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Trata-se de textos escritos a partir de experiências com pessoas, jovens e/ou adultas, para levar à reflexão sobre alguns aspectos da vida, como política, literatura, História, Felicidade. DEIXE UM COMENTÁRIO
sexta-feira, 16 de julho de 2010
ANDANDO PELOS SERTÕES
terça-feira, 6 de julho de 2010
BRASIL X HOLANDA, CRÔNICA DO TEMPO
DE 1974 A 2010, UMA CRÔNICA DO TEMPO
Quando o Brasil entrou em campo, nessa sexta-feira, 02 de julho, para enfrentar a seleção de Holanda, eu não imaginava que aquele 03 de julho de 1974 estava para se repetir. Não que eu não esperasse uma derrota, visto que a seleção de Dunga até lembrava aquela de Zagallo. A música de Luiz Américo, Camisa 10:
“Desculpe, seu Zagallo
Mexe nesse time que tá muito fraco
levaram uma flecha e esqueceram o arco
botaram muito fogo e soltaram um furacão
que não saiu do chão
(…)
Cuidado, seu Zagallo,
O garoto do parque tá muito nervoso
e esse meio campo fica perigoso
parece que desliza nesse vai-não-vai
quando não cai...”
representou tão bem aquela como essa seleção.
Mas o que mais despertou a atenção nessa sexta-feira, além do resultado e da desclassificação foram algumas coincidências. Naquele ano o Brasil também começou bem, apesar de ter levado um pequeno sufoco da laranja, com um chute de Kruyff e uma defesa sensacional de Leão. Mas logo o Brasil tomou conta das ações tomou a iniciativa. Numa penetração de Claudiomiro, que, dando um banho de cuia no zagueiro holandês, quase entra com bola e tudo. Se o juiz quisesse marcar pênalti, não haveria quem reclamasse. E o jogo seguiu nessa tocada até o final do primeiro tempo. Mas é preciso salientar que o a equipe brasileira se punha muito nervosa, com Rivelino fechando para cima dos adversários por “dá-cá-aquela-palha”. O nervosismo tornou-se mais claro quando Jairzinho de frente para o gol e livre de marcação chutou para fora à esquerda do arqueiro holandês. Sem dar acréscimo, o árbitro finalizou o primeiro tempo. Aí veio o destempero. Aos 5 minutos Kruyff abriu o marcador, sexta agora foi aos 8. A partir daí o Brasil batia cabeça e a Holanda batia bola, até que aos 18 minutos, nessa sexta foi aos 22, numa jogada envolvente, a laranja mecânica fechou o placar, com o mesmo atacante. Para aumentar a coincidência, Luiz\ Pereira foi expulso aos 38. Felipe Melo também foi expulso neste último jogo.
Coincidências de jogo, coincidências da vida. Em 1974 eu tinha nove anos, a mesma idade que meu filho tem hoje. Eu estava aprendendo junto com meu pai a admirar futebol, a escolher meus craques, a repudiar outros nem tanto. Estava aprendendo a torcer pela nossa seleção. Ao final do jogo vi, com lágrimas no olhos, meu pai levantar da ponta do sofá, de onde de sempre assistia aos jogos, dirigir-se à televisão em preto e branco, desligá-la e dizer: “Eh! Agora só em 78!” e as imagens da derrota se fecharam ante meus olhos, mas não foram desligadas da minha cabeça. O tempo passou, copas passaram, vieram vitórias e derrotas, e... de repente olho para meu filho, e ele está com os olhos cheios d'água, entre soluços entrecortados, e me vem à tona toda aquele passado, exatamente 35 anos, 363 dias e 23 horas depois. Agora eu sou o pai, ele o filho, e o avô não mais está entre nós. Que cruel e curioso é o tempo! Não, não levantei da ponta do sofá, de onde assisti aos jogos desta copa, não desliguei a televisão, apenas passei a mão em seus cabelos, abracei-me a ele e chorei por um monte de coisas, passadas e presentes, mas principalmente pela certeza de que a história se repetirá, e eu não estarei aqui para contar.
(Professor Alves, 06/07/2010)
segunda-feira, 5 de julho de 2010
MEU AMIGO, O PRIMO
Chamávamos a ele “Primo”, um apelido que ganhou devido às exibições do quadro “PRIMO RICO E PRIMO POBRE”, em que Paulo Gracindo, juntamente com outro grande nome da televisão, cujo nome me foge à memória, representavam esses papéis. O certo é que Primo era uma figura inusitada. Nunca conheci pessoa mais feliz. Tudo era motivo para rir, estava sempre tirando brincadeira com um e com outro. Isso me faz agora refletir que a Felicidade se encontra nas coisas simples. Disso todo mundo sabe, mas não me refuto a afirmar isso, mesmo sendo verdade e conhecimento absolutos. Porque Primo era simples, humilde, ingênuo e Feliz. Às vezes nos arvoramos, achando que somos um poço de conhecimento, ou um livro de sabedoria, para depois nos entristecermos, reconhecendo que não somos de nada, e que os verdadeiros sábios são pessoas como o Primo.
Primo não morreu ainda. Acho! Pois pessoas como ele vivem muitos anos, principalmente nas memórias. Se falo no passado é que ele se foi das minhas relações, nunca mais o vi. Gostaria de dizer “nunca mais o vimos”, mas também não vejo aqueles outros que comigo admiravam o Primo e se compraziam com sua alegria. O tempo é cruel, se atreve à colunas de mármores quanto mais a amizades de palha, para parafrasear Vieira. E passou, mas não deixou de ficar (agora é Drumond). E deixou com ele as lembranças livres e sorridentes de um tempo cujo valor a gente só dá quando já ficou bem para trás.
Deixemos as reflexões e lembremos de um fato, cuja lembrança me fez sentar à frente desta máquina para tentar relatá-lo. Estávamos na flor da idade, conforme reportado, treinávamos a arte de Funakoshi, jogávamos futebol e paquerávamos garotas. Primo nunca teve muita sorte com as mulheres, talvez seu olhar brincalhão e sua ingenuidade. Ou talvez sua fixação por mulheres do baixo meretrício, fosse o motivo de sua inacessibilidade aos lábios das moçoilas da época. Era uma sexta-feira à noite, saíamos do cursinho quando Primo me fez o convite para visitarmos uma dessas casas. Tentei desviar da ideia reportando minha usual liseira. Ao que meu amigo cortou dizendo que era um passeio rápido e que me pagaria uma cerveja e uma carteira de cigarro. Primo não fumava e nem bebia. Alegrei-me com a ideia e o acompanhei. Era um recinto para mim à época estranho. Homens fortes vestidos de paletó estavam por todos os lados, o ambiente tresandava a álcool e nicotina, cheiro nada estranho a mim. Além é claro do perfume barato e das toalhas vermelhas que davam um tom sensual de preço baixo ao ambiente. Moças e outras nem tanto circulavam com sorrisos de algodão-doce e olheiras cavadas, que lhes revelavam o sofrimento de diamante. Em uma clareira feita por um conjunto de mesas, um bêbado tentava retirar dos bolsos o que não mais havia, e olhava para o garçom com um sorriso de quem diz, “mas estava nesse bolso!” e tornava a buscar no outro. Enquanto enchia primeiro o copo de cerveja e acendia o primeiro cigarro, vi o Primo chamar uma garota, cujo vestido decotado deixava transparecer apartadas as carne de seus seios. Era um vestidinho azul, dois palmos acima do joelho e que atrás ficava mais curto devido ao tamanquinho alto que lhe arrebitava o bumbum, tornando-o apetitoso. Logo me vi sozinho, para voltar a admirar o ambiente e suas figuras pitorescas. Não deu meia hora, meu companheiro estava de volta. E foi logo dizendo: “Primo, hoje eu estou demais!” (Acho que esqueci de dizer que o Primo chamava todos mundo de “primo”) E foi contando suas peripécias à Ponciano de Azeredo, aquela personagem maravilhosa do romance O Coronel e o Lobisomem.
Já de cerveja nova na mesa e acendendo mais um cigarro, e meu amigo de refrigerante trocado, vi que ele procurava outra garota. Até que seus olhos deram com uma garota dentro de um vestidinho bege, de gola alta e sandália baixa. Rápido, perguntou o que eu achava dela, mas antes que lhe respondesse, chamou-a para perto de si. Ela me olhou com olhos cúmplices, pediu-me um cigarro e colocou a mão sobre o ombro de meu amigo, que, sem demora, levou-a para o quarto. Ao retornar, me indagou novamente o que eu achara da moça, ao que lhe respondi:
¬ Mas Primo, essa moça era a mesma com que você saíra há pouco tempo, ela apenas trocou de roupa!
Professor Alves, 05/07/2010
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