sexta-feira, 14 de maio de 2010

SONETO DO AMOR TRAÍDO

SONETO DO AMOR TRAÍDO

Não há traição:
                        Quem ama não trai nunca.
Seu amor não 'tá só no que defronta
mas n'alma com que olha
                                     - e o que vê sempre


É o seu próprio ser 
                             multiplicado.
E não se trai a si. 
                           Quando
                                       (por curvas)
alguém larga um alguém por outro alguém,
isso já estava morto
                               e martelava
por hábito
                por vício
                             por capricho
ou por receio de encarar o novo
que entanto acresce
                                enquanto o já provado
apenas nos repisa.
                             Se é traição
quem trai faz um favor:
                                  derrete o nó.
E segue a natureza
                              porque aquilo
não era mais amor: 
                              - era insistência.             
  
 (Pedro Lira, in Desafio)                

sábado, 8 de maio de 2010

João Nogueira Jucá




JOÃO NOGUEIRA JUCÁ
MÁRTIR E HERÓI
(Por Professor  Alves)

Neste mundo há gente de toda estirpe,
Sendo cada qual com seu cada qual,
Pois há gente que só pensa em si mesma,
Muitos outros para fazer o mal,
Gente insípida, incolor, inodora,
‘Inda sobram muitos que vivem a esmo.

Também gente de todo credo e cor,
De vária orientação sexual,
Gente capaz de toda ruindade,
De carne e osso, gente irreal,
Gente, parece, que nem alma tem
E gente capaz de muita bondade.

Mas é destes de que quero falar.
Poderia citar de todo o mundo,
De Madre tereza, Gand até Chê,
Capaz de desprendimento profundo;
Cristo, Lennon e Rodolfo Teófilo,
De Chico Xavier a quem me lê.

Mas o que me trouxe a essas teclas
Com quem luto, tentando tirar versos
É um fato havido aqui no Ceará,
Que deixou meus olhos submersos,
Um ato de surpreendente heroísmo,
Fica difícil até de contar.

Permitam-me, então, os deuses que eu tenha
Muito engenho e força para narrar,
E que tenha talento e lucidez
Para levar até o fim o meu cantar,
Para que do ocorrido nada esqueça,
Que use palavras de assaz nitidez.

Transcorria o dia quatro de agosto
Daquele nono ano dos cinquenta
Era Fortaleza ainda pacata,
(Atualmente está que ninguém aguenta)
Famílias viviam em harmonia,
E os mestres orgulhavam-se da bata.

Um jovem transitava calmamente,
Seu nome, João Nogueira Jucá,
Dirigia-se então à academia,
Quando uma explosão se fez escutar,
Na Casa de Saúde César Cals
O fogo tudo estava a devorar.

Enquanto muita gente se assustava
O rapaz, de apenas dezessete anos,
Muniu-se de seu espírito heroico
Adentrou o recinto sem pensar em danos
Com imensurável espírito altruísta,
Enfrentou o fogo de modo estoico.

Salvava vidas que não conhecia,
Como que guiado por mãos divinas,
Bem antes da chegada dos bombeiros,
Tirava do perigo muitas sinas,
Salvando quem acabava de nascer,
Dava vida por muitos no braseiro.

Entanto em determinado momento,
Pelo seu denodo foi convocado,
Para retirar tubos inflamáveis.
Com seu ser plenamente devotado,
Resolveu logo aceitar a missão
De retirar troços indesejáveis.

Quando de pronto todos olharam,
Deu por fim outra enorme explosão.
O fluido vazou de um dos grandes tubos
Atingiu-o o que gerou grande lesão,
Mas o fogo, ao invés de pará-lo,
Era tal qual do destemor adubo.

Continuava o nosso insigne herói
Agindo para salvar pacientes,
Mesmo com todo o corpo consumido
Por enormes chamas incontinêntis,
Só depois de muita vida salvar,
foi, então, que o herói quedou-se abatido.

As pessoas estavam estáticas,
Diante de grandioso heroísmo:
O valete de todo coração,
Denodado e com imenso altruísmo,
Sem pensar, em nenhum, minuto em si,
Doava a própria vida pelo irmão.

E assim, durante toda uma semana,
Depois do fato ter-se consumado,
Ficou João no leito do hospital,
Pelas enfermeiras ali tratado,
Queimando, sereno, calmo, tranquilo,
Seu nome já notícia de jornal.

Quando seus pais a ele perguntavam
─ João, meu filho, isso muito lhe dói?
Ele, rindo, aos genitores, dizia:
─ O fogo por dentro ainda corrói,
Mas a alma está realizada,
De novo, fosse preciso, faria.

A seu pai aquilo nada estranhava,
Porque, em Messejana, certa vez,
Numa cacimba morrera um ancião.
João com grande tristeza na tez
Dissera dessa maneira a seu pai:
─ Eu daria a vida por esse irmão.

Portanto foi com grande desespero,
Assolada por enorme tristeza,
Que no dia onze daquele mês,
Quedou-se insana toda a Fortaleza,
À morte inglória daquele estudante,
Mas feliz, Perante grande altivez.

O jovem João Nogueira Jucá
Foi então transladado ao solo profundo,
Seu corpo deixado no cemitério,
Fechou os olhos enfim para o mundo,
(Turvaram-se muitos outros com lágrimas)
Abrindo-os por fim para o mistério.
(16/08/07)

domingo, 2 de maio de 2010

FELICIDADE CLANDESTINA


POR CLARICE LISPECTOR



 Ela era gorda. baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme; enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.

Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com sua letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”.
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me subme tia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia. Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía asReinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.

Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.

Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.

No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era meu modo estranho de andar pelas ruas do Recife. Dessa vez nem cai: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.

Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo.

E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes eu aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.

Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.

Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas, houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A se nhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!

E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.

Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.

Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só pra depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.

Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante.




[in O Primeiro Beijo e Outros contos, Ática, São paulo, 1990, p. 52]

sábado, 1 de maio de 2010

SONETO DE DEVOÇÃO




SONETO DE DEVOÇÃO
(Ode ao mais querido)

O amor imenso que brota no peito
Tem a cor da vida, é da carne a cor!
O medo é negro, tem a cor da dor.
Rubro e negro o matiz de um povo eleito!

Amor e medo paradoxo perfeito
Quando o que explode grená é uma flor!
Mas como pode sem nenhum pudor
Os opostos casarem desse jeito?

Porque existe no mundo uma devoção
Que une pessoas também diferentes,
Faz ricos e pobres um hino entoar!

Mais que um time, és uma religião
Somos Raça, Somos Amor, e Paixão,
Oh meu, ò seu, ó nosso: MENGÃO! 

           Professor  Alves, setembro de 2003

sábado, 24 de abril de 2010

POLIANA



Quando Poliana chegou à casa da tia, surpreendeu Nanci e ao leitor por não reclamar de nada. Se a cama tinha uma mola solta, ela disse: "Que bom, minha cama já vem com massageador!" A janela não tinha cortinas: "Com uma paisagem dessas, quem precisa de cortinas!" No guarda roupa não havia espelho: "Que legal, assim não vejo minhas sardas!" Nanci então começou a imaginar "que menina estranha aquela!"  Até que um dia Poliana contou para Nanci seu segredo:

O JOGO


"No dia seguinte, ao ver Poliana alegre como um passarinho, Nanci não aguentou de curiosidade:
-Você é sempre assim?
-Assim como?
-Tão contente.
-Desde que aprendi o jogo, nunca mais fiquei triste.
-De que jogo você está falando?
-Do jogo do contente.Como é esse jogo?
-É ver sempre o lado bom de tudo que nos acontece.
-Quem te ensinou?
-Foi meu pai. Tudo começou quando eu fui receber um presente de natal. Os padres distribuíam presentes para as crianças pobres. eu peguei o meu pacote e fui pra casa. eu queria muito ganhar uma boneca, eu sonhava com uma boneca. Mas quando abri a caixa, quase morri de tristeza. Em vez de uma boneca, eu tinha ganhado um par de muletas. 
- Um par de muletas? que horror!
- Foi isso mesmo que eu pensei, um horror. Comecei a chorar, desesperada. Então meu pai me acalmou e disse que em vez de ficar triste com as muletas, eu devia ficar feliz por não precisar usá-las. Ele estava certo. Que felicidade maior do que não precisar usar muletas? No mesmo instante eu parei de chorar e saí pulando pela casa. É assim que funciona o jogo do contente."  

É assim que devemos jogar com a vida, ver sempre o lado bom das coisas que nos acontecem e que não são o que esperamos, e não vermos o lado ruim das coisas boas, como algumas pessoas fazem, parece-nos, com o prazer da infelicidade. Bela lição essa de Poliana. Acho que essa menininha deveria formar uma escola para adulto, juntamente com o principezinho, aquele lá do planeta X não dei das quantas. 

                                     

sexta-feira, 23 de abril de 2010

RESPOSTA A UM E_MAIL

CHEGA DE COMPARAÇÕES

Muito interessante essa comparação, mas infelizmente nenhum dos dois fizeram algo de fato pelo país. Esperava mais do Sr. Luís Inácio, quando votei nele nas quatro (89 a 02) candidaturas anteriores. Infelizmente o que deveria ser feito e foi propagado durante anos e anos não aconteceu. Onde está a reforma agrária ampla, eterna bandeira do socialismo? Não houve, pelo contrário, até as invasões, que se proliferaram em governos anteriores, deram uma trégua ao seu mentor. O país conseguiu durante anos de luta sua independência petrolífera, mas nós estamos pagando 2.70 a gasolina. Por quê? A a Reforma na Educação tão esperada! foi relegada à último plano, e os governos de estado zombam da lei do piso, fazem o que querem com seus professores, mentindo e abrindo concursos esporádicos, até Cristovão Buarque saiu do governo. E o que dizer da saída de Marina Silva (Lula de Calças, assim como Luíza Helena), cotada no mundo como uma das cinco pessoas responsáveis pela "salvação do mundo", saiu do governo porque Lula e seus seguidores, famintos pelo poder, não podiam mexer com os sacanas que mandam e desmatam o Norte do país. E o que dizer da reforma da Previdência, e da legislação eleitoral? Que nunca foram feitas? E a luta contra a corrupção de Sarney, maranhense e senador pelo Amapá, e seus amiguinhos? 

Lula assim como todos os políticos, sem nenhuma exceção, é embusteiro, mentiroso, ardiloso. Tem um discurso para os índios, como o proferido agora dia 19/04/2010, e outro para os madeireiros e latifundiários, que escorraçam aos poucos os povos de suas terras; tem um discurso para os empregados e outro para os patrões; tem um discurso para Obama e outro para    Ahmadinejad; por isso é aplaudido sempre pelos dois lados, mas sabemos a quem ele quer enganar de fato, e não é quem está do lado forte da corda, e nós bem o sabemos. Ou seja, ele e o PT estão com o poder e não querem deixar o osso por nada deste mundo. Gostaria que alguém me mostrasse de fato mudanças no país havidas durante esses oito anos. Não me mostrem esses índices porque já os conhecemos.

Enquanto isso o povo continua na miséria, pois perderam até a vontade de trabalhar devido às esmolas de tucanos e petistas. De norte a sul, o país pede clemência pela escalada da violência. Aqui no Ceará, o Ronda do quarteirão, não consegue proteger nem seus soldados “cidadãos”, por isso os cidadãos de bem continuam sendo latrociniados (perdoem-me o neologismo). No rio, os morros têm dono, e o estado teme cada dia mais o poderio dos traficantes. A justiça continua soltando bandidos, ou por não poder mantê-los devido ao preço do feijão e da carne ou por incompetência mesmo, e eles voltam a matar inocentes, como o ocorrido em Goiás. Morros desabam devido às chuvas e inocentes morrem soterrados. Até em lixões se constroem casas (e o estado estava urbanizando o lixão!! Cadê o óleo de peroba?), até que a chuva vem e leva o lixo! E não me venham dizer que o governo não tem nada a ver com isso, que isso acontece em qualquer lugar do mundo, pois é conversa pra boi dormir. Tudo que acontece num país, com seus habitantes, é culpa do Estado, pois ele tem obrigação de proteger, educar, residenciar seu povo. Não precisa dar esmolas, assim como não pode tampouco manter maganos; precisa sim é dar condição para que seu povo se desenvolva, para suprir suas próprias necessidades.

Eu vou encerrar por aqui o que era uma breve resposta de e_mail, mas queria dizer ainda que não adianta votar em ninguém. Todos são iguais perante Deus e o Diabo. Urge que se faça uma revolução neste país pelo não-voto. Se ninguém comparecer às urnas, a revolução neste país finalmente se iniciará. Ah! antes que alguém fale ou pense em analfabeto político, convido-o/a a seguir este link:
                                 http://falvesandrade.blogspot.com/2008/07/no-precisamos-votar.html
                         Professor Alves, 23/04/2010

segunda-feira, 19 de abril de 2010

DIREITA X ESQUERDA

Recebi esse texto via e_mail e gostaria de repassar aos pouco leitores deste blog. Reafirmo que sua autoria não é minha. Gostaria, outrossim, de, se alguém fizer um comentário, que me faça o favor de dizer quem é de esquerda neste nosso país.


Há ainda Direita e Esquerda?

Diante de alguns argumentos que ainda subsistem sobre o suposto fim da divisão entre direita e esquerda, aqui vão algumas diferenças. Acrescentem outras, se acharem que a diferença ainda faz sentido.



Direita: A desigualdade sempre existiu e sempre existirá. Ela é produto da maior capacidade e disposição de uns e da menor capacidade e menor disposição de outros. Como se diz nos EUA, “não há pobres, há fracassados”.

Esquerda: A desigualdade é um produto social de economias – como a de mercado – em que as condições de competição são absolutamente desiguais. 

Direita: É preferível a injustiça, do que a desordem.

Esquerda: A luta contra as injustiças é a luta mais importante, nem que sejas preciso construir uma ordem diferente da atual.


Direita: É melhor ser aliado secundário dos ricos do mundo, do que ser aliado dos pobres.

Esquerda: Temos um destino comum com os países do Sul do mundo, vitimas do colonialismo e do imperialismo, temos que lutar com eles por uma ordem mundial distinta.


Direita: O Brasil não deve ser mais do que sempre foi. 

Esquerda: O Brasil pode ser um país com presença no Sul do mundo e um agente de paz em conflitos mundiais em outras regiões do mundo.


Direita. O Estado deve ser mínimo. Os bancos públicos devem ser privatizados, assim como as outras empresas estatais.


Esquerda: O Estado tem responsabilidades essenciais, na indução do crescimento econômico, nas políticas de direitos sociais, em investimentos estratégicos como infra-estrutura, estradas, habitação, saneamento básico, entre outros. Os bancos públicos têm um papel essencial nesses projetos.


Direita: O crescimento econômico é incompatível com controle da inflação. A economia não pode crescer mais do que 3% a ano, para não se correr o risco de inflação.


Direita: Os gastos com pobres não têm retorno, são inúteis socialmente, ineficientes economicamente.


Esquerda: Os gastos com políticos sociais dirigidas aos mais pobres afirmam direitos essenciais de cidadania para todos.

Direita: O Bolsa Família e outras políticas desse tipo são “assistencialismo”, que acostumam as pessoas a depender do Estado, a não ser auto suficientes.


Esquerda: O Bolsa Família e outras políticas desse tipo são essenciais, para construir uma sociedade de integração de todos aos direitos essenciais.


Direita: A reforma tributária deve ser feita para desonerar aos setores empresariais e facilitar a produção e a exportação. 


Esquerda: A reforma tributária deve obedecer o principio segundo o qual “quem tem mais, paga mais”, para redistribuir renda, com o Estado atuando mediante políticas sociais para diminuir as desigualdades produzidas pelo mercado.


Direita: Quanto menos impostos as pessoas pagarem, melhor. O Estado expropria recursos dos indivíduos e das empresas, que estariam melhor nas mãos destes. O Estado sustenta a burocratas ineficientes com esses recursos.


Esquerda: A tributação serva para afirmar direitos fundamentais das pessoas – como educação e saúde publica, habitação popular, saneamento básico, infra-estrutura, direitos culturais, transporte publico, estradas, etc. A grande maioria dos servidores públicos são professores, pessoal médico e outros, que atendem diretamente às pessoas que necessitam dos serviços públicos.


Direita: A liberdade de imprensa é essencial, ela consiste no direito dos órgãos de imprensa de publicar informações e opiniões, conforme seu livre arbítrio. Qualquer controle viola uma liberdade essencial da democracia.


Esquerda: A imprensa deve servir para formar democraticamente a opinao pública, em que todos tenham direitos iguais de expressar seus pontos de vista. Uma imprensa fundada em empresas privadas, financiadas pela publicidade das grandes empresas privadas, atende aos interesses delas, ainda mais se são empresas baseadas na propriedade de algumas famílias.


Direita: A Lei Pelé trouxe profissionalismo ao futebol e libertou os jogadores do poder dos clubes.


Esquerda: A Lei Pelé mercantilizou definitivamente o futebol, que agora está nas mãos dos grandes empresários privados, enquanto os clubes, que podem formar jogadores, que tem suas diretorias eleitas pelos sócios, estão quebrados financeiramente. A Lei Pelé representa o neoliberalismo no esporte.


Direita: O capitalismo é o sistema mais avançado que a humanidade construiu, todos os outros são retrocessos, estamos destinados a viver no capitalismo.


Esquerda: O capitalismo, como todo tipo de sociedade, é um sistema histórico, que teve começo e pode ter fim, como todos os outros. Está baseado na apropriação do trabalho alheio, promove o enriquecimento de uns às custas dos outros, tende à concentração de riqueza por um lado, à exclusão social por outro, e deve ser substituído por um tipo de sociedade que atenda às necessidades de todos.


Direita: Os blogs são irresponsáveis, a internet deve ser controlada, para garantir o monopólio da empresas de mídia já existentes. As chamadas rádios comunitárias são rádios piratas, que ferem as leis vigentes.


Esquerda: A democracia requer que se incentivo aos mais diferentes tipos de espaço de expressão da diversidade cultural e de opinião de todos, rompendo com os monopólios privados, que impedem a democratização da sociedade.