Gente, bicho se banhando,

É muita bênção de Deus

Que nós estamos ganhando.

 

“Jaburu já tem é água,

Em breve já vai sangrar;

Lá no açude do Eliardo,

Dá até pra se banhar;

O Falcão é um absurdo

É muita água a transbordar!

 

“A Pedra Lisa tá bonita,

As águas muita a correr,

A gente vai tirar self

E alguns já querem beber,

Mas é preciso cuidado

Pro de bom acontecer.

 

“O Açude do seu França,

Da dona Rita Também,

E aquele do seu Honório,

Daqui um pouco mais além,

Tá tudo cheim de peixe!

Que alegria a gente tem!”

 

O Açude Barra Velha

Falta ainda transbordar,

Mas é só questão de tempo

Pro gigante desaguar.

E quando isso acontecer,

Todo mundo vai cantar.

 

De Brasília até São Paulo,

Vai ter gente a despertar,

Amantes daquela terra

Passagem logo a comprar:

“Vou passar Semana Santa

No meu torrão, meu lugar”

 

Vem do Pará e dos Estêites,

Maranhão e Piauí,

Vem até do Juazeiro,

Vem gente do Icaraí

Gente de todo canto,

De canto longe daqui.

 

E é na Semana Santa

Que vai ser grande a biqueira,

Bebida de todo jeito,

Carne a assar na madeira,

Muita reza e alegria,

Festa, riso e brincadeira.

 

É sempre assim que acontece

No Nordeste brasileiro,

Mas puxo brasa à sardinha

Do torrão hospitaleiro,

Independência que amamos

Com querer bem verdadeiro.

(Alves Andrade, março de 2020)


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