quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O PEIXINHO


(Para Mário Quintana)

O peixinho era tão pequenino
E eu tão desastrado
Ele tinha uma cor rosa
E eu não tinha o direito de ser desastrado
Ele rodopiava no saco  alegre como uma criança
Eu fui colocá-lo em sua casa
Ele caiu no ralo
Agora me há um vazio tão grande
"Que mesmo que eu bebesse o mar
Encheria o que eu  tenho de fundo".

Hoje eu compreendo a fragilidade das coisas pequenas
E eu compreendo a fragilidade da infância
Por que devemos cuidar dela
Para que ela não escape de nossos dedos
Para que não caia no ralo da vida
Para que não entre pelo cano.
               (Professor Alves,   Janeiro de 2004)

sábado, 25 de fevereiro de 2012

A ÚLTIMA NOTA





Quando chegamos ao apartamento dele, nada mais restava do que fora em vida. Apenas uma massa putrefata jazia estendida no assoalho. A mão esquerda crispada como se procurasse uma nota silenciosa no violão, que tantas vezes nos alegrava no ritmo de sua voz.
Foi tudo muito rápido. Do telefonema à entrada no apartamento com a ajuda da polícia. Era como se a realidade se invertesse, perdesse o sentido a nos amedrontar com suas armadilhas infelizes. O show mais uma vez tinha sido maravilhoso, encerrado como sempre com uma performance de The Wall, em que o violão quase falava. Depois sentou-se à mesa conosco, e elogiamos o repertório e falamos de mulheres e de sua solidão.
     Didi Nascimento tinha entre trinta e dois e trinta e seis anos. Era um moço bonito além de talentoso. Sabíamos vagamente que havia sido casado e que a separação tinha sido por motivos levianos, não de sua parte, mas da companheira. Decidira-se morar só. O corpo do violão seria sua eterna companhia. Fortuitamente saía com algumas mulheres, sempre diversa, para se proteger de armadilhas do coração. A melancolia, entretanto, não era o forte de seu repertório. O romantismo no máximo chegava a Chico Buarque, Mil perdões e coisas do gênero. Não foi por acaso que instamos com ele, quando recebeu o diagnóstico de arritmia cardíaca, para que casasse ou mesmo encontrasse alguém para dividir o apartamento, podia ser um amigo. Para nos acalmar disse que iria pensar no caso. Não deu tempo.
       Naquela noite, estávamos a fim de ficar em casa. Não iríamos como de costume à Praia de Iracema onde ficam os “barzinhos” da cidade onde podemos, ainda, ouvir uma boa música. Quando o telefone tocou, não sei por que senti um frio na espinha. Bobagem! Ao atender, ouvi do outro lado a voz embargada de nossa amiga Albetiza. Ela instava para que fôssemos à casa de Didi. Ele não havia ligado nos últimos dias e não havia aparecido no The Wall Bar, onde deveria estar trabalhando. Chegamos ao condomínio e fomos informados de que depois que chegara naquela quinta-feira ele não havia saído de casa. Ligamos para a polícia e constamos o óbvio. Sozinho, nosso amigo foi acometido de uma crise de arritmia, tentou desesperadamente chegar até o telefone, no outro lado do quarto, sobre um criado-mudo, onde conservava ainda a foto da ex-esposa, perto do amigo violão. Tentou em vão chegar ali, talvez com a finalidade de ligar para alguém, mas morreu com as mãos crispadas entre a esperança de alcançar o aparelho ou de tocar a foto da amada ou mesmo a última nota de sua vida.
(Professor Alves)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A VIAGEM MAIS INTERESSANTE


‎- Mamãe, preciso fazer uma redação para a escola sobre uma viagem. Qual foi a melhor viagem que você já fez? - perguntou a menina. A mãe fechou os olhos e as lembranças invadiram sua mente. A mulher sentou-se ao lado da filha no sofá.
- Eu recebi uma carta um dia, mas não era uma carta qualquer. Nem todos podem receber essa carta. E essa carta me dizia para pegar o trem na plataforma 9 3/4, e assi...m eu fiz. Eu pensei que seria só uma viagem qualquer, mas lá no fundo eu sabia que seria mais que isso, eu sabia que havia coisas grandes por trás dessa viagem, e eu estava certa. Nessa viagem, conheci meus três melhores amigos: Ronald Weasley, Hermione Granger e Harry Potter. Quando o trem parou, eu me encantei pelo que vi. Era um lugar mágico, era único, havia um enorme castelo, bruxos com suas varinhas, e havia magia por todo lado. A partir do momento em que vi aquele castelo, eu sabia que minha vida jamais seria a mesma, e eu estava certa. Sabe que castelo era aquele? Era A Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Acredita que havia uma professora que virava um gato? Havia um chapéu, e esse chapéu falava. Quando colocado na sua cabeça, ele dizia a qual casa você iria pertencer. Eu conheci pessoas maravilhosas, aprendi coisas que jamais irei esquecer, aquela foi a melhor viagem da minha vida, e eu já fui pra lá várias vezes, e sempre que sentir saudades posso voltar pra lá.
- Parece incrível, mamãe. Você pode me contar mais? - perguntou a menina.
- Infelizmente não, você tem que descobrir sozinha. - responder a mãe.
- Mas como? Eu posso fazer essa viagem também? 
- É claro que pode. - a mãe se levantou, pegando 7 livros empoeirados na estante e os mostrou para a menina. - Está aqui. 
- São apenas livros!
- Não, minha filha, não são. Dentro desses livros está a minha vida, a melhor viagem que eu já fiz. Se quiser conhecer mais, pegue-os e vá para Hogwarts, vá para o melhor lugar que já existiu. Você vai aprender muitas coisas, vai amar muitas pessoas, vai rir, vai chorar, e acredite: sua vida nunca mais será a mesma.
DE UMA POSTAGEM NO FACEBOOK POR @Seitudosobre_HP

O CÃO E A LEBRE

http://4.bp.blogspot.com


 
            A lebre, que saíra em busca de alimento, entretinha-se na degustação de algumas ervas que apreciava, e tão distraída se entregava a esse prazer que descuidou da própria segurança e não percebeu que um cão de caça se aproximava sorrateiro pela sua retaguarda, beneficiado pelo vento que soprava contra ele. Quando a coitada se deu conta do perigo que corria, aí já era tarde, porque o caçador saltou sobre ela, mordeu-a na altura do pescoço, derrubou-a e deitou-se com as patas dianteiras sobre seu corpo, apertando-a firmemente contra o solo.  
 
            Feito isso, passou a mordiscá-la levemente com os seus afiados dentes caninos, para logo em seguida lamber-lhe o pelo sedoso como se estivesse mergulhado em êxtase profundo. E fez isso duas, três e mais vezes, enquanto a pobre lebre permanecia subjugada, com o coração aos saltos, aguardando o desenlace de sua tragédia sem ter consigo a menor esperança de salvação. Até que, em dado momento, não suportando mais a angústia que a dominava por inteiro, ela sussurrou:
 
- Decida de uma vez o que vai fazer comigo, cachorro sem entranhas. Para de me morder, como se eu fosse o seu almoço, ou de me lamber, como se nós dois fôssemos amigos, porque para mim essa indefinição é muito pior do que qualquer outra coisa que possa me acontecer.    

   Moral: O amigo falso é sempre mais perigoso que o inimigo declarado.

http://www.fernandodannemann.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=1164714  

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

AS MULHERES NÃO ENVELHECEM MAIS



    As mulheres não envelhecem mais. Cada vez mais mulheres moças estão sendo acometidas por males irremediáveis. Recentemente uma vizinha, bem jovem, apresentou um desses diagnósticos para em pouco tempo desencarnar, morrer, ir para junto do pai celestial. Não importa o que dizem as crenças. Ela não está mais no meio de nós. Queria ainda lembrar que essa jovem tinha 73 anos.
    Observando uma colega de trabalho ajeitando seus belos cabelos loiros (Vaidade, teu nome ainda é mulher!) enquanto comentava a respeito das peripécias do neto, fui assolado por essa furtiva idéia: As mulheres não envelhecem mais. Uma nostalgia aprisionou-me subitamente e descortinou-me o tempo das vovozinhas de outrora, gordas ou mirradas, mas de cabelos brancos, engelhadinhas, trajando chita e bonachonas, arrastando pela cozinha seus passinhos de giz, ou sentadas numa cadeira de balanço, lendo para os netos ou tricotando um suéter.
    Hoje até seus nomes parecem jovens modernos. São Alices, Anas, Ãngelas, Claudetes, Dianas, Iaras, Leilas, Luzias, Marias, Renatas e uma infinidade de sons abertos ou fechados, agudos ou graves transbordantes de viço e juventude. Dessa feita tomou-me uma indiscreta alegria. Elas são sempre belas, interessantes, charmosas, cortejáveis, amantes. Mesmo que sejam frágeis e efêmeras como as rosas, de pétalas sensíveis parecem ter a fortaleza e a perenidade das árvores, cheias de vigor, frondosas, dando abrigo e alento ao caminheiro fatigado. São mais belas que as moças belas pela experiência de alegrias e tristezas, que encaliçam a alma mas destroem  a volubilidade, essas mulheres que não envelhecem mais.  

(Professor Alves, fevereiro, de 2012)

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O FOLHETO

 
Todos os domingos à tarde, depois da missa da manhã na igreja, o velho padre e seu sobrinho de 11 anos saíam pela cidade e entregavam folhetos sacros. 
  
Numa tarde de domingo, quando chegou à hora do padre e seu sobrinho saírem pelas ruas com os folhetos, fazia muito frio lá fora e também chovia muito. O menino se agasalhou e disse: 
  
-Ok, tio padre, estou pronto. ' 
  
E o padre perguntou: 
  
-'Pronto para quê?': 
  
-'Tio, está na hora de juntarmos os nossos folhetos e sairmos. ' 
  
O padre respondeu: 
  
  
-'Filho, está muito frio lá fora e também está chovendo muito. ' 
  
O menino olhou surpreso e perguntou: 
  
-'Mas tio, as pessoas não vão para o inferno até mesmo em dias de chuva?' 
  
O padre respondeu: 
  
-'Filho, eu não vou sair nesse frio. ' 
  
Triste, o menino perguntou: 
  
-'Tio, eu posso ir? Por favor!' 
  
O padre hesitou por um momento e depois disse: 
  
-'Filho, você pode ir. Aqui estão os folhetos. Tome cuidado, filho. ' 
  
-'Obrigado, tio!' 
  
Então ele saiu no meio daquela chuva. Este menino de onze anos caminhou pelas ruas da cidade de porta em porta entregando folhetos sacros a todos que via. 
  
Depois de caminhar por duas horas na chuva, ele estava todo molhado, mas faltava o último folheto. Ele parou na esquina e procurou por alguém para entregar o folheto, mas as ruas estavam totalmente desertas. Então ele se virou em direção à primeira casa que viu e caminhou pela calçada até a porta e tocou a campainha. Ele tocou a campainha, mas ninguém respondeu. Ele tocou de novo, mais uma vez, mas ninguém abriu a porta. Ele esperou, mas não houve resposta. 
  
Finalmente, este soldadinho de onze anos se virou para ir embora, mas algo o deteve. Mais uma vez, ele se virou para a porta, tocou a campainha e bateu na porta bem forte. Ele esperou, alguma coisa o fazia ficar ali na varanda. Ele tocou de novo e desta vez a porta se abriu bem devagar. 
De pé na porta estava uma senhora idosa com um olhar muito triste. Ela perguntou gentilmente: 
  
-'O que eu posso fazer por você, meu filho?' 
  
Com olhos radiantes e um sorriso que iluminou o mundo dela, este pequeno menino disse: 
  
-'Senhora, me perdoe se eu estou perturbando, mas eu só gostaria de dizer que JESUS A AMA MUITO e eu vim aqui para lhe entregar o meu último folheto que lhe dirá tudo sobre JESUS e seu grande AMOR. ' 
  
Então ele entregou o seu último folheto e se virou para ir embora. 
Ela o chamou e disse: 
  
-'Obrigada, meu filho!!! E que Deus te abençoe!!!' 
  
Bem, na manhã do seguinte domingo na igreja, o Padre estava no altar, quando a missa começou ele perguntou: 
  
- 'Alguém tem um testemunho ou algo a dizer?' 
  
Lentamente, na última fila da igreja, uma senhora idosa se pôs de pé. 
Conforme ela começou a falar, um olhar glorioso transparecia em seu rosto. 
  
- 'Ninguém me conhece nesta igreja. Eu nunca estive aqui. Vocês sabem antes do domingo passado eu não era cristã. Meu marido faleceu a algum tempo deixando-me totalmente sozinha neste mundo. No domingo passado, sendo um dia particularmente frio e chuvoso, eu tinha decidido no meucoração que eu chegaria ao fim da linha, eu não tinha mais esperança ou vontade de viver. 
  
Então eu peguei uma corda e uma cadeira e subi as escadas para o sótão da minha casa. Eu amarrei a corda numa madeira no telhado, subi na cadeira e coloquei a outra ponta da corda em volta do meu pescoço. 
De pé naquela cadeira, tão só e de coração partido, eu estava a ponto de saltar, quando, de repente, o toque da campainha me assustou. Eu pensei: 
  
-'Vou esperar um minuto e quem quer que seja irá embora. ' 
  
Eu esperei e esperei, mas a campainha era insistente; depois a pessoa que estava tocando também começou a bater bem forte. Eu pensei: 
  
-'Quem neste mundo pode ser? Ninguém toca a campainha da minha casa ou vem me visitar. ' 
  
Eu afrouxei a corda do meu pescoço e segui em direção à porta,enquanto a campainha soava cada vez mais alta. 
  
Quando eu abri a porta e vi quem era, eu mal pude acreditar, pois na minha varanda estava o menino mais radiante e angelical que já vi em minha vida. O seu SORRISO, ah, eu nunca poderia descrevê-lo a vocês! 
As palavras que saíam da sua boca fizeram com que o meu coração que estava morto há muito tempo SALTASSE PARA A VIDA quando ele exclamou com voz de querubim:, 
  
-'Senhora, eu só vim aqui para dizer QUE JESUS A AMA MUITO. ' 
  
Então ele me entregou este folheto que eu agora tenho em minhas mãos. 
  
Conforme aquele anjinho desaparecia no frio e na chuva, eu fechei a porta e atenciosamente li cada palavra deste folheto. 
  
Então eu subi para o sótão para pegar a minha corda e a cadeira. Eu não iria precisar mais delas. Vocês vêem - eu agora sou uma FILHA FELIZ DE DEUS!!! 
  
Já que o endereço da igreja estava no verso deste folheto, eu vim aqui pessoalmente para dizer OBRIGADO ao anjinho deDeus que no momento certo livrou a minha alma de uma eternidade no inferno. ' 
  
Não havia quem não tivesse lágrimas nos olhos na igreja. 
o Velho Padre desceu do altar e foi em direção a primeira fila onde o seu anjinho estava sentado. Ele tomou o seu sobrinho nos braços e chorou copiosamente. 
  
Provavelmente nenhuma igreja teve um momento tão glorioso como este. 
  
Bem aventurados são os olhos que vêem esta mensagem. Não deixe que ela se perca, leia-a de novo e passe-a adiante. 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A HISTÓRIA FARÁ SUA HOMENAGEM À FIGURA DE ANTÔNIO CONSELHEIRO


Num profundo deserto sem ter fonte
Já surgiu um regime igualitário
Que o justo já sexagenário
Fez erguer-se a cidade Belo Monte
Para então vislumbrar no horizonte
Sem maldade, sem crime, sem dinheiro
Sem bordel, sem fiscal, sem carcereiro
Mas foi morto e tomado por selvagem
A história fará sua homenagem
À figura de Antonio Conselheiro
Quem viveu ao seu lado, sempre quis
Ter real o que era fantasia
O reinado do céu não prometia
Sim o reino da terra mais feliz
Afinal só o povo do país
Pode dar o retrato verdadeiro
Deste líder autêntico mensageiro
Que alguém deformou a sua imagem
A história fará sua homenagem
À figura de Antonio Conselheiro
Masseté, Uauá, Paraguaçu
Catinga, Faxeiro, Mororó
Cambaio, Caipã, Cocorobó
Monte Santo, Favela, Trabibu
Beatinho, Abade, Pajeu
Vilanova, Brandão e Fogueteiro
Macambira, Lalau e o Sineiro
Timóteo lendário personagem
A história fará sua homenagem
À figura de Antonio Conselheiro
Oh! Canudos país da promissão
Foi injusta e cruel a sua guerra
Tu que eras abrigo dos sem terra
Sem família, justiça, lar e pão
O jagunço era apenas um irmão
O fanático somente um companheiro
Junto ao mestre encontrando paradeiro
Confiança, família e hospedagem
A história fará sua homenagem
À figura de Antonio Conselheiro
Só o Vaza Barris tão solitário
Vive lá como um símbolo e uma prova
De Canudos, Igreja, Velha e Nova
Linha negra, trincheira, santuário
Malassombro de latifundiário
Coronel poderoso e fazendeiro
Houve mesmo esse reino alvissareiro
Que muitos tomaram por miragem
Sertanejos morrendo de magote
A bandeira rasgada era um molambo
O quartel sem guarita era o mocambo
A trincheira era grimpa do cerrote
A metralha o feioso clavinote
Baioneta era a lança do carreiro
A corneta era o búzio do vaqueiro
Guarda peito gibão sua roupagem
A história fará sua homenagem
À figura de Antonio Conselheiro
Quase dez mil soldados de elite
Quatro bons generais lhe dando apoio
Bivaque arsenal boia e comboio
Com dezoito canhões e dinamite
Numa guerra civil sem ter limite
Não um simples conflito passageiro
Brasileiro matando brasileiro
Os vencidos mostrando mais linhagem
Era a luta da foice e do fuzil
O facão enfrentando artilharia
Uma nódoa no nome da Bahia
Uma mancha no nome do Brasil
Mas talvez que no ano de dois mil
Esse nosso nordeste brasileiro
Seja outra Canudos por inteiro
Mais gente, mais garra e mais coragem

A História fará sua homenagem
A figura de Antônio conselheiro!

PINGO DE FORTALEZA E IVANILDO VILANOVA