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quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

POETA SOU? ORA, DIREIS!




Tenho tesão poético!
A poesia me estimula a viver
Faz relaxar, me excita
Mais, mais e mais
Sem necessidade
Com promiscuidade
Escrevo, escrevo
Mesmo de poema curto
Curto muito escrevê-lo
A tensão aumenta
Pego a pena, digo, a tecla
E vou me afogando
No meu próprio gozo
Na ejaculação de palavras
De versos, transbordantes
De orgasmos múltiplos
Soluçantes de amor, de dó
De tristeza, ou de alegria
Agonizantes,
Arrojados à tela
Sem pudor, sem vergonha
Mesmo sem vontade
Sem prazer ético
Sinto grande
Esse tesão poético!
(Alves Andrade, janeiro de 2017)

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

DIGO NÃO À SEGREGAÇÃO






Desculpem-me mas eu não sou cearense...
E sou, mas de cancela aberta, de porteira escancarada
Sem limite pra ir vir
Dizer bons dias, ó meu
Bonjour, bay
Buenos dias, camará!

Não me prendam em quatro sílabas
Nem me ensinem com quantas cartas se diz São Paulo
Não sou basco nem catalão
Não pertenço a EIRE,
Nem tenho petróleo,
Não sou de Ásia,
Nem de Gibraltar.

Canto Patativa,
Lado a lado com Maiakovsk,
Pinto o sete com Picasso,
Toco pife em Caruaru
Enquanto tango-me na Finlândia,
De braços com Rosa pelos campos Gerais
Tomo chimarrão à beira do Nego.

Assim me desnortinizo,
Assim me desbrasileirizo,
Assim me mundifico e me humanizo,
Assim me torro no sol africano
Assim me queimo no gelo siberiano,
Assim choro pelo sertão que cá dentro fere.

Não quero ser poeta de uma cor,
Nem de uma nação,
Não quero cantar Nordeste,
Nem soprar o vento leste,
Não só quero comer sarapatel,
Nem só quero beber uísque com guaraná.
  
Quero me mistificar,
Com todos os ritos orar e reza,
Candomblé pular, dançar e gargalhar,
Com ou sem bíblia, corão ou apócrifos,
Medir de alto a baixo o pico sem neblina
Para encontrar Deus... tão pertinho.

Quero ser e convido-os
Ser sem limite de terras geográficas, culturais, regionais
Quero entrar no mundo sem sexo, sem credo, sem cor,
Voltar ao ventre eterno
Quero ser só da humanidade que me pariu!
(Professor Alves, 31 de outubro de 2014)

segunda-feira, 19 de maio de 2014

DE SONHOS E DE CAIXAS


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Em cima do guarda-roupa há uma caixa
Nessa caixa um monte de cadernos
Nesses cadernos estão meus sonhos
Nesses sonhos meus desejos
Nesses desejos, a vida
Nessa vida meus desejos
Desejos que refletem meus sonhos
Sonhos que os pus em cadernos
Esses cadernos, pu-los dentro de uma caixa
Que  pus em cima do guarda-roupa

E hoje miro, os meus sonhos que não voaram
Que permanecem comigo,
Juntinhos de mim, num trânsito infinito
Entre a caixa em cima do guarda-roupa
E mim, e minha mente, e minhas ações

Alguns já envelheceram, se aposentaram
Outros nascem todos os dias
Brincam com os avós,
Os avós lhes dão conselhos:
“Não envelheçam, busquem voar,
Ir para longe, se realizar,
Pois só os sonhos que não correm
Que não voam, envelhecem, se aposentam...”
Mas os sonhos netos,
São crianças, são teimosos
Amam os sonhos avós
Não os querem abandonar

Assim a família cresce
Família de sonhos
Gerações que se sucedem
Que são felizes, por não fugirem
Ficam perto de mim,
Juntos de mim
Vou então transportando-os para cadernos
Para livros que escrevo
Que não publico
E assim vão para a caixa
A caixa em cima do guarda-roupa!
(Francisco Alves, maio de 2014)

segunda-feira, 1 de julho de 2013

VAMOS MUDAR DE ASSUNTO












vamos mudar de assunto

VAMOS MUDAR DE ASUNTO
PARA NÃO CONTER A EUFORIA
PRA NÃO LEMBRARMOS O OUTRO
PARA NÃO ESQUECERMOS DE NÓS

VAMOS FALAR DE FLORES
PARA NÃO DIZEREM
PARA NÃO CLAMAREM
PARA NÃO  SUFOCAREM

VAMOS FALAR DE AMORES
PARA NÃO MORRERMOS SEM
PARA NÃO SENTIRMOS DORES
PARA  NÃO VIVERMOS COM

VAMOS FALAR DA INFÂNCIA
PARA NÃO CRESCERMOS LOGO
PARA NÃO VIVERMOS MUITO
PARA NÃO SERMOS PEQUENOS

VAMOS FALAR DE CRISTO
PARA NÃO SERMOS LÓGICOS
PARA NÃO VIVERMOS SALVOS
PARA NÃO SENTIRMOS MEDO

VAMOS FALAR DE VERÃO
VAMOS FALAR DA CHUVA
VAMOS FALAR DE TI
VAMOS ESQUECER DE NÓS

VAMOS MUDAR DE ASSUNTO!


(Professor Alves, um dia após a vitória da seleção)

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

À MEIA-NOITE E O CÁLICE



À MEIA NOITE
Cheguei à meia-noite em ponto.
O caso deu-se como eu conto.
Cheio de lúgubre mistério…
Pois ela disse: “Ao cemitério
Vamos à meia-noite em ponto.”
E eu respondi-lhe: “Conto, conto
Contigo à meia-noite em ponto.”
Como eu sabia, ela outro amante
Tivera em tempo não distante.
Era já morto: eu uma esposa
Tinha também sob uma lousa.
E ela sabia desse amante.
Jaziam um do outro distante
O amante dela e a minha amante.
Bem não chegamos, os ciprestes
Agitaram as verdes vestes
Como arrojando-se de bruços…
Que ais de tristeza e que soluços
Gemeram tão verdes ciprestes.
Gemia o vento pelas vestes.
Verdes dos vírides ciprestes.
Paramos de repente à porta:
Eu era um morta, ela uma morta.
Tal foi a cena branca e nua
Que nós, clareados pela lua,
Olhamos bem ao pé da porta.
Eu era um morto, ela uma morta,
Sem movimento junto à porta.
Diante de nós, em frente, diante,
O amante dela e minha amante,
Espectros vis num mesmo quadro,
Vinham vagar, hirtos, pelo adro,
Diante de nós, em frente, diante…
O amante dela e a minha amante.
Riram, passando para diante.
(ALPHONSUS DE GUIMARÃES, O HOMEM) 
O CÁLICE
A chuva benéfica e abundante cai dos céus
Mitigando a sede da terra.
Assim também, o Amado faz chover sobre os homens
Os poderes e as bênçãos.
No entanto, choras e desesperas...
Por que não recolheste a tempo a tua parte?
– Nada vi – responderás...
É porque teus olhos estavam nevoados na atmosfera do sonho.
O Senhor passa todos os dias,
Distribuindo os dons celestiais,
Mas as ânforas do teu coração
vivem transbordando de substâncias estranhas.
Aqui, guardas o vinagre dos desenganos,
Acolá, o envenenado licor dos caprichos.
O Amado é incapaz de violentar a tua alma.
Seu carinho aguarda a confiança espontânea,
Seu coração freme de júbilo,
Na expectativa de entregar-te os tesouros eternos...
Mas, até agora,
Persegues a fantasia e alimentas curiosamente a ilusão.
Todavia, o Amado espera.
E dia virá,
Na estrada longa do destino,
Em que estenderás ao seu amor infinito
O cálice do coração lavado e vazio 

(ALPHONSUS DE GUIMARÃES, O ESPÍRITO)




NA ESCURIDÃO MISERÁVEL

FERNANDO SABINO  “Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me observava, enquanto punha o m...