terça-feira, 25 de outubro de 2011

SHADOW OF THE COLOSSUS OU A VIOLÊNCIA GRATUITA




       Há três anos, meu filho chegou com uma novidade: queria derrotar dezesseis colossus, no jogo “Shadow of the colossus”. Como sempre faço, fiquei ao seu lado assistindo a aventura de Wander e seu inseparável cavalo Agro. É realmente um jogo para PS2 ímpar. Por isso ganhou tantos prêmios. Wander é encarregado de um uma missão bastante difícil. Ele deve cavalgar, nadar, pular, (como um super-homem) para destruir os colossus numa região inóspita, Região Proibida, com o único objetivo de ressuscitar Mono, uma princesa (?) desacordada, pois só com a morte dos dezesseis colossus ela terá sua alma de volta.

       Num cenário maravilhoso, com uma trilha sonora invejável, Wander, esporeando violentamente sua montaria, segue pelo vale deserto eliminando um a um seus “inimigos”. Mas o que me incomoda é saber o que os colossus, que sequer percebem a chegada de seu algoz, fizeram para merecer tanta violência. Vá lá que seja apenas um jogo. Vá lá até que eu seja admirador desse tipo de “games”. Não me importo que meu filho brinque neste tipo de entretenimento. Acho até interessante. Acho até que é na infância, com jogos assim, que se faz a catarse da violência que quiçá poderia eclodir na juventude ou na idade adulta.
      Mas não deixo de pensar nos pobres colossus toda vez que vejo um deles ser destruído sem dó e sem piedade, por espadadas cruéis desferidas pelo “bom” Wander apenas para que seja resgatada a alma de uma donzela. Esse texto já deveria ser feito há muito tempo, mas toda vez que citava a ideia de redigi-lo, meu filho dizia: “mas será que eles não deveriam morrer, pai”! Creio em que essa ideia do que deve viver ou morrer é muito subjetiva. Por que a moça não deveria continuar morta? Porque ela é linda, como disse meu filho! Entra aí a ideia de que os colossus devem morrer porque são grande e feios!

      Espero que essa violência gratuita fique só no “game”, que as pessoas, crianças, adolescentes e adultas, saibam estabelecer a diferença entre a Região Proibida e a vida real, que saibam distinguir entre os colossus imaginários e os desafios que a sociedade nos impõem dia a dia. Mas meu filho está aqui, buzinando que ele acha que se trata de um dos melhores jogos com que já brincou e o recomenda a quem ainda não o conhece!
(Por Professor Alves e Victor Hugo)

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

NÃO VOLTO MAIS

http://listas.terra.com.br/system/items/000/045/417/medium/pedra_sobre_pedra




          A novela "Pedra Sobre Pedra" teve seu final apresentado no dia 31 de julho de 1992. Nesse dia papai faleceu. "Pedra Sobre Pedra" foi uma "novela das 8". Papai faleceu às 17h. 
       "Pedra Sobre Pedra" contava a história de Murilo Pontes e Pilar Batista. Casal que se amou na juventude e vinte e cinco anos depois via sua história se repetir através de seus filhos. Papai recomeçou a contar sua história quando chegamos em Independencia em janeiro de 1976. No dia 27 de julho de 1992, papai acordou dizendo que estava se sentindo mal. Particularmente não dei muita atenção. Minha relação com ele era marcada por muitos desencontros. Existia uma indiferença recíproca. Hoje acredito que existia mutuamente um amor contido. Não nos rendemos aos nossos sentimentos. Evitei sempre pensar na possibilidade de amá-lo (a gente só descobre isso depois que se vão) porque achava que ele também não me amava. /
http://aqueimaroupa.com.br/wp-content/uploads/2011/03/desencontro-155x155.jpg

        Papai foi internado na Clínica Santa Maria no dia 28 de julho. Quando quis visitá-lo pedi a minha querida amiga Laurice para acompanhar-me ao hospital (não tinha coragem de ir sozinho porque não sabia o que lhe dizer). Recebeu a liberação do Dr. Joel Martins para viajar e internar-se em Fortaleza no dia 30 de julho, numa quinta- feira. Era o dia do penúltimo capítulo de "Pedra Sobre Pedra". Antes de ele partir fui à Praça da Matriz, como de costume, bebericar com os amigos e curtir a ressaca do final das festas de Sant'Ana. Só que ao chegar à praça, senti uma vontade enorme de voltar para casa e vê-lo antes de partir. Uma força estranha me pedia para retornar (coisa que costumeiramente não fazia em todas as suas viagens). Retornei para casa no momento em que ele entrava no seu carro (um Del Rey branco) deitando-se no banco traseiro (nunca havia visto papai nem sentar-se num banco traseiro de carro de terceiros) e achei "aquilo" diferente. Antes que meus irmãos (Wellington e Naelson) entrassem e partissem, resolvi despedir-me e ali pedir-lhe a benção. Ao vê-lo deitadinho, com o corpo miúdo e a cabeça encostada no travesseiro, estendi-lhe a mão: "A benção papai!". Ele levantou a cabeça,  olhou-me, agarrou minha mão: "Deus te abençoe meu filho. Desta vez eu não volto mais!". Não acreditei. Achei até que ele estava fazendo uma "chantagenzinha emocional" para me comover. Enquanto o último capítulo da novela "Pedra Sobre Pedra" rolava na televisão, no dia 31 de julho de 1992, o telefone tocou e com ele a notícia de sua morte através de uma tia: "Enock, eu acho que Badeco morreu". Descobri que poderia ter tido com ele uma relação mais forte. De repente ele se fora. Uma crueldade do destino estava acontecendo comigo. 
          A morte era certa. É certo. Queria ter tido mais tempo para aproveitar sua presença ao meu lado. Lembro-me demais de ele dizendo: "Desta vez não volto mais". Quanto tempo perdido! "Não volto mais"... E ele não voltou mesmo. De Fortaleza seu corpo seguiu para o São Rafael, no Rio Grande do Norte, para ser enterrado. A novela teve seu fim no dia dia 31 de julho de 1992. Teve fim também a presença física de papai no plano terrestre.
   Enock Fonseca, Independência Ceará.

A Tartaruga e a Águia



A tartaruga passava o tempo a lamentar-se por ser lenta e desajeitada. Como gostava de fazer comparações, adorava a beleza e a ligeireza com que se moviam as aves. Não se conformava com a sua sorte e chegava a ficar muito triste.
- Que chatice ter que me arrastar pelo solo, passo a passo e com esforço! Ah! Se eu pudesse voar, nem que fosse apenas uma vez! dizia ele repetidamente, dia após dia.
Finalmente, num dia de outono, conseguiu convencer a águia a levá-la para um passeio pelas alturas. Suavemente e com grande majestade, a águia e a tartaruga elevaram-se no céu, naquela tarde. O animalzinho transbordava de felicidade, ao ver lá embaixo, tão longe, a terra e seus habitantes.
- Ah, que maravilha! Como estou feliz! Que inveja não devem sentir as outras tartarugas vendo-me voar tão alto! Realmente, sou uma tartaruga única! exclamava ela, com a voz tremida pela emoção.
Mas tanto se cansou a águia de ouvir seus vaidosos argumentos, que decidiu soltá-la. A orgulhosa tartaruga caiu como uma pedra, desde milhares de metros de altura, desfazendo-se em cacos ao chegar no chão.
Algumas tartarugas que viram que viram sua vizinha cair, exclamaram cheias de pena:
- Pobrezinha! Estava tão segura aqui em baixo, na terra, e teve que procurar as alturas para perder-se.
Dura lição para quem se empenha em ir contra sua própria natureza. Não é melhor cada um conformar-se com aquilo que é? 

 Do site:             
 http://www.metaforas.com.br/infantis/tartaruga.htm

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

LIBERDADE

        

      Deve existir nos homens um sentimento profundo que corresponde a essa palavra LIBERDADE, pois sobre ela se têm escrito poemas e hinos, a ela se tem até morrido com alegria e felicidade.
      Diz-se que o homem nasceu livre, que a liberdade de cada um acaba onde começa a liberdade de outrem; que onde não há liberdade não há pátria; que a morte é preferível à falta de liberdade; que renunciar à liberdade é renunciar à própria condição humana; que a liberdade é o maior bem do mundo; que a liberdade é o oposto à fatalidade e à escravidão; nossos bisavós gritavam “Liberdade, Igualdade e Fraternidade!”. Nossos avós cantaram: “Ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil!”; nossos pais pediam: “Liberdade! Liberdade! – abre as asas sobre nós”, e nós recordamos todos os dias que “o sol da liberdade em raios fúlgidos – brilhou no céu da Pátria…” – em certo instante.
       Somos, pois criaturas nutridas de liberdade há muito tempo, com disposições de cantá-la, amá-la, combater e certamente morrer por ela.
       Ser livre – como diria o famoso conselheiro… – é não ser escravo; é agir segundo a nossa cabeça e o nosso coração, mesmo tendo que partir esse coração e essa cabeça para encontrar um caminho… Enfim, ser livre é ser responsável, é repudiar a condição de autônomo e de teleguiado – é proclamar o triunfo luminoso do espírito. (Supondo que seja isso.)
        Ser livre é ir mais além: é buscar outro espaço, outras dimensões, é ampliar a órbita da vida. É não estar acorrentado. É não viver obrigatoriamente entre quatro paredes.
       Por isso, os meninos atiram pedras e soltam papagaios. A pedra inocentemente vai até onde o sonho das crianças deseja ir. (Às vezes, é certo, quebra alguma coisa, no seu percurso…). Os papagaios vão pelos ares até onde os meninos de outrora (muito de outrora!…) não acreditavam que se pudesse chegar tão simplesmente, com um fio de linha e um pouco de vento!…
        Acontece, porém, que um menino, para empinar um papagaio, esqueceu-se da fatalidade dos fios elétricos e perdeu a vida. E os loucos que sonharam sair de seus pavilhões, usando a fórmula do incêndio para chegarem à liberdade, morreram queimados, com o mapa da Liberdade nas mãos!…
     São essas coisas tristes que contornam sombriamente aquele sentimento luminoso da LIBERDADE. Para alcançá-la estamos todos os dias expostos à morte. E os tímidos preferem ficar onde estão, preferem mesmo prender melhor suas correntes e não pensar em assunto tão ingrato.
      Mas os sonhadores vão para a frente, soltando seus papagaios, morrendo nos seus incêndios, como as crianças e os loucos. E cantando aqueles hinos que falam de asas, de raios fúlgidos – linguagem de seus antepassados, estranha linguagem humana, nestes andaimes dos construtores de Babel…
(Cecília Meireles)

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

ACRÓSTICO


Lua de mistério que se esgueira entre os meus dedos
Ora se dá ora se nega referindo medos
Uma nota dissonante sempre...
Rindo lindo, linda vista serena
Escudando-se na tênue lâmina do tempo
No emaranhado dos cabelos ao vento
Arma de sedução, e eu querendo Lourena.

Professor Alves, outubro de 2004

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

OS INFILTRADOS



       Jogão! Flamengo e Ceará, digo Ceará e Flamengo. Eu e meu filho torcemos pelo glorioso Ferrim. Que tá ruim que dói. Logo vamos muito pouco ao estádio. E torcemos também pelo Mengão. “Vamos assistir ao jogo, né pai?” Disse Victor Hugo. Assim que soube que os ingressos estavam à venda, corri para o ponto mais próximo. Cheguei atrasado. Só havia ingresso na torcida do Vozão. Fazer o quê. Os outros chegaram rápido. Apenas mil ingressos para os milhares de torcedores do Mais querido do país. Comprei os ingressos e avisei ao meu filho: "Vamos fingir que torcemos Ceará ". Meu filho foi logo lembrando que a torcida do Ceará é cruel, mais ainda que a torcida do Iraque quando sua seleção joga contra o Irã. "Tudo bem, filho, o importante é estarmos lá para vermos nossos ídolos".

        Chegamos ao estádio quase na hora do jogo. Depois de muito empurra-empurra, entramos. Logo de cara, vimos e ouvimos o Ronaldinho sendo esculhambado pela torcida do vozão: “Gaúúúcho, viaaado”. Era cruel, e logo nós que o amávamos tanto. Um cidadão distinto, vestido a caráter, que mais parecia o vovô mascate, me cutucou. “Né bicha ele?” E eu ensaiei: “gaúcho bicha”. Muito fraquinho. O outro me olhou desconfiado. Meu filho então entoou: “Leeeo Moura, bichiiiinha”. E me olhou como dizendo “é assim que se finge”. Segue o jogo e meus olhos seguem os jogadores do Fla. De repente, bola na área do Ceará, Tiago Neves cabeceia na trave. Soltei o palavrão acompanhado de um gesto de cabeça. Um Parrudão me olhou, e eu disse: “Pode dá moleza não, vozão!” e sorri amarelo. Meu filho me cutucou, como quem diz: “não brinca, pai”. De súbito passam por mim uns quatro “pitbulls”. Um deles diz: “ali, ó!” e aponta para um senhor de blusa vermelha. Correm até lá e vejo o senhor se explicando, depois de levar uns safanões dos brutamontes. Eram caçadores de flamenguistas. Aí eu tive certeza do risco que estávamos correndo. Mas o vovô é ruim demais. Mengão na área, Tiago Neves cruza, Deivid faz 1x0.

          Depois do intervalo depois de ouvir um monte de torcedor discutindo sobre o acontecido, enquanto comiam caiduro, voltamos para o segundo tempo. Agora a vítima era o juiz: “bicha vagabunda, não toma o jogo do meu vozão”, dizia um. Outro me cutucava e apontava para o árbitro e eu tinha de xingá-lo também. E a gritaria era grande. Lá do outro lado estavam mil flamenguistas felizes, e eu morrendo de inveja. Meu filho mais ainda. A tortura continuava. O Flamengo atacava, o ceará se defendia, e eu não podia vibrar com meu time.

     De repente os “pitbulls” voltaram. Desta vez empurravam e davam tapas num homem. E gritaram para alguns que estava atrás de mim: “esse estava ali infiltrado, fingindo torcer pelo vozâo”. Nesse momento, ciente do risco, comecei a gritar a plenos pulmões: “Vai pra cima deles, vovôôô!”
(Professor Alves)

NA ESCURIDÃO MISERÁVEL

FERNANDO SABINO  “Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me observava, enquanto punha o m...