sexta-feira, 20 de julho de 2012

A OSTRA E O VENTO


          De repente dá uma vontade doida de ler. Entretanto vem a preguiça. A saída é pegar um áudiobook, ou livro para ouvir, e curtir uma boa leitura, digo, uma boa audição. O livro A Ostra e o Vento está sendo minha leitura atual. Audição atual. No carro, na caminhada, ou durante uma partida de xadrez. É muita poesia, é muito vento e muita, é claro, Marcela. Linda, Marcela se desdobra entre a ilha e perspectivas do continente, sob a ótica de Daniel. Vale a pena curtir. Quer ler, tá com preguiça. ouça A Ostra e o Vento faça uma linda viagem. 



segunda-feira, 16 de julho de 2012

QUE BOM SERIA



(Para mim, no meu aniversário de quarenta e um anos)

A vida devia ser assim,
A gente nascer e ser, por tempo,
Bem, mas bem pequeninim
E ir crescendo pouco a pouco
Sem pressa ou medo de ficar louco.

Depois a gente crescia mais
E após aproveitar a infância
A gente ficava rapaz
E por um tempo e tanto
No namoro encontrava acalanto.

Nesse período a gente sonhava
Olhava o sol, a lua, as estrelas
E de repente até chorava
Pra de novo encontrar a paz
E ser feliz, bem feliz demais.

Claro que nessa primeira vez
Sem estar bem passado no alho
Pagávamos mico todo mês
Rilhávamos de raiva os dentes
E seguíamos o caminho novamente.

Mas sem nunca precisar se esforçar,
Sem nenhum esforço mesmo,
Sem ser preciso mesmo estudar,
Arranjava um trabalho a gente
E casava-se àquela que tem na mente.

E vinham os filhos. Que  alegria
Vê-los correr, saltar, cair:
Eles, nós e a grande euforia.
De repente o sarampo, catapora
Mas logo tudo ia embora.

Até chegar aos quarenta
Que envelhecer muito
Ninguém mesmo agüenta
Aí a gente de novo voltava,
De ré a vida descomeçava.

E assim ficávamos jovem de novo
Ano após ano, sem pressa
Vendo os cabelos pretos como corvo.
Aos trinta que felicidade
Foi aqui que ganhei à vontade.

E a cada ano que passava
Toda a oportunidade
De novo por nós passava
E não perdíamos nenhuma,
Colhê-las-íamos tranqüilos uma a uma.

Os nossos netos nascendo,
Os filhos mais velhos que nós,
E nós mais rejuvenescendo
Mas com toda experiência
Adquirida em nossa existência.

Das moças, aquele sorriso
Era num átimo percebido,
Namorar era um paraíso,
Sem deslizes nem bobeiras
parecendo adulto, sem asneiras.

Sendo de novo menino,
Brincar de arraia, no meio do sol
Quente, quente e a pino
No pião ninguém batia.
Pra casa? Só no final do dia.
  
E assim íamos remoçando
Até tomarmos mingau,
Pra perto da mãe de novo chegando
E tornar para o ventre finalmente
De lá pro céu, alegre, contente.
  
(Professor Alves, 09/10/2006)

sexta-feira, 22 de junho de 2012

O SEGREDO DA FELICiDADE

            
        Há uma maravilhosa fábula sobre uma garotinha que está andando pelos prados, quando vê uma borboleta espetada em  um espinho. Muito cuidadosamente, ela a solta e a borboleta  voou para longe, para então retornar transformada numa linda fábula. "Por sua bondade", ela diz à garota, "vou conceder-lhe seu maior desejo."
           A garotinha pensou um pouco e disse: "Quero ser feliz." A fada inclinou-se até ela e sussurrou algo em seu ouvido e desapareceu subitamente.
         A garota crescia, e ninguém na terra era mais feliz do que ela. Sempre que alguém lhe perguntava qual era o segredo de sua felicidade, ela sorria e dizia: "Eu escutei uma fada boa."
          Quando ela ficou bem velha, os vizinhos temeram que seu segredo morresse com ela. "Diga-nos, por favor, qual é o segredo de sua Felicidade, o que disse a fada", instaram todos à agora amável velhinha. Ela simplesmente sorriu e disse:
         "A fada me disse que todas as pessoas, por mais seguras que pudessem parecer, precisavam de mim.
                
(Trecho do livro AMANDO UNS AOS OUTROS, editora Record) 

segunda-feira, 11 de junho de 2012

QUATROCENTOS ANOS EM QUADRA





                
                       O poeta faz suas reflexões sobre     
                       as comemorações dos quatrocentos               
                       anos do seu estado natal.

Seara, Siará Grande, Ceará!
Nome, forma e métrica pouco importam,
porque doravante o que importará
é rimar tudo que o denigre e exorta.

Nesses quatrocentos anos de existência,
desde que Martim Soares esteve aqui
e amou Iracema com grã decência
E tiveram um filho de nome Moacir

esta terra de opulência e imensidão
tem crescido e se desenvolvido
sendo portanto o mais sublime torrão,
assim diz quem aqui já tem vivido.

É claro que essa história não é só de alegria,
temos secas em ciclos e muita miséria,
era morte o que naquele ano se via
naquela famigerada seca deletéria.

(Neste momento me foge a inspiração,
ao lembrar o flagelo que Rodolfo narrou
em seu livro que me despertou paixão,
o qual de Fome ele o denominou.)

Mas deixemos disso, que sejam sutis
esses versos que nesse papel caírem
sobre este Ceará de céus de anis
e praias que entontecem aos que as virem.
  
Falemos desse povo gentil e hospitaleiro,
que não tem pejo de ser cabra-da-peste
que muito respeita os demais brasileiros
mas ama sua terra de leste a oeste.

É certo que os do poder são interesseiros.
Seu Tasso combateu uma oligarquia
e implantou outra, e isso é verdadeiro,
hoje mandam os capitalistas, todavia.

A Educação por isso não anda bem,
a Saúde bem outrossim não está
mas a fortuna deles cresce e ninguém
sabe aonde o Iguatemi parará.

Mas voltemos a falar de beleza
que não faltam no meu Ceará,
terra que não sabe o que é tristeza,
se alguém duvida, é só vir para cá.

Falando em cultura, somos imbatíveis,
exportamos de todas as áreas talentos,
que na arte de inventar são infalíveis
e estão na tevê em todos os momentos.

Citemos o grande Fágner, Raimundo
Ednardo, Belchior e Raquel de Queirós
e os humoristas que daqui ganham o mundo
todos eles dando imensa alegria a nós.

Numa estrofe vamos homenagear
o nosso maior poeta e passarinho,
Patativa que com Deus deve estar,
fazendo versos e alegrando anjinhos.

Mas nós não podemos nos esquecer
dos dragões que maculam nosso estado:
políticos corruptos, ai, é de doer,
analfabetismo e fome de todo lado.

Em cada sinal é muita tristeza,
criança e velho pedindo esmola,
e isso não é só em Fortaleza,
de norte a sul a indigência assola.

A grana do povo isso não combate.
com ele se faz metrô e Castanhão,
ou se gasta tudo comprando iate
e a gente, essa, fica sempre na mão.

Há deles que roubam merenda escolar,
esses têm coragem de na mãe dar fim,
se Deus pra essa terra não olhar
os larápios hão de dar descaminho.

Mesmo assim somos orgulhosos
de termos nascido neste torrão,
apesar de eles, os ambiciosos,
minarem um pouco nossa paixão.

Pois o grande herói é o nosso Povo,
que luta e ri sempre com força e raça
se cai, levanta e segue a lida de novo,
sem nunca perder a sedução e a graça.

Aqui termino esse trabalho lírico
e ao Ceará quero parabenizar,
mesmo em tom um pouco satírico,
é a verve do artista que às vezes dá.
                  (Professor Alves,
                    agosto de 2003)

segunda-feira, 28 de maio de 2012

O MELHOR DO SONHO



O melhor do sonho não foi quando menino Jesus tocou-me o braço
Me olhou nos olhos e me segredou sobre o paraíso
O melhor do sonho não foi quando avistei as naus que vinham em visita
Trazer novas do velho mundo e construir um mundo novo
O melhor do sonho não foi quando retornado ao imponente mundo grego
Vi Milo carregando às costas, em exercício, um touro fabuloso
O melhor do sonho não foi quando chorei de alegria
Ao ouvir Jessier Quirino e seu Bolero de Isabel
O melhor do sonho não foi quando tremi ao ouvir cascos potentes
Dos cavalos de Átila e dos hunos com suas narinas famélicas de aventuras
O melhor do sonho não foi ver as pernas tortas de Garrincha
E acordar assistindo a um gol de Neymar
O melhor do sonho não foi me ver já velho, moribundo
Excitado pela possibilidade do mistério
O melhor do sonho não foi entrar na tela de cinema
Assistir ao vivo o cheiro de sangue dos Jogos Mortais
O melhor do sonho não foi ver Madre Tereza sorrindo
limpando-me, as feridas e amenizando a fome
Tudo isso foi maravilhoso, fantástico
Mas o melhor do sonho foi quando me vi adolescente
Assistindo ao maior espetáculo da terra: teu sorriso.
(Professor Alves)

NA ESCURIDÃO MISERÁVEL

FERNANDO SABINO  “Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me observava, enquanto punha o m...