quinta-feira, 5 de maio de 2011

SONETO DE SEPARAÇÃO


De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinícius de Moraes

AMOR E PERSISTÊNCIA



      Chamava-se Antônio Raimundo e era feio. Não, eu não sou daqueles que acham homens feios porque são homens. Para mim o belo é belo e pronto. Se vejo um homem bonito, admiro-lhe as feições e pronto. Não vejo necessidade de fazer propaganda dos outros até porque todos os homens em potencial são meus concorrentes. E não fazemos comercial da concorrência. Se digo que Antônio Raimundo era feio, é porque era feio e acabou-se. Imagine um indivíduo muito branco, baixinho, com o rosto marcado pelas espinhas da adolescência, um nariz meio esparramado, tendo ali escanchados uns óculos, que teimavam em escorregar a todo instante, levantando-os com os músculos nasais, além doa cabelos encaracolados sempre presos à cabeça. Diga-me se um ser com essas características pode ser chamado de bonito? Apregoa-se de forma errada os versos vinicianos: “As feias que me perdoem, mas a beleza é fundamental”. Digo de forma errada porque Vinícius diz: “As MUITO feias que me perdoem, mas a beleza é fundamental”. Faço essa correção para lembrar que não existe à priori feiura. A não ser quando ela existe com exagero. E, volto a afirmar, Antônio Raimundo era feio.
       Ela, por sua vez, chamava-se Rosa, a quem todos diziam com os olhos doces: Rosinha. Era a mais linda entre as funcionárias daquele estabelecimento, onde trabalhava antônio Raimundo. Loirinha, com cabelinhos de anjo, que lhe caíam pelos ombros, brilhando feito ouro. O semblante dava prazer, pois estava sempre prestes a desabar num sorriso, que lhe deixavam os lábios, nem finos nem grossos, mais meigos ainda, com suas fileiras de dentes ebúrneos, simétricas. Quando passava, todos se inebriavam com o olor que todos seu ser emanava, todos tornavam-se maias simpáticos pela candura de seus gestos e seus passos de giz. Até a concorrência abria espaço para que passasse. Todos eram, claro, apaixonados por ela. Os homens casados e os já de idade, também. Eram gratos pela natureza ter-lhes dado o prazer de conhecer tal criatura. Os jovens queriam namorá-la, noivá-la e no futuro desposá-la. Cada um deles, com seus galanteios, procuravam uma forma de conquistá-la, com frases prontas e muitas vezes até exageradas. Enviando-lhes bilhetinhos, pois há época não havia celular, não haviam ainda inventado os torpedos modernos. Computador ainda era bicho de assombro. Quando se falavam neles, para o futuro próximo, era com temor de que lhes roubassem o emprego. A todas as cantadas, Rosinha desdenhava com um lindo sorriso, que deixava o paquerador cheio de esperança.
Antônio Raimundo também era enamorado da bela moça e com ela decidira casar-se. Era sua primeira paixão. Diferente dos colegas, seu amor era realidade. Não queria apenas namorar uma moça bonita para exibir aos colegas. Apesar de trazer esses sentimentos meio encubados, logo a plateia se deliciou em sorrisos miúdos: “O cara não se enxerga!” A própria pequena, quando se deu conta que os sorrisos de Antônio Raimundo tinham intenções superiores, fez essa mesma reflexão: “Será que esse rapaz não tem espelho em casa!?” Os outros desistiram, pois seus afetos eram meros fogos de palha. Antônio Raimundo não. Seu amor era pura convicção.
     Antônio Raimundo era um dos arquivistas, profissão substituída hoje por clic no computador; e Rosa, uma das atendentes do crediário da empresa onde trabalhávamos. Quando chegava um cliente, as meninas colocavam seu nome junto ao dele num formulário e o colocavam dentro de uma caixa que tinha comunicação com a sala dos arquivos. Um de nós pegava o formulário e buscava entre as trinta e cinco mil fichas a do cliente que estava sendo atendido. Antônio Raimundo estava sempre junto à caixa, mas só buscava aquelas com o nome de Rosa. Assim os clientes da moça eram os primeiros a serem atendidos, e ela ia sobressaindo as demais. Esse era apenas um dos modus operandi do nosso amigo. Claro que Rosa sabia dessas atitudes do colega, porque apesar de sua discrição Antônio sempre deixava escapar que estava privilegiando os clientes dela. Antônio Raimundo era benquisto por todos, e, mesmo sabendo dessas suas artimanhas, todos fazíamos vista grossa. Muito embora os risinhos às escondidas permanecessem. Outra forma de galanteio que ele utilizava era dar um jeitinho de sempre estar onde ela estivesse. Na lanchonete, no restaurante na hora do almoço, na biblioteca do Sesc. Outrossim, antônio Raimundo nunca deixava de trazer para ela uma flor, um bombom tipo Sonho de Valsa, um verso escrito a lápis num papel qualquer. Sem ser intruso, aos poucos ia fazendo parte do círculo mais próximo de Rosa. Deixara de ser apenas um colega para ser promovido à condição de melhor amigo. No dia de seu aniversário, Nosso Don Juan convidou a todos para participar de um almoço na sua casa. Para espanto geral, havia uma faixa na entrada homenageando a beleza de Rosinha, sem mencionar sentimento. Quando, certa vez, ela lhe confidenciou que não tinha ainda concluído o Ensino Médio, Segundo Grau à época, ele se encarregou de convencê-la a prestar exame de suplência geral da Secretaria de Educação (supletivo), para obter o título de concludente desse nível. Não só o fez, mas também, nos dias das provas, lá estava ao seu lado, dando-lhe força e resumindo os conteúdos do dia.
         Essa foi a última vez em que os vi. Saí da empresa, fui trabalhar em outra cidade. Três anos depois, retornei a Fortaleza. Passeando um dia na Ponte dos Ingleses, vejo um casal muito juntinho empurrando um carrinho de bebê. Era Antônio Raimundo e Rosinha. Haviam-se casado um ano antes. Cumprimentei-os e me disseram sorridentes que ficaram tristes quando me enviaram o convite e souberam que eu estava viajando. Era uma cena linda, os três formavam a célula máter da sociedade. E era a prova de que o amor é uma caixinha de surpresa e que se juntarmos esse sentimento à persistência conseguiremos mais do que apenas viver.

P.S. Há mais ou menos cinco anos, encontrei Antônio Raimundo no Shopping, estava só. Quando lhe indaguei sobre a família, respondeu sorrindo que estava grande: ele, Rosa mais uma escada de quatro filhos.
(Professor Alves, 05/05/2011)

terça-feira, 3 de maio de 2011

A morte de Osama Bin Laden e o Jornal Nacional



Começo me apresentando: Sou brasileiro, cidadão, bancário e psicólogo da cidade de Fortaleza-CE. Não tenho costume de escrever sobre política, nem fatos públicos e pra ser honesto sobre quase coisa nenhuma mas hoje não pude me conter. Espero que possam ler até o fim... 
Dia 02/05/2011, acabo de chegar em casa depois de um dia de trabalho bastante conturbado, como são os primeiros dias úteis, especialmente nas segundas-feiras no Banco do Brasil. Fiquei sabendo vagamente da morte de Osama Bin Laden a partir de rápidos comentários de clientes. Resolvi assistir o jornal nacional para ver as notícias e fiquei realmente chocado com a forma que o assunto foi tratado. A morte era anunciada com um sorriso no rosto por simplesmente todos os repórteres, lembrava muito as coberturas festivas, como os carnavais, as vitórias esportistas, as festas de rua. As palavras “celebravam” “festejavam” “comemoravam” eram constantemente citadas e fiquei me perguntando se era realmente de uma morte que aquelas pessoas estavam falando. Em nenhum momento ninguém falava sobre como era um sintoma doentio a comemoração em praça pública de um assassinato. Ou de até que ponto aquele comportamento era ético?   
Não estou aqui de maneira nenhuma defendendo as ações de Osama, muito pelo contrário, repudio seus atos, suas mortes. Mas a comemoração em praça pública de uma morte é pelo menos de se estranhar, de se questionar, e em nenhum momento houve um mínimo sinal do contraditório, do outro ponto de vista. Assistindo só conseguia me lembrar das antigas cerimônias de execução da Idade Média, ou mesmo as provocadas pelos regimes radicais como o Talibã, tão criticada pelo mundo “civilizado” ocidental, no qual o povo festejava os assassinatos, daquele que por algum motivo  eles consideravam inferiores a si. E o que mais me impressionou é que os argumentos americanos não eram ditos como perspectivas e sim como a verdade nua e crua. Que isso acontecesse na mídia Americana não era de se estranhar, mas aqui no Brasil me pareceu um contra-senso.  As questões éticas da comemoração de uma morte em nenhum momento foram questionadas. Era como se fosse o óbvio, natural, a comemoração daquelas mortes. 
Uma avó americana foi mostrada com sua netinha tirando fotos dizendo que era uma lembrança para aquela criança da comemoração daquele dia. A netinha devia ter pouco mais de cinco anos. E o jornal seguia mostrando tudo direitinho, a grande festa, aquele momento tão bonito de assassinato. A sede de sangue era clara. As pessoas se abraçavam, comemoravam, as imagens chegavam a ser bonitas, parecia um réveillon, ou a comemoração de um título esportivo, mas não era, era a alegria pela morte, pelo sangue, pela vingança. Espero profundamente que daqui a 100 anos isso seja mostrada como sinal de primitivismo da humanidade do nosso tempo.
As imagens do 11 de setembro, que eram repetidas o tempo todo, parecia uma maneira de justificar o assassinato de Osama e de mais quatro pessoas, sem nenhum julgamento, e pior, sem nenhum questionamento ético.  
Não agüento mais ver o discurso da paz servir de propósito pra guerra. A história é contada simplesmente por uma perspectiva, a americana, oferecida ao publico como uma verdade, que dispensa qualquer criticidade. O fato da operação ter sido feita exclusivamente por Americanos não é questionada. A troca de tiro não resultou em nenhum ferido do lado Ianque  e cinco mortes do lado oposto leva a questionar até que ponto se tratou de uma troca de tiros ou de um simples execução sumária. E se foi uma execução sumária como parece ter sido, o discurso de que Obama usou sua esposa como escudo mais parece uma última provocação. “O morto era covarde”. Que Osama era corvarde isso é bem sabido, porém também  covarde foi o ato de executar alguém sem julgamento. Não é claro e límpido que sangue só pede mais sangue. Que alguém vai querer vingar essa morte matando e que as mortes que virão pedirão mais morte ainda? 
Nenhum detalhe sobre essa execução, a meu ver, pode ser levada a sério, pois não havia testemunhas, apenas os soldados americanos envolvidos. Nenhuma autoridade Paquistanesa envolvida na operação, e isso sequer foi questionado. Osama foi assassinado NO PAQUISTÃO. O exercito americano simplesmente entra, executa, destrói o cenário e se livra do corpo, e nada, absolutamente nada é questionado. Como se realmente o mundo fosse deles, como parecem verdadeiramente acreditar.As autoridades do Paquistão sequer tomam conhecimento do caso. E assim parece se manter toda a imprensa local, pelo mesmo caminho.
Jogaram o corpo no mar. Pronto. Como se fosse a coisa mais natural do mundo. Fizeram um exame de DNA, a partir de uma suposta irmã de Osama, de um cara que diga-se de passagem tem 51 irmãos. Qual a seriedade disso? Ninguém questiona. É como se fosse a coisa mais natural do mundo. Não é claro e límpido que existe alguma coisa estranha aí? 
Para piorar, ainda vem vários  líderes mundiais a público dar os parabéns ao presidente americado. A justificativa que Obama não quis bombardear a casa a qual alegaram que se encontrava Osama por não querer ferir civis inocentes foi dita como a coisa mais normal do mundo sem mencionar o banho de sangue ao qual foi submetido o Afeganistão, como a morte de milhares de civis inocentes com a justificativa de encontrar Osama Bin Laden. É como se a guerra nunca tivesse acontecido. 
 Em nenhum momento um comentário crítico sobre as reais circunstancias políticas envolvidas no caso. Nada sobre a guerra do Iraque baseada exclusivamente na alegativa americana de que estes estavam produzindo armas químicas e nucleares, coisa que o próprio relatório americano desmentiu no final, quando admitiram que se enganaram e que não havia armas químicas nenhuma. Saldo da guerra: Mais de 100 mil mortos. Em nenhum momento o petróleo foi mencionado, é como se esse produto não tivesse nenhuma relação com as milhares de mortes. Em nenhum momento foi dito do financiamento americano ao grupo de Osama Bin Laden, antes destes se voltarem contra seus interesses puramente econômicos.
Espero que não fique aqui parecendo que estou defendendo os métodos ou atitudes terroristas, mas apenas dizendo que uma guerra como essa não tem mocinhos. O ódio só gera ódio dos dois lados. E isso precisa ser dito. É preciso dizer: BASTA, CHEGA DE SANGUE” Quero poder dizer aos meus filhos que nós vamos celebrar a paz e o amor e não a morte e a vingança. Milhares de pessoas morreram dos dois lados, tudo isso é lamentável, e a frase que vem a minha mente quando penso nisso todo é a da composição que diz que “Não importam os motivos da guerra a paz ainda é mais importante que eles”. 
Obrigado pra quem leu meu desabafo até o fim. Se acharem válido podem passar pra frente.
Um abraço a todos,
Daniel Welton

quinta-feira, 28 de abril de 2011

DESCOMEÇAR


(Para mim, no meu aniversário de quarenta e um anos)
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A vida devia ser assim,
A gente nascer e ser, por tempo,
Bem, mas bem pequeninim
E ir crescendo pouco a pouco
Sem pressa ou medo de ficar louco.

Depois a gente crescia mais
E após aproveitar a infância
A gente ficava rapaz
E por um tempo e tanto
No namoro encontrava acalanto.

Nesse período a gente sonhava
Olhava o sol, a lua, as estrelas
E de repente até chorava
Pra de novo encontrar a paz
E ser feliz, bem feliz demais.

Claro que nessa primeira vez
Sem estar bem passado no alho
Pagávamos mico todo mês
Rilhávamos de raiva os dentes
E seguíamos o caminho novamente.

Mas sem nunca precisar se esforçar,
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Sem nenhum esforço mesmo,
Sem ser preciso mesmo estudar,
Arranjava um trabalho a gente
E casava-se àquela que tem na mente.

E vinham os filhos. Que alegria
Vê-los correr, saltar, cair:
Eles, nós e a grande euforia.
De repente o sarampo, catapora
Mas logo tudo ia embora.

Até chegar aos quarenta
Que envelhecer muito
Ninguém mesmo aguenta
Aí a gente de novo voltava,
De ré a vida descomeçava.

E assim ficávamos jovem de novo
Ano após ano, sem pressa
Vendo os cabelos pretos como corvo.
Aos trinta que felicidade
Foi aqui que ganhei à vontade.

E a cada ano que passava
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Toda a oportunidade
De novo por nós passava
E não perdíamos nenhuma,
Colhê-las-íamos tranquilos uma a uma.

Os nossos netos nascendo,
Os filhos mais velhos que nós,
E nós mais rejuvenescendo
Mas com toda experiência
Adquirida em nossa existência.

Das moças, aquele sorriso
Era num átimo percebido,
Namorar era um paraíso,
Sem deslizes nem bobeiras
parecendo adulto, sem asneiras.
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Sendo de novo menino,
Brincar de arraia, no meio do sol
Quente, quente e a pino
No pião ninguém batia.
Pra casa? Só no final do dia.

E assim íamos remoçando
Até tomarmos mingau,
Pra perto da mãe de novo chegando
E tornar para o ventre finalmente
De lá pro céu, alegre, contente.
(09/10/2006)

QUASE

terça-feira, 26 de abril de 2011

A LIÇÃO FINAL

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        Quando comecei a ler, digo, ouvir A Lição Final, de Randy Pausch, na belíssima voz de Paulo Beth, achei que estava apenas diante de uma bela história escrita com o fim de nos estimular à prática de boas ações e belas atitudes. Principalmente por se tratar de uma narrativa em primeira pessoa, em que seu narrador-personagem realiza quase todos os seus sonhos de infância. Mas à medida em que ia tomando conhecimento da vida de Randy, mais fictícia me parecia. Apesar dessa certeza, fui pesquisar na internet. Para minha surpresa, descobri que Randy Pausch faleceu em 2008, de um câncer terminal, aos 47 anos e 08 meses.
      Trata-se de uma história fabulosa, de um paciente terminal que, ao invés de se lamentar porque estava às portas da morte, decide viver. E viver para ele não era apenas respirar. Para ele viver era ter vida e vida com abundância. Ao receber o diagnóstico final, ele resolve comprar um conversível, faz vasectomia, muda-se para Virgínia, onde moram os pais de sua esposa,  e juntamente com sua mulher, Jay, e seus filhos vivem intensamente cada momento que lhe resta. Mas Randy não era um homem comum, era um vencedor, teimoso, por isso resolveu também ministrar a última palestra na Carnegie Mellon University, onde trabalhara até então. Sua palestra versou exatamente a respeito do enfrentamento de seus últimos momentos, além de alguns conselhos de como tornar-se um ser realizado. Baseado nessa palestra, que se tornou grande sucesso e pode ser facilmente encontrada no youtube, ele escreveu o livro ao qual me referi, que se tornou também grande sucesso.
         Não é minha intenção aqui resumir ou fazer a crítica ao trabalho do professor da Carnegie Mellon. Gostaria de algumas reflexões sobre a morte, que segundo Raul Seixas é “o segredo desta vida”. Palavras vãs, reconheço. Mas é certo que as pessoas fazem grande celeuma diante do fato mais certo de nossa existência. Alguns que já leram ou ouviram o livro de Randy podem afirmar que é muito fácil morrer aos 47 anos para quem conseguiu realizar todos os sonhos de infância, pois o cara teve uma família muito bem estruturada, frequentou boas escolas, visitou a Disney quando criança e, quando professor, trabalhou e teve grande trânsito nesse espaço, além da fama que conquistou. Enfim teve tudo aquilo que vislumbramos só a distância. Mas é bom salientar que teve tudo, porque sonhou e correu atrás. Mas não é que seja fácil, é porque é necessário. As pessoas precisam encarar a morte como algo inexorável. Lembro-me de que em uma entrevista na Rádio FM 104.9, de Independência, meu sogro, Seu Gonçalino Saboia, quando abordado sobre esse tema, disse que para ele a morte só acontecia aos outros, nunca na sua família. E na mesma reflexão salientou que ela, depois que apareceu, nunca mais se foi. Referia-se aos falecimentos de seu pai, sua mãe e irmãs. Infelizmente, ele também não está mais entre nós. Mas esta é a sina de todos que estamos cá respirando. Raquel de Queiroz ironicamente nos mostra na crônica Vida que a “morte é o processo positivo”. Enquanto pensamos que estamos vivendo estamos é morrendo, “sim desde quele primeiro instante”.

http://2.bp.blogspot.com/_Cjj_a9PEpiA/RxywwTaWf7I/AA
         Faz-se mister que as pessoas aprendam a ser felizes mesmos na iminência da morte. Concordo com Guimarães Rosa quando o mesmo afirma que “viver é tão bom que dá até pena morrer”. Mas se temos que partir que o façamos de forma digna, como o fez Randy Pausch. É verdade que ele passou por momentos de grande angústia, que chorou junto à esposa, teve noites de insônia, além de se lastimar sobre como seria não ver seus filhos crescerem. Meu pai faleceu aos 85 anos. Mesmo lúcido, firme, não tinha gosto pela vida, mas não queria a morte. Certo dia, quando cheguei à sua casa e o convidei para almoçar fora, ver o mar, olhou-me com um desdém que me fez ter pena. Logo ele que quando novo foi rei das noites, amante da lua e das mulheres. Todo aquele encanto se foi antes de descer ao túmulo.
        Queria muito, num futuro bem remoto (rsrs), ter a consciência que tenho hoje, para saber os poucos meses, anos, que me restam. Iria viajar, conhecer pessoas novas, ruas diferentes. Acho que as pessoas deveriam aconselhar seus velhos e velhas a fazerem isso, pois conhecer coisas novas rejuvenesce, nos dá a real sensação de que estamos vivendo.
(Professor Alves, 26/04/2011)