sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

SOBRE COMPORTAMENTO


A música Serra do Luar, de Walter Franco, é muito feliz quando afirma que “viver é afinar um instrumento, de dentro pra fora, de fora pra dentro”. Leila Pinheiro com sua voz magistralmente afinada transformou a letra de Walter Franco, de quem é também a música, num hino à canção popular brasileira. Adoraria discorrer hoje sobre música, sobre poesia. Mas como educador estou muito preocupado com o comportamento dos alunos brasileiros, sobremaneira daqueles pertencentes à escola pública.
               Não preciso assistir ao programa do jornalista Caco Barcelos para falar a respeito de como anda o comportamento dos alunos Brasil a fora. Ano passado, outubro se não me engano, um menino de dezesseis anos disse que iria me matar. Disse isso após um entrevero que poderia perfeitamente ser evitado. A polícia passou uns três dias dentro da escola, e eu achei tudo uma grande palhaçada. Se o garoto quisesse me tirar a vida, tê-lo-ia feito a qualquer hora. Não estou afirmando que não é verdade, pois ouvi isso de sua própria boca. Mas o que fazer?  
               No dia em que ocorreu esse incidente, estava justamente pensando no fato de alguns garotos e garotas não frequentarem a escola conforme devem, regularmente e engajadamente. Alguns deles e algumas delas passam até vinte dias, e outros até mais, sem aparecerem na escola. Esta, por meio de seus gestores, não procura saber o que está acontecendo, por que eles e elas faltam tanto. Estes e estas quando aparecem na escola, com certeza, não o fazem com o intuito de estudar. Alguém discorda? Ele e/ou ela aparecem na escola porque naquele dia erraram o caminho só Deus sabe de onde. Consequentemente ficam na sala boiando e azucrinando a vida dos colegas e professores. Eu ia exatamente encaminhar o garoto ameaçador para conversar com a diretora e pedir que o pai do mesmo viesse à escola, para saber o que estava se passando com o menino, quando ele se insurgiu, tentou me agredir. Nisso apareceu o vigilante que o segurou e o levou à diretoria. Penso que se a Escola Pública (e aqui estão todas as escolas públicas do país, cuja disciplina ficou nos anais de sua história remota) tivesse um pouco mais de ações preventivas, esses incidentes nunca aconteceriam. As escolas não podem ser depósitos de  crianças. Essas pessoas que estão na idade escolar precisam ir à escola sabendo que há um propósito para elas, os pais precisam dizer isso em casa, precisam amar seus filhos, mesmo que eles tenham vindo ao mundo de forma indesejada (mas isso é assunto para outra  postagem), a Escola precisa construir, juntamente com seus quadros, seu conjunto de regras sobre o que os alunos e alunas podem ou que não fazer! Alguém certa vez me disse: “Professor, isso se chama Regimento Escolar, e a escola já tem o seu.” Que se dane o nome, de que adianta um nome tão pomposo se não serve pra nada!? Melhor não tê-lo!
               O leitor deve está perguntando: “E a Serra do Luar, e a Leila Pinheiro, onde é que entram na história?” Eu respondo: “Não entram, iam entrar.” Eu iria escreve sobre a vida, sobre o instrumento, sobre melodia, sobre dança, sobre pássaros. Mas fica para depois.
                                 Professor Alves

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

DIGNIDADE

            Pensando hoje sobre dignidade, lembrei-me da história de um amigo. Chamo de amigos àqueles com os quais convivo e mantenho uma relação a mais que dar e receber bom-dia. Àqueles com quem interajo, e falo, e ouço sobre sonhos, sobre passado, presente e futuro; com quem não me refuto em comentar, quando há comentários a se fazerem, sem me intrometer, pois meu pai me ensinou que "cada qual com seu cada-qual". Mas são meus amigos, por isso me alegro e me entristeço, quando a situação é pra alegria ou pra tristeza.
           Com esse, tinha longas e longas conversas. Lembro-me de que me falava de cavalos, de fazendas, de liberdade. Eu lhes contava minhas agruras, minhas risadas, os ossos do ofício com os quais convivo. Sorríamos entre um copo e outro, enquanto os carros passavam velozes em frente ao bar que não era seu, mas com o qual ganhava a vida.
         Sumi, sumiu, sumimos. Cada um seu rumo, cada rumo distante. Sempre lembrava: "por onde anda meu amigo, quando o verei novamente, será que já tem cavalos, fazenda?"   
        Dia desses tomei um susto. Num jornal diário, lá estava sua foto. Mãos algemadas, cabeça baixa, sorriso desaparecido. O roubo de um banco. Cavando buraco. Imagino seu sorriso, amarelo, "estava só cavando buraco, não sabia pra que era". Sabia. Recebeu quatro milhões pelo tal buraco. Comprou fazenda, comprou cavalo. Tornou-se patrão à custa da liberdade. Ciquenta e sete anos! como é que sai?
Dia desses pensei em visitá-lo. Imaginei sua cabeça baixa, olhos fitos no chão, quase pedindo para eu ir embora. Compreendi. Não fui. Mas ficou a pergunta: por quê?

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

PESADELO DE CONSUMO

Dona Isabelle era um misto de nervosa e constrangida, pois no fundo sentia-se humilhada. Não conseguia ainda acreditar que estivesse ali. As pessoas olhavam-na aparentemente com curiosidade, mas na verdade estavam solidárias com seu sofrimento, uma vez que passavam pelo mesmo problema. Só na cabeça dela era que havia aquele desprezo.
               Após o orador falar um pouco sobre a situação de cada um, sobre os avanços de uns e os retrocessos de outros, Dona Isabelle foi convidada a falar. Ela olhou para todos e começou a contar sua história, a princípio meio trêmula, mas pouco tempo depois já estava à vontade...
               — Eu não sei bem quando isso começou. Talvez ainda na minha infância, ou na juventude. Só sei que aos poucos fui perdendo o controle. Lembro-me bem que quando ainda era adolescente eu ficava muito triste quando minha mãe não podia comprar algo que eu via na vitrine de uma loja. Causava-me isso um desânimo tão grande que minha mãe pensava que eu estava doente, e até eu mesma achava isso. Certa vez uma colega de escola me apresentou um estojozinho de botar canetas, novo, que a mãe lhe havia dado. Ela apresentou o objeto para todo mundo. Eu senti uma inveja tão grande, uma vontade de ter um igual... Quando cheguei em casa, logo depois do almoço fui lavar a louça, antes mesmo de minha mãe mandar. Assim que terminei, fui fazer as atividades da escola. Era assim que eu agia quando queria pedir algo à minha mãe. Logo ela desconfiou e me perguntou o que eu tinha. Sorri meio amarelo e lhe falei sobre o estojo da Laura. Minha mãe olhou bem para mim e me disse, “mas eu comprei um novo não faz um mês!”, ao que aleguei que já estava meio puído e já sem graça. Minha mãe riu de mim. Isso me deixou muito triste e chateada. E no meu íntimo prometi que um dia compraria tudo que eu quisesse.
               Logo que terminei o ensino médio fui procurar emprego. Meu sonho infantil de um dia me formar em Medicina foi para o espaço, pois me guiava o gosto pelas compras. Quando recebi meu primeiro salário, fiz uma farra. Passei num “shopinzinho” que tinha perto de onde eu trabalhava e arrazei. Comprei tudo que eu via, pulseiras, brincos, colares, todo tipo de bijuterias que mais tarde ficaram esquecidas no fundo da gaveta; blusinhas, coletes, xortes, saias, roupas que no mês seguinte seriam trocadas por outras... Cheguei em casa com as mãos cheias de bolsas, sem um centavo, mas com um imenso sorriso que bem retratava como eu me sentia, uma alegria incontrolável. Nem mesmo quando minha mãe me lembrou que eu ficara de pagar a  conta de luz, minimizou minha felicidade.
               E assim se deu. Durante os trinta dias eu passava nas lojas e namorava os itens que compraria no final do mês. Quando recebia meu salário adentrava esses ambientes e só saía quando não tinha mais um centavo. Nem me importavam as reclamações de minha mãe pelo fato de ter de me dar dinheiro para eu pagar o ônibus e almoçar. Entretanto não houve na minha vida alegria maior do que quando recebi meu cartão de crédito. Esperei por ele durante quase um mês, eu o gestei como uma mãe gesta um filho. Quando o segurei nas mãos não pude controlar um grito de felicidade, acho que duas lágrimas rolaram de êxtase. Nos três dias seguintes comprei. Só parei quando a moça da loja me pronunciou as palavras mais cruéis que eu podia ouvir: “não autorizada...”. Não entendia. Fiquei muito abalada e naquela noite chorei, e nos meus sonhos nadava num mar de sacolas, cheias de objetos que eu nunca ia usar.  
               Minha juventude escafedeu-se sem que eu percebesse. Não tinha amigas, amigos, namorados. Mesmo assim casei-me com um homem maravilhoso, honesto, trabalhador, fiel. Entretanto minha mania de comprar tudo que eu via aos pouco foi nos afastando, e eu não compreendia suas reclamações, até que nos separamos. Comigo ficou a casa, uma  pequena pensão e uma filha, Dienny. Agora eu tinha dois motivos por que comprar, ela e eu.  O dinheiro que adentrava nossa residência ia-se embora em artigos para minha filha. Às vezes comprava mesmo sabendo que ela não iria usar. A pensão dava para as despesas básicas e para alimentar a barriga, mas não alimentava meus sonhos de consumo, que eram insaciáveis. Tive de voltar a trabalhar para voltar a gastar. Uma vez uma amiga de trabalho que estava me visitando estranhou a quantidade de aparelhos celulares que eu tinha, expliquei rapidamente que não serviam, mas pela primeira vez refleti sobre o assunto. Eu tinha exatamente doze aparelhos que eu não utilizava. Todos em perfeito estado. O que me fazia adquiri-los era a ilusão de que um fosse diferente do outro, e todos eram exatamente iguais. Quando comprava um novo, passava umas duas horas agarrada a ele até que descobria que não havia novidades, que suas funções eram iguais, nem os jogos de um diferia do outro. Isso me causava uma angústia tão grande, um vazio tomava conta do meu ser, mas logo me alimentava a ideia de que as indústrias estavam lançando novos modelos. Minha vontade era comprar todos os modelos caros que apareciam, mas meu salário não dava e eu me contentava com os modelos mais baratos. Quando caía em minhas mãos um desses encartes com “promoções”, a avidez me tomava conta, pois eu era vítima fácil dessas ofertas. Certa vez minha amiga sem querer deixou cair um cartão da bolsa, apanhei-o e lhe entreguei. Era um cartão do plano de saúde, ela me explicou que iria levar a filha ao médico e me perguntou que plano eu pagava. Nada lhe disse. Dei o silêncio por resposta. Mas no íntimo eu ri. Como eu iria pagar algo que eu não podia ostentar, algo que deveria deixar escondido na bolsa, algo que eu não iria utilizar!
               Uma tarde, eu passeava pelo “shopping”, quando entrei numa loja de eletrodoméstico a fim de ver os aparelhos de tevê. O moço, muito gentil, me mostrou os últimos modelos e suas vantagens. Lembrei-me de que havia um aparelho na sala, um no meu quarto e outro no quarto da Dienny. Quase não ouvia as palavras do vendedor. Dentro de mim eu lutava buscando uma justificativa para comprar aquele aparelho de televisão. Até que convenci a mim mesma de que o aparelho da sala já estava fora de moda, que minha sala precisava de algo mais moderno. E assim cheguei em casa feliz. Mas a cada dia que passava a felicidade durava menos, a saciedade que eu sentia logo se ia, e logo eu precisava inventar algo para comprar. Como um bêbado eu andava por entre as vitrines em busca de algo que me desse prazer. Meu cartão de crédito estava sempre com o limite estourado, e eu dava sempre um jeitinho de acrescentar uma dívida a mais, afinal tudo era tão barato! Um celular, dez de trinta e cinco; um dvd, dez de onze e noventa; a tevê, doze de sessenta...
               Mas o golpe maior veio. Era mais ou menos meia noite. Dienny acordou aos gritos com a mão na barriga. Dizia que sentia uma dor muito grande. Fiz-lhe um chá, mas não adiantou, a dor aumentava a cada minuto. Corri para o celular para chamar alguém para me ajudar, não havia créditos. Naquele mês não sobraram os doze reais da promoção OI. Corri a casa da vizinha, cujo marido era taxista e pedi que me levasse ao hospital mais próximo que depois lhe pagaria, ele foi, mesmo desconfiado de que não receberia o preço da corrida. Parei no hospital da UNIMED. Minha filha já estava quase desmaiada e eu tinha de acordá-la de quando em vez. A moça da recepção foi logo pedindo o cartão. Quando disse que não tinha, ela balançou a cabeça negativamente. Lembrei-me do cartão de crédito. Minha filha gemia ao meu lado, branca como se não tivesse uma gota de sangue. A moça, impassível, enquanto passava o cartão, conversava com a colega do lado e ria como se nada estivesse acontecendo. Depois meneou a cabeça e me disse  “sinto muitos, mas o cartão não tinha saldo”. Tentei ainda argumentar, mas seu Gledson, me puxou e disse que iríamos ao hospital público. Dienny já não gemia, apenas arfava com certa dificuldade. Na Emergência do Gonzaguinha, a fila era grande. Tive de pegar uma senha. Estava desesperada, minha filha agonizando e as enfermeiras passavam e fingiam que nada estava acontecendo. Quando vociferei, clamando por atendimento, uma delas apenas me apontou a multidão que lá estava, também para ser atendida. Quando faltavam dois números para chegar nossa vez de ser atendidas, Dienny abriu os olhos e chamou por mim, mas sua voz já era muito fraca, e ela morreu com a cabaça nas minhas pernas, sem ser atendida.
               A dor que eu senti ninguém pode imaginar. Era uma dor de quem perdeu o bem mais precioso que Deus pode lhe dar, um filho, e a dor de quem se sente culpado por essa perda. Enquanto chorava desesperada, cercada por pessoas estranhas, toda a minha vida passava como em “flash-back”, até que desmaiei. Acordei dias depois. Minha mãe disse que eu precisava ser sedada toda vez que despertava.
               Hoje faz dois meses que aconteceu essa tragédia. Deus me deu uma nova chance de viver. De acreditar que existem muitas coisas que podem tornar uma pessoa feliz. Descobri que todas aquelas coisas que superlotam minha casa, meu guarda-roupa, minhas gavetas não valem a pena. Quando passo perto de uma loja, tenho que me controlar para não entrar. Deus me ajudou, por isso hoje eu não comprei.
                    (Professor Alves, 25/11/2010)        

domingo, 21 de novembro de 2010

O VALOR DE UM SORRISO

        Um sorriso não custa nada  e rende muito. Enriquece quem o recebe e não empobrece quem o dá. dura apenas um instante, mas sua recordação é eterna. 
        Ninguém é tão rico que o possa dispensar, ninguém é tão pobre que não o possa dar. Cria felicidade no lar e sustento no trabalho.
        Sinal de amizade profunda, o sorriso representa consolo na tristeza e alívio na angústia; coragem no desânimo, repouso no cansaço. 
          O sorriso é um bem que não se compra, nem se empresta porque o valor só percebe que o recebe de graça.
          Mas se por acaso encontrares alguém que recusa um esperado sorriso, sê generoso em dar-lhe o  teu, pois ninguém necessita tanto  como aquele que não sabe sorrir.
                 
                              (Colaboração de Dona Alderiza, mãe de Antônia Gislânia, aluna do 9° ano B)

domingo, 14 de novembro de 2010

ENSINANDO A TORCER



               Manhã de domingo. Final do campeonato mundial de vôlei feminino. O narrador, Luís Roberto, eufórico, descreve o jogo, sem deixar ninguém respirar direito:
               -- Vai pra cima delas..., força..., bate..., corta... - Parece um general comandando seu exército na batalha decisiva...
               Nas arquibancadas, a torcida vibra, com uma espécie de porrete verde-amarelo na mão, grita:
               -- Uuuuuuuuuuuu, Uuuuuuuuuuuu... - lembrando membros de uma suposta tribo pré-histórica em pé de guerra.
               Em determinado momento do segundo set, a atacante brasileira corta a bola, que atinge de forma violenta o nariz da adversária, cujo nome é “Shocolova”...
               — Poonto do Brasiiil! – grita em êxtase o narrador. Enquanto a jogadora “adversária esfrega o nariz, numa tentativa quase desesperada de respirar. A torcida vibra e brande os porretes como quem dissesse: “quisera eu lhe dar essa porretada no nariz...”.
               Fim do set. o Brasil venceu esse. Para euforia dos amigos do narrador que se encontram numa sala reservada a fim de comentar o jogo. Uma cantora, um campeão mundial e uma campeã da mesma categoria. Possivelmente por não ter o que falar ou por maldade mesmo, a cantora diz:
               — Sou muito fã dessa jogadora russa (com certeza foi a primeira vez que ouviu falar da mesma), mas adorei essa bolada que ela levou. – Para delírios dos que lá estão e do narrador, que ri um sorriso sem sentido, pobre de quem não sabe o que está fazendo direito. O coitado é pau-mandado da Rede Globo, não tem autonomia, só diz aquilo que os comandantes querem que diga, por isso não tem força moral para retrucar o que foi dito pela colega “artista”, não tem ânimo, alma, na verdadeira acepção da palavra, para dizer algo como: “Não devemos pensar assim, porque deve ter doído e causado, mesmo que de momento, certo sofrimento...”.   

               Assim fico imaginando uma população de milhões e milhões de miseráveis, famintos de educação e respeito ao próximo, num país que se equivale ao Zimbabue, um dos  mais pobre do mundo, no quesito Educação. Imagino-os durante todo o ano ouvindo esses comentários e sentimentos que se repetem em partidas de futebol, voleibol, basquete... É assim que estamos educando nossa população, é dessa forma que nossas crianças estão aprendendo a torcer!
               Depois quando acontece uma desgraça, causada pela selvageria de torcedores alucinados, vemos os mesmos imbecis da  Globo, caras compungidas, cenhos franzidos, lamentando aquilo que eles mesmos incentivaram.
              (Professor Alves, domingo, 14 de novembro de 2010)       

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

CORNO E AVILTADO

Uma aluna me fez uma pergunta que me deixou cabreiro (interessante essa expressão). A pergunta foi a seguinte:
"Professor, quem trai é adúltero ou adúltera. E quem é traído é o quê, só corno?"
Caraca, realmente não havia pensado nisso. Prometi a ela então pesquisar para poder lhe dar uma resposta decente. Nunca fui de ficar tentando inventar resposta. Muni-me, pois, de alguns dicionários (etimológico,  sinônimos e antônimos, sinônimos). Mas nenhum deles continha o termo adequado para responder à duvída de minha aluna. 
O certo é que a própria palavra "traído´" não diz muita coisa, pois o radical do verbo é muito claro, uma vez que traído, por exemplo, é o povo brasileiro, que acreditou numa mudança radical a qual pudesse modificar o país, e deu com os burros n'água; traído é o goleiro, quando acredita que a bola vai em suas mãos e vê a jabulani entrando no gol, pelo lado totalmente oposto; traído é o consumidor quando compra um produto, ciente de que este vai facilitar sua vida, tem uma enorme dor de cabeça quando o aparelho não funciona e ainda por cima não consegue falar com o suporte que promete resolver seus problemas. 
Definitivamente esse termo não serve. Encontrei alguns outros, como ultrajado, enganado, aviltado. Também não servem. Nessa pesquisa, concluí que o termo adúltero também não é adequado para indicar o traidor ou a traidora, o infiel ou a infiel (estes são mais adequados) uma vez que adúltero é mais adjetivo que substantivo, pois indica modificado, falsificado, adulterado. Só em alguns dicionários mais chinfrins (essa é lídima), como o do Sr. Aurélio, é que adúltero/a aparece na conotação que conhecemos.
Fica o enigma da palavra, e eu tento decifrar o enigma da coisa.

CORNO é o indivíduo que ouve seus próprios clamores, berrando ser a companheira uma pessoa de pouca confiança, uma vez que seus olhos  e ouvidos (dele) percebem tudo de forma ADULTERADA. Se as pessoas riem é porque estão zombando de sua insignificante criatura; se ouve um assobio, é o amante dando sinais, e essas baboseiras que já vimos, lemos e ouvimos na vida real, na literatura ou na cinematografia (esse é do baú). Esse é o corno, que esconde a mulher dos olhos dos outros e, quando a expões, é sempre com "cara-de-marido" (esse é de Chico Buarque).
TRAÍDO, AVILTADO, ULTRAJADO é o indivíduo, coitado, que não teve sorte e casou-se com uma mulher de maus bofes e sem caráter.
Pronto explicado, ou pelo menos tentado.
 (Professor Alves)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

ANONIMATO (NEM TÃO ANÔNIMO)



SONETO I

Sabe, Senhorita, o quanto suspiro
Toda vez que teu cheiro por mim passa
Sabe que se a teus pés não me atiro
É a voz do orgulho que o meu peito enlaça.

Sabe que os meus olhos seguem teus passos,
Quando mudas de rumo a face viro,
Sem querer me olhas, sonho ter teus abraços,
Assim que partes, triste me retiro.

No entanto mal surge o dia seguinte
Magino sorridente o teu semblante
E anseio logo estar perto de ti.

Vejo, então, feito um reles pedinte,
Do anonimato, o peito radiante,
Teu olhar que sempre igual nunca vi.

SONETO II

Porém, Senhorita, em breve estarás
Matrimônio ao pé do altar contraindo
Como um cisne, em véu contente sorrindo,
Triste, sombrio, meu peito deixarás.

Quando pisares o degrau vermelho
E as estrelas brilharem por teu encanto
Em teu louvor derramarei meu pranto
E então sonharei ser teu espelho.

A vida seguirá seu curso normal
Entanto algo em meu ser estará vazio
Um pedaço de mim estará faltando:

É teu olhar agora inda mais formal
É teu sorriso ainda mais fugidio:
A esperança anônima enfim findando.

Setembro de 2003


POST CONUBIUM

Senhora, ontem casualmente a vi
Fiquei pasmado com sua ímpar figura
Tão que no que vi, Senhora, não cri:
Há muito não via tanta feiúra.

Lembra-me a beleza que antes medi:
Porte airoso, corpo esbelto, tez pura,
Sua fina mão que outrora segui,
Seu lindo sorriso, digno de mesura.

Porém a imagem que hoje vislumbrei,
Dois cambitos, bucho proeminente,
O rosto diferia do que eu beijei.

Tão pouco tempo, meu bem, se passou
(Se não me engano faltam-lhe dois dentes)
E o casamento com você acabou!

janeiro de 2005

Professor Alves

NA ESCURIDÃO MISERÁVEL

FERNANDO SABINO  “Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me observava, enquanto punha o m...