segunda-feira, 19 de março de 2018

DIA DE SÃO JOSÉ
















Vejo a frente uma casinha
Humilde e bem sobranceira.
É uma casa nordestina
Muito bela e sertaneira.

Pouco verde há por ali
O sol eriçou o mato,
O chão, a velha cancela.
Ficou tudo muito chato.

Mas a vida dentro rola,
É a força que nunca seca
Embalando eternos sonhos
De quem luta e pouco peca!

A panela no fogo à lenha,
Cose a vida em pensamento,
Dourando a comida rala,
No óleo santo do lamento!

Lá fora, o vento tange
Folhas velhas, ressecadas
Pisadas por pés calosos,
Por São José abençoadas.

O homem que puxa o burro
Ensina para a criança
Que Deus nos dá o calor
Pra merecer a bonança!

Se hoje o sol é ardente,
Amanhã será ameno;
Se o viver ainda é pouco,
Logo logo estará pleno!

O homem e sua família,
Na humildade do lar,
Rezarão mais uma vez
Pra São José água mandar!
(Professor Alves)

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

COMO DIZEM OS DITADOS




(cultura milenar)

Volto às teclas debruçado,
Só pra minha diversão
Também  dos meus convidados
Porque resolvi versejar
Sobre os diversos ditados,
Que aprendi com nosso povo
E de provérbios chamados.

Começo então comentando
Tem gente que tendo emprego,
Porém não se contentando,
Vai atrás de outro alheio,
Depois acaba sobrando:
Mas vale um pássaro na mão
Que dois pássaros voando

Debaixo desse sol quente,
Que Deus nos doou de graça,
Existe um monte de gente
Que demonstra ingratidão,
Reclamando de presente,
De cavalo dado, esquece,
Não se deve olhar o dente.

Pra se ter consecução
Daquilo que está fazendo
Tem que ter muita atenção
É preciso paciência
É mister resignação
E lembrar que toda pressa
É imiga da perfeição.

Se não fosse as precisões
Não haveria inventores,
Pois por trás das intenções,
Estão sempre as atitudes
Nascendo assim as criações
Pois toda necessidade
É a mãe das invenções.

Este já é bem conhecidão.
Meninos, moços e velhos
Logo logo lembrarão,
Pois todo mundo já sabe
Que agir só não pode não,
Já que andorinha sozinha
Não sabe fazer verão.

Joana de minha tia,
Viúva dum homem rude,
Jurava a toda freguesia,
Depois de muito sofrer,
Que jamais se casaria.
Gato escaldado, coitado,
Tem medo até de água fria.

Gente há de fofoca vasta,
Conta tim tim por tim tim,
Esses pertencem à casta
Daquelas pessoas néscias,
Que muita saliva gasta.
Mas pra bom entendedor,
Só meia palavra basta.

Coitado do meu padrinho,
Canceriano da peste,
Vive a cobrar do vizinho
Uma rezinga passada,
Quando eu era menininho,
Não sabe que águas passadas,
Nunca moveram moinhos.

A paixão dele era segura,
Mesmo sendo um cara feio,
E ela sendo ua belezura.
Num é que casou com ela!
Água mole em pedra dura,
Ele sabe muito bem,
Tanto bate até que fura.

Há seres não bem ungidos,
Que mesmo fazendo o mal,
Não acham ter delinquido.
E quando lhes vem o troco,
Percebem que estão perdidos.
Porque quem com ferro fere
Com ferro será ferido.

Escritor sem igualdade,
Machado nos ensinou,
Com grande sinceridade,
Que até os míseros calos,
Possui grande qualidade,
Pois servem esses estorvos
Pra aumentar a felicidade.

Este eu aprendi na praça,
Mas  muitos não gostam não,
Porém eu lhe dou de graça,
Faça tudo que eu disser,
Pra não cair em desgraça
(Pois  deste dito sou fã),
Mas o que eu faço não faça.

Mamãe me dizia assaz,
Para que eu me protegesse
Desse perigo fugaz,
E do perigo amiúde:
Boas romarias faz
Quem fica sempre com os seus,
E está em sua casa em paz.

É de Deus o proceder,
É a base do evangelho,
Sempre sempre ouvi dizer,
Toda igreja assim professa,
É  a lei do bom viver:
Nunca faça para o outro,
O que não quer para você.

Li na minha puberdade,
A  este belo provérbio,
Pleno de muita verdade:
Um homem em fúria tem a força
De mil bois e insanidade,
Mas só conseguirá prodígios
Se tiver serenidade!

Quase que vejo a cena,
Pessoa assim escrevendo,
com sabedoria plena,
E eu aprendendo cedinho:
Que tudo vale a pena,
Trabalho, esforço na vida,
Se a alma não é pequena.

Aqui para com os ditados,
Pedindo sérias desculpas,
Se não são do seu agrado,
Mas é o que posso fazer,
Melhor que ficar calado,
Pois escrevo só por prazer
Não o faço pra ser amado!      (Professor Alves, se preparando para o carnaval)

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

ACASO




Quando Maria encontrou João
Ela não encontrou João
Foi achada por ele
Que entanto não a buscava
Foi o acaso, que não existe,
Que os uniu e os desuniu
Afogou ambos em um mar de amor
Enterrou-os naquele pântano
Em que derramaram o que não tinham,
Porque não foram,
Porque não eram,
Porque não serão!
(Janeiro, de 2018)

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

AI QUE SAUDADES DAS CHUVAS!


Por que nunca chove mais?
Todos queremos saber
Se sem a bendita chuva
Não se pode aqui viver!


O asfalto tremeluzindo,
Dá pena as ruas se ver,
Calçamento tem calor,
Cacto sua a se benzer.

As paredes verde sol,
O telhado ressecado,
A calçada é só poeira,
Parapeito desolado.

Seus galhos defolhados,
As árvores erguem ao céu
São braços pedindo água,
Corpos nus, gosto de fel.

Aves que fogem do ardor
Os lagos todos secando
Galinhas, que antes, eram d’água
Vendo seu mundo acabando.

Florinhas sem existirem,
Peixinhos quase sem ar,
Sapinhos que não tem charcos,
Não sabem mais coaxar.

E o sertanejo vendo isso,
Dá vontade de chorar!
“Porque não chove mais
Aqui no meu Ceará?"

***

São bem grandes as lembranças
De um passado não distante
Quando aqui chovia sempre
Em todos quatro quadrantes.

Chovia aqui na cidade,
Chovia bem no sertão,
Chovia chuva fininha,
Chuva de raio e trovão.

A chuva bem benfazeja
Enchia lago e açude
Enchia rio e lagoa
Enchia tudo amiúde.

O mato ficava verde,
Muy bela, a plantação.
As moçoilas se alegravam
Pintavam seu coração.

As pessoas eram felizes
Sem medo da profecia
“cuidado o racionamento”
Isso não carecia.

Às vezes não chovia
Era tempo de estiagem,
Porque era tempo de seca,
Tempo de muita coragem.

No sertão e na cidade
Pessoas, joelho no chão,
Por todos seus pecados,
Rezavam, quero perdão.

Mas pouco tempo depois,
Asfalto e terra molhados,
Flores florindo a paisagem,
Olhos de fé marejados.

***

Mas agora ninguém sabe
O que de fato aconteceu
Só se sabe de uma coisa
É que nunca mais choveu.

Não chove no sertão
Na cidade também não
Não chove nos açudes
Não chove no ribeirão.

Porque não chove mais
Todos querem saber
Se sem a bendita chuva
Não se pode aqui viver!

(Professor Alves,
com saudades do tempo que chovia)